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Durante o fim de semana, o pavio que faz directo contacto com o barrilinho de pólvora nesta autêntica Santa Bárbara* em que se transformou a "situação", começou a arder mais depressa, de forma supreendentemente mais célere do que se esperava ou seria desejável. Desta vez, um Conselheiro de Estado surgiu na televisão a dizer de sua justiça e ainda bem que assim foi. Desta forma, o comum dos mortais fica ciente de, em caso de necessidade, ter uma porta aberta na RTP, para fazer valer os seus pontos de vista junto da opinião pública. É a democracia.
Mas colocam-se duas questões, talvez uma pequena e desnecessária formalidade, que dá que pensar. Sendo os Conselheiros de Estado membros de um órgão vital que tem acompanhado todos os regimes desde a Restauração da Independência em 1640, tal implica que estes, deverão sempre estar acima de qualquer suspeita, principalmente quando o próprio bom nome e reputação do regime no seu todo, é colocado em causa. Nada disto parece impressionar de sobremaneira os alegados visados, mas não seria normal o recentemente entrevistado Dr. Loureiro ter tomado voluntariamente a iniciativa de solicitar ao Chefe do Estado a suspensão da sua participação naquele Conselho?
Não surgindo essa manifestação de desapego a um cargo que garante imunidades que entorpecem a investigação e criam um claro mal estar no país, talvez não fosse descabido quem, de direito, ousasse tomar a iniciativa de chamar a personalidade à razão. Assim, tendo sido o Dr. Loureiro convidado pelo Dr. Cavaco para ocupar aquele lugar de prestígio - que é também acessível aos partidos com representação parlamentar, o que torna a posição presidencial ainda mais esdrúxula -, não terá soado a badalada que marca a hora para sua excelência tomar a atitude de exonerar ou suspender a outra aparentemente não tão insigne excelência?
Compreendemos a necessidade do criterioso e competente labor de tantas dúzias de assessores presidenciais, pois os consecutivos titulares destes órgãos de soberania, não foram preparados para tal, desde o momento em que pela primeira vez viram a luz do Sol. Assim, muito deve ser relevado, desde as recorrentes gaffes que se tornaram imagem de marca, até aos clamorosos erros de cálculo, arrogância postiça e efémero mas custoso despesismo. O Dr. Cavaco cometeu ontem um tremendo erro político, pois jamais devia pronunciar-se relativamente a um problema ao qual decerto é alheio. Deu cavaco e não devia.
O que se torna inexplicável é não existir um único assessor que o tenha aconselhado em conformidade. É isto... a república portuguesa que custa mais de 17.000.000 anuais.
* Santa Bárbara: nome outrora dado ao paiol, nos bons tempos dos galeões.