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O poder das palavras de um Rei em frente de uma crise

por Samuel de Paiva Pires, em 07.06.11

Artigo publicado originalmente no N.º 5 do Correio Real (Maio de 2011) e no blog da Real Associação de Lisboa:

 

(Imagem "roubada" ao João Távora)

 

No momento em que escrevo este breve artigo, Portugal atravessa uma crise sem precedentes desde que aderimos à então Comunidade Económica Europeia. No cerne do que estamos a viver encontra-se uma verdadeira mudança de onde releva a sempiterna discussão sobre o papel do Estado, em que o importante é resgatar a liberdade dos portugueses e de Portugal da discricionariedade com que os políticos da nossa praça nos têm brindado, frequentemente a coberto de uma retórica demagógica onde Estado Social, neo-liberalismo e interesse nacional são expressões vociferadas sem que ninguém saiba muito bem o seu conteúdo e sentido, semeando uma confusão generalizada.

Certo é que, como Friedrich Hayek previu, o chamado “cold socialism” do Estado Social degenerou num modelo insustentável de compadrios e corrupção – económica e moral – que crescentemente vai coarctando a nossa liberdade de acção enquanto indivíduos mas também como nação, ao vermo-nos reféns de políticos e de políticas que nos trouxeram no caminho de uma dívida externa que prejudicará indelevelmente as próximas gerações. A esmagadora maioria da população está dependente do Estado, directa ou indirectamente, e este, por sua vez, está dependente do estrangeiro. A dependência financeira acentuou a falta de liberdade e sem liberdade económica, não há liberdade política. Ou seja, agora que chegámos à situação de pedir ajuda externa – que em minha opinião já deveria ter sido solicitada há mais tempo – fica patente a perda de autonomia a que estamos sujeitos.

Contudo, ao longo da nossa longa História, várias crises tivemos de enfrentar. Esta não é a mais grave das que atravessámos e não será, com toda a certeza, a última. Na verdade, desde a fundação do Reino de Portugal, se há algo verdadeiramente constante são as permanentes crises económicas, sociais e políticas em frente das quais nos soubemos reinventar. A esmagadora maioria destas ultrapassadas sob a liderança de um Rei e de Estadistas de uma craveira que parece residir apenas no passado. E neste momento em que muitos apelam a vazios “consensos nacionais” ou vêem uma esperança na figura de um Presidente da República eleito por um quarto dos eleitores, torna-se evidente a necessidade de usufruirmos do desprendimento em relação a interesses partidários de que um monarca goza, bem como a sua superioridade moral capaz de revitalizar uma nação em frente de qualquer crise.

Vem isto a propósito, também, do recente filme “O Discurso do Rei”, em torno da figura de Jorge VI, que conseguiu ultrapassar o problema de gaguez e unir um Império contra a ameaça Nazi, tornando-se, em conjunto com Winston Churchill, um símbolo de resistência durante a Segunda Guerra Mundial. Na verdade, Jorge VI e a Rainha Elizabeth prestaram um inestimável serviço ao visitarem as trincheiras por diversas vezes, e com discursos que providenciaram uma muito necessária revitalização moral das tropas e do povo.

Em Portugal, nunca foram governos de união ou salvação nacional ou Presidentes da República que uniram a nação portuguesa – aliás, a separação política entre partidos e ideologias é um sinal de vitalidade de qualquer democracia, onde a oposição tem também um papel importante na fiscalização do Governo. Foram sempre os monarcas que souberam enfrentar crises como oportunidades, e que souberam colocar ao serviço de todos a sua liberdade. E mesmo que se argumente que numa monarquia constitucional, como é o caso britânico, o Rei tem poucos poderes, parece-me evidente que poucas coisas são mais poderosas na revitalização do espírito de uma nação do que a elevação moral, o sentido de serviço e as palavras de um Rei.

Talvez mais do que nunca durante a III República, encontramo-nos hoje em frente de evidências que nos mostram como a verdadeira tradição portuguesa da monarquia seria a garantia de uma saudável democracia, como contrapeso à demagogia que fere o debate público em Portugal. Não se trata aqui de um sebastianismo bacoco, em que muitos políticos portugueses parecem rever-se, mas sim da restauração da defesa dos interesses de Portugal e dos portugueses. As palavras de um símbolo de unidade nacional como o Rei seriam de um inestimável valor para podermos enfrentar os tempos que se avizinham.

publicado às 13:11

Como encher os cofres do Estado

por Nuno Castelo-Branco, em 26.04.11

 

 

 

 

 

Aqui está uma solução, entre outras. Entretanto e em Portugal, o contribuinte será uma vez mais assaltado.

publicado às 15:39

Peneireiros solares

por Nuno Castelo-Branco, em 24.04.11

A troika-regente exige o apuramento  dos "valores efectivos e estáveis dos últimos anos", o que elevará o défice de 2010, para 9,1%. Conhecendo-se todo o processo que conduziu a este ponto e sabendo-se bem a total responsabilidade de uma certa instituição no contemporizar com a manipulação ou todas engenharias financeiras - nas quais o actual titular foi pioneiro - , apenas uma conclusão há a retirar.

 

Bem podem insistir os parvos "caçadores de assessorias", em ilibar a citada instituição de todo e qualquer vício. Viciada sempre esteve na política de auto-promoção, viciada sempre esteve na arte da dissimulação para proveito próprio. Sabemos que os peneireiros mentem deliberadamente, na esperança do presente lugar de engraxates de serviço, ser futuramente substituído por algo que dê uma pequenina ilusão de poder. Num gabinete, num comentório parlapateiro numa das estações de tv, tanto faz.  Se já existem os "Abrantes", há que encontrar um denominador comum para estes émulos. Aceitam-se sugestões.

publicado às 15:22

FMI: e se dissessem a verdade?

por Nuno Castelo-Branco, em 14.01.11

Ruínas num tempo perdido

 

Sendo a actual campanha eleitoral, um mero expediente de calendário para a nanidade que a instituição presidencial representa - como ontem surpreendentemente muito bem avisou o candidato Coelho, a presidência da República, nem sequer é um Poder Moderador -, o país devia preocupar-se mais com a questão das finanças públicas e sobretudo, com uma economia estagnada e sem grandes perspectivas de futuro. O FMI tem sido apresentado como um perigo iminente, como se Portugal corresse o risco de ser colocado sob ocupação de tropa estrangeira. Estando reduzido a um protectorado da ainda indefinível liderança europeia comandada por Berlim, os leilões da dívida soberana têm atraído compradores, que se para a maioria são desconhecidos, para alguns significam apenas uma intervenção indirecta do BCE, significando isto, a salvaguarda do Deutsche Mark, o conhecido Euro.

 

Como se justifica então, a disparatada alegria pela venda de títulos, quando os juros são estratosféricos e já apontados como ruinosos? A resposta deverá procurar-se nos meandros da política europeia e dentro de portas, no regime português. A chegada do FMI poderia significar um mais rigoroso controlo sobre as contas públicas, onde a despesa e o desperdício de recursos é por demais evidente. Juros mais baixos, adiamento sine die de determinadas obras de fachada, racionalização do sector empresarial do Estado, ou a questão das parcerias público-privadas, consistem em temas pouco interessantes para quem vê o Estado como um campo de acção para os conhecidos caçadores-recolectores. Os agentes políticos alegam abertamente a "humilhação" do país, no caso da intervenção do FMI ser necessária. Não existiu qualquer tipo de "humilhação" quando tal aconteceu há perto de três décadas e pelo contrário, os benefícios foram evidentes. Poucos portugueses quererão a entrada de estrangeiros na condução dos negócios do país, mas este, é um dado há muito adquirido, principalmente após Maastricht. O problema consiste na humilhação dos donos do regime, expostos na praça pública como os uivantes incompetentes e gananciosos que todos sabemos serem.

 

Se for essa a verdade, onde está o problema?

publicado às 12:04

Os marsupiais de Cavaco e o esquema "Continente"

por Nuno Castelo-Branco, em 28.11.10

Um comentário de Carlos Velasco, aqui:

 

"Caro Nuno,

Aí está o protótipo do empresário cavaquista, como você diz. Essa gente é muito boa a gerir um negócio nas seguintes condições:

1 - O governo, em troca da criação de "postos de trabalho", paga a infra-estrutura, doa o terreno, dá incentivos fiscais e acelera a burocracia.
2 - Os bancos, graças às dimensões do negócio, cobram spreads ridículos na comparação com o que cobram aos pequenos, para não falar de que os bancos costumam ser accionistas destas empresas. 
3 - Os fornecedores, por causa da posição desses grupos, são espremidos. No caso do continente chegam a ser obrigados a dar de graça a primeira remessa de mercadoria, a título de "teste". E depois fazem preços menores que os cobrados aos pequenos.
4 - As câmaras começam a cobrar estacionamento nos centros urbanos, o que afasta a clientela dos pequenos negócios nas cidades. Em troca, muitas vezes, constroem infra-estrutura de transporte que passa nos continentes, ou avisam o grupo sonae onde elas vão passar para este comprar o terreno barato, de preferência antes da alteração do PDM. 
5 - A cobrança de IMI não poupa quem possui um negócio num centro, mas é branda para com os continentes da vida, estrategicamente colocados em terrenos baratos e muitas vezes isentados de impostos por criarem "postos de trabalho".
6 - A GALP, ao invés de dar um desconto directo, dá um talão que só pode ser descontado no continente.
7 - Aproveitando a falta de tempo do trabalhador moderno, e o facto de que as mulheres trabalham tanto quanto os homens, se dá um desconto em alguns artigos que as pessoas fixam mais os preços e se cobra muito mais no outros, que são colocados no caminho para os bens mais consumidos. Já fiz o teste e vi que os preços do continente são muito mais caros. Algumas vezes chegam a ser cinco vezes mais caros!
8 - As grandes empresas têm condições para serem SAs, ou até terem a sede lá fora, o que facilita em muito a vida com as finanças. Já as Lda. estão f... E nem vamos falar de como os grandes são bem tratados. O pequeno tem logo o seu negócio fechado.
9 - Numa economia super-regulamentada, só os gigantes podem possuir departamentos especializados em lidar com isso. Já o pequeno não pode lidar com o negócio e a burocracia ao mesmo tempo. Depois, há o poder de lóbi. Quem vai multar o continente (milhares de postos de trabalho ameaçados...)? Mas ao zé da esquina, ninguém liga.
10 - O grupo sonae pode fazer doações e dar empregos a muito gente dos partidos. O pequeno comerciante, se o fizer, fica com o negócio quebrado.
11 - Ainda podemos lembrar daquelas privatizações feitas por encomenda, sempre nos momentos oportunos. Há uns corticeiros por aí que compraram umas acções muito baratas e depois entraram para a lista dos mais ricos do mundo, quando o mercado se apercebeu do valor do que compraram. Hoje as bombas com o nome da empresa dão os tais talões que podem ser descontados no continente, e vice-versa. 

O pior é que muitos idiotas liberais acreditam que defendem o mercado livre, quando na verdade defendem o socialismo das corporações. Enfim, para eles basta meter o rótulo "privado" numa empresa para acreditarem que ela favorece uma política de direita."

publicado às 02:09

A "Pesada Herança"

por Nuno Castelo-Branco, em 09.11.10

Qual seria hoje o seu valor, se não tivesse sido vendida uma boa parte? Eis uma questão a colocar ao Sr. Cavaco Silva. Não tardará muito até sermos "aconselhados" a alienar o que resta.

publicado às 22:49

 

Olarilololó, "Viva" a República... Numa época de contenção e sempre de "Falconaria para cá e Falconaria para lá", chega agora a notícia do reforço da verba para a presidência da comemoracionista república. Gatucho escondidinho de rabo de fora, os módicos 17,7 milhões de Euros anuais, sobem às alturas do nirvana e atingem agora os 21 milhões. Algumas sugestões para a justificação deste bodo aos pobres:

 

1. Contratação de professores de etiqueta e protocolo do Estado.

2. Mais duas dúzias de assessores ventríloquos que estejam incumbidos dos discursos e apartes públicos dos residentes de Belém.

3. Renovação urgentíssima da frota automóvel que como se sabe, é velhota de 12 meses.

4. Contratação a tempo inteiro de José António Tenente e de Miguel Vieira.

 

*Aceitam-se mais sugestões que iremos acrescentando a esta lista.

publicado às 23:52

José Sócrates vai repensar o aeroporto !

por Nuno Castelo-Branco, em 08.05.10

O Rei que fala pelo povo

 

Obrigado pelos factos e pelos "males que de longe vêem", o Senhor Primeiro-Ministro decidiu dar razão à esmagadora maioria dos seus compatriotas. Assim, vem garantir que muito provavelmente o há muito adiado e odiado aeroporto de Lisboa não será construído a breve prazo, evitando-se também a desastrosa terceira ponte que liquidaria uma boa parte da capital. Para mais, lá se vai a esperada negociata dos terrenos da Portela. Variando um pouco, eis uma sexta-feira de boas notícias. Os betoneiros, a Câmara Municipal, os comparsas gabineteiros de estudos, os acessórios assessores, os "comissionistas" e os agiotas da banca terão um péssimo fim de semana. Óptimo. Assim, terão uma excelente desculpa para uma dose reforçada da habitual Ketamina.

 

É sorte a mais: fracasso estrondoso do "Centenário", derrota previsível da "religião louca-laica" no boicote ao Papa e agora esta excelente notícia?

