Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]




Sem punhos de rendas, o Jornal de Angola

por Nuno Castelo-Branco, em 12.10.13

 

 

O Jornal de Angola, reconhecido órgão central do governo daquele país da CPLP, talvez peque por algum exagero do tom conferido aos recados enviados a Portugal pelas autoridades de Luanda, prática que a rendilhada cortesia diplomática desaconselha. Por muito que isso custe a muito boa gente repimpada nos salões do poder, parece que os jornalistas da publicação angolana estão bem atentos ao que se tem passado em Portugal. Tendo a certeza de que jamais se esqueceram do gratificante sistema de "mão beijada" que entregou o país a um MPLA - há que incluir a patética e brutal FNLA no rol, assim como a UNITA - que à data do 25 de Abril não passava de um grupelho desmoralizado e em sério risco de abandono pelos seus mentores soviéticos, torna-se então mais saborosa esta insistência no certeiro apontar de podres que todos reconhecemos como verdadeiros. A própria irritação pelos investimentos angolanos - venham de quem vierem - em Portugal, não passa de mais um claro indício da instabilidade emocional da gente que por cá capitaneia os nossos destinos e é completamente alheia aos interesses nacionais no seu sentido mais amplo. Tenhamos então alguma atenção ao que se diz em Angola: 

 

1. "Nesse aspecto não recebemos lições de ninguém e muito menos de Portugal, onde todos os agentes políticos proclamam a separação de poderes mas aparentemente não estão preocupados que o Ministério Público tenha ligações perigosas com a comunicação social."

 

É  mentira? Quem desconhece a escandalosa promiscuidade existente entre a imprensa, os concomitantes agentes políticos e certa gente do poder judicial?

 

2. "Portugal, segundo o senhor vice-primeiro-ministro do Governo Português, é um protectorado. Lamentamos profundamente esta situação, mas pouco podemos fazer. E se pudéssemos, provavelmente as forças políticas portuguesas não aceitavam qualquer tipo de ajuda. Basta ver a forma como altos responsáveis partidários falam dos investimentos de Angola em Portugal. Alguns encaram-nos como crimes! Esses que se manifestam e outros que assim pensam mas não se pronunciam, seguramente que rejeitavam a mão solidária de Angola para Portugal deixar de ser um protectorado.

Mas a verdade é que deve deixar de sê-lo e com urgência. Portugal tem um papel fundamental na CPLP. Mas se está reduzido a um protectorado, como afirma o senhor vice-primeiro-ministro Paulo Portas e muitos outros políticos portugueses, não tem capacidade para assumir as suas responsabilidades na comunidade dos países que falam a Língua Portuguesa. Está pior do que a Guiné-Bissau, apesar de tudo um Estado soberano. E corre o risco de ter um estatuto político muito próximo da “aspirante” Guiné Equatorial. Fazemos esta constatação, com mágoa. Mas a vida continua e a CPLP não pode ficar à espera de um Portugal que até os seus mais altos dirigentes políticos aceitam seja um protectorado (...)

Gostávamos de saber que outros investidores no mundo arriscavam um euro num país em que até membros do seu Governo consideram um protectorado. Os angolanos não querem ter em Portugal um estatuto especial, ainda que os laços afectivos profundos que nos unem, o justificasse."


Politicamente e em termos de ansiados negócios, o PSD sempre foi um grande amigo dos governos de José Eduardo dos Santos, nisto competindo com o contraditório e internacionalista PC de Cunhal, Carvalhas e Jerónimo de Sousa. Nesta preferência ambos se diferenciam da apertada relação, aliás jamais cabalmente explicada, do PS com a UNITA do dr. Savimbi. 

 

De forma insofismável, o Jornal de Angola apenas escreve aquilo que há muito aqui dizemos sem rebuços. Por mera coincidência, a Portugal costumamos chamar de ..."uma espécie de Protectorado da Boémia-Morávia" e bem faz o ministro Paulo Portas em sublinhar esta humilhante situação em que o regime, no seu todo - do BE ao CDS e sucessivos inquilinos de Belém -, nos colocou.

 

Outra leitura a fazer de tudo aquilo que desabrida e oportunamente nos chega de Luanda, talvez seja um convite ao repensar da estratégia nacional, devendo esta tornar-se mais equilibrada e com um pendor claramente atlantista. De facto, se excluirmos Moçambique e Timor, todos os membros da CPLP são banhados pelo Atlântico, existindo uma miríade de possibilidades de desenvolvimento harmonioso que dê à lusofonia um lugar de destaque nas relações internacionais, sector da Defesa incluído. 

 

Portugal cultiva excelentes contactos com países como a China - um campeão de todo o tipo de casos que todos julgamos incompatíveis com a sempre alardeada Constituição portuguesa - ou a cada vez mais estranha Venezuela.  Até ao dia de hoje, não assitimos a uma única campanha concertada pela imprensa portuguesa contra estes dois regimes tão diferentes daquilo que consideramos ser uma democracia.

 

Chegou o tempo de por cá se deixarem de puerilidades. 

 

publicado às 15:24







Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas