Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
É conhecida a faceta polemista do autor de Eusébio Macário, e ficaram famosas, entre outras, as polémicas que susteve com Silva Pinto, com quem viria a congraçar-se, passando este a nutrir por Camilo uma admiração incondicional.
Ao percorrer, de novo, a estante consagrada ao escritor de Vilarinho da Samardã, fico presa a um pequeno livro escrito por Silva Pinto já depois da morte do Mestre. Livro delicioso. Nele aquela veneração é evidente, como se constata neste saboroso excerto.
" Na Foz do Douro, uma tarde, dizia-me Camillo Castello Branco:
- Que impressão deixou por ahi a polemica com o Alexandre da Conceição?
- A do costume. Ao primeiro terço da refrega lê se o que v. ex.ª escreve e não se dá attenção ao que o seu adversario diz.
Elle teve um certo sorriso glacial, muito seu característico, e logo depois de uns momentos de concentração:
- É o tal caso. Imagine-se que nunca entrei n'essas polemicas sem ser muito provocado. Previ sempre, de cada vez que entrava em fogo, o que realmente vinha a dar-se: uma especie de remorso meu, por ter sido exagerado na lucta. Quer v. que eu lhe diga? O unico adversario que me não deixou remorsos foi o Silva Pinto. Parece -me que não cheguei a dizer lhe tudo quanto v. merecia.
Balbuciei um agradecimento e um protesto. Afigurou-se-me que o leão não tinha a consciencia de quanto valiam as suas garras.
Elle prosseguiu:
- Sempre que um dos novos me agride, ha quem me aconselhe a não fazer caso. Foi assim quando v. me provocou. O Teixeira de Vasconcellos escreveu-me de Lisboa: «Não responda. Este sujeito não guarda o decoro ». E eu respondi ao Teixeira: « Nem eu. Quem melhor as tiver, melhor as joga. »
( ... ). Pela minha parte resolvi não me deixar contundir sem usar de represalias. Os rapazes dão-me; mas eu reajo, como se vê...
Dei lhe razão contra mim proprio - contra o audacioso franganote que em 1874 lhe chamara, nas colunnas da « Actualidade » do Porto: " O chapado ignorante que só serve para escrever descomposturas! ".
Perdoae-nos, Senhor, as nossas dividas... "