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Cavaco Silva brinca com a Diáspora

por John Wolf, em 24.12.13

Deve ter sido Cavaco Silva, co-adjuvado por um servente, que teve a magnífica ideia de baptizar o certame de "Conselho da Diáspora Portuguesa". Será que não sabe a origem do termo? A Diáspora é uma daquelas expressões reservada para a singularidade negativa da história. A Diáspora tem a ver com a fuga perpetrada por indíviduos que nunca chegaram a ser bem-vindos nas comunidades em que se encontravam. Os judeus que escaparam ao churrasco da Inquisição, que foram expulsos ou que fugiram a sete pés de Portugal, corporizam a própria definição de Diáspora. É de um extremo mau gosto semântico e cultural, associar este encontro de campeões portugueses ao conceito de Diáspora. Os 30 eleitos para promover Portugal no mundo, que eu saiba, não foram perseguidos por motivos religiosos ou étnicos. Saíram de Portugal de um modo confortável para ocupar lugares de destaque, por mérito próprio, ou, quem sabe, por terem conhecimentos na rede de influência internacional da área dos negócios, da academia ou dos media. Estes embaixadores já têm a cama feita, e não percebo, que a toque de caixa, agora repitam o chavão de John Fitzgerald Kennedy -"ask not what my country can do for me but what I can do for my country'" (não perguntes o que o país pode fazer por ti, mas o que podes fazer pelo país). Os trinta magníficos apresentam-se como perfeitos entendedores da angústia da mala de cartão, mas aos olhos dos portugueses a caminho do banlieu, são privilegiados com laivos de misericórdia, com a necessidade de ficarem bem na fotografia para o caso de alguém perguntar: onde estavas quando Portugal ruiu? Eu? Então não sabes? Sou um dos eleitos - um dos conselheiros da Diáspora. Minhas senhoras e meus senhores, a Diáspora não é algo com que se brinque de ânimo leve. Está intimamente ligada ao conceito de genocídio, limpeza étnica, perseguição e exclusão discriminatória numa sociedade. Seria tão bom que antes de brincarem aos "justos e bons", percebessem que mexem com consciências e fantasmas históricos que não podem ser evocados desta forma boçal. Estes embaixadores nunca seriam os escolhidos para representar a memória da verdadeira diáspora, quanto mais para representar os milhares de portugueses que estão de partida da Portela em busca de melhores dias. Um pouco de bom-senso e cultura seriam mais que bem-vindos nesta ocasião, mas isso seria esperar muito de uma pequena casa situada em Belém.

publicado às 07:18







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