 

Já que estamos num anormal período de sensatez, o eng. José Sócrates poderia seguir o conselho de D. Duarte e aproveitar para fazer a estação de partida do TGV, no Pinhal Novo. Desta forma, a "inexplicavelmente idolatrada" obra raméssica, custaria metade do preço que alguns previam. Evidentemente, ficariam de fora as "comissões acordadas", as "derrapagens" e as "engenharias financeiras" em que o Esquema é perito. Para aborrecer ainda mais os calculistas planificadores da osmose de fundos em benefício próprio, o Rei de Portugal ainda propõe que as composições que rolarão a alta velocidade, sejam obrigatoriamente construídas no nosso país e por engenheiros e operários nacionais.

 

Um dia destes ainda veremos nos comícios do PC, a foice e o martelo substituídos pelas armas da Casa de Bragança.

publicado às 01:20

Justin Williams em Getliberty.org:

 

Admittedly since the United States fell into a recession over that time, it is understandable to see higher than normal levels of unemployment. But it is clear that new restrictive minimum wage laws additionally fueled higher unemployment.

Simply put, minimum wage law causes a shortage of jobs and a surplus of labor. Both of which spell disaster for individual workers, as well as the economy as a whole.

So once the latest installment of minimum wage is fully in place, Americans will see more unemployment, a deepening recession, and a massive increase in unemployment benefits in coming months. This policy will make the economic recovery more difficult and the opportunity for the average Joe much smaller.

Luckily, for the Congressional Democrats and many state legislators who passed this law in 2007, the recession has taken the rap for the current rates of unemployment. This smoke and mirror has allowed the Democrats on the hill to shirk responsibility for the current crisis.

But once the American people see another spike in unemployment after the July minimum wage increase, these politicians who hurt the business community will have nowhere to hide, which seems only fair since so many of their victims will have nowhere to work.

publicado às 23:59

Descobriram a pólvora mas ninguém deu por isso

por Samuel de Paiva Pires, em 29.03.09

 

 

Esta semana que passou a SIC Notícias noticiou que Portugal poderá estar na falência em 2014. Andei à procura e não encontrei mais referências. Ora, recuperando o que escrevi no início do ano:

 

Eu tenho uma "teoria" que carece de fundamentação que é a de que o arrendamento será um mercado muito mais sustentável e proveitoso. Porque as pessoas não se "enforcarão" durante 20, 30 ou 40 anos, porque têm muito mais flexibilidade para mudar de casa em qualquer circunstância (mudança de emprego, desemprego, saída do país) e, principalmente, porque em vez de pagarem ao banco, que por sua vez paga à banca na qual se endividou, o dinheiro mantém-se entre os consumidores, ou seja, com efeitos mais práticos a nível do desenvolvimento da economia real. Mas como eu não percebo nada de economia, isto até pode estar errado.
 
Aos empréstimos das famílias juntem-se os empréstimos das empresas e o panorama começa a não ser o melhor. Se a nossa incapacidade de pagamento dos empréstimos/dívida externa se vier a verificar, creio que estaremos de facto à beira de ter o país vendido aos estrangeiros.

 

E juntando-lhe a enorme dívida externa agravada pelo governo actual, será que é preciso ser um génio da economia para perceber que vamos entrar na bancarrota mais cedo ou mais tarde se continuarmos assim?  Será que toda a sociedade portuguesa prefere continuar a não enfrentar a realidade, a passar ao lado das evidências e a viver apenas pensando no prazer imediato, na satisfação a curto prazo?

 

Esta semana, ainda antes da tal notícia (ou no mesmo dia, se a memória não me falha), tive oportunidade de colocar umas breves ideias/questões ao Dr. Basílio Horta numa conferência no ISCSP, onde discorri brevemente sobre o facto de termos uma máquina estatal que gasta quase 50% da riqueza que o país gera, (o que o Professor António Rebelo de Sousa clarificou dizendo que isso não é necessariamente negativo, desde que tenha um efeito reprodutivo na economia e não seja despesa pública corrente - o que, convenhamos, atendendo ao desmesurado tamanho da pesada burocracia estatal e em muitos casos ineficiente, me causa certas dúvidas) - que em conjunto com uma política de intervenções na economia sem critérios ou accountability (veja-se os casos do BPN e do BPP, sobre os quais muito escrevemos por aqui, as famosas adjudicações directas ou outras que tais negociatas), me parece causar distorções graves no mercado, pois o Governo vai muito para lá da mera regulação, intervindo activamente.

 

Além disto, a legitimidade que tem vindo a ser granjeada em demasia ao papel do Estado pelo tal discurso contra aquele papão, de que todos falam mas que ninguém sabe bem o que é, o neo-liberalismo, causa-me a ligeira sensação que se está a asfixiar ainda mais a já de si frágil sociedade civil e iniciativa privada portuguesa.

 

E só para finalizar, quanto ao sector privado, é elementar que, como explica José Manuel Moreira em "Empresários, mendigos e ladrões" (Leais, Imparciais e Liberais), tão fácil é tornar delinquentes em empresários, visto terem o mesmo tipo de características empreendedoras - "correm riscos, aproveitam oportunidades, planeiam as coisas e, o que é mais importante, avançam com elas" - como o é tornar empresários em "pedintes e saqueadores".

 

Qualquer semelhança com o que se passa em Portugal é pura coincidência.

publicado às 15:10

A guerra anti off-shores e o efeito boomerang

por Nuno Castelo-Branco, em 02.03.09

 

 

Em tempos de aperto financeiro, todos os governos procuram oferecer a uma opinião pública naturalmente descontente, a possibilidade de encontrar bodes expiatórios que pela sua existência, justifiquem atitudes de força. Se há uns dois anos teve início o "ciclo ASAE", com todo o seu cortejo de parvoíces, abusos de julgamento, prepotência e exagero fiscalizador, hoje a parada subiu. Não se procura extorquir os dinheiritos amealhados pela venda de sandes, pastéis de nata ou de pataniscas mais ou menos gordurosas. Todos recordamos os idiotas argumentos invocados em prol da saúde pública - as tais pataniscas, bifanas, sandes de coirato e afins -, enquanto as cadeias de fast food, McDonald's, Pizzas Hutt's, Burger King's, Kentucky Fried Chicken's etc, proliferavam, envenenando avós, pais e filhos. É que estas empresas pertencem aos tais conglomerados adstritos a interesses financeiros com ramificações na indústria alimentar e até farmacêutica. Não convinha molestar quem mais podia e que até condicionava a acção dos Estados através dos grupos políticos, lobbies, etc.

 

As actividades de índole financeira sempre me foram absolutamente estranhas e delas tenho aquela desconfiança própria dos ignorantes e provincianos, que sempre preferiram traduzir os preços para o velho Escudo, pagar com moedas ou notas e jamais proceder a compras através da internet.  Os canais Bloomberg, SIC Economia, CBS ou a leitura de jornais económicos, jamais auferiram da minha atenção por mais de dois aborrecidos minutos. Não me interessam, nem deles quero saber, pois bem sei para o que existem e quem servem. Prefiro ver pela enésima vez o conhecido filme de Scorsese.

