Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Se fosse obrigado a retratar Portugal neste momento da sua história, diria que "não está com muito boa cara". Um conjunto de consequências nefastas irá atormentar Portugal nos próximos tempos. O problema é que essa noção cronológica faz cair por terra datas mágicas anunciadas pelos bruxos do mercado - dias de regresso ou dias de partida. O botão da bomba atómica, que o Presidente da República recusa accionar, também já não serve de grande coisa. O mal já está feito, o efeito de sopro da austeridade já fez a razia que se conhece. Portugal encontra-se em quarentena política, afastado das grandes decisões, mas expectante que uma supernova possa desencalhar a situação - entramos no domínio do desespero, da fé, da religião - do acreditar sem fundamento válido (Por que raio haveria a Merkel de inverter o sentido dos ponteiros?). Os mercados, pertença de todos e de ninguém, fecharam as portas do financiamento, seja qual for o intervalo das necessidades - a 5 ou a 10 anos. A suave euro-deputada socialista Elisa Ferreira, com ligação directa ao Rato, pode cantar baixinho a melodia encomendada por Seguro, mas a flexibilização das metas do défice está fora de questão - Draghi já disse que Portugal pode tirar o cavaquinho da chuva. Ao mesmo tempo Merkel inscreveu na sua agenda como primeira prioridade a limpeza da ameaça portuguesa e o Standard & Poor´s encara uma avaliação ainda mais negativa de Portugal. Depois há umas naturezas mortas que não adicionam nem acrescentam nada ao drama real de Portugal - as autárquicas, descartáveis e, longe da urgência de redesenho de uma grande estratégia para Portugal. As autarquias com a sua grande quota de responsabilidade pela demise nacional, são ao mesmo tempo a causa e a consequência, e não têm papel na reinvenção de um sistema - são o sistema. As diversas campanhas são uma espécie de serviços mínimos de política, da democracia, fazendo uso dos mais baixos padrões de retórica e dando voz a pseudo-argumentos. Há ainda outros elementos de decoração que servem para colorir a negro a catástrofe ética e financeira, mas que não têm influência nos caminhos imediatos de Portugal. O sistema imunitário dos portugueses deixou de rejeitar de um modo visceral casos do tipo Machete. Os cidadãos começam a aceitar que no DNA nacional estes casos sejam recorrentes, e mesmo sendo de natureza poluente, nada com consequências substantivas será feito para repor o equilíbrio de valores - os tribunais, constitucionais ou não, já se viu que servem para umas coisas e para outras não. O ministro dos negócios estrangeiros continuará os seus afazeres sem ser incomodado, porque tudo depende de uma mera imprecisão factual, descartável à meia-volta. Face a esta panóplia de ocasos não é descabido começar a vislumbrar vida em Portugal ao sabor de um segundo resgate. A segunda linha de oxigênio já se avista da cumeada, por entre o nevoeiro de políticas falhadas. Na minha opinião, penso que não vale a pena andar a fingir que a coisa se está a endireitar. Chegou a hora de gritar bem alto em nome da aflição de milhões de portugueses ainda equivocados pelas notícias de ocasião. Venha de lá esse segundo resgate. Acabe-se com esta farsa.