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D.O. está naquela difícil posição de não querer cortar radicalmente com a antiga camaradaria e também não poder adesivar-se à caravana do seu previsivelmente futuro partido, o PS. É um homem coerente e ao contrário da pérfida "direita clássica", jamais vota fora daquele espectro partidário que não considera seu, ou como o próprio diz, ..."não voto em partidos contrários às minhas convicções políticas gerais." Por outras palavras, mesmo que a direita, por suave milagre, finalmente conseguisse propor um nome decente à presidência da CML, D.O. sempre preferiria alguém supostamente avermelhado, mesmo que se tratasse de um inflamado escarro. Como há uns tempos dizia a sorridente Clara Ferreira Alves, ..."Ó Daniel, para seres o português típico, só te falta um boné e um burro!"
O articulista julga peremptoriamente a grande massa eleitoral que o PS representa, como algo de amalgamável com o PC e as confortáveis e radicais franjas envergonhadas a que se dá o curioso nome de Bloco. Dizer tal enormidade, é esquecer-se daquilo que o PS significou quanto ao definitivo liquidar dos sonhos aventureiros de ABC e dos seus companheiros de viagem, actuais e ex-bloquistas incluídos. O partido de Seguro é sem dúvida - sempre foi e será - o primordial alvo das invectivas de qualquer secretário-geral do PC, seja ele quem for, pretéritos a não esquecer. Não nos podemos esquecer dos eleitores socialistas que entre votarem PC ou passarem dois meses a comer coirato cozinhado de todas as formas, decerto sempre optarão pelo colesterol maligno. Ou não serão muitos deles ocasionais votantes no PSD e no CDS? A explicação está à vista de todos, não valerá a pena perdermos mais tempo com lembranças que datam de há quase cem anos e são incansavelmente repetidas.
O que se torna caricata é esta vontade de apanhar o retorna-cacilheiro, vendo-se assim Lisboa ao longe, flamejante de luz e pintada de reflexos que o Tejo proporciona. D.O. "acha" que o Costa tem sido um grande presidente e que por isso mesmo será recompensado por um eleitorado lisboeta piamente agradecido e ajoelhado diante desta díáfana evidência. Trabalhando normalmente para o Sr. Balsemão, nem por um momento lhe terá ocorrido o que significa o criar de "circunstâncias ou estados de espírito" que chancelam inevitabilidades? A verdade é que a vitória de Costa levará ao estourar de muitas rolhas de champanhadas nos conhecidos círculos dos sombrios negócios que fazem soçobrar esta cidade. Não diz grande coisa acerca da tonitruada obra da estranhíssima joint-venture Costa, Salgado e BESalgado, mas vai colocando uma comovida lágrima de agradecimento por Costa ..."ter resolvido os problemas financeiros da autarquia", certamente referindo-se às famosas contas que o edil se recusa mostrar ao Tribunal que as solicitou. Oliveira pensativamente vai coçando as suas dúvidas quanto ao pelouro do urbanismo, coisa decerto secundária e completamente desdenhável, quando a comparamos com o invisível facto de Costa ter avançado com "novos projectos". Talvez esteja a referir-se aos candeeiros oitocentistas que fez desaparecer do Terreiro do Paço, susbstituindo-os por uma certa quantidade de inomináveis porcarias condizentes com desníveis, losangos e estado calamitoso do paredão à beira Tejo. Quanto a "projectos", já estamos no terreno da consistência e neste caso, de projectos tão sólidos como a liquefacção de terras no momento de um terramoto. Refere-se a quê, concretamente? Aos eventos Continente-Toni Carreira?
