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A comissão para a celebração do centenário da república não tem tido uma vida fácil. Iniciando a sua actividade sob o estigma do desperdício de recursos a esbanjar em inutilidades que consistem num insulto à actual situação da esmagadora maioria dos portugueses, tem ainda pela frente, o intransponível fosso do desinteresse geral pela efeméride e até a viva hostilidade de muitos. O próprio governo tem enviado sinais contraditórios, ao apontar como momento alto do centenário, a inauguração de um Museu que em si condensa todo o imaginário popular acerca da grandeza passada simbolizada pela Monarquia.
O anúncio da canonização do Condestável Nuno Álvares Pereira consiste numa contrariedade maior e disso se aperceberam aqueles que com o mesquinho pretexto do julgamento ateísta da questão religiosa, contestam na sua natural reserva mental, a visibilidade de mais este vulto histórico que consubstancia a ideia monárquica. Para cúmulo da infelicidade, o Condestável é geralmente considerado como a raiz fundamental da Casa de Bragança e as cerimónias que decorrerão em Roma consagrarão a evidência, colocando em posição de destaque a família real portuguesa.
A ignorância, má fé e profunda estupidez congénita que vitima a maior parte dos escribas e arautos de uma certa ideia de esquerda positivista e nada moderna, trouxe à arena a histérica cacofonia que a inteligência aconselhava a evitar. Nuno Álvares é para todos um dos grandes heróis nacionais, a par de Afonso Henriques, João I, João II, Vasco da Gama, Albuquerque, João IV e tantos outros. Para os portugueses, a sua santidade deriva primordialmente, da total entrega a uma ideia de preservação da identidade que à época se tornou nacional e impôs a presença do nome Portugal nos mapas e na história. O reconhecimento da santidade do Condestável - não a queremos sequer discutir no plano religioso - possui um intenso significado político para aqueles que acreditam no porvir deste país como pátria, num conceito tão alargado que pode incluir aqueles que no mundo a nossa língua têm como sua.
A apressada adesão do presidente da república à Comissão de Honra, consiste num alto serviço que Aníbal Cavaco Silva presta ao desacreditado regime que representa, dado que a sua ausência ou silêncio, iria reforçar as generalizadas certezas ou desconfianças quanto ao destino a todos reservado por um estado de coisas que de uma forma sem precedentes, faz perigar a independência nacional.
Em boa hora o Parlamento se congratulou com a decisão papal, comprovando que a maioria dos deputados sabe que durante séculos um poder maior impediu junto do Vaticano, qualquer acção que reconhecesse sequer a existência do beato Nuno de Santa Maria. Aljubarrota pesa como vergonha escondida, anulada ou omitida nos livros de história além-fronteira.
É que para muitos, por detrás do burel, encontrar-se-á para sempre, a armadura do grande Condestável do Reino de Portugal. E isso, eles não podem esquecer. Nem nós jamais o faremos.