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Enquanto este troglodita persiste na senda do irreparável, mesmo ao virar da própria esqina catalã, a situação não é nada promissora.
Goya, Duelo a garrotazos, 1819
A convulsão política que se vem desdobrando na Catalunha arrisca-se seriamente a lançar Espanha numa senda autodestrutiva. A recente sondagem realizada pelo Centro de Estudios de Opinión indica uma ampla maioria de apoio a um referendo sobre a independência na Catalunha, o que, bem vistas as coisas, denota um sentimento de exasperação popular pronto a irromper. Os brados incessantes que trovejam em quase todos os rincões do firmamento político espanhol são um indício claro da desorientação reinante num país que, não obstante as duras e rutilantes lições da história, volta a agitar fantasmas passados. Ortega disse, certa vez, que o problema catalão reconduzia-se a um mero nacionalismo particularista, que, gerido com pinças, poderia ser perfeitamente controlado, contudo, a realidade política dos nossos dias convida-nos a um certo pessimismo, e a uma análise cum grano salis. O famigerado debate em torno do mirífico conceito das "Duas Espanhas", que mobilizou os sectores mais ilustres da intelectualidade espanhola, voltou à ordem do dia no debate político espanhol. Já não se trata da emergência dos "inimigos irreconciliáveis" de Pio Baroja ou do clamor pungente de Maragall aquando do famoso grito "Adéu, Espanya!", o problema, hoje, é bem mais periculoso e agudo. O ressurgimento dos nacionalismos periféricos, estribados amiúde no ponderoso argumento fiscal, são um indício inquietante da desagregação política e social que a crise vigente veio estimular. O consenso induzido pela Transição, corroborado na Constituição de 1978, encontra-se actualmente num impasse pouco prometedor. Há em toda esta disputa algo de irracional, de desarrazoado, uma espécie de revisitação dos medos ancestrais e da essência dos bloqueios seculares que, desde sempre, obstaram ao desenvolvimento equânime da pátria de Cervantes. Goya tinha razão no espírito que o imbuiu a pintar o famoso quadro "La Riña". Mais do que a representação dos costumes rurais do campesinato castelhano, este quadro é uma imagem clássica do divisionismo perene entre os espanhóis, que, periodicamente, brota e esmaga a razão e a lógica. Esperemos que desta vez o duelo seja meramente verbal.
O descalabro espanhol prossegue indemne a qualquer lógica ou assomo de racionalidade. Rajoy, à semelhança do seu antecessor, não passa de um arlequim sem o menor talento e engenho para o exercício de um cargo cujo grau de exigência é altíssimo - longe vão os tempos de políticos da craveira de Suarez, Fraga e Mellado. É de bradar aos céus a incompetência larvar que tem vindo a propagar-se no seio do executivo espanhol. A inépcia com que foi gerido o pedido de resgate à banca espanhola, o esforço inútil dispendido na apresentação de medidas económicas mal direccionadas, ou a desorientação patenteada na gestão de uma austeridade que, por razões óbvias, exige algum talante e "savoir faire", são exemplos bem evidentes da inabilidade com que Rajoy tem lidado com a crise. Os últimos desenvolvimentos, designadamente a ameaça independentista catalã, são mais uma achega na descredibilização de um Estado que, com o aprofundamento da crise económica, vai atingindo o seu estertor político. O modelo político e social saído da Transição e dos Pactos da Moncloa vê-se perante uma encruzilhada cuja resolução afigura-se sumamente difícil. A controvérsia política actualmente em curso não se limita apenas ao desajustamento do "bienestarismo" face às novas realidades económicas e sociais resultantes da globalização, mas abrange concomitantemente outras dimensões igualmente importantes, com particular destaque para o modelo de Estado. No fundo, a crise espanhola, usando uma expressão cara a Paulo Rangel, irá desembocar inelutavelmente numa "convulsão constitucional". Resta saber, contudo, como irão reagir os sectores espanholistas às atoardas soberanistas provenientes da Catalunha. Uma coisa é certa, a crise irá certamente perturbar o presente xadrez político espanhol.
Se por catástrofe conseguisse a mirífica independência dos egoístas, a Catalunha teria uma extrema dificuldade em ingressar na União Europeia. O veto de Espanha seria uma coisa certa. Reconhecendo intimamente esta evidência sem o dizer, o sr. Mas faz subir a parada e por estes dias tem como único e exclusivo fim, o alijar das esmagadoras responsabilidades do seu partido. Responsabilidade pelo desastre financeiro catalão que já monta a 44.000 milhões, vertiginoso crescimento do desemprego e exclusão social, subida em flecha dos extremistas que à vontade pontapeiam "estranhos" ruas de Barcelona fora, vergonhosa corrupção e compadrio que transforma a região numa sub-Calábria, desastre nas relações com as outras regiões do país vizinho. Somando-se à histeria de marginais como a ERC e de outros estultos convivas das truculências de há oitenta anos, a CiU despeja gasolina para a fogueira do nacionalismo local, aliás bastante concomitante com um sacratíssimo e tradicional egoísmo que se recusa a contribuir no auxílio às zonas mais carenciadas de Espanha. Imaginam uma situação semelhante em Portugal? Curiosa, esta inflamada movida cacofónica de uma certa esquerda das festas "de cá e de lá", ansiosa por "lutas" e "libertações" sempre condutoras ao que se sabe. Agora, neste preciso momento, tenta uma nova versão da "tejerada", desta vez juntando uns tantos milhares na Plaza Neptuno, em Madrid. Quanto ao caso catalão, estes ditosos agentes do progresso, uma vez mais apoiam uma causa nada solidária, decididamente enveredam pela discriminação mais abjecta e grotescamente aplaudem o mais rançoso tipo de chauvinismo. Nada de novo.
Talvez esteja a chegar o momento certo para um discurso real directo, sem peias ou filtros da Moncloa. É que atravessando a fronteira, não existe um patético cúmplice, encavacado no vértice da pirâmide do Estado. Nada de confusões.
Têm a fama de falsários de contas, arrogantes aldrabões, maus gestores e esbanjadores a lembrarem gente de paragens mais próximas. Assim podemos definir a classe política catalã, não esquecendo a fama de péssimos e duríssimos patrões.
Agora apertados pelos desvarios cometidos, encontraram uma maneira para pressionarem o governo central a conceder-lhes mais dinheiro sem contrapartidas políticas: uma manifestação. Claro que o facto da produção catalã ser primordialmente destinada ao mercado interno do Reino onde existem mais de 35 milhões de criaturas estranhas ao Llobregat, pouco conta para estas manias de grandeza postiça. O marketing político peca por falta de originalidade. Podíamos ir mais longe, dissecando todo o tipo de argumentos utilizados, mas mencionemos apenas a impante assunção do egoísmo propalado pelos sucedâneos do detestável Rovira e uma total falta de solidariedade para com o todo nacional espanhol. Querem que os impostos cobrados na Catalunha integralmente aí permaneçam, mandando às malvas as outras regiões mais pobres do Estado. Imaginemos um artifício destes em Portugal, com a zona metropolitana de Lisboa exigindo o mesmo.
Uma manifestação em Barcelona? E depois? Ainda há dois meses assistimos a uma muito mais concorrida na mesma cidade, comemorativa da vitória espanhola no Euro 2012. Sem bandeiras idênticas às do antigo Vietname do Sul.
Em suma, a coisa está bem montada e no trilho daquilo que Barroso hoje mesmo disse. Os ininterruptos ataques à Monarquia espanhola, consistem apenas num dos recursos. Será muito mais fácil o "projecto europeu", se Estados como a Espanha, Reino Unido e a Itália desaparecerem, transformando-se em migalhas. Nem a pequena Bélgica está a salvo. Apenas restarão a Alemanha e a França. Entenderam?
Connosco, os catalães funcionam sempre naquele bem conhecido sistema do "duche escocês". Ora lhes dá para desdenharem da nossa independência - eles são sempre os "injustiçados e os que teriam merecido" a vitória pós-1640 - ou antes pelo contrário, no dia seguinte alçam-nos ao firmamento mais luminoso. Antes assim.
Durante anos, foi um esbanjar à tripa forra, numa imbatível movida política, cultural e de outros etc a toda a brida. Enfim, desta vez têm mesmo de baixar ao planeta Terra e finalmente reconhecerem o que todos lá para as bandas do Llobregat sabiam, mas fingiam desconhecer: à beira do colapso, pedem auxílio à pérfida Madrid, mas "recusam-se a ceder no campo político". Mas de que sugestões de cedências estariam à espera? Ainda há poucos meses os vimos delirantes pelas ruas de Barcelona, ruidosamente festejando a vitória espanhola no Euro. Não se vislumbrou nem uma daquelas bandeirolas parecidas com a do Vietname do Sul. Tudo fogo de vista e muito apreciaríamos escutar o que o sr. Rovira tem para nos dizer.