 

O que julgo perfeitamente intrigante, é esta súbita raiva contra um certo produto do sistema que sustenta quem manda e que dá pelo nome de off-shores. Evidentemente, a fuga anual ao fisco de triliões de euros, dólares, ienes, yuans ou libras, consiste num grave atentado à segurança e paz interna de qualquer sociedade do mundo civilizado, pois cerceia fatalmente os recursos com que os Estados contam para garantir a escolaridade, saúde, cultura ou defesa. Desta forma e como princípio geral, sou contra a existência deste chamados paraísos fiscais, os ditos off-shores. No entanto, algumas questões devem ser colocadas, no que respeita à razão da existência dos mesmos. Os factores do seu surgimento deverão ser múltiplos, desde a simples ganância e egoísmo de alguns, até à lavagem de dinheiro sujo do narcotráfico, comércio ilegal de bens - sejam eles diamantes, armas, marfins e carne branca -, passando pelo natural desejo de eximir a um Estado tentacular, uma parte substancial de património familiar adquirido ao longo de gerações.

 

Após mais de uma década de finaceirismo político - e em Portugal este tem início nos tempos finais do governo  de Soares e chegou até aos nossos dias -, eis agora o apelo ao neo-keynesianismo de recordação rooseveltiana, como convém. Tal como nos anos 30, estamos perante um caminho que foi trilhado pelos senhores FDR, Hitler, Mussolini e Salazar, procurando os governos substituir-se a uma iniciativa privada que mercê da inconsciência da manipulação de uma economia virtual, desabituou-se à sua natural função de criar riqueza material, visível e que aproveita aos povos e à civilização.

 

Os governos acicatam as gentes contra os imaginariamente fabulosos off-shores. Têm assim um meio ideal para acalmar a comunidade revoltada, prometendo moralizar no sentido  de uma participação de todos no contributo necessário para a edificação de sociedades mais justas e equitativas. No entanto, deveremos interrogar-nos acerca de algumas daquelas causas que fizeram proliferar os ditos paraísos fiscais, situem-se eles na Madeira, Ilhas Caimão, Gibraltar, Ilha de Man, Jersey, Guernesey ou Principado do Liechstenstein. 

 

O Estado arroga-se ao direito de suceder aos seus próprios súbditos, ultrapassando  quinhão dos herdeiros directos de um falecido. Quantas pequenas  propriedades, quantos despojos de jóias, quadros, móveis e até pequenas colecções não tiveram que ir a leilão, pela impossibilidade dos herdeiros - por vezes numerosos - pagarem a taxa de talião imposta pelo Estado? Com que direito? Quem compra uma casa, sabe bem que jamais será completamente sua, pois às taxas inerentes à aquisição, deverá juntar impostos anuais camarários e de património, para chegada a hora da morte, o mesmo Estado ainda ser o maior herdeiro do pobre espólio que deixa aos filhos. Incrível e verdadeiro. Um roubo descarado, uma revoltante vergonha para todos nós que com ela condescendemos.

 

Estamos todos de acordo - já o governo de João Franco o propunha - na taxação progressiva, desde que isso não signifique o desencorajamento dos agentes económicos. Sem economia onde o lucro seja uma realidade, não existirá vontade de criar, inovar ou vencer dificuldades. É a base essencial sobre a qual assenta a democracia, tal como a concebemos. Mas os Estados vêm agora anunciar a necessidade de terminar com os paraísos fiscais. Estamos todos de acordo, até porque o terrorismo, a infecção social da tóxico-dependência, o mercenarismo, o tráfico de influências, o contrabando e roubo de arte, ou o desvio de fundos, são males que prejudicam a credibilidade de todas as sociedades onde se verifica ou não, a existência de graves disparidades sociais. Em compensação e pela exigência de equidade,  o Estado deverá ser o primeiro a dar o exemplo, eximindo-se de vez à infernal tentação controleira sobre tudo e todos. O Estado é um péssimo pagador - há mesmo quem lhe chame vulgar caloteiro e vigarista sem escrúpulos -, sonega colossais somas em impostos directos e indirectos, exime a vontade de investir, criar e de arriscar. O Estado usa e abusa dos recursos que são de todos, premiando muitos que beneficiam do confortável lugar obtido através dos mesmos interesses, tráfico de influências, cunhas e compadrios que são atribuídos aos ditos off-shores.  O dinheiro público é normalmente desperdiçado em megalómanas "obras de prestígio" e de duvidosa racionalidade e em sumptuária que apenas bafeja alguns. As empresas são forçadas a pagar em avanço - por conta, diz-se...-, sendo descapitalizadas, passadas a pente fino e tudo isto, sem qualquer nítida intenção moralizadora ou conforme as regras da boa gestão. Os policias a quem cabe a manutenção da segurança e ordem públicas, são reduzidos a serventuários em part-time das repartições de finanças, usando da imaginação mais rebuscada para autuar na estrada ou pior ainda, proceder às desagradáveis e brutais penhoras que esvaziam casas e liquidam negócios de subsistência familiar. O que interessa é a colecta, seja ela feita através de todas as ASAE, polícias camarárias, de trânsito ou guardas fiscais a que se possa recorrer para a escabrosa tarefa. Importa manter o Leviatã estatal e as frotas de limusinas blindadas, as contas de telemóveis a 7.000 Euros/por pessoa ministerial, os cartões de crédito para as despesas de representação, a infinidade de comissões de estudos e de instalação, etc. 

 

Quem fez bons negócios, quem obteve  grandes mais valias através da colocação no mercado de produtos de qualidade que prestigiam um país e ajudam no crescimento do PIB e na balança de pagamentos, deve poder usar o seu dinheiro como bem lhe aprouver. Se por aí ainda existirem uns liliputianos Alfredos da Silva, todos teremos a ganhar. Se pelo contrário, o novo-rico pretender instalar na sua miamisada vivenda, dez jaccuzzis, duas piscinas e ter 4 Jeep's na sua garagem, paciência, não passa de um possidónio. O dinheiro é dele e terá apenas que pagar a respectiva taxa de luxo no acto da compra. Não pode é ser perseguido por isso, como se de um assassino se tratasse, até porque quando paga as citadas taxas na aquisição, está a contribuir directamente para o tesouro público. Desta forma, o novo-rico poderá ter então o mesmíssimo direito de questionar o Estado, acerca das frotas automóveis de luxo - que os ministros ou administradores de empresas públicas compram depois por valores irrisórios ao fim de pouco tempo de uso -, os cartões de crédito de representação, as viagens em primeira classe, estadias em hotéis de cinco estrelas, assessorias, os autocarros pagos com dinheiros públicos para o "comício ou congresso do partido", as poltronas de 5.000 euros para os gabinetes do Estado, o recebimento de comissões e outras habilidades mais.

