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O velho Partido Progressista, perdão, o Partido Socialista, entrou em pré-guerra interna antes da pré-campanha eleitoral. Em Portugal, a memória da história é coisa tão presente, como nevões no deserto do Kalahari.
Já fala quem julgue provável um não-sucesso nas próximas eleições europeias e perdidos por cem, perdidos por mil, parece ter chegado o momento de iniciar a demolição dos caboucos da liderança de A. J. Seguro. Demolições são coisa do pelouro de Costa e Lisboa é disso a prova cabal. Ao comentadeireiro de quinta à noite, juntam-se agora um César e um Jesus.
Voltámos à Antiguidade.
Após o escrutínio eleitoral do passado domingo, é este o novo mapa partidário europeu. Por mais estranho que possa parecer, existe uma certa tendência para insistir na acérrima crítica ou responsabilização das "políticas de direita" - entusiasmadamente prosseguidas por todos os partidos socialistas no poder - que fizeram despoletar a crise financeira mundial.
Pelos vistos, quem se deu ao trabalho de ir às urnas, enganou-se redondamente, pois a cor azul parece mais hegemónica que nunca. Porque será?
(Imagem tirada do Ephemera, via Portugal dos Pequeninos)
A minha atitude é sempre de infinita atenção. Tanto não adormecer sobre uma história que galopa, não adormecer em cima do cavalo - estar atento. a atenção é a única regra. (1983)
As próximas eleições europeias têm servido sobretudo, para o ajuste de contas na vida interna dos partidos e adivinha-se já a extrapolação desta luta, para o sempre candente tema da política nacional. Assim sendo, tudo se resumirá a um amontoado de cifras, projecções de números e equações demonstrativas da impossibilidade de sairmos de uma crise onde nos encontramos atolados - fazendo de conta que não sabemos - há décadas.
Não há forma de contornar a discussão dos problemas internos, até porque em todos os outros Estados da UE passar-se-á exactamente a mesma coisa. Aliás, só se manifesta contra esta certeza do debate, quem eventualmente mais poderá ficar prejudicado, pois de outra forma - se tudo estivesse conforme os melhores anseios - , aqueles seriam os primeiros a reivindicar essa inevitabilidade. É assim, a política.
A Europa, pequena península que se proclama continente, é formada por uma infinidade de nações que ao longo de mais de um milénio se foram erguendo a expensas de outras que sendo vizinhas, compartilhavam um espaço territorial e adivinhadas riquezas sempre em disputa. A história europeia, ou melhor dizendo, as consecutivas tentativas do seu suicídio nos últimos cem anos, obrigaram à contemporização, mesmo que muito a contragosto, entre inimigos jurados e hereditários. Não vale a pena rememorar o longo caminho trilhado pela cristalização das nacionalidades em Estados, pulverizando entidades tradicionais e de construção aparentemente tão sólida que durante séculos, eram mesmo o símbolo da ideia Europa. A necessidade da edificação da União, fosse esta feita através das coortes romanas, hordas bárbaras, o império cristão de Carlos Magno e seus consecutivos sucessores, ou de forma mais racional, pelo estabelecimento de interdependências económicas que aguçam a vontade do sucesso individual e colectivo pelo lucro, tornou-se numa constante. A lista de putativos pais da Europa é longa e para não recuarmos em demasia no nevoeiro dos tempos, destaquemos apenas Carlos V, Filipe II, Luís XIV, Napoleão, Guilherme II, Hitler e Estaline. O centro da Europa, a Alemanha, consistiu quase sempre no olho do furacão unificador, como campo de batalha de muitas e díspares cobiças - a mítica coroa imperial de César - ou mais recentemente, inventando num Zollverein primordial, a fórmula mágica que aplanava rivalidades e acalmou a fome de conquista, ao encher barrigas e bolsos. Era esse afinal, o método que após apressada análise a que muitos se obrigaram devido à catastrófica paisagem de ruínas em que se viram forçados a viver, foi quase unanimemente aprovado.
Tudo parecia correr bem na primeira fase da existência da entidade Europa que tinha o nome de CEE. Abundância no consumo e paz garantida pela inclusão dos principais países na NATO - o guarda-chuva estadunidense- , mas a liquidação do império vermelho do leste, obrigou ao cumprimento da promessa de inclusão que durante anos a fio, as rádios da Europa Livre e as televisões dos Estados fronteiriços ininterruptamente propalaram.
