Bem parece que este post "pegou fogo", e é disso mesmo que os blogs vivem. Compreendo muito bem a desilusão do CarlosMF. O nosso "Estado Social" pode ser considerado sob vários prismas, mas o que na realidade esconde, é uma esmagadora e colossal burocracia que sustenta o sistema político-partidário a dois. É claríssimo e nem sequer admito qualquer discussão acerca deste tópico, porque considero-a como mera desculpabilização que justifica a continuação da lambugem. Estou a ser pretensioso, mas este tipo de certeza, ninguém me tira até prova em contrário.
No entanto, CMF, a protecção deve ser garantida, não podemos cair no modelo norte-americano, onde a par de colossais lucros empresariais e benesses fiscais, morrem pessoas no meio da rua, por não trazerem consigo um simples cartão de uma seguradora. Fiquei abismado com a vastidão das cidades de roulottes à saída dos grandes centros urbanos. Não queria acreditar no nível de indigência, sordidez e aspecto profundamente depressivo de multidões que se arrastam de rua em rua (Nova Iorque, Los Angeles, por exemplo). Simultaneamente, plantam um míssil intercontinental por semana, possuem 17 porta-aviões nucleares e a indústria farmacêutica/bélica/automóvel/alimentar é o que todos sabemos.
Portugal "pobre país", melhor ou pior, consegue propiciar tratamento gratuito a muita gente que enferma de males do nosso tempo. Por exemplo, nos EUA, os cancerosos, os diabéticos ou os HIV+ vivem de quermesses, charity party, etc. Incrível e absurdo. Não podemos chegar aí.
Não estou nada de acordo com a história do rendimento mínimo garantido universal, pois deve ser estudado caso a caso, para não termos que suportar episódios como aqueles vividos há 15 dias na tal quinta de qualquer coisa (esqueci-me do nome). No preciso dia em que um infeliz choramingava roubo s de televisões, play-stations e computadores (com uma renda de casa de 5 contos que NÃO paga!), morria de FOME uma anciã de 95 anos, completamente abandonada. Mas o problema parece residir no simples facto de a dita vítima do desleixo social não pertencer a qualquer tipo de minoria... É o que parece.
Quanto à justificação sempre recorrente de citarem-se estes ou aqueles filósofos, enfim, as coisas valem o que valem e a minha absoluta preguiça intelectual (odeio esta palavra, "intelectual"), é forte motivo que me leva ao extremo aborrecimento pela leitura desses construtores de "mentalidades, homens novos, utopias" e outras ninharias . Servem como mera curiosidade artística, mas mesmo assim, prefiro um Velazquez, Rubens, Goya, etc. Maçam-me menos e são completamente inofensivos no que respeita à agitação e destruição da paz de todos.
Para os entusiastas dos acontecimentos de 1789, julgo poder almejar o constante progresso técnico que conduza à invenção da máquina do tempo. Desta forma, poderão viver o inebriante período que só teve fim no esmagamento do imperialismo republicano-imperial bonapartista, às mãos dos povos que espezinhara, explorara e humilhara até à exaustão. Para estes entusiastas-partisans, apenas um conselho: se conseguirem voltar à capital francesa de 1792-95, há que ter atenção ao que terão a dizer, à forma de se vestirem, etc. Podem perder as incorruptíveis cabeças.
Quanto à intencional e permanente "reserva mental" dos homens que fazem ou fizeram a história - chamem-se eles Guilherme II, Filipe II, os dois Napoleões, D. Carlos I, De Gaulle, etc -, parece-me abusivo passar-se o tempo em especulações de índole muito pouco científica acerca de projectos ocultos de realização pessoal. Aliás, se essa realização pessoal trouxer inerente o bem comum, porque não?
Sou totalmente favorável à existência do negregado capitalismo, pois é intrínseco - até prova em contrário - à natureza do velho Sapiens. Significa isto, liberdade de criar, pensar, agir dentro da Lei, respeitar a esfera privada de todos e de cada um, enfim, aqueles lugares comuns que apenas para nós, felizardos, o são. Falem disto aos cubanos, norte-coreanos ou sauditas. Pensarão que vivemos noutra dimensão. E vivemos mesmo!
Ia deixar a minha achega, mas o Nuno já disse quase tudo. Não me revejo igualmente nos radicalismos literalmente acéfalos da Revolução Francesa (embora ache que podia ter tomado um rumo melhor, se gente como LaFayette tivesse conseguido o controlo da situação, contrariando Burke, que a propósito, pouco tem a ver com Le Maistre) nem no simplismo dos "free markets, free minds"; aliás, a esse propósito, ainda há dias me contaram que quando surgiu a Caixa de Previdência, no fim dos anos 60, foi uma enorme alegria para muita gente humilde, sobretudo idosos, que antes disso não raramente morriam de fome e a mendigar.