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Era uma casa grande,

por Cristina Ribeiro, em 03.11.08

 

 em granito, com portas e janelas  verdes, com muitos quartos, porque era grande a prole.

Descendia de uma família de moleiros e padeiros, e quando casou com o avô, carpinteiro que trabalhava então no Teatro Circo de Braga, começaram a construi-la, e aí montaram uma padaria, onde a avó iria dar continuidade ao negócio familiar.

      Alguns anos passados, e já com três filhos, o avô rumou ao Brasil, onde trabalhou numa fábrica de tabaco na Baía. Enquanto isso a avó, uma mulher cheia de garra, criou uma mercearia, onde, além do pão de trigo e das broas que cozia, vendia azeite, café e bacalhau. Era a Venda da avó, onde eu comi as primeiras bolachas Maria...

 

       Na altura da II Guerra, quando os alimentos eram racionados, o meu avô, que entretanto regressara, e era " um Homem bom" nunca deixou que nenhum vizinho passasse fome, mesmo quando não tinha com que pagar: como dizia a avó, " tinha os seus protegidos".

A minha mãe e tios dizem o melhor possível desse avô, de quem não guardo lembrança, pois que morreu cedo.

A avó viveu ainda por muitos anos, sempre a trabalhar na Venda. Nos seus últimos tempos, já eram os próprios clientes que se serviam: "Srª Aninhas vou levar um litro de azeite; assento no livro e pago no próximo mês". Sentada num banco a avó acenava com a cabeça: "Está bem".

 

Quando, há tempos, fui em busca da minha Escola Primária, para a fotografar, passei pelo lugar onde estava a casa, mas agora estava lá outra, bem diferente; e  pensei "ainda bem que o nosso amigo pintor a fixou naquela aguarela".

publicado às 18:03


20 comentários

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De JuliaML a 03.11.2008 às 19:34

e resta-nos a Arte de alguns, poucos, para ilustrar o que guardamos na memória...

beijinho, Cristina !
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De Cristina Ribeiro a 03.11.2008 às 19:40

Verdade Júlia. São "coisa nossas" que guardamos com carinho.
Beijinho
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De João Amorim a 03.11.2008 às 19:34

E que bem que a Cristina pinta as histórias na sua memória!
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De Cristina Ribeiro a 03.11.2008 às 19:43

Obrigada, João. As nossas memórias são as raízes que nos sustentam.
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De patti a 03.11.2008 às 21:51

Mal comecei a ler o seu post, veio-me logo à ideia: isto dava uma história mais comprida ...um conto... um romance histórico ...um livro.
De memórias a sério. Para perdurarem.
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De Cristina Ribeiro a 03.11.2008 às 22:31

Os deuses não me concederam " o engenho e a arte", Patti :)
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De Once a 04.11.2008 às 09:46

com esta não concordo nada! ;) Deram sim .. é só ter vontade de a colocar em prática minha Amiga :)

Deliciosa história esta ..

Beijinho *
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De Cristina Ribeiro a 04.11.2008 às 16:25

"Não vá o sapateiro além do chinelo", querida Once :); já me dou por muito feliz com estes biscatezinhos na blogosfera...
Beijinho
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De Nuno Castelo-Branco a 03.11.2008 às 22:58

E a Cristina fez-me recordar outra história da família. Durante a II GM, o meu avô costumava enviar todos os meses para a família dele em valença, sacos com bens de primeira necessidade, como café, cacau, arroz e outros produtos provenientes da "inútil" colónia de Moçambique. A família dele era grande e creio que a ajudinha deu-lhe imenso jeito. É uma pena ter-se esquecido de nós em 1974-75. Enfim, coisas...
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De Cristina Ribeiro a 03.11.2008 às 23:45

Memória fraca, Nuno...
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De Ana Vidal a 03.11.2008 às 23:40

Uma história terna, Cristina, que dá gosto ler.
Beijinho
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De Cristina Ribeiro a 03.11.2008 às 23:46

Obrigada, Ana.
Beijinho
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De mike a 04.11.2008 às 00:30

Para quem, como eu, tem memória fraca, ou esforça-se por ter (se eu deixasse um psicanalista dar-me-ia uma explicação para isso... risos), estes textos como o seu, são a prova provada que não preciso esforçar-me para a ter. :-)
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De Cristina Ribeiro a 04.11.2008 às 16:31

Ora, ora, Mike, a memória é inerente ao humano; se aqui estivesse Fernando Pessoa, diria- finge que não gosta de Poesia, finge que tem memória fraca :)
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De Luísa a 04.11.2008 às 01:40

Gosto imenso de saber histórias das vidas aventurosas dos nossos avós e bisavós, Cristina. São quase sempre histórias de honra e de risco, «gostos» que parecem ter-se esvaído, no espaço de um século, da «veia» portuguesa. :-)
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De Cristina Ribeiro a 04.11.2008 às 16:39

São " pequeninas" histórias anónimas, Luísa, mas com muito valor.
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De Jmb a 04.11.2008 às 02:23

Uma ternura de post. Os seus Avós só podem estar muito, mas muito orgulhosos de si.
Acredite. Tal como a Cristina é orgulhosa dos seus avós.
Eu também sou, mas infelizmente ninguém dá nada por índios. A minha trizavó era índia e se bem que muita da minha família o disfarce, eu tenho muito orgulho nela. Vou pôr uma foto dela no rosamarmore (já há tempos tinha posto).

Bem haja.
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De Cristina Ribeiro a 04.11.2008 às 16:43

E bem-haja o José, porque tudo o que me diz cala fundo...
Venha essa foto...
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De carlosbarbosaoliveira a 04.11.2008 às 15:50

Como sabe, Cristina,encantam-me estas suas visitas ao passado. E, como já lhe disse a propósito do Minho, era chegada a altura de lhes dar um cunho mais visível. Não se desmereça. Tem qualidade que sobeje para nos presentear com a sua escrita num suporte mais palpável. Eu sei que é preciso muito esforço e dedicação para o fazer, mas estou certo que esses dons também não lhe faltam.
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De Cristina Ribeiro a 04.11.2008 às 16:51

Obrigada, Carlos. Mesmo! Pelo menos, percorrendo essas etiquetas, quem sabe um presente de Natal, personalizado, para os meus :)

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