Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Já aqui tinha falado sobre um certo episódio em que a direcção dessa escola que frequentei entre 2001 e 2004 me obrigou a utilizar determinada indumentária, apesar de eu nem sequer ser natural de Coruche, apenas em 2001 fui para lá residir, facto que em si também explica muita coisa, mas adiante.
Esta escola foi aberta precisamente em 2001 e foi a minha 4.ª opção na altura de ingressar no 10.º ano, tendo acabado por contrariar a minha mãe que pretendia que eu seguisse o curso normal do ensino secundário. O meu mau feitio e infantil ânsia pela independência, isto é, por sair de casa, fez-me enveredar por esta via, feliz ou infelizmente.
Durante aqueles três anos participei em projectos como os Jovens Repórteres para o Ambiente, Hemiciclo, Euroscola (nos quais, passe a imodéstia, desempenhei um papel fulcral, raramente valorizado pelos professores ou pela direcção, o que me irritava na altura, talvez por falta de maturidade), em conjunto com colegas e amigos que formavam um grupo sem o qual também não teria sido possível vencer nesses diversos projectos e com isso projectar o nome da escola como muitos não imaginariam ser possível para uma escola tão recente.
Fiz também parte da associação de estudantes durante o 10.º e 11.º, tendo sido um dos mais ferozes críticos da direcção da escola, chegando até a organizar em conjunto com um dos meus grandes amigos uma greve em relação ao bar, posto que praticavam preços elevadíssimos e, inclusivé, o preço do almoço era ilegal de acordo com a legislação de um programa que financiava as escolas profissionais, salvo erro, se a memória não me falha, o Prodep. O resultado traduziu-se apenas pela redução dos preços em alguns produtos e numa reprimenda à minha pessoa e a esse meu amigo.
No Sábado passado realizou-se uma jantar e cerimónia de entrega dos diplomas aos recém-formados tendo sido ainda convidados os ex-alunos dos primeiros anos de existência da escola. Para começar, 20 euros para comer de entrada um crepe com maionese e uns bocados de cenoura e alface, uma sopa sem grande sabor e uns sensaborões bifinhos com cogumelos foi, mais uma vez, um gesto de arrogância e gozo para com muitos daqueles a quem também em 2004 tinham dito que ficaríamos num excelente hotel durante a nossa estadia em Estrasburgo - o Formula 1, no caso, utilizado para a prática da prostituição, cujos lençóis se encontravam num estado do qual é melhor nem falar.
Foi particularmente apreciável quando a directora da escola se aproximou de nós para nos dizer que o jantar tinha sido especialmente preparado a pensar em nós. Só nos faltou cair o queixo. Eu só pensava que com esse dinheiro ou pouco mais poderia ir jantar a alguns dos melhores restaurantes de Lisboa, e que ainda há 3 semanas, por esse preço, jantei um belo pedaço de ganso na Torre da Tv em Berlim.
A dada altura chamaram todos para a fotografia, excepto os antigos alunos que já tinham recebido o diploma, e todos ficámos estupefactos com aquela falta de consideração e falha de protocolo com a qual se desculparam dizendo apenas que nós já tinhamos recebido os nossos diplomas. Reconhecimento seja dado a um dos professores que sempre nos apoiou e que se prestou a tentar, ineficazmente, chamar a atenção para tal falha. Depois de alguma confusão com muitos dos meus colegas, que antes eram bem mais calmos que eu nas críticas, visivelmente chateados, pois estávamos mais uma vez a fazer figura de "ursos", acabei por, apesar de, ironicamente, estar a quebrar o protocolo (como referi logo no início do breve discurso), solicitar ao mestre de cerimónias, um professor que demonstrou uma grande coragem (se fosse outro qualquer e sabendo da crispação passada entre a minha pessoa e a direcção provavelmente não me permitiria tal atrevimento), que me deixasse endereçar umas breves palavras de reconhecimento a esses meus colegas, tendo posteriormente sido simbolicamente, embora talvez contrariados, fotografados. Alguns disseram que fui muito "político" ou "macio", eu preferi dar a entender o que era necessário a quem era necessário e não enxovalhar fosse quem fosse. É no entanto de assinalar a preocupação da directora que quando se apercebeu que eu ia discursar veio logo ter comigo dizendo que eu tinha sido o melhor aluno da escola e que me valorizava muito, ao que respondi com um sorriso amarelo e dizendo que não precisava de se preocupar.
Não acabaríamos no entanto a noite sem ter sido gozados mais uma vez. Depois de terem anunciado que tinham umas lembranças para nós, qual o nosso espanto quando nos apercebemos que essas lembranças eram, nada mais nada menos que, uma embalagem de bombons por cada turma.
Ainda acabei por fazer questão de tirar uma fotografia com a directora, que inclusivé acabaria por me convidar para dar aulas na escola após terminar a licenciatura (o que eu me ri por dentro).
Para culminar, a nível pessoal, logo no início do jantar pediram-me para dar uma entrevista a um jornal do distrito de Santarém, "O Mirante", a que simpaticamente acedi. Entrevistaram-me a mim, enquanto universitário, e a um outro colega enquanto trabalhador formado pela escola. Não que eu fizesse particular questão, mas já que me entrevistaram, gostaria de saber porque estranhamente nem sequer se dignificaram a colocar tal entrevista no artigo de hoje sobre este evento. É que eu, passe mais uma vez a imodéstia, já não sou um miúdo de 16 ou 17 anos, não devo nada a ninguém dessa escola, pelo contrário, e entrevistas dessas deviam ser pagas. Se houver uma próxima, prontamente declinarei. Mas como disseram muitos dos meus colegas, não haverá próxima, não vale sequer a pena voltarem a convidar-nos para coisas deste género, já estamos fartos de ser gozados. E, aliás, sabem-no tão bem quanto eu, muito mais haveria para contar. Só ainda não consegui entender o que ganham em ser assim, mas sejam felizes pois então.
Para concluir, noto apenas que isto só reforça algo que faço desde que entrei na universidade: não incluir qualquer referência à Escola Profissional de Coruche no meu Curriculum Vitae. Não o merecem, e ficou definitivamente provado que tenho razão em assim agir.