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bonito, com céu azul, e quente.
É dia da Senhora das Candeias. Dizem-me: -a candeia está a rir, está o Inverno para vir...
então ficamos nesse pé ( quando nos cansarmos mudamos para o outro :) ): continuo a achar que aquilo a que normalmente se chama " solidariedade masculina " não é mais do que cumplicidade entre machos, que foi facilitada pelas razões aduzidas pela Luísa, mas que se estão a estender à outra parte, que é a nossa, e, como também opina a Patti, a verdadeira solidariedade não é apanágio de um dos sexos, apenas..
Quanto ao que noutro post ajunta o Mike, e, antes, a Júlia, parece-me verdade que o homem pode ser o maior amigo da mulher, mas que há por aí uns sacanas, como demonstra este testemunho, ai isso há.
Samuel, porque um bocadinho lateral, a questão das quotas: sou totalmente contra ; acho mesmo que esse é , como soe dizer-se, " um atestado de menoridade": quem tem vocação para o serviço público da política activa, e tem competência para lá chegar, há-de impor-se, como o têm feito mulheres que aí chegaram pelo seu pé.
Estamos numa época em que a mulher, com o valor para tanto,não se deixa intimidar: recorrendo a um exemplo paradigmático- ninguém pensará que Margaret Thatcher chegou aonde chegou amparada pelas ditas; em Portugal o mesmo se passa.
No limite seria o mesmo que arranjar igual sistema para que a Professora Isabel Magalhães Colaço, e depois outras mulheres, alcançasse a cátedra que conquistou, por direito.
continuo a achar que essa história de que entre os homens há maior solidariedade do que entre as mulheres é uma falácia:
Com as excepções que sempre sublinham a regra, essa alardeada " solidariedade" é uma montanha a parir um rato, pois que se reduz à cumplicidade de macho, enquanto tal, e nesse reduto, reconheço, a fémea não a tem tão vincada, mas também aqui com as honrosas excepções .
Nas demais faces de que a vida é feita, não me parece que uns sejam mais solidários do que os outros, e as " facadas nas costas" são em igual número desferidas por uns e outros.
pois que, seguindo uma máxima de um escritor que muito prezo, Tomás de Figueiredo, só posso falar daquilo que me é próximo: pessoalmente não sinto essa falta de solidariedade; bem sei que tenho em mente as amigas, que sinto mesmo muito solidárias- e poderia, não fosse o sentido de privacidade, dar-lhe conta de provas daquela coisa dos três mosqueteiros- " um por todos e todos por um" entre várias amigas.
Como antes disse, isso cresceu com o passar do tempo, e quando começámos a dar mais valor àquilo que estava mesmo ao nosso lado, e iria enriquecer as nossas vidas.
Não será, como diz, assim com as mulheres que não sentem ( ainda? ) que a amizade é mais importante do que essas competiçõezinhas, mas, pelo menos neste estádio da vida, depois dos 40, essa é uma realidade que me é desconhecida.
E, como disse, só posso falar do que conheço
* daqui, mas apelo aos reforços blogosféricos para o rebater :)
diz o caríssimo Samuel: que as mulheres não são solidárias entre si...
" Cavalheiro e Conservador", convida-me a " iniciar as hostidades", e até já se diz pronto a carregar com o epíteto de machista :)
Esse parece-me um mito que, a ter cabimento, concedo, é coisa passageira, própria, talvez, de uma tenra idade, que podemos situar no pós adolescência, início da idade madura, quando o instinto de competição deita as garras de fora, cioso do objecto que persegue,mantendo, por isso, a potencial concorrência dele afastada, e, aí, não há solidariedade que valha- mas estou convencida de que essa é uma fraqueza transversal, que atinge fémeas e machos; ou não?
Depois, com o inexorável passar do tempo, com a maturação que ele acarreta, e, consequentemente, a segurança que traz,, essa debilidade passa a fazer parte daquelas velharias que já não têm lugar sequer no sótão.
É a altura certa de recuperar aquela cumplicidade que se teve na primeira adolescência, quando o nosso mundo era feito, em grande parte, de amizades femininas.
Falo, é claro da geração que é a minha´, e da realidade que vivi e vivo...
- Leio umas páginas antes de adormecer; é o meu melhor indutor do sono. Quando tenho de ler uma frase mais do que uma vez, sei que é hora de desligar a luz.
