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A "glamourização" das boas notícias a respeito da diminuição do desemprego escondem, as mais das vezes, realidades, torturantemente, preocupantes. Os exemplos são bastos e significativos, envolvendo, com a sua aura desmobilizadora, um tecido social em que a descrença petrificante há muito assentou arraiais. Mas nem por isso as notícias relativas à diminuição do desemprego deixam de ser um bom tónico para o que aí vem. As declarações do ministro do Emprego e da Solidariedade Social são, nesse sentido, uma potente lufada de ar fresco, pois, ao inverso do que sucedia em tempos não muito remotos, o Governo, estrategicamente, não embarcou numa orgia comemorativa. A lógica é, a avaliar pelo passado comunicacional do Governo, estranhamente meridiana. No fundo, compreende-se, pois os dados lançados pelo Eurostat não são, ainda assim, de molde a criar uma felicidade exacerbada. Contudo, fazendo uma análise superficial aos números lançados pelo Eurostat, uma descida da taxa de desemprego de 17% para 15,5% não é, note-se, uma notícia despicienda. No ambiente de recessão que tem dolorosamente permeado o ajustamento português, saber que o desemprego está a descer, e a descer, recorde-se, com algum significado, é um excelente lenitivo para o trabalho político e económico que urge completar. Ademais, os dados trazidos à colação pelo instituto de estatísticas comunitário aduzem um factor extra de contentamento, designadamente o facto de, não obstante a brutalíssima carga fiscal servilmente aplicada pelo executivo, as empresas portuguesas estarem, é certo que com imensas dificuldades, a conseguir dobrar a maré da crise, abafando, desse modo, a terrível chaga social do desemprego. Como é bom de ver, nada do que atrás foi escrito impressiona grandemente os pobríssimos espíritos dos nossos comentadeiros encartados. Com ou sem boas notícias, a narrativa destes palonços permanece a mesma, apostada quase sempre em proscrever os poucos lamirés positivos carreados pelo ajustamento troikista. Porém, o que verdadeiramente importa é que, com muito sangue, suor e lágrimas, o desemprego está a retroceder, e isso, para o português comum que tem o seu emprego precário e mal pago, é, a bem da verdade, uma novidade que, devidamente aproveitada, poderá reverter os efeitos mais deletérios de uma crise que teima em não desaparecer.