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Reiterou hoje o embaixador da Indonésia em Portugal, estar aquele país interessado em participar na organização da CPLP. Apenas umas semanas após a manifestação indonésia do seu interesse na integração no já amplo e pluricontinental espaço lusófono, esta segunda declaração apenas confirma o urgente reforço deste vector essencial da política externa portuguesa.
Em declaração à imprensa, o ministro Luís Amado diz apoiar esta inclusão que a nosso ver, apenas confirma o reencontro do posicionamento externo de Portugal no mundo. Não se trata de qualquer garantia de permanência de um poder imperial que há muito se volatilizou e passou à grande História. Antes de tudo, a CPLP é o mais importante veículo de difusão da língua portuguesa, que sendo o idioma oficial de duas grandes potências económicas regionais - o Brasil e Angola -, beneficia em reflexo, o próprio estatuto internacional da antiga pátria mãe.
Há apenas uns dias, o Duque de Bragança salientava a extrema importância da cooperação - nos sectores da formação profissional e do ensino da língua -, como garantia da própria viabilidade futura do Estado português. Em entrevista à RTP África, reiterou uma linha de pensamento que já lhe conhecemos há décadas, sem que, contudo, tenha encontrado interlocutores verdadeiramente interessados no tema, Este é um dos aspectos mais estranhos e exóticos da nossa história recente, pois contraria uma tradição secular que criou os verdadeiros fundamentos da hoje propriamente denominada CPLP.
A grande adesão ao ensino do nosso idioma em Timor Leste, tornará possível num futuro próximo - apenas uma geração - a existência de uma nação de expressão portuguesa na Ásia, feito apenas conseguido pela Inglaterra. Situado numa vasta zona de enorme potencial económico, peso demográfico e situação geoestratégica e verificada a existência de importantes recursos energéticos, o Timor de expressão portuguesa poderá beneficiar de um milagre económico à imagem de outros pequenos Estados asiáticos. Com fronteiras estabilizadas desde os tempos coloniais e reconhecidas pela antiga potência ocupante - Indonésia -, não se vislumbram conflitos territoriais ou iniciativas agressivas relativamente aos seus vizinhos. Pelo contrário, o país surge como uma ponte entre a Austrália e a Indonésia, no momento exacto em que o mais populoso país muçulmano, inicia a normalização de um sistema de democracia adaptada ás realidades locais.
Tal como em Timor, cresce a vontade de aprender português noutro gigante económico, a China. Com grandes interesses localizados no Brasil e principalmente na África Austral - Angola e Moçambique -, a importância do idioma luso cresce não apenas devido às necessidades de formação académica, mas principalmente, tendo a economia e o comércio como móbil. A internacionalização desta língua oficialmente adoptada por 240 milhões, deverá assim cumprir-se através da sua utilidade como geradora de riqueza, troca de experiência técnica e veículo de cultura que aproxima povos geograficamente afastados. É um colossal património e uma oportunidade única a não desperdiçar, até porque o actual núcleo duro do português de hoje, deslocou-se irreversivelmente em direcção aos trópicos, parecendo confirmar a já muito esquecida visão de homens como Gilberto Freyre. As excelentes relações existentes entre Portugal e o antigo Ultramar no seu todo, potenciam inegavelmente estas oportunidades, principalmente quando o grave momento que atravessamos, torna bastante ténue a já muito distante imagem da Europa federal em que alguns teimosamente tudo apostaram, tal como uma quimera de perdição.
Revisão do sistema do ensino de português; conscienciosa reflexão da cooperação na área editorial oficial; incentivo ao mecenato empresarial, com atraentes incentivos de índole fiscal; melhor gestão dos recursos disponíveis, revendo-se a carreira do docente, a delimitação de áreas de intervenção urgente. Não se encontrando directamente ligada ao polo essencial que é a educação, a própria cooperação militar é de fundamental relevância, sendo desejável o progressivo afastamento de Portugal das áreas de grandes conflitos de luta pela hegemonia de recursos, como o Médio Oriente e a Ásia Central.
O desperdício de recursos que quotidianamente verificamos em Portugal, não encontra paralelo nas verbas atribuídas ao vital sector do ensino de português e em Timor, os oito milhões de Euros destinados à cooperação, são manifestamente irrisórios. O Estado deve saber e poder cortar nas despesas que a sociedade portuguesa já interiorizou como iníquas, destinando mais fundos para um sector, do qual depende a própria sobrevivência do Estado como entidade de pleno direito internacional.
Os portugueses são em regra gente patriótica e nesta fase de segurança notoriamente periclitante, o regime deverá reagir, prestando um grande serviço à nação. A não ser assim, poderão já os responsáveis começar a queimar documentação, à guisa das grandes evacuações de outros tempos e situações.