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Sabe bem não pagar nada

por João Pinto Bastos, em 22.12.13

Entendamo-nos: o drama do desemprego é, em todas e quaisquer circunstâncias, um flagelo que corrói vidas, aspirações, vontades, anseios, e, acima de tudo, o bem comum. Quanto a isto não há, creio eu, a menor dúvida, a não ser, claro, para os cínicos que dedicam as suas pobres vidas à indiferença canhestra perante a sorte do outro. Dito isto, é, absolutamente, inacreditável, e friso bem a palavra inacreditável, o que se passou, hoje, no Pingo Doce da Rua 1.º de Dezembro, em Lisboa. Em primeiro lugar, é, no mínimo, ridículo organizar um protesto em frente de um estabelecimento comercial, no caso, um estabelecimento pertencente a um grande grupo económico, tendo como fito exigir um cabaz de produtos. Como era de esperar, dado que não houve da parte do Pingo Doce qualquer intenção de proceder em conformidade com as exigências dos organizadores do protesto, o pedido foi liminarmente recusado, o que, em seguida, motivou um ror de queixas, escrevinhadas no tão famigerado livro de reclamações, cujo cerne residia na recusa por banda dos responsáveis do Pingo Doce em fornecer os alimentos requeridos. Em segundo lugar, este protesto demonstra que, infelizmente, a mentalidade das gentes portuguesas, ou, de algumas dessas gentes, continua a ser, bastamente, reaccionária. Reparem que o argumentário permanece o mesmo: o senhor Soares dos Santos é rico, foge aos impostos, finge a caridade, e lucra com as compras dos clientes. O último argumento é, então, um must. Onde já se viu um empresário, ainda por cima riquíssimo e com fortuna investida na Holanda, ter lucro? Bem vêem que, se nós, portugueses, admitirmos tal coisa ficaremos, segundo a visão desta seita de retardados políticos, repletos de vigaristas sociais. Em resumo, um problema tão sério como o desemprego é, por pura politiquice, totalmente mistificado, servindo, desse modo, agendas obscurantistas, que não têm outro objectivo a não ser fazer Portugal retroceder a um PREC conjurado por alpinistas sociais oitocentistas. É pena, pois, em boa verdade, quem perde com tudo isto são, infelizmente, os desempregados, sobretudo aqueles que não têm voz e que vivem, dia-a-dia, num desespero lancinante em busca de uma migalha de pão ou de um emprego mal pago. É, de facto, lamentável.

publicado às 00:07


7 comentários

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De . a 22.12.2013 às 14:13

Eu estou completamente de acordo com o seu post. Apesar de não gostar do grupo Jeronimos Martins, pois acho que é um grupo com pouca ética empresarial, acho esta manifestação de ridícula, até porque, vem estragar uma outra manifestação de um cidadão, que num gesto simbólico roubou um pacote de arroz porque não tinha dinheiro para comer e o pingo doce (numa estratégia de marketing uma vez que a comunicação acompanhou a manifestação desse cidadão que ia roubar um pacote de arroz) ofereceu um cabaz de natal. 


Depois disto vem um grupo de manifestantes exigir (e não pedir) que o pingo doce lhe faça o mesmo como se fosse a obrigação do pingo doce. 


Depois os argumentos são top: "lucra com as compras dos clientes", "Onde já se viu um empresário, ainda por cima riquíssimo e com fortuna investida na Holanda, ter lucro?" Eu não sei, mas acho que o grupo Jerónimo Martins está registado como uma entidade lucrativa e por essa razão é normal ter lucro, ou ser o objetivo ter o lucro, se assim não fosse, o pingo doce estaria registado com uma entidade sem fins lucrativos. 


Com um pouco de sorte, estes manifestantes ainda tem um Iphone no bolso, que pertence a uma empresa que ganha milhões por vender os seus produtos aos seus clientes. 

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