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A queda e ascensão de Angola

por John Wolf, em 15.10.13
 
Do mesmo modo que a ex-superpotência EUA foi encostada às cordas pela Rússia no processo Síria, o ex-império colonial Portugal foi relegado para segundo plano por Angola. A história de domínio e subjugação é uma moeda de troca constante. A posição muda, os actores permanecem. A relação de forças no mundo já não é o que era. Há países que acordam rapidamente para a nova configuração geopolítica, outros nem por isso...é disso que se trata. Respeito, honra, valores, história e relações privilegiadas significa muito pouco num quadro estratégico alicerçado na oportunidade. O resto são detalhes de Machete e companhia. Deixemo-nos de invocar a ética e parcerias estratégicas (foi tudo oportunismo) - Angola é um país independente, e se profere o discurso de evasão aos condicionalismos portugueses, significa que Portugal não soube conduzir a sua política externa com acutilância suficiente. Outros virão para aproveitar o que Portugal, agora e à meia-volta, declina efusivamente. De repente Angola passou de membro da comunidade lusófona de amizade e negócios para o clube dos párias. Sobre a autoridade moral de uns e de outros - há muita roupa suja para lavar - de Portugal e de Angola. Não há uma linha que divide os campeões dos vilões, os certos dos errados. À medida que outras ex-colónias erguerem a cabeça (Timor, Moçambique ou Cabo Verde), Portugal irá lentamente encaixar nos seus processos mentais que subalternidade é um conceito muito relativo. Acontece aos melhores, aos piores, e àqueles que se encontram em terra de ninguém. Não me admiraria muito se Angola iniciasse parcerias estratégicas com um velho rival da história tordesilhana - Espanha. Angola não faz o que faz por acaso. Atinge Portugal num momento de fraqueza política, económica e social, e demonstra que a condução da sua política externa está a amadurecer. O que está a acontecer faz parte de um processo natural de Realpolitik, mas é também o resultado de um conjunto de pontas soltas de um legado colonial, de uma herança pesada deixada na praia para morrer e renascer.
 

 

publicado às 15:52


7 comentários

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De Nuno Castelo-Branco a 15.10.2013 às 16:35

O que está a acontecer é exactamente aquilo que se esperaria de um país cujo regime há quase duas gerações insiste em renegar o seu próprio legado histórico, aliás perfeitamente compreendido pelos países sa CPLP. 
Aqui mesmo neste blog tenho despretensiosamente chamado a atenção para isto e pelo que parece, os "meias brancas" do regime - da direita à esquerda - continuam deslumbrados pelos fumos do euro-novo riquismo à conta de outrém. Enfim, apesar de tudo creio que a declaração de JES não será irreversível, mas tratar-seá de um sério aviso que talvez ainda possa ser corrigido. Como se dizia, é preciso agir "agora e em força", diga a gente do eixo Balsemão/Belmiro o que bem quiser.


Para o próprio JES, para Angola e para os angolanos que aqui têm interesses, também há algo a perder. O que Portugal têm feito e conseguido, não seria assim tão fácil noutros países, Espanha incluída. Que isto sirva de aviso a quem mantem excelentes relações com a China, Venezuela e outros cujos pergaminhos democráticos "à europeia" são no mínimo questionáveis. 
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De John Wolf a 15.10.2013 às 16:41

Viva Nuno,
O legado histórico a morder os calcanhares...o timing de Angola é perfeito - o momento de fraqueza política e económica de Portugal. Nada disto é um devaneio de uma manhã outonal. Há maturidade na política externa angolana.
Um abraço,
John
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De Nuno Castelo-Branco a 15.10.2013 às 17:15

Não sei se será mesmo isso, pois por vezes parece-me que por lá ainda não descolaram do período da guerra e pior ainda, daquela desconfortável sensação de um poder que longe de conquistado pela força das armas, lhes foi entregue de bandeja, sem a tal "vitória total" que os manuais recomendariam. 
Parece-me que aproveitam bem este momento e às cegas atacam um governo composto sobretudo por amigos. Como podem eles prejudicar quem com eles sempre manteve relações que no mínimo podem ser consideradas como quase cúmplices? Julga JES que a justiça portuguesa - embora muito comprometida com a política - é por cá coisa a quem o governo facilmente dê ordens? Pois não é e o Tribunal Constitucional pode ser visto como um exemplo por estes tempos muito visível, mas apenas um entre outros. É claro que casos como aqueles a que durante anos assistimos - a total impunidade dos meliante, a destruição de "fitas incómodas" para certos políticos - são conhecidos em Luanda, daí o mal entendido que provoca a rápida adopção de reacções a quente.  É assim que ajem os países recentemente chegados à cena internacional, ou seja, a imprevisibilidade dita a norma. mas como prevalecerão sempre os altos valores do business as usual, creio que chegarão a um entendimento. Foi a este ponto que o regime nos trouxe e não existe alternativa senão contactarem directamente com quem manda na política, imprensa  e  justiça angolana. 
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De André Miguel a 15.10.2013 às 18:37

"Não me admiraria muito se Angola iniciasse parcerias estratégicas com um velho rival da história tordesilhana - Espanha"

Já está em construção:
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De John Wolf a 15.10.2013 às 21:06

Boa noite Caro André Miguel,
Grato pelo anexo que corrobora algumas ideias respeitante ao custo de oportunidade...
Cordialmente,
John
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De Equipa SAPO a 16.10.2013 às 08:55

Bom dia,
este post está em destaque na área de Opinião do SAPO.
Cumprimentos,
Ana Barrela - Portal SAPO
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De John Wolf a 16.10.2013 às 09:14

Bom dia Ana Barrela,
Muito obrigado pela honra do destaque.
Cordialmente,
John

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