Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Ainda o debate iniciado no Corta-fitas

por Samuel de Paiva Pires, em 09.01.09

(também publicado no Centenário da República)

 

É pena que o caríssimo Luís Naves não tenha notado que, para além de comentários irados, que vieram de ambos os lados em contenda (veja-se o post do caríssimo João Tordo, um primado de equívocos que genericamente preside a quem fala daquilo que desconhece e não se dá ao trabalho de se informar, como é claramente o caso, desculpe-me lá caro João - creio que será a este tipo de coisas que o Luís se refere quando fala de emoções básicas, ou estarei enganado?), também tal debate originou textos interessantíssimos e de uma rara qualidade na blogosfera lusa.

 

Da minha parte, continuando à espera de uma resposta por parte do Tiago Moreira Ramalho, prefiro notar que a Monarquia tem sim interesse histórico, como o Luís Naves refere, mas a História não é algo que trate apenas do passado, é que não se pode projectar o futuro sem conhecer o passado caro Luís. E como tal, aqui deixo algo escrito ontem à noite para outro âmbito:

 

(...) na busca da “verdade”, se é que existe tal, a academia tem um papel fundamental a desempenhar. A imparcialidade na análise histórica, se é impossível, tem que ser pelo menos um objectivo para o qual tendamos. Se em Ciências Sociais um dos primeiros ensinamentos é o da inexistência da neutralidade, pelo menos no que à História concerne há que clarificar devidamente o passado para poder projectar o futuro. 


Essa mesma falta de imparcialidade e de clarificação do passado recente português, em conjunto com a politização exagerada operada em determinadas disciplinas académicas, agravada pela demagogia, desinformação e desinteresse individual pelo cultivo do saber, tem ferido de morte o nível educacional de uma nação que desde a Revolução Liberal de 1820 não vive em paz consigo própria. As constantes dualidades e incoerências que já se tornaram características da psique lusitana, onde não faltam comunistas a defender ideais demo-liberais com os quais a prática do comunismo é incompatível, democratas do pensamento único que fazem lembrar a personagem do Fidalgo em o Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente, conservadores católicos que fazem lembrar a personagem do Frade dessa mesma obra, e, a mais irónica das incoerências, os republicanos laicos que não dispensam as regulares idas à Igreja, são precisamente sintomas de uma sociedade que prefere a propaganda demagógica à coerência e argumentação justificada. 


Os tempos passam, os conceitos evoluem, mas a confusão permanece generalizada. Quando os fantasmas da direita e os complexos da esquerda politicamente correcta extravasam o circunscrito campo do jogo político-social e chegam até à academia, resta a tentativa de através dessa esclarecer devidamente os objectos de estudo, almejando prosseguir o mui republicano ideal da educação do povo, que, no que à disciplina da História diz respeito, significa, pelo menos, retirar ilações dos erros do passado para evitar cometê-los no futuro. 


Porque invocando Jacques Le Goff e Aimé Césaire, é na memória que cresce a história. E um povo sem memória é um povo sem futuro.

publicado às 19:50


19 comentários

Imagem de perfil

De João Távora a 09.01.2009 às 21:11

Bela resposta, caro Samuel.
Um forte abraço.
Imagem de perfil

De Samuel de Paiva Pires a 10.01.2009 às 00:14

Obrigado caro João! Um abraço!

Comentar post







Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas