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Onde está a Merkel de Portugal? Não será concerteza Passos Coelho e muito menos um opositor frouxo como Seguro. Mas Merkel também ganha outros prémios de carreira para além destas eleições propriamente ditas. A questão de longevidade política da chanceler alemã deve ser colocada numa perspectiva comparativa e internacional. Margaret Thatcher está prestes a ser destronada enquanto lider com mais anos de serviço. Com uma breve passagem de Maria de Lurdes Pintassilgo pela chefia de um governo nacional, entre 1979 e 1980, Portugal nunca conheceu um outro perfil feminino capaz de liderar um país (Ferreira Leite? Leonor Beleza? Belém? não me parece). Mas a questão não deve ser colocada em termos sexistas, para desdém de machistas ou gáudio de feministas. Esse facto estatístico é uma mera curiosidade do livro de Guinness político. O único critério que deve pontuar as lideranças é a competência e a capacidade de integrar consensos. As eleições alemãs são um bom exemplo de fair-play político. Angela Merkel sabe, logo à partida, que terá de procurar parceiros de um modo natural, procedendo a uma operação siderúrgica de fusão para formar um governo uníssono. A partir desse momento o exterior deixa de ouvir falar em dissidências e contrariedades internas. A Europa e o resto do mundo não será testemunha de processos negociais e ajustamentos que acontecem nos bastidores do governo alemão. O executivo anterior, composto por rivais e competidores políticos, será como o que se segue - comprometido com o futuro do país e da Europa. E isso decorre de um modo distinto, de acordo com uma cultura política afinada ao longo de décadas de autocrítica e marcada por ousadia económica e social. A população de países europeus sob programas de ajustamento precipita-se ao sentenciar Merkel enquanto madrasta da austeridade. Um desfecho eleitoral distinto poderia ter sido bem pior, se elevasse a voz daqueles com disposição para atirar para fora do Euro países sob a batuta da troika. A continuidade de Merkel significa que o governo de Portugal sabe, de um modo genérico, com o que vai contar. Não irá haver uma inversão de marcha ou uma mudança de direcção muito acentuada. O que acontecer à Grécia nos próximos tempos servirá de powerpoint para outros destinatários. Mas a Europa será o eixo central da política alemã. A nação germânica sabe que a sua regeneração demográfica está em risco e o seu refrescar passa por acomodar uma visão transnacional, que não tem tanto a ver com uma lógica de supremacia política, mas sobretudo com a necessidade de garantir a sua própria sustentabilidade económica e social. A Alemanha está mais dependente do sucesso de países como Portugal, Grécia ou Irlanda do que pode parecer. O caos dos outros não faz bem à saúde do motor da Europa e essa percepção terá efeitos nos limites da austeridade que se pode impor aos amigos do Sul. O problema que se coloca a Portugal, e que contrasta com a pessoa política que Merkel representa, tem a ver com a falta de competência intelectual e académica dos lideres nacionais. Passos Coelho pouco ou nada percebe de física, e Seguro não serve para alquimista.