Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]




Ah, a moral republicana

por João Pedro, em 14.08.09


 

 
Rodrigo Moita de Deus propôs à CM de Lisboa, em nome do Movimento 31 da Armada, a troca da bandeira municipal pela azul e branca, "agradecendo que a devolvessem". Depois da operação nocturna, o humor corrosivo continua agora nas palavras dos seus autores (ou membros do blogue), enquanto que os neo-carbonários parecem andar à nora e não perceber nada de nada. Entretanto, a PJ aproveitou a sua ida à CML para os levar à esquadra, com recurso à manha.


 

 


Claro que o episódio do 31 não pretendia levar-se demasiado a sério, mas tão somente chamar a atenção para a historiografia oficial da república com uma acção simbólica. Há quem já clame pelas "necessárias medidas legais" e quem, mesmo não sendo republicano, invoque o primado da lei e da ordem. É claro e indiscutível que estas devem imperar em qualquer sociedade que se queira sã e livre. Que era precisamente o que os republicanos não queriam, ao instalar o seu regime pela calúnia, pelo agit-prop, pelas bombas e pelos tiros. Pergunto-me que espécie de legitimidade terão os defensores republicanos da ordem pública, que se preparam para comemorar os 100 anos do 5 de Outubro, quando defendem a obra da carbonária? Que respeito pela lei e pelos símbolos nacionais podem invocar, eles que rasgaram a Carta e colocaram as cores do partido na bandeira nacional, acabando com o branco e azul que sempre tinham sido as cores por trás das quinas (ou até antes, em tempos do 1º Rei)? A demagogia tende a confundir-se com a hipocrisia.


 

Já agora, desde quando é que o municipalismo é pertença exclusiva do "ideário republicano"? É ver as tradições desde a Idade Média e o que do municipalismo escreveram os autores Integralistas, por exemplo.


 

Temos depois a usual tentativa de colar o rótulo de "meninos bem" a todo aquele que se reclama monárquico. O truque é velho, mas tende a perder eficácia, com a passagem do tempo e o crescente esclarecimento das pessoas. Ontem, no Público, Rui Tavares tentava fazer crer que se tratava de um grupo de brincalhões que errava o alvo porque "desrespeitaram a equivalência hierárquica" (por causa da bandeira municipal) e que a acção em si foi uma cópia do que os republicanos tinham feito, tratando-se consequentemente de uma "aculturação pela república", em que os monárquicos teriam perdido cultura própria.
 
 
Como Rui Tavares não é ignorante nem simplório, acredito que o texto fosse mais uma imensa laracha ao gosto da época, a não ser que se tenha espalhado ao comprido. Porque a ideia era uma demonstração simbólica da reposição da ordem legítima pré 5 de Outubro; por isso se substitui a bandeira da edilidade, que era a que lá estava; por isso se procedeu a tal acção, sem desacatos ou bombas. A "vassalagem perante a república" não faz por isso o menor sentido. Em termos de "aculturação", as diferenças ficaram vincadas.


 

 
Já a ideia de "meninos-bem", como disse atrás, é chão que deu uvas. Há monárquicos de direita e de esquerda, dentro e fora dos partidos, em todos os estratos sociais, nas universidades, nas artes e letras, na diplomacia, na imprensa e nas forças armadas. Se durante uns tempos eram reduzidos à imagem dos bigodes enrolados e capotes alentejanos (por vezes por culpa própria, fechando-se um pouco à sociedade), hoje só os néscios - ou os demagogos, descendentes directos dos governantes de 1911- é que recorrem à caricatura.


 

Restam algumas tentativas de menorização do caso, como o do repórter da SIC que dizia que "daqui a dias o caso vai cair no total esquecimento". Pela mediatização que colheu, incluindo o destaque no Público, não parece. Se outras se seguirem, então, vai ser o bom e o bonito. Paciência. Sempre é melhor do que os "marqueses da Bacalhoa", as bombas e os tiros, não é?

publicado às 23:40


4 comentários

Imagem de perfil

De Cristina Ribeiro a 15.08.2009 às 11:15

Na " mouche ", João Pedro!
Sem imagem de perfil

De Fernando Martins a 15.08.2009 às 14:20

Excelente...!
Imagem de perfil

De Nuno Castelo-Branco a 15.08.2009 às 22:21

Muito bem. O melhor de tudo é que aos monárquicos, nem passa pela cabeça em escrever qualquer "Comendador da Bacalhoa", pois os republicanos são exímios na faina da autofagia. Esperemos...
Sem imagem de perfil

De FLV a 17.08.2009 às 12:24

Parabéns pela excelente análise e comentário.

Comentar post







Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas