Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




A inexistência que afinal existe

por Nuno Castelo-Branco, em 30.01.09

 

 

A comunicação do sr. primeiro-ministro ao país, trouxe uma novidade antiga de mais de um século. Durante muitas décadas, quem ousasse sugerir a existência de poderes ocultos que manobravam a seu bel-prazer a opinião pública e simultaneamente criassem factos políticos susceptíveis de perturbar a normalidade instituída, era de imediato remetido ao silêncio : "atrasado mental", lunático, tarado, troglodita, idiota chapado, obscurantista, "profundamente imbecil"..., eis alguns mimos reservados ao potencial denunciante. Forma dissuasora ou preventiva de conformação de consciências, inibe a manifestação pública da estranheza pela ocorrência de episódios suspeitos ou da visibilidade de indícios comprometedores.

 

O misteriosamente desaparecido processo do Regicídio, consiste num daqueles enigmas da História que ao invés do Triângulo das Bermudas, não encontra qualquer explicação plausível, a não ser a oportuna intervenção da misteriosa e poderosa "mão oculta" que furta à justiça os elementos necessários à formal acusação dos implicados no crime. Os conluios, as fugas aos juramentos pronunciados em sede própria, revelaram um rasto conducente a conhecidas figuras de então e que hoje, de forma bastante sintomática, têm os seus nomes exibidos em estátuas e placas toponímicas. A fuga da informação - as juras de nada valem diante da vaidade de alguns homúnculos -, possibilitaram senão a formal acusação, pelo menos um  interiorizado sentimento de conhecimento dos responsáveis morais e materiais. A responsabilidade moral torna-se assim, tão pesada quanto aquela assumida - de forma infinitamente mais corajosa, diga-se - por aqueles que empunharam as armas. Os mandantes, os poderosos que compraram consciências, adquiriram as pistolas e as carabinas, organizaram as campanhas negras de difamação na imprensa e nos panfletos de rua, conceberam o crime até ao pormenor. Quem se indignou e manifestou a repulsa pelo crime lesa-pátria, foi remetido ao silêncio. O natural medo de perseguições, a fraqueza perante a prepotência dos bem instalados, a desonrosa e escandalosa indiferença de quem zelava pela ordem pública e legitimidade constitucional - polícia e forças armadas -, fizeram o resto.

 

Processo ainda em aberto, o do Regicídio poderia hoje ser trazido à barra do Tribunal da História, como uma catarse indicadora de novos tempos, onde a independência da justiça, o primado da Lei e a simples decência cidadã, se sobrepusessem ao egoísmo, desenfreada ambição ou a negregada  e estrutural maldade de alguns homens. Há que vasculhar as gavetas de velhos armários ministeriais. Há que esperar um rebate da consciência de quem sabe onde se encontra pelo menos um dos exemplares do Processo. Mortos, enterrados e esquecidos os directos responsáveis pelo crime, a reabertura do Processo reconciliaria os portugueses com uma justiça que se quer sã e imparcial. Mas será isto possível?

 

Afinal existem, os inexistentes poderes ocultos...

publicado às 11:15


1 comentário

Sem imagem de perfil

De Helena Branco a 30.01.2009 às 12:17

No passado como no presente literal os poderes ocultos existem, comandam confundem e extinguem!

Porventura, o Regicídio ignóbil e seus perpretadores
tem colones aos montes por aí...senão veja-se o verdadeiro turbilhão de forças a moverem-se neste País! de...não há adjectivação que chegue...para os subscrever! Acabei de comprar um pequeno livro :Carta ao Príncipe Real D.Lu´s Filipe de Bragança escrita por Mouzinho de Albuquerque , que em determinada altura refere; Tudo é pequeno neste nosso Portugal de hoje! Tudo é pastagem de corruptos acrescento, digo eu!

Comentar post







Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas