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Raymond Boudon, Os Intelectuais e o Liberalismo:
«Por outras palavras, é provável que o desenvolvimento da universidade de massas tenha contribuído para que as teorias de apreensão difícil, as ferramentas intelectuais que implicam um investimento importante em tempo de aprendizagem, tenham sido progressivamente relegadas para segundo plano no ensino e, por consequência, tenham tendido a desaparecer do saber comum, por um processo em cascata que vai do superior ao secundário. Sobretudo nas disciplinas que não estavam imunizadas pelas suas características intrínsecas.
De facto, as diversas disciplinas estão desigualmente protegidas, por força da sua própria constituição, contra os efeitos deste mecanismo. Por razões que seria inútil repisar, de tão evidentes que são, a física e a biologia estão mais protegidas do que as ciências humanas, a economia e a história estão mais protegidas do que a sociologia, por exemplo.
Este mecanismo ajuda a explicar que a hostilidade ao liberalismo seja sobretudo obra, ao que tudo indica, de intelectuais formados nas ciências humanas menos exigentes. Isto porque a tradição liberal propõe para os fenómenos sociais, políticos e económicos análises que envolvem ferramentas intelectuais, sistemas argumentativos e uma atitude mental que exigem uma aprendizagem muitas vezes encarada como ingrata.»
Leitura complementar: "Por isso pouco importa que a obesidade do Estado central prejudique toda a gente"; O relativismo cognitivo reforça a ética da convicção.