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O império da União Europeia

por John Wolf, em 16.09.14

A matriz cultural europeia assume, de um modo irrefutável, que ocupa um papel de relevo em termos civilizacionais. Ao longo dos séculos, e em particular, a partir das correntes de Iluminismo que se verteram em Inglaterra, na França e na Alemanha, foi-se aceitando com naturalidade a ideia de superioridade moral, de desígnio quase teológico da Europa. E essa ideia, expansionista e conquistadora, consubstanciou-se, por exemplo, quer no império napeolónico quer na expressão ultramarina do império britânico. Em suma, os impérios não são um exclusivo dos oponentes, dos inimigos. O império Prussiano, assim como os demais, podem equiparar-se ao império Russo no que diz respeito aos seus intentos e aos próprios métodos: anexaram, mataram, integraram, arrasaram as estruturas políticas existentes - criaram novas ordens. Contudo, enquanto a Rússia seguiu uma via autónoma, baseada numa cultura distinta, a Europa Ocidental procurou estabilizar um conjunto de regras. O grande legado da Europa dos tempos presentes reside na força da lei, nas doutrinas de legalidade que estabelecem limites para a actuação, quer numa lógica interna quer numa abordagem externa. A invenção que a Comunidade Económica Europeia representa, e mais tarde a União Europeia aprofunda, será a versão moderna de um conceito imperial de perfil suave. Pela via positiva e de atracção, a Europa encontrou uma fórmula para se alargar económica e socialmente, mas ignorou a importância da sua expressão política e militar. A Europa, embora tenha tido projectos de auto-suficiência militar, como foi a falhada União da Europa Ocidental, nunca procurou efectivamente consolidar o seu corpo e braços armados. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) havia sempre funcionado numa lógica de blocos, de jogo a dois, de guerra fria. Mas esses tempos findaram, mas certas dinâmicas não foram interrompidas, mas meramente atrasadas por novas nomenclaturas. Nessa medida, a Rússia escolheu o seu momento com grande sentido de precisão. A crise económica europeia, a indefinição dos EUA no que diz respeito à sua política externa proactiva ou a ameaça do fundamentalismo islâmico devem ser entendidos como catalisadores da política externa russa, dificilmente interpretada pelos quadros operativos convencionais e pelos processos de pensamento transatlânticos. A tése de defesa do espaço vital natural da Rússia colide com uma outra ideia tida a seu respeito; o (re)assumir da sua expressão imperial, de superpotência. A pergunta que se coloca ao Ocidente e em particular à União Europeia, prende-se com o modo de travar os avanços russos quando o engagement da Rússia parece ser cada vez mais difícil. A construção europeia deve rapidamente pensar do mesmo modo que a Rússia, mas servindo-se do seu maior património: a sua expressão democrática positivista e pacífica. Numa lógica de alargamento, a União Europeia (UE), talvez possa procurar circumnavegar a zona de fricção, os pontos de contacto onde distintos interesses nacionais colidem. A UE deveria realizar um salto indutivo e pensar uma configuração que transcenda o mainland do seu pensamento. A Europa poderia, de um modo estratégico, pensar num alargamento a sul, obviando o paradigma continental clássico, e abraçar novos parceiros em regiões não contíguas ao continente europeu. Nessa medida, o reino de Marrocos poderia ser um bom candidato para consolidar a expressão política e económica de uma Europa fustigada por razões endémicas agravadas. Um país islâmico moderado como Marrocos, ao ser "fraternizado" pela UE, serviria o processo de relacionamento com o desafio islâmico radical que se nos apresenta. Um conceito de "se não os podes vencer, estende-lhes a mão" poderia servir para tratar problemas considerados insanáveis e que residem na centralidade europeia. Quer a França quer a Alemanha terão de lidar a breve trecho com a intensa expressão de comunidades muçulmanas residentes nos seus países. A Rússia, por outro lado, já entendeu que pode extrair força dos seus cidadãos onde quer que estes se encontrem. A Europa continua atada a velhos pressupostos e tarda em avançar para algo realmente surpreendente. Para desarmar Putin dos seus argumentos e intentos, há que pensar de um modo excêntrico, seguindo linhas de orientação emancipadas do passado. Se realmente quisermos, sabemos o que nos reserva o futuro. Procurar no passado talvez não sirva de grande coisa.

publicado às 09:03

Putin e a independência da Escócia

por John Wolf, em 14.09.14

Os movimentos falsamente separatistas ou de anexação que se têm vindo a desenovolver nos limites da Europa convencional ou para além da sua matriz política, instigados e levados a cabo pela Rússia, na Geórgia, na Ucrânia, com uma nítida expressão na Crimeia em tempos mais recentes, embora desligados dos pressupostos nacionais europeus, podem ser reconduzidos aos mesmos. O referendo escocês, respeitante à sua independência, intensificou reinvindicações antigas e certamente fará eclodir novas solicitações de autonomia. Ambrose Evans-Pritchard releva, de um modo abrangente, quais os candidatos à fragmentação da Europa. Uma interpretação excêntrica e ousada destes eventos de dispersão, obriga os decisores da União Europeia a ter de pensar uma lógica inversa na (de) construção europeia. A haver expressão democrática e positiva no sentido da independência nacional de um conjunto de povos residentes na União Europeia, o Tratado da União Europeia torna-se parcialmente obsoleto ou conceptualmente irrelevante. As forças centrifugas e de concentração política que se acham firmadas na constituição europeia, estão a ser ultrapassadas pela realidade. Embora seja impensável uma intervenção britânica para proteger os direitos dos cidadãos que residem na Escócia, Putin lança no seio da Europa ocidental o perfume dos seus argumentos e da sua acção. De um modo pensado ou não, a verdade é que a analogia entre um cenário e outro, poderá ser resgatada para plantar divisões nas hostes da centralidade da União Europeia. Existem muitos modos de levar a guerra ao inimigo, e a Rússia não hesitará em partilhar os seus métodos com as partes interessadas. Numa lógica ainda mais ultrajante, imaginemos o apoio que a grande Rússia poderia emprestar aos diferentes movimentos nacionais que se encontram espalhados pelo mainland da Europa ocidental. Eu sei que talvez seja uma extrapolação exagerada, a roçar os limites da racionalidade teutónica, mas todas as possibilidades devem ser colocadas em cima da mesa. De Berlim a Londres, da Catalunha ao reino dos Algarves.

publicado às 09:52

O mundo infantil das primárias

por John Wolf, em 12.09.14

Enquanto uns realizam testes primários, outros demonstram ao mundo o valor da ausência da palavra. Enquanto uns discutem IVAs e restaurantes, outros redesenham mapas de continentes. Enquantos uns estão à janela, outros organizam respostas concretas a ameaças substantivas. Enquanto uns falam de traições, outros dão facadas. Enquanto uns estão focados em si, outros sabem que deixaram de ter importância. Enquanto uns angariam simpatizantes, outros inscrevem combatentes. Enquanto uns pensam em tachos, outros aumentam a pressão da panela. Enquanto uns dormem, outros estão acordados. Enquantos uns são o que são, outros nem isso conseguem ser.

publicado às 14:26

 

  • O interesse nacional nem sempre é do interesse das populações.
  • O interesse nacional é sempre invocado.
  • O interesse nacional é uma prerrogativa do governo.
  • A projecção de poder e o interesse nacional são quase a mesma coisa.
  • A percepção é tão ou mais importante do que a realidade.
  • As percepções constroem-se para validar ou negar os factos.
  • A produção de percepções não é um exclusivo dos governos.
  • Os média antecipam-se ou estão atrasados em relação aos factos.
  • Os média nunca estão em sintonia/sincronia com os acontecimentos.
  • Os média são uma extensão dos actores políticos.
  • A propaganda é um conflito continuado e praticado por todas as partes envolvidas.
  • O status quo ou a estabilidade são construções ilusórias.
  • A ameaça do uso de força implica ciclicamente o seu uso para se validar.
  • A contenção é a mesma coisa que a ameaça do uso de força.
  • A ameaça do uso de força e a cooperação não estão a grande distância uma da outra.
  • A força das ideologias foi sendo substituída por outras formas de crença.
  • Domínio territorial e ocupação efectiva encontram-se no mesmo plano de importância de outros modos de expressão de poder imaterial.
  • A geopolítica também é movida por dimensões psicológicas como a memória colectiva e sentimentos como o rancor.
  • É mais fácil a fundamentação da decisão política baseando-se na história do que tentar a construção de novos modelos.
  • A linguagem do passado serve apenas uma parte da narrativa do presente.
  • As ameaças pequenas não são diminutas, são efectivas e potenciais.
  • As respostas dadas são sempre grosseiras, ou seja, nunca são do grau adequado.
  • A iniciativa política é apenas a extensão de um corolário.
  • Os corolários ou os axiomas são contradições genéticas, ou seja, a intuição e o instinto, são igualmente importantes na construção de modelos tendencialmente racionais.
  • As intervenções militares, de natureza quase sempre temporária, procuram desalinhar construções políticas de cariz mais duradouro.
  • É possível interpretar factos que ainda não aconteceram.
  • A ética é retrospectiva, mas eminentemente prospectiva.
  • A ideia de ordem nem sempre é legalista ou de natureza ética.
  • As aspirações filosóficas e existenciais do homem talvez sejam as mais difíceis de satisfazer.
  • O materialismo das nossas sociedades produz assimetrias desejadas.
  • As democracias já foram beligerantes entre si.
  • A auto-determinação dos povos nem sempre é um meio para justificar os fins.
  • O auto-existencialismo das nações pode ser acordado e estimulado para fins diversos.
  • Não existem mentiras em geopolítica: é tudo uma questão de timing.

