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No passado dia 15 de Setembro, aqui deixei um post em referência ao discurso de Bento XVI contra a plutocracia. Apenas duas semanas depois, chegamos a esta situação, com notícias de desastres a chegar hora a hora, quase nos remetendo para a Invasão marciana daquele programa radiofónico que tendo como base A Guerra dos Mundos de H.G. Wells, há décadas espalhou o pânico na América.
A crise que se vive era previsível e já muitos se tinham apercebido da total irrealidade de uma economia fictícia, feita de gases tão rarefeitos como aqueles encontrados na estratosfera. Especulação, manipulação de números não correspondentes à realidade material, eis o que temos há muitos, demasiados anos. As implicações são fáceis de prever e julgo que podemos esperar o seguinte:
1. Fim das ilusões quanto à descida de impostos, pois os Estados serão forçados a intervir, urgindo obter mais receitas.
2. Fim da grande farra dos empréstimos para fins tão relevantes, como aquisição de electrodomésticos, férias em resorts exóticos nas Caraíbas, automóveis de gama muito acima das possibilidades dos deslumbrados compradores, apartamentos que nada valem no mercado real e que mais que nunca precipitarão em breve a indústria da construção civil para o buraco da falência. Vão acabar os regabofes dos cartões de crédito oferecidos à porta de centros comerciais e aqueles termos esquisitos como leasings, spreads, etc, que serão aplicáveis a uma minoria.
3. As pessoas terão de viver de forma mais comedida, sem 4 televisões de ecrã plano-plasma em cada divisão da casa e uma infinidade de inutilidades como 6 play-stations, dois leitores de dvd - um antigo, com dois anos e um novo, comprado ontem . E poderiamos continuar indefinidamente.
4. No plano político, assiste-se hoje à inacreditável indignação dos comentadores televisivos da economia , que agora incrédulos pela alegada politiquice dos governos e parlamentos do Ocidente, se insurgem contra o laxismo, pois ... "os Estados têm mesmo de intervir!"... (SIC). São os mesmos que ainda há dias pretendiam a privatização de tudo o que resta do sector público e ..."deixar o mercado funcionar"... Obcecados com jogos virtuais de bolsa, agora não sabem o que dizer e pior, o programa a apresentar para a salvação do sistema.
Que bela oportunidade para os partidos dos extremos políticos. É que, ou muito me engano, ou dentro em pouco as eleições tornarão bastante audíveis vozes sieg heil! um pouco por toda a parte. Ditas com um fundo musical menos marcial, como na Rússia, mas sem dúvida não deixarão de se fazer escutar por muitos. Em Portugal, na melhor das hipóteses, voltámos a 1908, com a decadência absoluta e definitiva do rotativismo. Estamos a dois anos de 1910, ano de todas as oportunidades. Quem dará o primeiro passo?