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Para todos aqueles que estão impressionados com o grau de boçalidade e amadorismo dos cartazes da miríade de candidatos às autarquias eu digo: bem-vindos ao Portugal real!
Esta é a gente que faz a base que sustenta este país. Quantas vezes após ouvir os sketches do Gato Fedorento, eu abanava a cabeça num gesto lento e comprometido, apertando nos lábios um sorriso matreiro a querer escapar, dizendo: “A forma de falar do matarruano é igualzinha à de um tio meu…” Bem, na verdade, igualzinha à forma de falar de vários tios, padrinhos, pais e avós de muita gente que eu conheço. E até vos digo que houve muitos momentos em que nem achei tanta graça assim aos saloios que eram caricaturados pelo grupo de humoristas: é que a realidade rural, para quem cresceu com ela, é bem mais divertida, caricata e surreal: é inimitável! Mas tudo bem, para os tipos da cidade, muito urbanos e cosmopolitas, pouco acostumados a lidar com fauna autóctone, acredito que tenha funcionado como uma revelação hilariante.
No entanto, creio que os consumidores de humor, citadinos, snob, yuppies e muito kosher, mantiveram na cabeça a ideia que aqueles personagens não passavam de uma ficção; que aqueles *bonecos* não passavam de uma caricatura exagerada de uma minoria diminuta e em vias de extinção. E eis senão quando chegamos à campanha para as autárquicas de 2013. De repente toda essa gente que alguns julgavam recôndita sem visibilidade surge estampada em cartazes, sem maquilhagem nem Photoshop, com olheiras, manchas, rosácea e cabelo desgrenhado, a escrever como falam, vestidos com a roupa de domingo. Um espectáculo de descontracção tão cândido como absurdo. Desconcertante.
Poderão alguns perguntar o que é feito das agências de comunicação e que isto tudo é um espectáculo péssimo, meu deus, de onde saíram estas aves raras e todas estas mulheres? Agora as mulheres estão também na política local?! Deve ser aquela coisa da igualdade… agora tem que ser tudo igual, mesmo que seja intrinsecamente desigual. Fica sempre bem ter mulheres num cartaz, é como uma moda. Pelo menos uma! Cai bem… E muito independentes! O que está a dar é ser independente! (mesmo tendo-se um passado político, mesmo sabendo-se que as ideias são todas iguais às de outrora e que os métodos para aplicar essas ideias serão sempre os mesmos, mesmo que o dinheiro que paga os cartazes seja do mesmo sítio de onde sai todo o dinheiro para estas coisas…)
Sejamos francos: quem é realmente independente e assim se quer manter, não ambiciona exercer cargos políticos de qualquer espécie. Estar na política é estar comprometido.
Pessoalmente acho tudo isto delicioso e estou maravilhada. Gosto da naturalidade, da verdade, sem maquilhagem, sem spin doctors. A realidade é o que é: para quê dourar a pílula? No final, quando cai a máscara, quando se descasca o verniz, constatamos sempre a mesma mediocridade. Nestas eleições não há expectativas e não há surpresas. Ao menos sabemos ao que vamos. Digamos que será um voto por amor e não por interesse - os candidatos não têm interesse nenhum!
Finalmente, os proponentes da democracia têm o prazer de ver o sistema funcionar em todo o seu esplendor. Depois dos 15 minutos de fama para o povão, temos os quatro anos de mandato. Andou-se a fazer por isso… Teremos as câmaras e juntas ocupadas e “governadas” pelos espectadores do Big Brother e do Você na TV, os ávidos leitores da “Maria”, groupies de Tony Carreira. Gente para quem um filme Clássico é o Amo-te Teresa ou aquele do… como é que é? - aquele de porrada - o do Stálóne!
Meus caros amigos leitores, eventuais compatriotas: alegrai-vos! Para quem não sabe para onde vai qualquer destino serve e o fundo serve-nos na perfeição. Gosto quando se bate no fundo pois significa que em seguida só poderemos subir. Ou não. Tanto faz.
Enquanto houver dinheiro vamos ter de assistir a este triste espectáculo decadente e a muitos outros que ainda hão-de vir. É o que temos.