(a continuar)

publicado às 08:16

O longo telegrama de Putin

por John Wolf, em 03.09.14

Coloquem no mesmo saco Realpolitik, estratégia, processos de tomada de decisão, política externa, propaganda, comunicação, poder económico, capacidade bélica, a história imperial da Rússia, a ex-superpotência União Soviética, o controlo dos média, os métodos políticos não convencionais,  a repressão política interna, a condição geopolítica hibrída europeia-euro-asiática do país em causa, uma oligarquia, a Esquerda, a Direita, Capitalismo,  Socialismo e Comunismo, e agitem muito bem, e terão o campeão de pesos-pesados de seu nome Putin. Não pensem por um instante que estamos a lidar com um louco que acordou para aí virado. Não se deixem enganar pela pausa forçada sobre as potências ocidentais e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO). Para começar a entender Putin, há que pensar como Putin. Para poder antecipar a Rússia, há que saber antecipar a sua antecipação. Para quem se deixa levar pelo brinde de um cessar-fogo acordado a escassas horas do início da cimeira da NATO (que amanhã tem início no País de Gales), relembro que Putin é hábil na transferência do ónus da questão. A NATO que já vinha preparando uma linha dura de resposta à Rússia e as suas incursões ucranianas (e outras que decerto se seguirão), pode vir a ser vislumbrada como a má da fita nesta história. No jogo de espelhos e percepções, Putin passa de agressor a vítima - a campeão da paz alcançada com a Ucrânia e a destinatário da mensagem agressora da NATO. A formulação da política externa dos EUA, e por arrasto dos países nucleares da União Europeia, parece não aproveitar lições dadas há décadas. Não peço um conselho de sábios, mas um George Kennan dos anos noventa aos dias de hoje teria dado algum jeito. No longo telegrama enviado do seu posto diplomático de Moscovo em 1946, Kennan refere a urgência da contenção dos desígnios expansionistas da União Soviética. Embora a história não se repita, a mesma pode ser alvo de desejos revisionistas (ou revanchistas ). Putin desenhou uma estratégia que vai muito para além da estância balnear da Crimeia ou do último reduto de Kiev. Os lideres ocidentais, que partilham o património atlântico e uma parte da história, se desejam efectivamente tirar o tapete por debaixo dos pés de Putin, devem pensar com grande avanço sobre os intentos russos. Devem estar adiantados no tabuleiro. Devem desejar o melhor, mas esperar o pior. Devem esboçar diversos cenários que envolvam resquícios de dominós em queda, porque a pequena paragem que Putin se nos oferece, não serve para inverter a direcção da sua marcha. Servirá apenas para deslocar o ângulo de vista de algo, que para alguns constitui um problema, mas que para outros será a única solução.