«Catalunha vai pedir ajuda financeira a Madrid
A região de Valência pediu na sexta-feira ajuda financeira a Madrid.
A regionalização acaba quando acaba o dinheiro de todos, ou seja, do estado central. Resta saber como é que agora, na hora de pagar a conta, vão funcionar os nacionalismos, regionalismos e outros populismos que foram exacerbados durante décadas.
Aqui está mais uma matéria a considerar pela famosa troika, vulgarmente conhecida por FMI.
Por cá, habituaram-se a que tudo seja "à borla". A última polémica provem da maternidade Alfredo da Costa e há alguns minutos, o telejornal da SIC Notícias, dizia existir um grande mal estar pela decisão de pedir o pagamento pelo fornecimento de esperma a casais inférteis.
O dito sortido de esperma chega directamente de clínicas catalãs, especializadas neste tipo de ordenha e cada unidade, monta até aos 350€, fazendo empalidecer qualquer bandeirada cobrada por outro bem conhecido sector de actividade (de luxo, diga-se). Os estatais adquirentes portugueses, pagam o produto e aplicam-no a quem dele necessite. Um bom negócio para os fornecedores, até porque matéria prima não faltará, espantando apenas, o porquê de não existir por cá quem o faça. Resta-nos saber se os prestimosos catalães ofertam a semente, ou se também cobram pelo serviço. Isto leva-nos a várias considerações, algumas delas bem susceptíveis de equívocos ou pelo menos, de umas gargalhadas de boca escancarada.
Lá se vai o ADN de Afonso Henriques. Já temos os Seats que chegam da Catalunha e agora, esperma pago pelos contribuintes e que alguns pretendem receber gratuitamente. Com um bocadinho de surrealista lata, ainda poderão vir um dia dizer que o filho é "primo" de Salvador Dali.
Um simulacro de referendo para a independência da Catalunha, obteve mais de 90% de votos favoráveis à secessão daquela região autónoma de Espanha.
Uma breve consulta de dúzias de páginas na net, permite-nos concluir o quão longe da razão estão os portugueses que exactamente nos mesmos blogues, paradoxalmente demonstram o seu apego "às modernidades dos novos tempos". Invariavelmente deparamos com a absurda coligação dos extremos do espectro político, numa absurda aliança circunstancial entre as gentes da saudação romana e os grupos do punho em riste. Como se uma secessão que inevitavelmente se tornará num exercício de histeria colectiva de cinco milhões, pudesse ser considerada como uma manifestação de justiceiro progresso!
A Catalunha não é forma alguma, uma região oprimida pela ocupação de um exército tiranicamente prepotente. A Catalunha não vê explorados os seus recursos económicos, sejam estes os que a terra, o turismo ou a mão de obra fornecem ao todo territorial da Espanha. A Catalunha enriquece com a venda dos seus produtos ao mercado interno espanhol, do qual depende enormemente. O seu Estatuto consagra amplas atribuições ao governo regional, desde a iniciativa legislativa de protecção à cultura e ao idioma, até ao reconhecimento dos símbolos identitários históricos. Em sentido prático, possui com as restantes regiões espanholas, o mesmo Rei, o mesmo exército e a mesma representação internacional.
Num futuro relativamente próximo, a separação da Catalunha poderá até ser consagrada por uma votação maciça que estabeleça um facto consumado.Este desfecho não quer dizer que venha a ser forçosamente pacífico. Internamente, o extremar de posições dos radicais - como a minoritária e xenófoba ERC -, obrigará ao salto em frente das forças mais moderadas. Desde logo surgirão conflitos com importantes minorias locais que provenientes de outras regiões espanholas, não deixarão de mostrar o seu desagrado pelo mais que certo revanchismo catalão. As últimas eleições gerais mostraram uma deslocação de voto para os partidos de âmbito nacional - PSOE e PP -, num claro sentido de manifestação de comedimento perante o aventureirismo de alguns. Os catalães dependem em muito, do grande mercado interno espanhol, do qual representam apenas pouco mais de 10% do total da população. Paralelamente, sabe-se da grande capacidade mobilizadora do patriotismo castelhano, capaz de retaliar através de eficaz boicote a tudo o que seja produzido na região secessionista. Ainda há poucos anos, as catastróficas quebras na venda do vinho Cava, ditaram uma tendência que não poderá deixar de preocupar as empresas da Catalunha. Discutia-se então nas Cortes de Madrid, a alteração dos Estatutos Autonómicos e perante as exorbitantes exigências de Barcelona, a população de Castela e de outras regiões, responderam como puderam, esvaziando os bolsos dos empresários catalães, logo mais calmos e comedidos.
