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Inacreditável! O novo chefe comunista de Espanha, cujo partido hoje também se esconde atrás da anódina sigla de Izquierda Unida, teve o topete de no primeiro encontro com o Rei João Carlos, lhe apresentar o programa "o mais detalhado possível", para a instauração de um "Estado federal, solidário e republicano". Esta gente parece nada ter aprendido com os próprios erros que levaram o país a uma longa guerra civil. O actual e vergonhoso branqueamento do período histórico de 1931-36, durante o qual a Espanha viu repetir por mil no seu território a miséria, violência e todo o tipo de arbitrariedades daquela outra república, a portuguesa de 1910-26, visa tão só fazer regressar o país vizinho à situação anterior ao desencadear da guerra. Sabemos quais as imediatas consequências de uma hipotética queda da Monarquia: secessão imediata de algumas das autonomias e seguidamente, o início de um perigoso conflito interno pela delimitação de fronteiras e partilha de recursos.
O que verdadeiramente importa a Portugal, é a equívoca expressão de Estado federal que vindo da tradição de certos sectores que para isso trabalham há mais de um século, pretende com este sofisma, a pura e simples liquidação do nosso país e da sua independência. Nada mais é, senão um mal amanhado sucedâneo de outros iberismos passados, desde as uniões dinásticas tardio-medievais, à oferta da coroa a D. Fernando II e a D. Luís I. Projecto alternadamente almejado ou proposto pela direita e pela esquerda dita moderada, surge agora - tal como em 1936 -, pela voz do PCE, aliás I.U. Tal como o seu correspondente lusitano, o PCE/IU é um partido ultra minoritário mas com uma desproporcionada audição na sociedade espanhola, beneficiando da cobardia e dos descabidos "complexos de esquerda" por parte das principais organizações partidárias do arco constitucional - o PSOE e o PP -, sempre prontas a contemporizar com a velha chantagem moral que significa uma auto-vitimização daqueles que foram os prestimosos carrascos da democracia.
Quem hoje visione os programas do Canal de História, absurdamente submetidos aos ditames de uma suspeita selecção madrilena, não deixará de verificar com espanto, a descarada manipulação da verdade dos acontecimentos passados, re-interpretados ao sabor e interesses do sector hoje representado precisamente pelo PCE/IU. Em tudo o que se refere ao período de 1931-39, "los rojos" surgem como democratas sacrificados ao ogre fascista, como se tudo aquilo que em Espanha se passou nos cinco anos de república, não tivesse sido o rastilho que fez estourar o conflito que dlaceraria o país. Nunca se fala na grande intervenção política, económica e militar de Estaline e dos seus brutais comissários russos e do PCE que acabou por dominar totalmente o regime, comprometendo-o perante o resto do mundo. Aqui e ali surgem simulacros de verdades sectoriais, como as Brigadas Internacionais - um punhado de voluntários, numa guerra de centos de milhar -, oriundos dos países do negregado Ocidente capitalista. Dos russos, dos seus tanques, metralhadoras, canhões e aviões, nada! Do roubo do ouro do Banco de Espanha, saqueado pela URSS e jamais devolvido, nem uma palavra. Dos massacres ocorridos antes e durante a Guerra Civil, apenas contam aqueles cometidos pelos franquistas, focando-se - para atemorizar os supersticiosos, - as execuções e violações da autoria de los moros de Franco. Dos assassínios de deputados da direita da república, dos ataques e saques à propriedade civil e da Igreja, o oblívio. As brutalidades acicatadas em pleno Parlamento pela "Pasionaria", as graves responsabilidades de Carrillo e dos militares comprometidos com o PCE e satélites, o mais absoluto silêncio! Mas isto consiste num problema interno dos espanhóis que cedem facilmente à moda do tempo, com um encolher de ombros que pagarão caro.
Pior que tudo, surge agora com inaudita frequência, a legendagem dos programas de língua inglesa exclusivamente em espanhol, num claro desrespeito pelos consumidores portugueses obrigados a paulatinamente se irem habituando à completa subalternização do seu idioma. A isto, juntemos as rajadas de imundos anúncios publicitários tagarelados em algaraviada castelhana e sem qualquer interesse para uma programação dita de formação cultural, transformando o Canal de História numa mera sucursal da TVE no território português e ainda por cima, sob o despótico controle da costumeira minoria hiper-activa que por cá também temos a pouca sorte de conhecer. Torna-se ridícula esta cedência dos interesses económicos aos radicais do dito politicamente correcto e em simultâneo, alargar-se o espaço comercial da venda da banha da cobra. Estranha coligação esta, sobretudo desculpabilizadora não se sabendo bem de quê.
A discussão do Estatut catalão, agendada para os próximos tempos, poderá despoletar o processo de implosão de Espanha que paradoxalmente, conhece um brilhante período de desenvolvimento, consolidação do sistema representativo e reencontro com a história que dela fez uma grande potência. Se a Monarquia dos Bourbons permitiu à Espanha ser aquilo que é hoje, os sectores que visam a plena balcanização da península para uma posterior unificação total, há muito descobriram ser a instituição real o primeiro alvo a abater. Com uma república instaurada, cumprir-se-ia fatalmente o projecto absorcionista, tanto mais que é sobejamente conhecida a triste realidade para cá da fronteira, onde pontifica uma classe política incapaz, sumamente ignorante, corrompida pelos eflúvios inebriantes das promessas rendosas e sem um claro projecto de renovação nacional.
Após a quase volatilização eleitoral do grotescamente xenófobo e oportunista Carod Rovira - Esquerra Republicana Catalana - , serve agora este desplante do senhor Cayo Lara, para alertar as eternamente pouco atentas autoridades portuguesas. O nosso país jamais deverá ceder à tentação de participar seja de que forma for, num projecto unificador de antemão condenado ao fracasso e que inevitavelmente conduzirá a uma tragédia interna de proporções inimagináveis. Ainda no último fim de semana, o Tenente-Coronel aviador João José Brandão Ferreira escreveu no Público (edição de Sábado, 29 de Agosto de 2009, pág.35), um claro aviso sem qualquer margem para dúvidas de interpretação. Se Sampaio, Saramago, Mário Lino, o señor Iberdrola Pina Moura e outras parcas do "mundo da plutocracia" caíram na tentação do El Dorado fácil e de acesso restrito, não deverá existir qualquer ilusão acerca da vontade da esmagadora maioria dos portugueses. Não temos qualquer ensejo de reivindicação territorial em Espanha, não cabendo a legitimamente esperada retrocessão de Olivença neste capítulo. O constante aceno com a patética "questão galega", para mais nada serve senão como um chamariz que bem pelo contrário, facilitaria um certo tipo de regionalização que nada mais significa senão o desmembramento territorial português, em benefício de entidades autónomas do país vizinho.
Tal como há um ano escrevemos aqui, aqui, e aqui, o desaparecimento de Portugal integrado numa entidade ibérica, está fora de qualquer cogitação. A alternativa é uma corrida às armas. Se assim o quiserem, assim a terão.