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Entusiasmados pela perspectiva de uma reedição webizada da Cabana do Pai Tomás, um certo sector que até à eleição de Obama consistiu no mais irredutível bunker de resistência à influência americana no mundo, viu na eleição do senador a possibilidade da realização do mais encarecido e permanente sonho, velho de quase um século. Não conseguindo compreender o que é a dinâmica de uma campanha eleitoral nos Estados Unidos, consideraram sempre como válidas, as vagas propostas e categóricas afirmações de retirada yankee dos pontos mais belicosos existentes no planeta, com a secreta esperança de um volatilizar da presença militar na Europa, finalmente abandonada ao seu próprio destino.
Os derrotados da Guerra Fria interiorizaram há décadas a impossibilidade de destruição do sistema demo-liberal europeu, enquanto a Aliança Atlântica servisse como capa protectora às emanações radioactivas provenientes do concentracionário sistema existente para lá da Cortina de Ferro. Os desastres no Médio Oriente e a necessidade do candidato democrata em proceder a uma campanha de clara demarcação retórica com a política prosseguida pela administração Bush, criaram o tal efeito de fogo de Santelmo que iludiu aqueles que hipnotizados pela própria propaganda, não conseguem compreender o que de facto atribui a um dado Estado num certo momento histórico, a dimensão de império hegemónico.
Decorridos apenas dois meses desde a tomada de posse de Obama, chegou o tempo das primeiras grandes desilusões. O anunciado reforço do contingente no Afeganistão, a firmeza manifestada diante do regime de Pyong-Yang, o estabelecimento de uma perfeita linha de demarcação entre a NATO e Moscovo, confirmam aquilo que já outrora afirmáramos. As administrações partidárias podem normalmente mudar nos EUA, tal como acontece em qualquer outra democracia europeia. O que permanece imutável, é a imensa rede de interesses estratégicos que conformam o império, nas suas vertentes política, económica, militar e até cultural.
Conhecedores daquilo que significou a ocupação militar soviética durante mais de quatro décadas (1944/45-1991), os países do leste europeu procuram tal como a Europa ocidental vencida e destroçada pela II Guerra Mundial, a protecção da única potência que lhes pode garantir a segurança. A América do Norte, com os seus recursos financeiros, interesses geoestratégicos particulares e uma imensa capacidade industrial, encontra-se na situação de exclusivo privilégio de beneficiar da lealdade dos antigos membros componentes do extinto Pacto de Varsóvia. A manifestação checa à visita do presidente americano, traz-nos à memória o famoso discurso de JFK na Berlim divida, que serviu sobretudo para manifestar a certeza da permanência do dispositivo que desembarcando na Normandia em 6 de Junho de 1944, mitigou os apetites finlandizadores de uma então agressiva e expansionista União Soviética.
Quem sonhava com a inclusão de polacos, checos, eslovacos, romenos, húngaros, búlgaros e bálticos dentro da estrita e teórica esfera de influência militar de secundárias potências bélicas como a Alemanha e a França - numa óptica de final consagração do continentalismo -, deve ter hoje despertado de uma forma jamais imaginada: os antigos mastins de Brezhnev pularam a cerca, não para o redil franco-alemão da planície renana, mas voando sobre o Atlântico, directamente para o pátio do Pentágono.
Uma boa notícia para Portugal e para o Reino Unido.