Esta cidade deve sempre ter em conta dois aspectos essenciais e indivisíveis: o património construído e os lisboetas, sejam eles de origem ou de fixação. No que respeita ao património arquitectónico, a verdade que Oliveira ainda não descobriu fora do habitual eixo Chiado/Rua da Escola Politécnica, é a daquela cidade que tem sido impiedosamente demolida. A Lisboa do século XIX está em vias de total desaparecimento e nem sequer galardões de prestígio podem salvar imóveis de inegável interesse geral. Aliás, esta cidade pode gabar-se de ser a única capital da Europa que possui um prestigiado prémio dedicado à construção - o Prémio Valmor - cuja atribuição de forma alguma é por si, uma garantia de protecção do imóvel por uns tantos anos tornado num pólo de interesse. Não, as sucessivas vereações da Câmara Municipal de Lisboa, têm desde os anos 40 prosseguido uma criminosa política de total cedência à especulação, essa inseparável companheira do mau gosto, da descarada fraude e do abuso de poder. Disponíveis na rede, temos uma enorme quantidade de sítios, blogues e artigos que ano após ano denunciam esta vergonhosa e escusada catástrofe que tem destruído a capital portuguesa. Costa não foge minimamente à péssima tradição herdada e pelo contrário, a sua administração recorreu aos velhos truques onde a declarada desonestidade - a retirada de edifícios do Inventário Municipal tornou-se "legítima" - faz a vez da moeda de bom toque e som. Não podemos ter uma cidade capaz de longinquamente rivalizar com as grandes metrópoles europeias, se continuarmos a insistir nesta cedência ao despotismo da negociata consentida porque partilhada, autorizada porque proveniente de amigos e daqueles "jeitos" especiais que no dicionário surgem com um nome feio.
D.O. que olhe para toda a Avenida da Liberdade e ruas perpendiculares. Siga para a zona da Duque de Loulé, compreendendo todo o espaço que existe entre a esburacada Fontes Pereira de Melo - onde os exemplos do mau gosto do salgado costismo estão à vista de todos - e o Campo de Santana, vulgo dos Mártires da Pátria. Viaje até ao hoje irreconhecível Saldanha e todo o enorme rectângulo urbano que cobre o espaço entre os muros da Fundação Gulbenkian e o Instituto Superior Técnico. Quem concede as licenças de demolição e de construção? A Câmara Municipal de Lisboa. A vergonhosa política de fachadização total do pouco que sobra da Lisboa romântica do século XIX e consequente destruição de património irrecuperável - madeiras, estuques, vidros, mármores, pinturas interiores de ex-habitações de um já muito fanado e interdito luxo, ferragens de varandas, grades, remates de telhados, cantarias criminosamente despedaçadas, etc - e atirado às vorazes mandíbulas dos sórdidos negócios imobiliários de uma certa banca que sustenta ou suborna uns tantos comensais do regime. O terciário - existem muitas dezenas de "prédios de escritórios" totalmente devolutos e a CML continua a conceder alvarás para este sector - substitui as construções que outrora conheceram sucessivas gerações de lisboetas. Descaracterizam-se bairros inteiros, autorizam-se todo o tipo de abusos que defraudam a cidade. A lista de malfeitorias é longa, demasiadamente dolorosa para ser exaustivamente enumerada. Cidade despovoada mercê das más políticas, incúria e cedência aos ditames de um punhado de gananciosos nacionais e estrangeiros, Lisboa conta ainda com uma CML que é totalmente incapaz de zelar pelo seu próprio património imobiliário que devia estar ao serviço daqueles que menos podem. Será quiçá uma reserva para futuros negócios, quem sabe? Não prosseguindo na enumeração de sucessivas alíneas de incompetência quando não de descarada reserva mental, apenas se poderá acrescentar uma bastante visível tentativa de querer "parecer bem", o tal chico-espertismo conhecido como "para inglês ver". Para isso serve a imprensa e uns tantos bodos ao estilo do pão e circo de outros tempos.
Ao contrário de Oliveira, não hesitaria em votar num julgado adversário político, desde que este me oferecesse as tais garantias de carácter e de competência necessária para o exercício de um cargo desta envergadura. Não voto Seara, pois parece-me que alguém que reivindique a "obra de Costa & Salgado" como coisa boa e a continuar, não merecerá qualquer tipo de contemporização. Em suma, não me comprometerei com as conhecidas comanditas camarárias e com os negociantes que ansiosamente já esperam na antecâmara da sala de aparato dos Paços do Concelho.
Sei que muitos virão com o estapafúrdio argumento do voto útil, coisa em perfeita correspondência com o não menos absurdo politicamente correcto, mas creio que nada mais há a fazer, senão recompensar a Aline - e a sua lista - por aquilo que durante os últimos anos apontou em animadas sessões da Assembleia Municipal, onde as suas intervenções rotineiramente nos apresentaram escandalosos casos de depredação do património desta cidade que todos gostaríamos de salvar.