- Mas há leitura que nos desperta totalmente.
- Pois há...; está a suceder-me com « O Escritor na Cidade », de João Bigotte Chorão...
À mesa, alguns amigos.
A conversa vai fluindo, sem a pressa de quem tem de se levantar cedo no dia seguinte, para trabalhar.
É quase Meia-Noite. Põem-se na mesa os doces da época, o champagne está pronto para os brindes ( "descruzem as pernas! " ), e, porque as crias foram celebrar a passagem de ano a outros sítios, os que são pais começam a falar dos filhos, a maioria a beirar a adolescência; a dificuldade que experimentam na sua educação( " os nossos pais tiveram a vida facilitada! " ).
A amiga que veio com essa idade de Moçambique, conta de como as coisas se passaram com ela: "- que privilegiada foste! Tão diferente de nós, os de cá!...".
Na mesa expõem-se os despojos de quase duas semanas de hostilidades benfazejas. Alguns aviam já as malas para, logo de manhã- " Bem cedo. Temos de evitar as filas de carros " -, rumarem a outros sítios mais ou menos longínquos.
Entretanto, bebe-se até à última gota do cálice ainda entre nós, porque esse é um luxo que não podemos esbanjar.
As últimas gargalhadas, as últimas impressões, " até à próxima oportunidade ".
O chá de jasmim arremata o jantar em que as palavras ditas, e as que se adivinhavam, correram livremente, num leito sem fundo.
Aquecem-se as saudades que já se sentem.
Cada um de nós refugia-se no pensamento de que o reencontro será para breve.
E é então que me parece ouvir o eco da voz da Tia Doroteia: "Já te deitaste? Já dormes? ". Desligo o computador.
- Jogar a pinhões...; temos de jogar a pinhões na noite de Natal. Os mais pequenos não conhecem essa tradição, de que tanto gostávamos na idade deles...
- Precisamos então de comprar um Rapa, e arranjar pinhas.
Enquanto saboreávamos as batatas com bacalhau, as pinhas, bem no meio do borralho, na lareira, aqueciam até se abrirem, e delas podermos, depois da ceia,tirar os pinhões, que submergíamos na água de um alguidar: só os que iam ao fundo entravam no jogo- os outros eram lançados ao fogo.
Reuníamos os pinhões e lançávamos um dado de madeira, com as letras R, T,D e P- sorte a daquele que Rapava os pinhões todos e azar daquele a quem só saía a letra P, de " põe".
Fosse qual fosse o resultado, o saldo era sempre de divertimento certo.
fotografias de cães, cavalos, pombos, esquilos e ouriços? ", pergunta a Margarida. E lembrei-me da colónia de esquilos que se propagou pelo monte do Sameiro: todos os dias, quando ia à janela, defronte da qual há um pinheiro, via um animalzinho desses a descascar uma pinha, para lhe tirar os pinhões.
Dizia-se que terá sido alguém que trouxe um casal, que depressa se multiplicou. Nunca consegui fotografá-los, porque assim que pressentiam a presença humana fugiam com as patas que tinham e com as que não tinham...
Como já não os vejo há tempos, quando li o comentário da Margarida, perguntei cá em casa se terão desaparecido; que não, que andam noutros lugares do monte, onde ainda há pinhões...
oiço, no meio das vozes masculinas, que, amiúde, soltam gritos " torna " , sinal de que os cestos estão cheios de uvas, prontos para serem despejados no lagar, pelas mulheres.
E, olhando em meu redor, penso: é verdade, a natureza adquiriu já uma pujança que não é normal nesta época do ano. Os novos rebentos nas árvores são já bem visíveis.
Enquanto nos campos , e debaixo deste céu muito azul, continuam as vindimas,
e começa a apanha do milho,cá por casa mexem-se as grandes panelas da marmelada e da geleia de marmelo, que hão-de adoçar os chás dos fins-de-semana de Inverno, a melhor das molduras das longas conversas, no aconchego que se há-de fazer.
Dizia o pai quando não queria que assistíssemos a uma qualquer conversa de adultos.
Neste fim de tarde, não preciso de ir ver, porque oiço bater "leve, levemente", e sei que é ela.
Quando saímos de manhã, sabíamos já que, se não antes, era certo encontrá-la à chegada.
Vou à janela e vejo o céu assim, carregado e ameaçador, e nem sequer posso dizer que tinha " saudades, Deus meu"...