A questão que verdadeiramente interessa a Portugal, não se prende com anacrónicos ímpetos nacionalistas que previsivelmente vão sempre no sentido da aposta na quimérica destruição do perigoso vizinho. A situação portuguesa é outra e o nosso país encontra-se talvez como nunca na sua história, fortemente dependente da estabilidade, vigor e boa saúde da economia espanhola. Exultar com a criação de um irritante foco de instabilidade na Península que conduzirá sem qualquer dúvida a violentos conflitos pela divisão de recursos, territórios em disputa e movimentação de populações, vai precisamente na direcção oposta ao interesse português.
As seculares fronteiras territoriais de Portugal têm como único interlocutor, uma Castela demograficamente hegemónica no conjunto do Estado vizinho. Conhecêmo-la bem e sabemos o que sempre pretendeu e sem ousar confessá-lo abertamente, ainda pretende. Com Castela compartilhamos os rios que de lá correm em direcção ao nosso Atlântico. Com Castela delimitamos as nossas águas territoriais e com Castela estamos habituados a negociar e a manifestar a nossa resistência. De Castela chegam os grandes contingentes de turistas espanhóis que nos visitam, aqui deixando importantes recursos financeiros. Conhecemo-nos mutuamente e Portugal apenas poderá beneficiar com a existência de sólidos e amistosos laços com o país vizinho. Existem sérias dúvidas quanto ao reconhecimento de uma secessão catalã pelo governo de Madrid, seja este de direita ou de esquerda. Desta forma, qualquer atitude precipitada por parte de Portugal, só poderá prejudicar a nossa situação, seja ela económica, política, social e até, internacional. A Catalunha não pesa no conjunto alargado de países de expressão portuguesa ou castelhana. De minguada dimensão populacional, provavelmente encontrará nova hostilidade a norte, em França, onde simulacros locais da ERC parecem querer criar problemas, à semelhança do caso basco.
A nossa segurança, a ligação territorial à Europa, a independência de Portugal e as sempre evidentes razões económicas, recomendam a prudência. Não existe qualquer espaço para paixões pueris em assuntos nos quais não devemos intervir. Recomenda-se a calma e a estabilidade na Península Ibérica e foi essa desde sempre, uma prioridade de todos os regimes que se sucederam em Portugal. A nossa firme determinação em manter a independência e as alianças tradicionais que garantiram uma importante presença linguística em quatro continentes, exige o completo alheamento quanto à tomada de partido nos assuntos internos de Espanha, vincando-se assim a nossa diferença. Os catalães são excessivamente orgulhosos - para não dizermos arrogantes -, patrões cúpidos, duros e não hesitam um momento que seja, em proceder dentro das nossas portas, a considerações desprimorosas relativamente a Portugal, sempre em termos materialmente comparativos. Não podemos tolerar o sacrifício de nos vermos transformados num divã de psicanálise de uns tantos milhões de exaltados irracionais. O ambiente pestífero dos exageros "nacionalistas" que vão ao ponto de excluir totalmente o castelhano da sinalização rodoviária, estende-se hoje ao comércio e todo o tipo de serviços. É fácil um turista encontrar-se em sérias dificuldades numa região onde se negam a falar o castelhano que interesseiramente utilizam no dia a dia dos negócios internacionais, sem que por outro lado consigam balbuciar a mais breve interjeição noutra língua, seja ela o inglês ou o francês. Estamos em pleno período de fervoroso exagero.
O que há duas décadas aconteceu no Leste, consiste numa lição a interiorizar. Se para mantermos a nossa tranquilidade tivermos de ignorar, ou melhor, sacrificar as loucuras de Barcelona, assim seja.
Portugal, acima de tudo.