 

Finalizando, colocar a descoberto os off-shores, criará uma nova visão mundo, onde as actividades de algumas dúzias de vigaristas e criminosos de delito comum -  quantas surpresas teremos! -, não serão decerto suficientes para ocultar à estupefacção  da maioria, as contas de homens públicos "de bem", de partidos, fundações beneméritas, governos de respeitadíssimos países e tudo isto, a par de umas pequenas vivendas, ou de dois ou três andares na periferia, pequeno património a deixar aos filhos. Agora, os Estados assumem demagogicamente o jogo perigoso e um recurso político que como fatal boomerang, acabará por atingir quem de forma oportunista  o arremessa quando lhe é conveniente. 

 

 

publicado às 17:14

Paródia em bom portugues

por Paulo Soska Oliveira, em 15.12.08

publicado às 09:36

Coisinhas boas por e-mail

por Samuel de Paiva Pires, em 02.11.08

[Carta ao Gestor do meu Banco]

 

Caro Sr.

 

Dados os acontecimentos em curso no mercado financeiro, se um dos meus cheques não for aceite devido a "fundos insuficientes", isso refere-se a si ou a mim ?

 

Com os meus cumprimentos

publicado às 23:26

Coisinhas realistas por email

por Paulo Soska Oliveira, em 28.10.08

 

 

 

 

E já agora, fica a indicação de que por estas bandas, às 15h30 já está escuro como breu...

publicado às 15:44

A entrevista de Júdice ao Correio da Manhã

por Nuno Castelo-Branco, em 19.10.08

 

José Miguel Júdice é um dos homens do regime e disso creio não existir qualquer dúvida, apesar da sua assumida e aparente independência face ao sistema partidário. Pode usar-se esta aparência como mero recurso de estilo, pois os factos demonstram que jamais se pode ser independente, quando durante décadas se exerceram os mais relevantes cargos  na estrutura do aparelho do Estado. O seu natural interesse pela corporação Justiça, indicia isto mesmo, pois é este sector que conforma a própria legalidade, erigindo-se até num Estado laico e republicano, em fazedora e garante da moral pública. Maior comprometimento com uma situação é assaz difícil de descortinar e J.M. Júdice disse se apercebe muito bem, pois ciente dos mecanismos de funcionamento da cúpula do areópago de entidades endeusadas que nos governam, jamais poderia almejar ao desempenho de qualquer cargo importante, se não tivesse previamente feito a sua profissão de fé, mesmo alijando o peso de um juvenil e português passado de contraditória militância. Homem inteligente e culto, conseguiu a síntese do impossível.

 

A entrevista ao Correio da Manhã, consiste num espectacular exercício de sageza política e numa primeira análise, visa  o previsível reordenamento das forças de influência - os tais poderes fácticos - no edifício de um Estado que inevitavelmente sofrerá ao longo dos próximos anos, modificações profundas e que para a sobrevivência de Portugal como entidade política de direito internacional, deverão ser radicais. No nosso país desde sempre existiu a vertigem de um começar de novo, procurando além-fronteiras, exemplos que nos ajudassem ao salto civilizacional - falamos de materialismo, como é óbvio -, de matriz norte europeia. Se no século XVII-XVIII prescindimos daquele esboço de Parlamento que durante séculos existiu como Cortes, enveredando pelo Absolutismo centralizador e anunciador da "república", os homens de oitocentos, vencedores de Bonaparte nas faldas do Buçaco, acabaram por sucumbir à conveniência do momento histórico, ajustando-se à sistematização teórica da trilogia de 1789-93.  Desta forma, o próprio Pombal aparece então, como um pioneiro, o farol balizador da navegação possível que conduz a humanidade ao estádio perfeito da república universal. Assim, não podemos sequer estranhar ou interrogar a razão da própria simbologia nascida da derrota da Europa em 1945, que escolheu como flâmula, uma variante daquela que ondulou em Filadélfia no já longínquo ano de 1776. É a tendência para a ilusão da fusão  do planeta num bloco monolítico, quimera de base ocidental com pouca ou nenhuma ressonância para lá dos montes Urais, pois poderemos considerar o Novo Mundo, como um prolongamento do espaço U.E/E.U.A., com o qual partilha o mesmo Deus, as línguas e a legítima reivindicação da História, considerada esta a partir do nascimento daquilo que hoje somos, nos pântanos mesopotâmicos ou no vale do Nilo.

 

Júdice alerta para o risco da falência de Portugal como Estado, entendido este - segundo depreendemos das suas palavras - como poder soberano autónomo. É uma velha visão de quatrocentos anos, conjecturada já na época do desvanecer dos fumos da Índia e que nos conduziu à fugaz e desastrosa experiência iberista. J.M. Júdice tem razão, quando afirma ..."que há uma ideia errada, que as civilizações não são mortais, que os países não são mortais, que os regimes políticos não são mortais. É mentira. Os regimes políticos morrem, os países morrem e as civilizações morrem. A história está cheia de cadáveres desse tipo". Este analista atento, decerto conhecerá perfeitamente a razão do actual estado de coisas, que deriva exactamente da abertura das janelas da Europa aos conhecidos ventos da história que envenenaram, talvez de forma irreparável, o porvir da nossa Civilização que de cedência em cedência, se descaracteriza, perdendo a força anímica, afastando aqueles que desejariam colocar-se  dentro da nossa esfera de influência e pior que tudo, encorajando aqueles que para a Europa sempre olharam como um alvo primordial de expansão, encarada esta não apenas na sua vertente territorial, mas também como organização social que impôs as doutrinas políticas que regeram o mundo nos últimos cem anos. Naquele momento, teve início a verdadeira globalização, ou seja a conformidade sistematizadora dos sistema políticos.  A China vive hoje sob um regime político engendrado na Alemanha, o mesmo acontecendo com a Índia relativamente à antiga potência suserana, o Reino Unido. Em África, assistimos à tentativa inglória da criação de entidades nacionais, num continente por nós retalhado á medida dos interesses e poder de uma Europa obcecada por um Drang nach Sud pós-Conferência de Berlim. E tudo isto, adoptando as nossas ideologias e consequentes formas de organização política e jurídica. O desastre que é evidente e quotidianamente noticiado, é atribuído, pasme-se, à falta de conformação daquelas sociedades com os princípios fundamentais que regem as sociedades ocidentais! 

