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Em 3 de Julho de 1866, a Prússia saía surpreendentemente vitoriosa da batalha de Koniggraetz (Sadowa) e os seus exércitos deixaram os austro-húngaros à mercê de uma paz draconiana imposta por um triunfante Bismarck. Conhecedor da realidade do equilíbrio de poderes entre as grandes potências, o Chanceler de Ferro contemporizou com os vencidos e conseguiu atrair Viena para um modus vivendi na Europa Central, propiciando aquela que seria anos mais tarde, a Dreikaiserbund. Aprendera a lição de Metternich no Congresso de Viena, quando uma França derrotada e responsável por vinte anos de guerra na Europa, foi tratada com equidade e moderação.
Este curto prólogo explicita de forma sucinta, a abissal diferença entre a qualidade dos homens políticos da velha Europa, com aqueles que hoje regem os destinos de um mundo mais plural e infinitamente mais perigoso. As sucessivas administrações norte-americanas, parecem totalmente obcecadas pelo seu estreito servilismo diante dos grupos de interesses que sustentam o verdadeiro poder da potência global, fazendo tábua rasa das mais elementares regras da diplomacia que antes do mais, deve ter como sólido alicerce, o perfeito conhecimento dos potenciais adversários, das suas forças e fraquezas e dos seus interesses vitais. Nada disto parece interessar de sobremaneira e assim, os erros vão-se fatalmente acumulando, podendo num futuro não muito distante, criar uma situação irresolúvel numa região essencial para a segurança do Ocidente e do qual a Rússia é hoje parte integrante.
Os argumentos hoje esgrimidos pela Secretária de Estado Condoleeza Rice, desmentem escandalosamente todo o articulado ainda há pouco aplicado ao caso do Kosovo, quando a situação apresenta flagrantes similitudes. Isto deixa a descoberto a duplicidade da superpotência nossa aliada, causando embaraços a todos os membros da Aliança Atlântica. O regime de Moscovo vê assim perfeitamente validada toda a sua acção no Cáucaso, podendo até ir mais longe, argumentando com o princípio das nacionalidades, outra panaceia copiosamente aplicada por outro inábil do século passado, o senhor Woodrow Wilson. A história também parece repetir-se, quando um navio americano que se dirigia a um porto georgiano, decide - decerto com instruções superiores -, retroceder e não desembarcar "ajuda humanitária". Enfim, o bom senso parece finalmente prevalecer.
Ao contrário daquilo que se passou naquele famoso e já distante jantar em Ems, já não existe um único Bismarck apto a redigir um Despacho despoletador de uma guerra. E mesmo que por absurdo se encontrasse um grande homem no comando em Washington, simplesmente não podia redigir qualquer Memorando num pedaço de papel. Os tempos são outros e os recursos bélicos impensáveis, pois os efeitos da sua utilização são sobejamente conhecidos e temidos.