Era a
terceira vez que visitava a casa de S. Miguel de Seide, agora através das palavras do autor d« O Romance do Romancista ». Acompanhei-o desde que,acompanhado pelo criado, que " levava de rédea a garrana ", deixara o Porto a caminho de Santo Tirso. Ia " abraçar aquelle que sempre fôra o mais dedicado dos mestres, o melhor dos amigos ". Durante a jornada fico a saber que trocara o Porto por Lisboa, e o quanto os seus pulmões " [ se ] fortificavam com delicia n'um bom banho de oxygenio " nesta sua incursão pelo Minho, depois de " respirar um ar mephitico, que asphyxia, nos saguões e escadas dos predios da Baixa "; e observo o encantamento no reencontro destas terras que não lhe são novas. Era grande a sua pressa de chegar, pelo que Bernardo, o criado " armava conversa " para o distrair.
Mas já Landim se avistava, mais o seu mosteiro; " - D'aqui a Seide é um pulo; estamos aqui, estamos lá. Um quarto de hora, quando muito ", dizia Bernardo para o animar.
E então, testemunha clandestina, assisti ao encontro dos dois homens de letras. Um encontro sublinhado por afectuosos abraços, só vistos em pessoas que se querem bem. Junta-se-lhes, daí a pouco D. Ana, " essa intelligente e formosa senhora que tão bem soube comprehender a grande alma de Camillo nas sublimes melancolias dos seus dias nublados e nas vibrantes alegrias dos seus dias ridentes ".
Oiço, discretamente, a conversa que encetam estes três amigos, e não me passa despercebido o tom amargurado dos anfitriões, que, para além de outros dramas domésticos, acabam de assistir, impotentes, à morte de uma netinha, " a candida flôr que durara o que duram as rosas, apenas uma aurora. "
Sem querer perturbar uma conversação, a que assisto sem que para tal haja sido convidada, despeço-me sem fazer ruído, sentindo-me uma privilegiada.