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Da Morte das Coisas
Somos uma democracia de regras mal definidas. Acontece não se saber bem definir as regras quando não se conhece bem o jogo. O jogo partidário conhece em Portugal uma importância impar (e crescente) que não acompanha a sua função benfeitora na sociedade. Em nome da preservação da nossa democracia e da sociedade que criamos da tentativa de implantação de uma democracia liberal, habituamo-nos a considerar a podridão da rotatividade partidária como um mal necessário. Qualquer democrata (que nãos os há em Portugal, pelo menos não na classe dirigente) sabe que o papel que os partidos desempenham na sociedade democrática é importantíssimo, mas ínfimo, pelo menos deverá ser, caso o objectivo pretendido pelo regime seja, de facto, uma democracia.
Todos os anos ouvem a mesma ladainha. Chega a época de eleições, e a discussão nunca fica apenas pelo partido em que votar. A entrega do partidarista ao seu partido é tal, que relembra a entrega do cliente ao patrono dos tempos romanos.
Ao Partido que vencer, Tudo. Ao que ficar, mais um ano, na oposição, o grande Nada. Todo o aparelho de Estado, todos os apoios sociais, todas as influências nas faculdades e academias, todas as licenças e autorizações, as melhores empreitadas (as públicas e as privadas), os sorteios, os concursos públicos (e privados), as concessões, tudo, enfim, tudo e todo o País que se quer mexer e ganhar dinheiro, está dependente da Partidocracia regente na altura. O Partidocrata, eleito e confirmado de 4 em 4 anos, é o novo aristocrata. O Partidarista, é o pajem, o plebeu e o bobo da corte.
A situação em que se viu o Samuel, com tanta oferta de Jotas no mercado, é uma situação típica que só pode ser adiada por determinado tempo. A partir de dada altura, fica bem a um rapaz recém-licenciado, que queira fazer carreira, tornar-se cliente de alguém. Bem-haja as Jotas, como é claro.
Este universo pútrido de prostituição política, descendente directo da colheita salazarista dos jovens promissores e competentes para ingressar nas listas da União Nacional, não é democracia. É uma brincadeira, e cara, por sinal.