Bem, parece que o Pedro julga estar a enviar (nos) um recado. Pois, não está. Sabemos bem o que capitalismo neo(?)-liberal significa e duvido muito que entre a esmagadora maioria das pessoas, haja muitos que pretendam abolir o chamado Estado Social. Não me parece. O que é de facto normal e de criticar - e perfeitamente desprezível - a colossal burocracia, conluios de interesses e gastos astronómicos para o justificar. Maus gastos dos quais o aparelho do Estado é o melhor exemplo. Nisto, insere-se a "aventura hiper-centralizadora da revolução francesa (aliás no rasto de Luís XIV.
Quanto às guerras dinásticas, é curioso, pois a república francesa foi o maior desestabilizador do status quo na Europa e submeteu o continente a um tipo de conflito jamais visto. O Pedro terá também de atender aos períodos - e todo o contexto de mentalidades que é implícito - da história a que se quer referir, pois o que hoje assistimos é sem dúvida, muito pior que aquilo a que se quis referir. Não haja qualquer tipo de sofisma que oculte esta verdade que nos entra em casa pela TV, etc.
Falamos de Salazar. Enfim, era eu uma criança quando faleceu, portanto, é uma personagem de outro tempo, tão distante como qualquer outra. É um objecto da história. No entanto, é com um certo enfado que todos os dias deparo com os habituais "pobres-meninos-ricos" de barbaças, órfãos do Maio 68, dizerem todo o tipo de cavalidades, com o ar mais sério deste mundo. Os aprendizes de Trotski releram a história a seu bel-prazer, re-interpretam-na como bem lhes apetece e pior, tornam as suas conjecturas ou pulsões, em verdades dogmáticas. Daí o ódio grotesco à história factual, que não pode hoje ser considerada como um amontoado de datas e de nomes sonantes. Não é. Pelo contrário, tornou-se - sempre foi, enfim -, na base essencial do conhecimento do passado, pois deve firmar-se sobre documentos, testemunhos inegáveis daquilo que realmente pensou o agente A ou B. As interpretações baseadas na vulgata partidária/facciosa, está a morrer. Até o Chomsky - um dos maiores demagogos e populistas de que há memória - parece não encontrar argumentos para negar a evidência. Disparar a torto e a direito porque se pensa que o fulano - por ser rei, imperador ou presidente - era falso ou defendia os seus próprios interesses ou ambições, é muito redutor. Continuo a acreditar que existiu e existe gente realmente interessada na coisa pública, independentemente da sua própria esfera pessoal. É claro que a vaidade humana pode muito e isso ajuda à criação das lendas negras ou douradas sobre os tais homens providenciais.
Mais um ponto, Pedro. Não podemos passar a vida a deglutir o jargão bolchevizante de que todos os progressos feitos no campo social - e percebi bem a tua deixa, ao colocar o poster do Kaiser - foram "migalhas atiradas à plebe". Terão sido, mesmo? Basta passarmos distraidamente a vista sobre os antigos "países pátrias dos trabalhadores", para concluirmos acerca de quem comia migalhas. Se os nossos pais, ou o pai do vizinho Anatoly, Ivan, Alexey, etc. Com a vantagem de não sermos considerados "inimigos do povo", coisa que abrangia toda a sociedade, desde o simples "comportamento burguês", ao cosmopolitismo (judeus), à não conformidade sexual da moral do Partido (ablação do cerebelo, internamento em pseudo-clínicas psiquiátricas, etc), ao "desviacionismo" artístico, enfim, uma imensa lista de absurdos que o capitalismo permite ou faz de conta não ver.
A organização política daquilo que entendo ser o "liberalismo", é apenas isso, um conceito político que é abusivamente e de forma anacrónica transferido para a economia, num mundo sem capacidade de gerar riqueza para tal devaneio. Um mundo onde se tornará impossível existirem contrastes tão profundos e que não comportará uma China ou uma Índia com 2 biliões de viaturas, por exemplo. Esse conceito político acima referido, permite-nos estar aqui, permanentemente, a dizer mal e a corroer o sistema que nos permite usufruir deste luxo. Nesse aspecto, sou liberal.