Outra catástrofe. Fronteiras instáveis, nacionalismos voláteis e exacerbados pela aparentemente contraditória educação chauvinista ministrada intramuros pelo comunismo, transformaram a antiga CEE num labirinto onde se entrechocam velhas rivalidades e ódios sem fim. Pretendendo aplanar as dificuldades com a promessa do ouro fácil, a superestrutura comunitária decidiu-se a urinar torrencialmente decretos, decisões, regulamentos e directivas sobre a dimensão do carapau, a percentagem de sebo dos champús, as compatibilidades electromagnéticas das máquinas de barbear, a segurança dos brinquedos, a elasticidade dos preservativos, as medidas preventivas contra a febre aftosa, a dimensão das seringas e outras coisas da mais alta relevância.
A vertigem pelo sucesso fácil extra-mercado interno fez o resto, destruindo antigas economias organizadas em torno de uma indústria de qualidade e renome mundial. Desaparecem chaminés, desmontam-se máquinas, atribuiram-se subsídios encorajadores do fare niente e o resultado é aquele que hoje vivemos e para o qual não existe solução à vista.
Eis que regressa a demagógica oração dos Estados Unidos da Europa, exumando-se a ideia dos "pais fundadores" - outra grosseira cópia de além-Atlântico - , numa desesperada tentativa de esconder aquilo que todos sabem: a Europa Estado falhou e resta apenas aquela que conforma economias, abate barreiras alfandegárias e evita as guerras. É essa mesmo que tão bem conhecemos e que nos diverte quando trocamos mimos com os nossos parceiros, confirmando inofensivos mas enraizados preconceitos. É a Europa onde para sempre os franceses não tomam banho, todas as espanholas se vestem com tecidos às bolas, os italianos e os gregos são vigaristas, os albaneses roubam nas estradas, os alemães gostam de ser torcionários, os ingleses ladrões e bêbados, os holandeses piratas e os dinamarqueses, suecos ou noruegueses, uns absolutos nadas. Quanto a nós, continuaremos para sempre a medir 1,45m, a usar bigode - homens e mulheres - e um boné de presilha. Esta é e será a Europa de sempre. E estamos muito bem assim.
Como dizia o rei D. Luís I, "nasci português e português espero morrer". É quase um programa de vida.
(imagem picada daqui)
A não ser que o PSD tenha um candidato "bombástico", parece-me que o meu voto vai direitinho para Nuno Melo, embora lamente a sua saída do parlamento nacional, acompanhado por Diogo Feio e Teresa Caeiro. A respeito de tal, aqui fica na íntegra este post do Joshua:
Trabalhador e rigoroso, correcto e capaz de diálogo, rosto equilibrado, moderno e aberto, Nuno Melo é a rara figura de um parlamentar bastante consensual quanto aos méritos que lhe atribuem também como estudioso e conhecedor dos dossiês. Acho mau e até incompreensível que, a transitar em decidida a sua escolha como candidato por Paulo Portas, quase de certeza o Parlamento nacional perca Nuno Melo para o Parlamento Europeu. Cheira isto a um deslocamento estratégico daquele que mais se destaca na Comissão Parlamentar de Inquérito ao BPN, daquele que, pelo seu desempenho, mais reabilita a face do Parlamento Nacional, e até que mais cresce em brilho relativamente a Paulo Portas. Será este mais um exílio na mesma lógica do de Cravinho para um Banco Europeu? Exílio por saber de mais, propor de mais e descobrir de mais? Exílio por lhe tremer a voz com o que vai apurando de tenebroso no lago criminal negro BPN? Exílio para que não vá mais longe e aprofunde o que não convém aos vulpinos vultos ocultos por trás das traficâncias-BPN subjacentes e falhas obesas BdP? Cheira a esturro. Também não sei se não há aqui ciúme em Paulo Portas pelo agigantamento humilde e natural do jovem deputado. Se vai propor Nuno Melo e também Diogo Feio (figuras com as quais se simpatiza porque não configuram aquela imagem de devoristas ávidos e cínicos que encontramos no PS de Candal e Vitalino e no PSD de António Preto, capazes de tudo por um lugar mais além e mais à frente), faz mal. Como cidadão apartidário e independente, não concordo e suspeito das verdadeiras motivações. Um Parlamento Nacional em péssima companhia, com este PS ablacionado na sensibilidade e aclamativo, com todos os sinais da pior degenerescência ética e os piores sinais de falta de independência e de afirmação, Diogo Feio e Nuno Melo têm sido pedradas no charco. Que seria do Palácio de São Bento sem eles?!:
Será dentro de poucos dias e contamos convosco. O Estado Sentido fará uma extensiva cobertura do Congresso de lançamento do MMS já no próximo Sábado, entre as 9.00H e as 21.00H. Ao longo do dia transmitiremos toda a informação disponível acerca do programa da organização, assim como videos realizados no local e entrevistas com os dirigentes. Contamos com a participação de todos os interessados, através da nossa caixa de comentários ou do Twitter.