 

Júdice fala na necessidade de uma maior federalização da Europa, talvez - segundo se depreende - o primeiro passo para um governo mundial, fantasma que tem perseguido todos os grandes homens, desde os imperadores chineses, a Alexandre Magno, César, Filipe II ou Bonaparte. É uma ideia ou vontade que se eterniza num constante reformular de projecto viabilizador e que na verdade, apenas trouxe o constante declínio da civilização ocidental, a permissividade e a cedência constante a forças exógenas à nossa maneira de pensar e viver. A Europa tem uma ideia perfeitamente estabelecida, daquilo que o Homem é ou deve ser e do seu lugar na sociedade, com os seus direitos, obrigações e forma de organização social que se estende à totalidade das nações erigidas em países.  Os analistas que como J.M.Júdice insistem muito numa globalização que inexplicavelmente parece ter fracassado, deviam aperceber-se da razão primordial do desaire: a impossibilidade do fim proposto, pois as rivalidades económicas, políticas e territoriais  continuarão a existir ad eternum, separando até vizinhos que numa primeira análise, algo têm em comum. JMJ fala do constante recurso dos políticos à mentira e à omissão quanto à informação da realidade do estado de coisas. Ele sabe que de outro modo, o sistema já há muito teria implodido, deitando por terra todos os sofismas habilidosamente urdidos nos salons dos seus antepassados, nos cartéis industriais ou financeiros. Afinal, o que se pretende salvar, é uma certa forma de estar no mundo, da ínfima minoria de dirigentes político-económicos que nos conduziu a uma situação que talvez ainda seja possível remediar. Quanto a Portugal, o regime afunda-se no autismo das conveniências dos grupos económicos que o patrocinam e a classe política insiste nos erros de edificações de fachada modernizadora que significam a ruína a curto prazo. Portugal apostou tudo - e mal, já a Nova Monarquia o dizia há vinte e cinco anos! - numa Europa que em nós apenas viu uma oportunidade de alargamento do mercado interno, controle de recursos de uma ZEE atlântica e argumento basilar para a inevitabilidade do continentalismo, miragem esta prosseguida desde há mais de dois milénios.  O regime rejeitou o passado em África, na Ásia e na América, como um absurdo fardo, descurando interesses vitais e a própria solvência da economia, que qualquer manual aponta a diversificação como condição base para o progresso.

 

O que poderá acontecer dentro de semanas ou meses, disso Júdice poderá ter uma ideia, pois decerto conhece a História. O problema é nosso, é de todos, pois não teremos qualquer outro lugar para onde ir, permitindo-nos escapar  a uma escravidão de contonos ainda difusos, mas facilmente identificável na panóplia de modelos colocados à disposição pelo nosso próprio passado. Mas isto não preocupa os fautores deste nosso contemporâneo fracasso, pois eles ter-se-ão conformado à nova situação, passando mesmo a dirigi-la, como pesada canga sacrificial em prol do bem comum.

publicado às 14:31

o Neo-Proletariado

por Nuno Castelo-Branco, em 12.10.08

 

Os  domingos são invariavelmente, dias reservados para almoçar em casa dos meus país. Existe sempre tema para longas conversas e estas prolongam-se normalmente até meio da tarde, quando normalmente se vão extinguindo pelo cansaço, ou muito infantilmente, pela vontade de fazer qualquer outra coisa.  O pretexto para um café, daqueles a que chamamos "verdadeiro", dá-nos como opção mais viável, uma visita ao centro comercial, local este absolutamente impróprio ao fim de semana, dado o enorme fluxo de passeantes que hoje em dia, pouco mais fazem que olhar para as montras, ou rapidamente comer uma sanduíche pressurosamente incluída num bem sonante menu.

 

A Livraria Bulhosa do Oeiras Parque, é um local agradável que inclui um serviço de café e pastelaria, onde podemos até degustar um chocolate razoavelmente sofisticado, ou uma especialidade regional. Quem queira ler um livro inteiro não encontrará qualquer constrangimento em fazê-lo, pois para isso existem cadeirões e um confortável sofá, sempre ocupados pelos curiosos das novidades publicadas.

 

Após a ritual bica, lá encontrei um  livrinho extremamente interessante e ao qual não resisti, pois trata-se de um catálogo de uma exposição realizada na Scottish National Portrait Gallery (2001), intitulada The King over the Water: The Life of James Francis Edward Stuart (1688-1766). As imagens são absolutamente encantadoras e muitas delas inéditas, pois os Stuart extinguiram-se apenas um século após a sua deposição durante a chamada Revolução Gloriosa (1688). O que me interessou, foi conhecer algumas das personagens incluídas nos numerosos retratos, assim como os decor das composições, a indumentária e umas poucas cenas maís íntimas de família, apresentadas em tela.

 

Dando uma primeira vista de olhos na aquisição, não pude deixar de ouvir uma conversa entre dois casais que animadamente discutiam a actual situação económica e as suas consequentes conclusões políticas. A gente de direita "sente-se" de forma quase instintiva, não sendo para isso necessárias, grandes conversas de cariz filosófico ou perscrutação de uma visão histórica. São naturalmente de direita e tal não obedece a qualquer código secreto na atitude de cumprimentar ou de se apresentar, pois existem muitas direitas.  Eles sabem acerca de  quem sabe o que eles são e disso não se importam minimamente, como é normal, até porque os imaginados oponentes de esquerda beneficiam da mesmíssima capacidade de avaliação relativa aos seus. 

 

Uma senhora loura, na casa de uns muito interessantes e bem conservados quarentas e tais, lia algumas passagens do Expresso, chamando a atenção do marido e do casal que os acompanhava. O tema, claro está, era a crise financeira e o que dela sairá para o futuro de todos. Após um ..."ainda bem que não devemos dinheiro ao banco"..., não pude deixar de me surpreender pelo tom que a discussão pareceu então tomar, avolumando-se em número e densidade, as críticas a todo o sistema que temos vindo a suportar já há mais de uma década. O ataque à função e aos estratagemas do capitalismo banqueiro, pareceram então ultrapassar os limites daquilo a que normalmente se concede a um discurso de gente de direita. As palavras eram duras, utilizadas a propósito e com perfeito conhecimento de causa, até porque a argumentação foi beber nas águas do antigo lago autárcico que afinal deixou algumas saudades. Desta forma, os bancos são hoje acusados de fautores da acelerada desindustrialização do país e do seu progressivo atrofiar como entidade criadora de riqueza. Uma parte da direita portuguesa considera o banco, como um local próprio para negociatas obscuras, onde réplicas cibernéticas de Howard Carter vivem da manipulação  de xaradas quase hieroglíficas - lembram-se de um post que publiquei a a propósito há umas semanas? -, criando uma virtualidade que descambou no desastre da ficção de uma certa economia que afinal não existe. Esta direita crê sinceramente que os bancos são agências de angariação do dinheiro dos seus clientes-depositantes, servindo de correias de transmissão do complicado, impiedoso e desleal sistema governamental de arrecadação de impostos abusivos. Mais, estes revoltados e coagidos clientes, perderam a confiança naquilo a que durante muito tempo, se considerou ser a única alternativa ao tradicionalmente inseguro colchão caseiro. 

