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Da tradição em José Adelino Maltez

por Samuel de Paiva Pires, em 16.01.12

Com a devida autorização do Professor José Adelino Maltez, transcrevo na íntegra a sublime entrada "Tradição" do seu Abecedário Simbiótico (pp. 509-512):

 

 

«Do latim traditio, paradosis, em grego. Não vemos as coisas como elas são, mas antes como nós somos (Anais Nin). Etimologicamente, qualquer coisa que passa de uma pessoa para outra. A própria Antígona, se se revolta, é em nome da tradição, para que seus irmãos encontrem a paz na sepultura e os ritos sejam observados (Albert Camus, HR, 47). Para Chesterton, tradição é uma democracia dos mortos e Evola salienta que há um conceito moderno de tradição, assumido pelo nacionalismo: a dimensão da transcendência, do que é superior à história, está completamente ausente dessa tradição (RCMM, p. 439). Porque não corresponde a essa palavra existente nas civilizações antigas: trata-se antes de um mito ou de uma comunidade fictícia, assente num menor denominador comum, dado pelo simples facto de se pertencer a um determinado grupo (id. 439). Porque o Sacro Império e a civilização feudal foram as últimas manifestações desse tipo de conceito de tradição. Porque o Império foi sentido como uma realidade já supra-política, como uma instituição de origem sobre-natural que formava um poder único com o rei divino (id. 403.) E se, depois do fim do mundo antigo, houve uma civilização que tenha merecido nome de Renascimento, foi precisamente a Idade Média (id. 403). Logo, teoricamente, o Ocidente aceitou o cristianismo, mas, na prática, o Ocidente permaneceu pagão (id. 377). E o resultado foi um hibridismo: o que no catolicismo tem um carácter realmente tradicional é bem pouco cristão e o que nele é cristão é bem pouco tradicional (id. 379). Teologicamente, a tradição é um ensinamento passado a outro, principalmente de um mestre a um discípulo. Segundo as escolas desenvolvimentistas, é um conjunto de traços culturais, sociais, políticos e económicos que caracterizam as sociedades rurais pré-industriais, traços permanentes que contrariam as exigências de modernização. Ser pela tradição é saber recuar, em pensamento e em entusiasmo, para, aprofundando o presente, dar raízes ao futuro, e melhor se poder avançar, negando a falsa dialéctica do antigo contra o moderno. Tradição tanto é o acto de transmissão de um conjunto de valores morais e espirituais, como integra cada um deles numa corrente de conhecimento e de sabedoria provindas de plurais fontes culturais. Porque o homem só é capaz de construir-se quando procura a perfeição, referindo-se e enraizando-se num património, ou numa herança, cujos valores podem ser referenciados através de um experiência iniciática. Porque só é novo aquilo que se esqueceu (Le Play), ao contrário do que continua a propalar certa visão tacanha do progressismo. Porque o moderno já foi antigo de que o antigo há-de ser moderno, segundo as palavras do Padre António Vieira. Porque só é novo aquilo que vem de trás, reelaborado para um novo fim. Só há o verdadeiro fora do tempo que nos prende, mas desde que se tenha tempo e lugar: os olhos nas estrelas do transcendente e os pés, no chão pisado do dia-a-dia. A autêntica tradição sempre admitiu o verdadeiro progresso, porque este nunca pode ser visto decepadamente, como um mito desprendido das origens, para utilizarmos uma análise tão cara ao magistério de Henrique Barrilaro Ruas. A tradição nada tem a ver com esse sucedâneo do mito pagão do eterno retorno, entendido como um simples círculo fechado, totalmente contrário ao conceito de tempo linear, assumido pelo libertacionismo judaico-cristão. Porque contra os sucessivos milenarismos do fim da história, há que proclamar, como Santo Agostinho, que não é o mundo que acaba, é um novo mundo que começa. Não pode haver tradição sem inovação, sem aquele movimento que passa por uma realidade viva, bem concreta, e não por um simples espaço vazio. Reagindo contra o que foi segregado pela história, e que se manifesta nos situacionismos que cedem à ditadura do statu quo, tanto surgem aqueles pretensos revolucionários, seguidores de um modelo de pronto-a-vestir ideológico que se pretende encaixar na realidade de um qualquer lugar e de um qualquer tempo, como, do outro lado, os tradicionalistas, os que, romanticamente se opõem ao que está, para poderem conservar o que deve-ser, apostando na superação da ordem estabelecida em nome do sonho realizável. Se tais revolucionários anseiam por reconstruir o todo geometricamente, porque a utopia que os mobiliza contém todas as receitas do futuro cozinhado social, já os tradicionalistas reconhecem a docta ignorantia do bom senso e tratam de submeter-se ao mistério de certas constâncias sociais, optando pela reforma gradual de algumas parcelas do todo, em nome da defesa do património cultural herdado. Neste sentido, não confundimos o tradicionalismo com a legitimidade tradicional de Max Weber (1864-1920), para quem a acção tradicional é considerada como uma conduta mecânica, na qual o indivíduo obedece inconscientemente a valores considerados evidentes e que daria origem à chamada legitimidade tradicional, onde emergem os fiéis como seria timbre do patriarcalismo, da gerontocracia, do patrimonialismo e do sultanismo, e que seria baseada na crença quotidiana na santidade das tradições vigentes desde sempre e na legitimidade daqueles que, em virtude dessas tradições, representam a autoridade. Também não diluímos o tradicionalismo na acção emocional ou afectiva, a que é marcada pelo instinto e pela emoção, onde há confiança total