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Aclamação de D. João IV, Veloso Salgado
Dia 1 de Dezembro do ano de 2013, um dia que ficará indelevelmente marcado com o ferrete da ignomínia, pois foi nesta precisa data que, pela primeira vez na história da querelante III República, um dos feriados mais relevantes da nossa pátria deixou, aviltantemente, de ser celebrado. Os adjectivos são poucos para descrever com exactidão a crueldade infligida às gentes portuguesas pela ignorância excruciante de uma elite rancorosa e desmemoriada. Dói ainda mais saber que o fim desta celebração foi chancelado por um Governo composto, dizem muitos, pela direita saudosista dos tempos da outra senhora. No fundo, o que ontem sucedeu representa, pelo menos para aqueles que amam, sincera e denodadamente, Portugal, a confirmação oficial de que a memória histórica da Nação foi, em definitivo, esventrada. Foi esse, em grande medida, o desiderato de sempre do jacobinismo republicano. 100 anos de aventureirismos atrabiliários na política e na cultura tiveram, e teriam forçosamente de ter, como desenlace a corrosão insidiosa da comunidade e a ruína dolorosa do memorialismo respeitante aos feitos mais notáveis da grei portuguesa. Hoje, para o grosso do povo português, o 1 de Dezembro de 1640 é uma data como outra qualquer num país que, colectivamente, só enxerga a mísera brutalidade do presente, encarando a lembrança dos apertos pretéritos como um espectáculo entediante e descartável. São poucos, demasiado poucos, os que resistem ao rolo compressor do presentismo desmemoriado, mas, parafraseando Pessoa, tudo vale a pena se o amor à pátria não é pequeno. E, afortunadamente, ainda há quem ame o espírito do Portugal antigo, e deseje, fidelissimamente, recobrar a essência da alma portuguesa. Num futuro que não promete ser radioso, esse resquício de bom senso é e será, em todo o tempo, uma bênção.
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