A calma, pausada mas implacável catilinária contra "o sistema", atingiu proporções ciclópicas, quando a louro-veneziana senhora passou a referir-se secamente aos abusos de extorsão com que quase quotidianamente depara nos seus extractos de conta. Taxas pela utilização de serviços absolutamente irrisórios e a avalanche de correspondência desnecessária, não soiicitada, mas integralmente paga pelo contrariado receptor da mesma. O despudor com que se manipulam convenientes datas de entrada de numerário ou cheques na conta, para mais facilmente se aplicarem coimas de duvidosa legitimidade. Dizia a dita senhora, que ..."tinha a minha conta mais que coberta por um cheque de 4.000€, mas como este pertencia a outro banco, por apenas vinte e quatro horas não pagaram a prestação de pouco mais de 90€ do health-club, para me sacar uma multa e sujar o meu nome no Banco de Portugal. Isto é coacção e abuso e sou eu cliente desta gente há mais de vinte anos!"... (sic). Logicamente, a conversa enveredou para os bem noticiados e conhecidos casos de compadrio e cumplicidades no sector, os escândalos de favorecimento e esbulho, o alegado conluio com a classe política e o papel destruidor que a banca exerce e que se tornou num verdadeiro obstáculo à vitalidade de uma economia real. Como argumentos, lá se foram enumerando as entidades causadoras de todos os males, como as empresas financeiras que provocaram a galopante especulação imobiliária e que com o argumento da criação dos chamados serviços, acabaram por impedir os investimentos em verdadeiros sectores produtivos.  Esta revolta parece estar a transformar-se sem remédio e de forma irreversível, num profundo ódio que não deixará de surtir os efeitos que todos já adivinhamos. Esta direita compreende a crise financeira e económica - aqui está o busílis -  como um todo onde a política é a parte indissolúvel que afinal, conforma todas as outras. Julgo que descortinei aqui - é o regresso da ideologia em todo o seu esplendor na dicotomia na análise - a única, mas fundamental  clivagem com o habitual discurso da esquerda radical parlamentar.  Há quem já tenha percebido que o até agora festivo e ininterrupto bacanal de consumo pelo consumo - o apregoado e bestificante status - , está nas vascas da agonia. Esta direita conclui agora, talvez de forma desesperada e muito tardia, da futilidade de quinze anos de publicidade enganosa do crédito fácil, onde peelings, jacuzzis, spa's, resorts nas Caraíbas, jeeps e Club Mediterranée, acabaram por afundá-la no vórtice que inevitavelmente a conduzirá  a um patamar inferior daquilo que se considera ser a "sua" escala social. Esta direita usando mais ouro nos dedos, pulsos e pescoço, que possui vários cartões American Express, City Bank ou Barclays, está tão empobrecida e num tal aperto de perspectivas, que dificilmente encontra uma solução aceitável para a manutenção de um mínimo daquilo a que se habituou. Afinal, começa a dar valor ao tempo em que necessitando de um saquinho de pregos e de um martelo, se dirigia à estância mais próxima, adquirindo o que necessitava, com uma etiqueta comprovativa de Made in Portugal. Esta direita não parece estar a gostar da ausência de produtos nacionais nas prateleiras do supermercado. Esta direita está a execrar a perspectiva desta espada de Dâmocles, empunhada por uma empresa automobilística que por si só, representa 10% do PIB. É uma direita que quer voltar a ver fábricas portuguesas a produzir  em Portugal, a dar emprego e a proporcionar a paz social, necessária para a sua calma e segurança. Já não acredita nas bazófias complacentes da globalização padronizada pelos preços "loja dos trezentos". A esta direita repugna o controle dos circuitos de distribuição controlados ..."pelos estrangeiros..., um verdadeiro perigo que acabará por nos aniquilar de vez"... O discurso parece familiar, até para os mais desatentos.

 

Sabemos o que o isolacionismo económico pressupõe em termos políticos. Conhecemos bem as lições de uma história que afinal, pode muito bem voltar a repetir-se e desta vez, poderosamente alavancada com um certo unanimismo de toda uma civilização que teme o próprio estertor de tudo aquilo que concebe como Vida. Os homens são afinal os mesmos e os métodos também. No entanto, hoje colocam-se à disposição dos mais ousados, instrumentos de inimaginável poder conformador de um totalitarismo até hoje apenas presente na cinematografia fantástica de outras galáxias, onde a tecnologia  se encontra ao serviço de distantes, mas omnipresentes senhores de tudo e de todos. 

 

Quando a direita - um baluarte até hoje intransponível daquilo a que nos acostumámos considerar como liberdades e garantias democráticas -, se auto-exclui da classe média e assume desabridamente a condição de um bastante inédito neo-proletariado, podemos admitir estarem abertas todas e quaisquer possibilidades para a instauração de uma sociedade tão diversa desta dos nossos dias, que em poucos anos, tudo aquilo que a que desde o nascimento nos habituámos, será apenas uma longínqua utopia. Ou será apenas necessário reformular conceitos até hoje intocáveis?

 

 

publicado às 23:45

The Fall of America, Inc.

por Samuel de Paiva Pires, em 10.10.08

 

 

Francis Fukuyama que há uns anos falava no Fim da História pela expansão da democracia liberal a todos os países, também tem algo a dizer sobre a forma como a política externa prosseguida por Bush, as actuais eleições norte-americanas e especialmente a crise financeira se reflectirão quanto ao posicionamento dos Estados Unidos no panorama internacional.

 

De destacar estes parágrafos:

 

"Globally the United States will not enjoy the hegemonic position it has occupied until now, something underscored by Russia's Aug. 7 invasion of Georgia. America's ability to shape the global economy through trade pacts and the IMF and World Bank will be diminished, as will our financial resources. And in many parts of the world, American ideas, advice and even aid will be less welcome than they are now." 

 

Óbvio, no sentido do que escrevi aqui.

 

"American influence can and will eventually be restored. Since the world as a whole is likely to suffer an economic downturn, it is not clear that the Chinese or Russian models will fare appreciably better than the American version. The United States has come back from serious setbacks during the 1930s and 1970s, due to the adaptability of our system and the resilience of our people."

 

Também concordo, mas vai um pouco contra o anterior parágrafo e parece-me um pouco mais motivado por uma espécie de idealismo em termos de agenda de política externa.

 

"And while fewer non-Americans are likely to listen to our advice, many would still benefit from emulating certain aspects of the Reagan model. Not, certainly, financial-market deregulation. But in continental Europe, workers are still treated to long vacations, short working weeks, job guarantees and a host of other benefits that weaken their productivity and will not be financially sustainable."

 

Mas esperem lá, afinal é o comummente designado modelo social europeu que está mal? E eu a julgar que era o neo-liberalismo plutocrático e egoísta...

publicado às 21:47

Its the end of the world as we know it...

por Samuel de Paiva Pires, em 07.10.08

 

Aviso à navegação: não percebo nada de economia. Tudo o que eu escrever a seguir estará provavelmente errado ou terá pelo menos algumas incoerências ou incorrecções.

 

Feliz ou infelizmente nasci nesse país que está à beira da falência. Não os EUA, mas sim a Islândia. Regressámos a Portugal definitivamente quando eu tinha cerca de 9 ou 10 meses, portanto em finais de 1987. (Nota de tentativa humorística: é uma pena porque com o meu ar tipicamente português e mediterrânico seria um exótico e bem sucedido junto das beldades islandesas...).