no valor pessoal de um homem e no seu destino, uma acção fundada na santidade, no heroísmo e na infalibilidade, onde seria marcante a legitimidade carismática. De um lado, o chefe, o profeta, o herói ou o demagogo. Do outro, os adeptos ou os leais, os discípulos ou seguidores. A mesma seria baseada na veneração extra-quotidiana da santidade, do poder heróico ou do carácter exemplar de uma pessoa e das ordens por ela reveladas ou criadas. Tudo depende do carisma, isto é, de uma qualidade pessoal considerada extra-quotidiana (…) e em virtude da qual se atribuem a uma pessoa poderes ou qualidades sobrenaturais, sobre-humanos ou, pelo menos, extra-quotidianos específicos ou então se a toma como enviada por Deus, como exemplar e, portanto, como líder. Contudo, o mesmo Max Weber salienta que uma das formas de legitimidade carismática aparece na democracia de líderes, com um demagogo a aproveitar-se da democracia plebiscitária, surgindo uma legitimidade carismática oculta sob a forma de legitimidade que deriva da vontade dos governados. Em terceiro lugar, distanciamos o tradicionalismo da acção racional referente a fins (Zweckrational), onde os indivíduos são capazes tanto de definir os objectivos como de avaliar os meios mais adequados para a realização desses objectivos, uma acção social marcada pela moral de responsabilidade, onde o valor predominante seria a competência. Aqui já nos situaríamos no campo do Estado racional-normativo ou do Estado-razão, onde domina a acção burocrática, aquela que faz nascer o poder burocrático, o poder especializado na elaboração do formalismo legal e na conservação da lei escrita e dos seus regulamentos, onde dominam a publicização, a legalização, e a burocracia. Para nós, o tradicionalismo corresponde à weberiana acção racional referente a valores (Wertrational), a racionalidade em valor, onde os indivíduos se inspiram na convicção e não encaram as consequências previsíveis dos seus actos. A tal forma de actividade política inspirada por sistemas de valores universalistas, onde o agente actua de acordo com a moral da convicção, vivendo como pensa sem pensar como vive, em nome da honra, isto é, sem ter em conta as consequências previsíveis dos seus actos. Aquele agente que é comandado pela dignidade, pela beleza ou pelas directivas religiosas. Há um tradicionalismo que readquiriu o sentido da dialéctica clássica, onde, etimologicamente, há uma conversa, com alternância no discurso dos interlocutores, passando-se a um tema comum que se percorre, pelo que só pode haver diálogo, quando entre os dialogantes se reconhecem lugares comuns, pontos de passagem que permitem a troca de ideias e experiências de vida. A tradição consensualista nunca foi uma tese, contra a qual se assumiu a antítese liberalista, para, depois, se desaguar na oceânica maravilha da síntese pseudo-futurista, com muita palha de modernidade, pós-modernidade ou vanguarda, mesmo daqueles que, muito exogenamente se dizem conservadores, ou dos que continuam a traduzir nacionalismos em calão de État-Nation ou de national interest. O tempo pós revolucionário que vamos vivendo continua a ser de complexidade crescente, onde a convergência do antigo continua em dialéctica com a divergência do actual. As raízes do passado sustentam tanto o tempo presente como as saudades de futuro. Os divergentes continuam em diálogo com os convergentes, a liberdade, com a ordem e a justiça, com a segurança. É essa a inevitável emergência da liberdade vivida, onde não há reaccionários fins da história nem repristinações revolucionárias. É esse o eterno regresso da história, onde importa recuperar a concepção clássica de política e a consequente democracia, onde é o homem que faz a história, mesmo sem saber que história vai fazendo. Há uma complexidade bem heterodoxa de ser-se tradicionalista, nos princípios, liberal, nas metodologias, e radical, nos objectivos. Mas outra tem que ser a postura de qualquer pretenso moderado do politicamente correcto, que procure submeter-se aos ditames de uma falsa ideia de opinião comum, só porque quer ser candidato ao sindicato das citações mútuas e estar disponível para uma carreira política de sucesso, mesmo que seja através de um cargo de institucional opinion maker, para que se mantenha intacto o estado a que chegámos, e apenas se finja mudar alguma coisa, para que tudo fique na mesma. Mas o fervilhar das ideias não se pauta pelo um, dois, três das caricaturas dialécticas, onde uma certa tese gera sempre o mero simétrico da antítese, feita à imagem e contra-semelhança da primeira, para que um autoritário distribuidor de valores possa chegar, ver e vencer, decretando a pretensa solução de uma síntese, com que, de forma dogmática, se pretende esmagar o outro, o tal que, por ser diferente, importa silenciar, diabolizar e, quiçá, exterminar. Sobretudo se for um irmão-inimigo. Para que se mantenha o movimento perpétuo da luta de invejas. Tal pode ser o preço a pagar pela fama que pensa deter a serôdia garotada dos que nunca entenderam o profundo sentido do diálogo, através dos lugares comuns da verdade, da força das convicções e daquela lealdade básica que admite as regras do jogo da moral e do direito. E para quem ainda acredita nas tradições clássicas, talvez o antigo três, dois, um seja bem mais circular, bem mais revolucionário, à maneira de Platão. A tradição admite todos os aspectos da verdade. Não se opõe a qualquer adaptação legítima. Permite, aos que a compreendem, concepções tão vastas quanto os sonhos dos filósofos… abre à inteligência possibilidades ilimitadas com a própria verdade em si mesma (René Guénon, SMP 24).

 

O mister de recordar o passado é uma espécie de magistratura moral. Alexandre Herculano, in O Bobo.»

publicado às 00:27

Ainda a maçonaria

por Samuel de Paiva Pires, em 11.01.12

Para quem não assistiu ontem à noite à entrevista do Professor José Adelino Maltez, aqui fica:

 

publicado às 15:38

Na luta pela desmistificação, contra o fanatismo e a intolerância, os meus parabéns ao José Maria Barcia pela iniciativa de entrevistar vários maçons e interessados. Dificilmente seria possível começar de melhor forma do que com esta entrevista ao Professor Maltez, que aqui transcrevo na íntegra com a devida autorização do Zé Maria:

 

Antes de mais, o que representa para si a maçonaria?

Tenho uma concepção do mundo e da vida típica da profunda tradição liberal, fiel aos valores de Espinosa, Montesquieu e Kant que, em Portugal, tiveram expressão na luta de ideias de Silvestre Pinheiro Ferreira, Vicente Ferrer de Neto Paiva e Alexandre Herculano. Gostava de redundar o Estado conforme o exemplo dos decretos de Mouzinho da Silveira, a moralidade de Passos Manuel, o entusiasmo de José Estêvão, o sinal do Código Civil do Visconde de Seabra e o pioneirismo da abolição da pena de morte, de 1867, bem como para manter a boa relação entre a política e a religião do presente regime, fundado quando os velhos carbonários defenderam a liberdade dos católicos no cerco ao Patriarcado ou no assalto à Rádio Renascença, em 1975, quando novos totalitarismos nos ameaçavam.

 

Apertos de mãos, protocolos, símbolos e significados. Porquê?

Não conheço nenhuma instituição que não tenha uma ideia de obra, manifestações de comunhão entre os seus membros e cumprimento de estatutos internos. No caso da maçonaria, que não é uma religião nem mera ideologia, onde se vivem e revivem lendas, alegorias e símbolos, através de rituais conhecidos, é mais intensa e formalizada essa dimensão, até com a procura do próprio sagrado. Logo, ver de fora qualquer comunidade de coisas que se amam pode levar muitos a dizer que todas as cartas de amor são ridículas. Mas como dizia Fernando Pessoa, é bem mais ridículo não se escreverem cartas de amor. Ou não responder a uma entrevista na blogosfera, só porque o interpelante tem manifestado óbvias divergências com a minha concepção do mundo e da vida, mas talvez seja capaz de reconhecer que comete erros, tem dúvidas e pode enganar-se, até na listagem de inimigos públicos.

 

Como é a reunião ideal dentro de uma Loja?

Segundo aquilo que estudei, não pode haver reuniões dentro de lojas, há reuniões rituais das lojas, onde é proibida a discussão de matérias de política e de religião, porque se tem de fazer maçonaria. Quando as lojas promovem reuniões abertas a não maçons, as sessões brancas, elas são como todas as outras reuniões de qualquer grupo. Daí que não se possa inferir que um convidado seja maçon, ou ligado à maçonaria, dado que até conheço casos de convites a antimaçons para manifestarem suas perspectivas junto de maçons.

 

Qual é, ou qual deve ser o papel principal da maçonaria num país como Portugal?

Contribuir para a regeneração de uma sociedade secreta iniciática fundada em 1140 e sucessivamente redundada, a república dos portugueses, que, durante séculos, foi governada por reis.  Porque temos de a libertar do presente protectorado, com mais liberdade, mais sociedade e mais coisa pública. Isto é, contribuir para nova refundação  de Portugal.

 

Em resposta à polémica instalada na Assembleia da República, devem os maçons serem obrigados a admitirem que o são?

Qualquer cidadão deve contribuir para que cada um possa viver como pensa. Mas como as leis são gerais e abstractas, julgo que há dificuldades normativas quanto ao cumprimento do princípio da não discriminação, consagrado pela Convenção Europeia dos Direitos do Homem, nomeadamente no artigo 11. Pelo menos, o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem já condenou a Itália em 2007 por um acto legislativo desse teor, emitido por uma das suas regiões.

 

Num país que considera a maçonaria um ''clube privado de amigos'' que lutam apenas pelo seu interesse, haverá fundo de verdade nesta crença popular?

No ambiente anglo-americano, as maçonarias são, sobretudo, modelos de "societies of friends" e a percepção externa liga-as a actividades de filantropia. Porque os valores que defendem são tão naturais como o ar que aí se respira. Em sociedades que sofreram a Inquisição, os autos de fé, Pina Manique, moscas, bufos, caceteiros e extinções, ainda há preconceitos e fantasmas, logo incompreensões resultantes de velhos conflitos entre política e religião, entre anticlericalismos ultrapassados e antimaçonismos requentados. Uns esquecem-se que o conservadorismo contemporâneo foi fundado pelo maçon Edmund Burke, outros, que, do anarquismo ao socialismo, de Proudhon a Antero de Quental, foi comum a coincidência maçónica, bem como na fundação do projecto europeu, de Winston Churchill a Jean Monnet. Por outras palavras, a civilização ocidental a que chegámos é o resultado da convergência do humanismo cristão com o humanismo maçónico, tanto à direita como à esquerda, de liberais a socialistas, unidos na luta contra a ignorância, o fanatismo e a tirania, nomeadamente contra as experiências totalitárias do século XX.

 

De acordo com a notícias actuais, a maçonaria é vista como um problema à democracia. A lealdade aos irmãos é superior à responsabilidade de cargos públicos?

Do que imperfeitamente sei, a maçonaria, em todos os tempos e em todos os sítios, nunca abdicará de ser uma sociedade iniciática, sob pena de perder a respectiva natureza. De acordo com as regras que a regem não pode ser uma sociedade secreta política em regimes de liberdade que não imponham o dever de resistência, definido pela própria escolástica católica. Assim, seria inconstitucional e antimaçónico qualquer anacronismo de clandestinidade política de maçons num regime como o nosso, onde todas as normas fundacionais do Estado de Direito corresponderam aos ideais expressos pelos maçons históricos, nomeadamente na Constituição. Basta recordar os símbolos e os exemplos dos maçons Adelino da Palma Carlos, o primeiro chefe do governo,  da restaurada liberdade, de Emídio Guerreiro, líder do PSD, ou de Raul Rego, futuro grão-mestre do GOL, no PS.

 

Não sendo uma sociedade secreta mas sim uma sociedade com segredos, não há aqui um desvio à transparência exigida numa democracia?

O GOL, fundado em 1802, é a mais antiga sociedade demoliberal portuguesa, com continuada actividade. E sem ser por acaso é, em termos cronológicos, a segunda organização maçónica do mundo. Logo, é um dos elementos fundamentais do nosso património cultural que se perde nas brumas da memória, tal como a Igreja Católica. Isto é, tanto é um valor nacional, como é europeu e universal, e como tal é reconhecido tanto pela Comissão Europeia como pela própria ONU, participando, através do CLIPSAS, no Conselho Económico e Social da organização. Apenas se reconhece o óbvio, o próprio desenho maçónico que esteve na base da Sociedade das Nações em 1918, num processo onde participaram portugueses tão ilustres como o futuro prémio Nobel, Egas Moniz, ou o ex-chefe do governo, Afonso Costa, insignes maçons, por acaso inimigos políticos, no plano doméstico.

 

Será, de facto, fácil de admitir que a maçonaria sofreu uma degeneração dos seus princípios?

As coisas humanas, mesmo as que procuram o sagrado, tanto degeneram como se aperfeiçoam, tal como cada um de nós cai e se levanta. A perfeição apenas reconhece que cada um deve reconhecer a respectiva imperfeição para que possa procurar a perfeição. Segundo uma alegoria maçónica, chama-se a isso trabalhar a pedra bruta, para depois a polir e permitir a construção do templo interior.

 

Casos como o das secretas, não prejudicam gravemente a reputação da maçonaria? Deve haver limites à actuação dos membros ou mesmo castigos a quem usa em vão o seu posto de maçon?

Do que foi dito e tem aparecido, julgo que o principal problema está nos órgãos de investigação criminal do Estado português, nas leis por cumprir que regem a matéria e na falta de adequada fiscalização parlamentar. Não está nos bodes expiatórios e muito menos na eventual coincidência de alguns implicados em parangonas jornalística  com sociedades maçónicas. E a transparência talvez exija que não manipulem a luta pela transparência, alimentando uma fumarada que pode ocultar lutas partidárias pelo poder político, ou lutas de grupos de negócios pelo poder económico, social e comunicacional.

 

Historicamente, a maçonaria teve um papel relevante em Portugal. Que mais se pode esperar?

Que os valores professados pela tradição liberal possam ser tão naturais quanto o ar que se respira num país livre, com homens livres. E que os maçons não esqueçam momentos dramáticos em que se dividiram em jogos profanos e dissidências politiqueiras, como foi flagrante com o cabralismo e a patuleia, ou no processo de decadência da Primeira República, com afonsistas, almeidistas, camachistas, sidonistas e outros istas da personalização poder, desrespeitando as fundamentais constituições da ordem. O que nos falta é uma nova maçonologia, isto é, uma actividade científica e não meramente apologética, que estude o fenómeno maçónico, não apenas no campo historiográfico, mas também nos domínios da filosofia, da antropologia, das belas artes, da literatura ou da arquitectura.

 

Em Portugal debate-se sempre constantemente o problema da corrupção. A maçonaria pode ter um papel contra este problema?

Tenho um artigo sobre a matéria no número um da nova série da Revista de Maçonaria, que congrega profanos e maçons de várias obediências. É exactamente a mesma coisa que tenho vindo a dizer em revistas científicas desde o século passado e que me levaram a estar associado à implantação em Portugal de duas experiências de introdução da Transparency internacional, finalmente consolidada com a associação cívica Transparência e Integridade, cujos princípios advogo militantemente.

 

O que se pode esperar da maçonaria para os próximos tempos?

Que seja liberdadeira, de acordo com as regras tradicionais da liberdade individual, da autonomia da sociedade civil e da integração dos valores da libertação nacional no cosmopolitismo, para que cada nação possa converter-se armilarmente na super-nação futura, a república universal. Isto é, que tenha saudades de futuro, conforme o sonho do maior dos símbolos maçónicos do século XX português, Fernando Pessoa.

publicado às 21:19

José Adelino Maltez - Abecedário Simbiótico

por Samuel de Paiva Pires, em 15.12.11

É já amanhã o lançamento do novo livro do Professor José Adelino Maltez, no Hotel Holiday Inn - Continental, pelas 18h30m. Eu que já tenho um exemplar recomendo vivamente, não só pela obra mas também pela conversa que promete ser interessantíssima, ficando a apresentação a cargo de Paulo Teixeira Pinto. 

 

publicado às 13:05

publicado às 23:27

"Nada é inevitável"

por Samuel de Paiva Pires, em 27.01.11

Diz José Adelino Maltez:

 

publicado às 15:57

O estado a que chegámos

por Samuel de Paiva Pires, em 15.01.11

Excelente entrevista de José Adelino Maltez, ontem, na SIC Notícias:

 

publicado às 17:57






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