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António José Seguro vive dias atribulados. O secretário-geral não sabe como deve gerir tantas terminações de taluda política. Sem mexer uma palha (não é que fizesse diferença) o "seu" PS arrasa nas autárquicas (dizem eles) e redesenha o mapa do poder local em Portugal. Ao mesmo tempo assiste, na qualidade de espectador, à consolidação da autoridade capital de António Costa e cruza os dedos para que o uber-político se mantenha firme na tutela municipal. Não convém nada que Costa tenha ideias mais engenhosas, como por exemplo, interromper o seu mandato para destronar Seguro e a sua promessa a São Bento. Acresce a estes factos, que lhe passam ao lado, ter de gramar o vigor de Sócrates aos Domingos à noite. Mas não é nada disto que justifica estas linhas gratuitas. Há algo ainda mais irreverente que mina a disciplina partidária do PS. Seguro tinha acabado de reafirmar que entendimentos com o PSD jamais e, catrapum, Basílio Horta anuncia o modelo de governação que pretende para Sintra. Se Seguro havia bloqueado o sonho de uma noite de Verão de Cavaco, quando abalroou o projecto de consenso partidário para salvar Portugal, Basílio Horta, à escala do Palácio da Pena e dos dissabores do líder supremo socialista, avança com uma cooperativa de pelouros para viabilizar o seu projecto para o município de Sintra. O primor de Basílio consiste na vontade de "enriquecer esse exercício" com a participação da CDU e do PSD na gestão autárquica. O que está a acontecer demonstra que independentemente da filiação partidária, os políticos sabem que a sua sobrevivência e o sucesso das suas missões, depende, cada vez mais, de um consenso estrutural, de um DNA que contenha na sua matriz os catalisadores e os anticorpos duma dinâmica de fissão política constante. Basílio, embora não tenha o crachá, está a portar-se com um independente, como alguém com capacidade para ver para além do sectarismo e do fundamentalismo doutrinário da sua casa de origem. Os dogmáticos, cães de guarda de um filão intocável, já gritam cruzes-canhoto pela blasfémia ideológica. Basta dar uma volta pelas ruelas, pedir ao balcão meia dúzia de queijadas, para perceber que paira no ar social-democrata e nas camaratas comunistas algum mal-estar com o entendimento sintrense. Essas náuseas, sentidas a cores distintas, decerto que servem de pequeno consolo para Seguro, que parece cada vez mais exilado, sem ter culpa por ser o elo fraco da companhia. É o que eu digo - o homem parece que irá acabar os seus dias sozinho, quiçá a deambular perdidamente na floresta, lá para os lados de Monserrate. O consenso político que falhou em Belém, parece ter encontrado um albergue em Sintra. E para isso acontecer não foi necessário convocar um presidente da república, o lider da oposição e o governo de Portugal. Foi muito mais simples.