 

Tudo o que sei sobre esse país sei-o pelos meus pais e pelos e-mails trocados com o meu padrinho islandês. Daí o meu choque quando me apercebo que o país está na bancarrota. É simplesmente um dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo, o 1.º em termos de Índice de Desenvolvimento Humano. Ninguém diria há uns anos que isto seria possível. 

 

Um pouco mais abaixo no globo, o Reino Unido começa também a nacionalizar bancos, seguindo a tendência da Bélgica e Holanda. A União Europeia, mais uma vez, não tem uma voz única e a reunião do G-4 apenas veio trazer mais insegurança aos mercados. O PM assegura que os depósitos dos portugueses estão garantidos, mas vamos aguardar para ver o que vai acontecer.

 

Pelo meio disto tudo surgem mil e uma explicações, cada qual com as suas virtudes, para explicar o que se passa. Apesar de, tal como referi, não perceber nada de economia, vou aqui tentar recorrer aos meus parcos conhecimentos de leigo para tentar perceber o que se está a passar e o que poderemos esperar para o futuro.

 

Isto começa então com a chamada crise do subprime nos Estados Unidos. Os bancos emprestaram dinheiro a milhões de clientes considerados de alto risco, que a dada altura começam a ter dificuldade em pagar os créditos para aquisição de casa própria. Esta crise foi-se arrastando ao longo do último ano até que se começou a reflectir determinantemente nos mercados financeiros, levando às acentuadas quebras em bolsa e falências de bancos, com as consequentes nacionalizações como forma de evitar a bancarrota, assegurando portanto as poupanças dos clientes (que felizmente não entraram em histeria colectiva como em 29/30 ao tentar levantar o seu dinheiro).

 

Teoricamente a coisa acabaria aqui, o capitalismo não morreu e os Estados voltarão a ter maior influência no campo económico, por oposição a uma diminuição da influência da chamada mão invisível.

 

Mas ninguém sabe muito bem qual a profundidade da crise nos EUA. Imaginemos portanto um cenário de colapso, com milhões de despejados e desempregados nos EUA. Nessa altura a Europa estará também numa espiral descendente, com o BCE a aumentar as taxas de juro  (como aconteceu na Islândia), com efeitos em termos da economia real a atingirem desesperadamente os cidadãos, nomeadamente através da incapacidade para pagar os créditos. Sem esquecer que os Bancos Centrais e os Estados também não têm capacidade para continuar indefinidamente a injectar dinheiro nos mercados para assegurar a liquidez. Este será provavelmente o cenário mais terrífico que poderemos enfrentar, o que naturalmente espero não aconteça.

 

Mas continuando, por alguma razão fez-se crer em muita gente que todos deveriam adquirir casa própria, o que levou construtores civis e bancos a esfregar as mãos de contentamento durante grande parte das últimas décadas, enquanto o deslumbramento na mente dos próprios indivíduos leva(va) ao seu próprio "enforcamento" às mãos de uma qualquer entidade financeira. Eu tenho uma "teoria" que carece de fundamentação que é a de que o arrendamento será um mercado muito mais sustentável e proveitoso. Porque as pessoas não se "enforcarão" durante 20, 30 ou 40 anos, porque têm muito mais flexibilidade para mudar de casa em qualquer circunstância (mudança de emprego, desemprego, saída do país) e, principalmente, porque em vez de pagarem ao banco, que por sua vez paga à banca na qual se endividou, o dinheiro mantém-se entre os consumidores, ou seja, com efeitos mais práticos a nível do desenvolvimento da economia real. Mas como eu não percebo nada de economia, isto até pode estar errado.

 

O que interessa de facto é ilustrar que a ganância e ambição materialista dos ocidentais é a causa da própria decadência, porque o mercado e a "mão invisível" endeusada por muitos não são garantia de uma noção muito simples cujo contrário está na origem desta crise: a sustentabilidade. Não é sustentável que um sistema financeiro e económico se financie quase de forma infinita e virtual em hipotéticos créditos e "bolhas", endividando-se as instituições entre si como forma de dar resposta aos ímpetos consumistas e desregrados dos consumidores, enquanto o crescimento económico não atinge vertical e horizontalmente a sociedade como forma de garantir um desenvolvimento sustentável que diminua a hipótese de colapso do sistema.

 

Uns milhões ficam muito contentes por terem casa própria embora essa só seja sua quando já estão com os pés para a cova, e uns poucos enriquecem desmesuradamente, como aconteceu por exemplo no caso da Lehman Brothers em que o seu administrador recebeu 350 milhões de dólares em salários nos últimos 7 anos, e com o banco já na falência prestou-se a actos de gestão irresponsáveis. Tal como costumo dizer, os gestores não são perfeitos, mesmo que o mercado e a mão invisível o sejam. Não sou capaz de acreditar numa qualquer entidade transcendente que regule os mercados, quando os seres humanos que de facto os regulam não são perfeitos, isto é, nem sempre efectuam as melhores decisões, aliás, para assistirmos ao que estamos a assistir é porque muitas decisões foram desastradas.

 

Parece-me ridícula esta crença em que os inputs no mercado resultam em outputs ou feedbacks necessariamente positivos, sem tentar perceber o que acontece pelo meio, como se a black box servisse para satisfazer intelectualmente os académicos e demais, que nem sequer tentam perceber o que se passa pois a crença na mão invisível inculcou-lhes um preconceito que os leva a a uma aguda preguiça intelectual. 

 

Sendo agora um pouco menos pessimista, e na linha mais ultra-neo-liberal, acho que estamos por outro lado a assistir a uma gigantesca reestruturação do sistema financeiro e económico internacional. Provavelmente esta poderá ser a última grande crise a que se assistirá nas próximas décadas. O problema é mesmo o inferno em que viveremos enquanto não for superada. Indo de encontro à teoria d'O Mundo Pós-Americano de Fareed Zakaria, que logo no primeiro capítulo demonstra o crescimento e desenvolvimento do resto do mundo (América Latina, África, Ásia) da forma mais capitalista possível (portanto o capitalismo não morreu, o que estará provavelmente à beira da estocada final é a desregulação e a mão invisível), parece-me que assistiremos ao declinío da influência dos EUA no mundo, teremos verdadeiramente um sistema multi-polar, onde o risco de colapso financeiro estará muito mais difundido do que actualmente, pois a importância de Wall Street será dispersa por todas os outros grandes centros financeiros e, em última instância, ocorrerá, tal como escrevi há dias, uma reajustamento da hierarquia das potências e uma transformação, falta saber até que ponto, do próprio sistema internacional em todas as suas vertentes.

 

É portanto o fim do mundo como o conhecemos, vamos ver é se será um admirável mundo novo o que nos espera.

publicado às 22:33

A nova nota de dólar

por Nuno Castelo-Branco, em 03.10.08

 

publicado às 01:12






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