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Apagão do Estado em Portugal

por John Wolf, em 01.10.13

Enquanto Cavaco Silva viaja para o reino da Suécia com uma comitiva de empresários para promover a excelência dos produtos nacionais e o pó assenta após a vitória da abstenção nas eleições autárquicas, um acontecimento dramático acaba de acontecer nos EUA - o shutdown do governo federal americano. Provavelmente, os políticos europeus, incluindo os portugueses, pensarão que "isso é lá com eles", mas não é bem assim. O fecho de serviços da administração federal americana é um exemplo vivo do que acontece quando o dinheiro não chega. Uma coisa são os despedimentos colectivos na função pública, decididos politicamente e de acordo com uma agenda condicionada por um programa externo de ajuda, outra coisa é um fenómeno de falência com efeitos imediatos e incalculáveis. De um dia para o seguinte pelo menos 800.000 funcionários federais simplesmente não se devem apresentar ao serviço. Este tira-teimas americano está a ter o pior desfecho possível e demonstra que o Obamacare é uma unha encravada nas negociações entre republicanos e democratas desde a primeira hora dessa proposta, e cujo peso agora fez tombar a viabilidade de um orçamento federal. Este evento, cujos efeitos far-se-ão sentir imediatamente nos mercados internacionais, irá atrasar ainda mais a retoma americana, e obrigará à continuação dos programas de estímulo da economia. Não é uma boa notícia para a Europa, para os portugueses e para o Euro. Portugal que também anda na corda bamba de um segundo resgate para garantir o funcionamento dos serviços mínimos do Estado, deve por essa razão aproveitar a situação que decorre nos EUA para contemplar um evento análogo. Em caso de falência dos dinheiros do Estado, que serviços públicos de Portugal serão os primeiros a ser cancelados mesmo que temporariamente? Ficam-se pelo Museu dos Coches ou começam a eliminar carreiras da Carris? Será que o governo de Portugal tem preparado um dossier para essa possibilidade? Ou será que Cavaco ainda pensa que vive numa ilha de contentamento ao celebrar tão efusivamente a retoma da economia portuguesa? Ao assistirmos à festa de encerramento das autárquicas, com alguns foguetes partidários ainda a serem lançados em regime de after-hours, parece-me que grassa por aí uma grande inconsciência política. O que está a acontecer na América deve ser seguido com muita atenção. Os EUA são os campeões da dívida e os mãos largas do dinheiro fácil - um cocktail perigoso, muito perigoso. Portugal, à sua escala de "aperitivo", não deixa de agregar alguns dos mesmos ingredientes explosivos. O rebentamento das guarnições do Estado pode ser mais pequeno do que o americano, mas não deixará de causar vítimas. Vítimas-surpresa que se juntam aos outros milhões de portugueses já derreados pelos efeitos crónicos da austeridade. Agora pensem no seguinte: se isto está acontecer num país como os EUA que tem vindo a estimular a sua economia, imaginem o estrondo que causará num país vergado pelos termos da austeridade. E andam eles a passear com alegados "empregosários" nas terras da sauna, quando Portugal já ardeu e tornará a arder se não tomarem cuidado. Não faz diferença alguma que Portugal seja agora um mapa cor de rosa - as dores de cabeça são as mesmas e as soluções tardam em aparecer.

publicado às 09:05


9 comentários

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De Nuno Castelo-Branco a 01.10.2013 às 18:39

Julgo que se por infelicidade Cavaco, Sócrates ou outros da mesma laia pudessem recorrer às rotativas para inundarem as ruas com notas, nem por um segundo hesitariam em fazê-lo. É isso mesmo o que Soares tem exigido, mas creio que essa decisão compete a quem tem um sentido muito diferente das realidades, ditado pela prudência que a história aconselha: os alemães. Assim, possivelmente Obama resolverá o seu caso da forma do costume, usando aquele dinheiro que para mim, mísero ignorante destas coisas das finanças, não passa de fake. Sim, fake, simples convenção consentida pelo mundo inteiro! Os EUA andam a comprar bens com dinheiro sem qualquer valor real. Isto acontece há demasiado tempo, talvez desde que abandonaram o padrão ouro. 
É aconselhável a urgente repatriação dos stocks de fulvo metal que o BdP tem guardados nos Estados Unidos. Nunca entendi a razão para tal coisa. Em Portugal não existem casas-forte para o guardar?  Estamos à espera de quê? Que devido a uma alegação qualquer dos tempos da II Guerra Mundial essas reservas sejam confiscadas após enorme alarido promovido pela CNN e NYT? Aliás, já ouvimos histórias destas várias vezes e de vez em quando voltam à carga.

John, sabes a que propósito "estão" essas reservas os EUA? Era melhor fazerem um público esclarecimento antes que os teóricos da conspiração aproveitem para mais uns tantos episódios "Aliens" do Canal de E(hi)stória. 
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De John Wolf a 01.10.2013 às 22:41

Viva Nuno,
Se não tivessem tido a hiper-inflação dos anos 30, a Alemanha já teria ordenado o BCE a imprimir avultadas quantidades de euros. A desvalorização do USD é intencional - favorece as exportações americanas e coloca o resto do mundo numa situação difícil. Quanto ao ouro (e outros metais preciosos), já começa a ganhar expressão enquanto moeda real. O ouro nacional não sei onde se encontra, penso que em cofres nacionais, e não em fort Knox. Os bancos centrais, um pouco por toda a parte, têm vindo a aumentar as suas reservas expressas em ouro. Na minha opinião iremos assistir, mais dia menos ano,  ao descalabro do sistema financeiro. É uma questão cíclica - de Bretton Woods (1944) a Nixon (1971) e agora, volvidos quarenta e poucos anos sobre esse marco, vamos ser testemunhas de algo distinto... que não sei o que será.
Um abraço,
John
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De Nuno Castelo-Branco a 02.10.2013 às 09:09

Também me parece. Quanto ao ouro português, uma parte dele está nos EUA, isso foi há uns tempos confirmadopelo próprio BdP. Não faço a mínima ideia acerca dos procedimentos normais neste tipo de assuntos, mas parece-me estranho. A que propósito?
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De Regina da Cruz a 01.10.2013 às 19:52

Quando os Estados Unidos "espirrarem" a Europa não vai só apanhar uma constipaçao: vai apanhar uma pneumonia multirresistente!
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De John Wolf a 01.10.2013 às 22:41

Cara Regina,
When the shit hits the american fan....Run!!! Run!!!!
:)
John
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De John Wolf a 01.10.2013 às 22:42

When the american shit hits the world fan (assim é que é!)...
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De Nuno Castelo-Branco a 02.10.2013 às 09:11

Podes também acrscentar o caso chinês. Pressente-se algo de terrível. Cidades inteiras vazias, construções loucas que ficam igualmente desertas, início da resistência à prepotência do governo, falta de alimentos, etc. Vai ser "bonito"...
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De Equipa SAPO a 02.10.2013 às 08:20

Bom dia,
este post está em destaque na área de Opinião do SAPO.
Cumprimentos,
Ana Barrela - Portal SAPO
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De John Wolf a 02.10.2013 às 10:07

Cara Ana Barrela,
Mais uma vez agradeço a gentileza da mensagem e a honra do destaque no portal Sapo!
Cordialmente,
John

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