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Com muita pena minha, apesar de ter sido eleito congressista, deveres académicos impedem-me de estar presente no XXV Congresso do CDS. Quero, contudo, fazer um breve comentário tendo em consideração aquilo a que assisti à hora de almoço nos telejornais, que vem também no seguimento do que tem sido a minha experiência enquanto militante do CDS e de determinados momentos que precederam o Congresso que hoje se inicia.
Estou em crer que uma das razões que impede o CDS de crescer ainda mais é a tendência intrínseca para o culto do líder que lhe subjaz, pelo menos com Paulo Portas. Não retirando o mérito ao actual líder por ter levado o CDS a ser um partido muito relevante no panorama político, quer-me parecer que um partido com demasiados militantes a padecer de um seguidismo acéfalo, caracterizado por um pensamento primário e mais afectivo e emocional do que racional, dificilmente se tornará um partido pluralista e verdadeiramente democrático. Quando as próprias lideranças instigam um ambiente de clube de fãs que mais se assemelha aos grupos de adolescentes que idolatram bandas musicais, classificando qualquer potencial tentativa de oposição, por mais honrada que possa ser, como uma "querela fulanista", escudando-se ainda numa condição em que se arrogam um contacto imediato de primeiro grau com esse Santo Gral que é o saber o que é melhor para Portugal, como se outros não pudessem ter ideias sobre o que consideram melhor para Portugal e querer colocá-las a debate num plano mais sóbrio, racional e menos arrogante, portanto, mais próprio de uma democracia liberal pluralista, dificilmente se pode impedir precisamente a fulanização do partido. Se a ideia é evitar que este sobreviva enquanto partido relevante à actual liderança, não há melhor estratégia.
Afinal, para um partido que tem no conservadorismo um dos seus pilares ideológicos, talvez muitos se esqueçam do burkeano contrato entre os mortos, os vivos e os ainda por nascer. O mesmo é dizer que para o partido florescer, é preciso entender que somos mera peça numa corrente de transmissão de uma tradição que só é dinâmica, na concepção de Michael Polanyi, se permitir a renovação, porque, como faz notar José Adelino Maltez, "a autêntica tradição sempre admitiu o verdadeiro progresso." E este só se dá em ambientes democráticos, pluralistas, que têm na discussão crítica uma peça angular, como qualquer leitor d'A Sociedade Aberta de Popper poderá perceber, não em ambientes fechados à crítica, mais característicos de regimes ditatoriais. É que em democracia, os adversários não têm de ser inimigos, muito menos quando integram o mesmo partido político.
Resta-me desejar um bom fim-de-semana e bom trabalho a todos os congressistas.