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A ciência histórica sofre muito com a selecção dos factos feita por cada historiador. Esta serve geralmente os interesses de quem paga os ordenados, pelo que a objectividade fica comprometida a par da cientificidade. Isto explica que na minha opinião a “salvação” da ciência Histórica possa estar na perspectiva Braudeliana (e da historiografia americana) que tanto peso atribui à análise económica. A leitura dos números é mais incontornável que a dos factos.
O Miguel Castelo Branco recentemente citou no seu Blogue um gráfico interessante da evolução do Produto Interno Bruto per capita português em relação ao PIB médio europeu entre 1870 e 2008.
No meu primeiro curso (Geografia) na UL perdi muito tempo a fazer anaáise estatística e de gráficos desse tipo.
Uma leitura atenta do mesmo indica os seguintes factos curiosos:
-O ponto alto atingido em 1889 (64%), curiosamente só voltou a ser igualado 100 anos depois, em 1989 já dentro da CEE e no contexto da entrada maciça dos fundos de coesão.
-Entre 1910 e 1928 o PIB português reduziu-se aproximadamente 15%.
-No período do Estado Novo, entre 1928 (ascensão de Salazar) e 1973 ocorreu um aumento de perto de 30%, não obstante os constrangimentos económicos da segunda guerra mundial e da guerra colonial. Importa ter ainda em conta, o muito baixo endividamento do país na altura da revolução de 1974 e as enormes reservas de ouro (as terceiras maiores do mundo na altura).
-Após o 25 de Abril de 1974 até 2008 (34 anos) o PIB aumentou um pouco menos de 10%, sem o ónus da referida guerra colonial e os apoios financeiros da CEE. Actualmente o endividamento nacional aproxima-se dos 70% do PIB de um ano. As projecções para 2009 indicam que o PIB deverá reduzir-se no mínimo –1.5% (pelo que os tais 10% passam com sorte a 8.5%).
Tudo isto leva a pensar acerca de qual poderia ser a situação económica portuguesa se tivessem sido mantidos os níveis de crescimento anteriores a 1974... Infelizmente estou convencido de que isso nunca teria sido possível, porque em Portugal a democracia era inevitável e ela por cá anda a par com a corrupção e ineficiência. Só se tivéssemos uma ditadura disfarçada de democracia como na Rússia de hoje.
Agora que cada um tire as suas conclusões.
O gráfico suscitou dúvidas entre os leitores pelo que passo a explicar a metodologia utilizada na sua construção.
A mesma foi a de somar todos os PIB (valores absolutos) de um ano respeitantes ao conjunto de países indicados e dividir pelo seu numero para obter a média para um dado ano. Este PIB médio europeu corresponde sempre a 100%. Seguidamente vemos a quanto corresponde em percentagem o PIB português (valor absoluto) do mesmo ano em relação ao PIB médio europeu.
Clarificando ainda mais, se por exemplo a média do PIB europeu for 20.000 euros em 1990 e o PIB (produção de riqueza) português for 15.000 nesse mesmo ano, no gráfico aparece um ponto correspondente a 75%. O gráfico resulta pois do apuramento da relação entre o PIB português e o PIB médio europeu entre 1870 e 2008.
Obtive o gráfico no seguinte Blogue http://pedroarrojagrupofinanceiro.blogspot.com que está mais centrado na área de economia.