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Sobre os ataques do Hamas e de Israel

por Samuel de Paiva Pires, em 28.12.08

 

(imagem picada daqui)

 

Apesar de ser um estudante de Relações Internacionais há assuntos da realidade internacional pelos quais não nutro especial interesse. Um deles é o conflito israelo-palestiniano. Embora as questões relacionadas com a segurança se constituam como primordiais nas minhas preocupações/interesses, este conflito dura há demasiado tempo e ao longo de 60 anos transformou-se numa escalada irracional de ataque, resposta a esse ataque, tréguas, rompimento das tréguas, novo ataque, nova resposta a esse ataque, novas tréguas, e aí por diante. Imensos acordos foram firmados, todos eles com pouco ou nenhum efeito. Tornou-se por isso previsível e banal, sem fim à vista. E é por isso que, ao contrário do que aqui fiz em Agosto durante o conflito entre Rússia e Geórgia, não me vou debruçar muito sobre estes novos ataques. Noto apenas que o Hamas já tinha anunciado o fim das tréguas (via Blasfémias), e que Israel respondeu aos ataques do Hamas, embora, como nota o JCS, de forma desproporcional, se bem que a regra da proporcionalidade em Direito Internacional Público é difícil de observar e respeitar, como tantas outras prerrogativas desse e, neste caso, é um argumento cada vez mais incoerente porque sempre utilizado contra Israel, como nota Carlos Botelho. Por isso sou forçado a concordar com o António de Almeida, todos os governos têm o direito e dever de proteger os seus cidadãos, e concordo até por uma questão de coerência para comigo próprio, pois considerei esse argumento como acertado e justificável quando utilizado pelos russos no caso do conflito georgiano. Aconselho ainda a leitura da súmula realizada por Alexandre Guerra.

 

É triste notar que dois milénios depois de Jesus Cristo, séculos depois das cruzadas e imensas transformações na hierarquia das potências e sistema internacional, a religião ainda continua a ser responsável pela instabilidade e flagelo da guerra naquela região. E creio que assim continuará, por muitos e longos anos.

 

No entanto, para finalizar, gostaria de deixar uma sugestão irónica para acabar de vez com um conflito que em conjunto com muitos outros no Médio Oriente e Ásia Central se apresenta como potencialmente desestabilizador da ordem internacional, sugestão essa que já há uns tempos tinha lido algures e que não é, portanto, originalmente minha: porque é que os Estados Unidos não dão aos Israelitas um estadozeco qualquer e deixam-nos ser independentes? Aliás não são também os Estados Unidos também propagandeados  como a "terra prometida"?

publicado às 13:58


11 comentários

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De JMB a 28.12.2008 às 16:06

Gostei da "ironia" que até me parece muito consequente. O problema de Israel é o "huit-clos" em que se encontra, fruto do pós-guerra. Na altura talvez houvessem condições para criar Israel noutras coordenadas mas a Inglaterra chegou a esta brilhante conclusão. Estou convencido de que não há solução dentro da geografia política actual. Mas como resolver o problema de Jerusalém ? Translada-se ? Concerteza que não, portanto há que reduzir os palestinianos a números razoáveis. O resto do mundo islâmico é que não se vai ficar e como tal o cenário que sobra é a guerra.
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De Nuno Castelo-Branco a 28.12.2008 às 17:21

Apenas uma nota: os Estados árabes, que tanto protestam pelo direito dos palestinianos, pouco ajudam, ao contrário da UE. Pelo contrário, a miséria em que aqueles vivem, é conveniente, pois alimenta o ódio e a guerra. Não sou nada entusiasta da causa árabe. Nada mesmo.
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De JMB a 28.12.2008 às 18:29

O problema é que não existe uma causa árabe. Há múltiplas.
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De LUIS BARATA a 28.12.2008 às 19:36

É verdade que o Hamas ganhou as eleições em Gaza. Mas é também verdade que tem governado quase em ditadura , e a Faixa de Gaza parece que se transformou numa República Islâmica...
Quando unilateralmente o Hamas declara o fim da trégua e fala novamente de Israel como o "inimigo sionista" e começa a disparar mísseis, está à espera de quê?
Discordo do Samuel numa coisa: para mim é propositada a desproporcionalidade da resposta israelita, não por laivos de crueldade ou deficiente intelligence, mas sim por opção estratégica. Condenável, a meu ver, pelos danos colaterais.
Aquilo que em Direito Penal se chama "excesso de legítima defesa" passe a comparação.
Agora estou de acordo que já não há paciência para o conflito israelo-palestiniano.
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De Samuel de Paiva Pires a 28.12.2008 às 20:37

Mas eu não digo que essa desproporcionalidade seja despropositada, aliás, concordo inteiramente com o Luís, é também uma demonstração de força por parte de Israel, pese embora os tais danos colaterais.
Mesmo em termos do Direito Internacional Público a prerrogativa da proporcionalidade na resposta a ataques armados é também facilmente manipulável e creio até que raramente a analogia que faz e que compreendo perfeitamente terá dado aso a condenações.
E de facto, já não há paciência mesmo para este conflito, aliás os próprios intervenientes já não devem saber viver de outra maneira que não esta. Tréguas e paz devem-lhes fazer confusão à cabeça!
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De Nuno Castelo-Branco a 28.12.2008 às 20:43

Terra Santa... que lata!
1º Um tal Moisés (ao que parece um infante egípcio em atritos com o seu pai, Ramsés II), foge com os hebreus e mete-se naquele buraco arenoso, onde não havia nem leite, nem mel. Pega no atonianismo (a tal pseudo-religião que arruinou o Egipto e aparentemente foi a causa da zanga com o grande progenitor) e decide "refundir" a religião, arranjando o que se sabe, sem sequer se preocupar em disfarçar as orações, etc. FRAUDE!
2º O atonianismo volta a sofrer uma cisão, aquela que ainda hoje vivemos como a legítima e verdadeira. Sem mais comentários.
3º Nova cisão na religião de Aton, o deus único: um barbudo cameleiro de turbante, decide arranjar sarilhos e re-interpreta a coisa, adaptando-a à sua gente. É o que se sabe e o que vemos à hora do telejornal.

Para não falarmos nos bailónicos, assírios, caldeus, hititas, filisteus, romanos, gregos, egípcios, turcos, etc, etc.

Que inferno! Jamais porei as minhas patinhas em semelhante sítio. Que se danem...
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De De Puta Madre a 28.12.2008 às 22:51

Deixo-vos o convite para irem ( ao meu blog)ler ou ouvir a conferência do Amos Oz " A Natureza do Fanatismo". Vai valer a pena.
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De CM a 29.12.2008 às 02:02

Caríssimos, rios de tinta se têm escrito sobre este conflito!
Apenas algumas linhas, necessariamente breves:

A diáspora judaica vem de longe – e há várias diásporas:

1. A diáspora oriental, que remonta ao séc. VIII a.C, após a queda do reino do Norte (Samaria), às mãos dos imperadores da Assíria, no ano de 733 a.C.

2- Com a destruição de Jerusalém, dá-se a deportação dos judeus para a Babilónia;

3. Deu-se a diáspora egípcia, com uma imensa colónia judaica no local onde hoje se situa Assuão;

4. A diáspora do período helenístico (332 a.C) no tempo de Alexandre, com a criação da comunidade de Alexandria.

5. No período de 181-145, os judeus refugiaram-se no Egipto, ao tempo de Ptolomeu VI, como consequência da política hostil dos selêucidas.

Curiosamente, estes selêucidas são SÍRIOS…

Os ódios vêm, pois, de longe…e a errância dos judeus também…

Curioso também é o facto de, nos anos 20/30, na Europa, ver-se escrita nas paredes a frase “JUDEUS FORA DA EUROPA! VÃO PARA A PALESTINA!”

Hoje, o slogan politicamente correcto é este: “JUDEUS FORA DA PALESTINA!”

Bem, em que é que ficamos?

Lamento, mas não tenho a solução… mas creio que todos têm direito a um pedaço de terra, ao amor e à felicidade.

Como dizia o cantor revolucionário Víctor Jara, trata-se d’El derecho de vivir en paz…
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De Margarida Pereira a 29.12.2008 às 14:20

(...)"porque é que os Estados Unidos não dão aos Israelitas um estadozeco qualquer e deixam-nos ser independentes?(...)"

ai Samuel...

You know better (much better) than this...
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De Samuel de Paiva Pires a 29.12.2008 às 18:00

Oh Maggie não se chateie comigo, era apenas uma piadola, e é como escrevi, há temas para os quais já não tenho paciência...
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De António de Almeida a 29.12.2008 às 14:36

-A paz não será possível enquanto um dos lados for governado por radicais, o radicalismo de um lado alimenta o oposto, por isso o Hamas gostaria que o actual governo de Israel, moderado, perdesse as eleicções. Do outro lado convém recordar que também existe muito quem não queira a paz, basta recordar Y. Rabin. O único problema impossível de resolver será a meu ver Jerusalém, tudo o resto com maior ou menor dificuldade poderá ser obtido, embora não seja tão cedo.

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