publicado às 14:49

Putin, política externa e palavras vazias

por John Wolf, em 02.09.14

Do mesmo modo que não existem vazios de poder na grande paisagem geopolítica, também não pode haver falta de conceitos estratégicos no que diz respeito à política externa dos Estados. Obama declara que ainda não existe um modelo de resposta ou combate ao Estado Islâmico e, a União Europeia (UE), que ainda não conseguiu estabelecer a sua Política Externa e Segurança Comum, parece avançar com peças avulso na formulação das suas relações exteriores. Não sabemos com precisão o que o ainda Presidente da Comissão Europeia José Manuel Barroso terá dito, mas Putin respondeu de viva-voz  que a conquista de Kiev (a acontecer) não demoraria mais do que duas semanas. Federica Mogherini, que ainda nem sequer teve tempo de aquecer a cadeira de responsável pela política externa da UE, também não precisou de muito tempo para atirar ao ar palavras vazias que ninguém pode garantir que sejam corroboradas por actos, decisões substantivas. Mogherini afirma peremptoriamente que cabe a Putin decidir se quer ser parceiro ou opositor da UE. Pelos vistos, entramos numa fase de improviso perigoso. Enquanto Putin passa dos actos aos actos, o mundo livre parece não conseguir se desatolar da espiral de palavras descoordenadas. A Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) parece ter a noção de que um novo conceito definidor deve nascer com um sentido de urgência notável, mas, enquanto se preparam cimeiras, Putin poupou trabalho aos think-tank a Leste e Oeste, e já partilhou com o mundo o tratamento que a NATO deve esperar do Kremlin. E isso deve ser considerado um factor de relevo - uma mensagem clara que obriga a uma resposta inequívoca da UE, da NATO, assim como das lideranças que ainda merecem essa designação.

publicado às 08:27

Putin decide mais Austeridade para a Europa

por John Wolf, em 30.08.14

A grande maioria dos comentadores ou analistas políticos tende a pensar dentro de uma caixa. Elege um conjunto de elementos operativos, convenções e pressupostos, e disponibiliza a sua visão do mundo. E existe um perigo assinalável quando nos deixamos repousar em determinados conceitos intelectuais, como se os mesmos fossem intocáveis. Recentemente têm surgido alguns académicos suficientemente ousados para abalar as suas próprias fundações. Nassim Taleb será um deles - o inconveniente professor de incerteza da Universidade de Nova Iorque -, que entre outros feitos, definiu o conceito de "extremistão": a dimensão onde factos tidos como improváveis acontecem. Vem esta dissertação a propósito da evolução do conflito que opõe a Ucrânia à Rússia e as consequências do seu agravamento para o resto do mundo. Ontem escutei atentamente outro analista que merece a nossa consideração por ter sido capaz de prever muitos acontecimentos que abalaram o frágil equilíbrio do sistema financeiro-económico. Dennis Gartman é mundialmente conhecido pela publicação diária de um relatório sintético que serve de alimento para processos de reflexão nos campos político, financeiro e económico- The Gartman Letter. Na entrevista que concedeu ao não menos hábil Tom Keene no programa de rádio Surveillance da Bloomberg, Gartman alerta a Europa para uma distinta e nova forma de austeridade imposta pela Rússia à Europa. No fogo-cruzado de sanções que parece estar a entrar numa fase mais aguda, a União Europeia sofrerá os efeitos da política externa destemida de Putin. Embora não resulte de um processo político convencional, ou de uma Troika dirigida com intenções claras, em termos práticos, o resultado será o mesmo. São implicações deste cariz que parecem não constar da consciência política da Europa, e, à sua escala, de países com a dimensão de Portugal. São cenários de excepção como estes que me preocupam, não tanto pelos factos em si, mas por termos ao leme dos destinos das nossas nações, governantes ou prospectivos lideres com um atroz grau de ingenuidade, um nível de preparação insuficiente. Portugal, mesmo sendo a derradeira fronteira ocidental da Europa, não ficará à margem deste processo. A haver uma guerra europeia, a mesma será de um género inédito, combinando factores de guerrilha convencional com outros meios igualmente devastadores. Há quem acredite que a Rússia esteja a fazer bluff para granjear alguma vantagem táctica, mas num quadro maior de percepções a Rússia procura readmitir o seu Lebensraum, por variadíssimas razões históricas ou histriónicas de Putin. A Europa que se convenceu da estabilidade da paz, necessita rapidamente de repensar os pressupostos do jogo. Portugal,  infelizmente,  será um pequeno mexilhão, mais espectador do que interventor capaz de alterar a força das dinâmicas que já se fazem sentir. Tenhamos algum medo.

publicado às 12:28

Francisco Seixas da Costa, em entrevista ao i online:

 

Portugal tem uma estratégia sobre aquilo que podem ser todas as suas opções externas?

 

Há uma escassíssima reflexão em Portugal sobre as opções externas. Para algumas pessoas, nomeadamente para alguns think tanks, parece que vivemos num mundo congelado. O mundo varia, a globalização trouxe outros desafios. A própria evolução da União Europeia no seu relacionamento externo impõe aos estados-membros um posicionamento evolutivo e nós não reflectimos sobre isso. Os partidos, como sabe, não têm a mais pequena reflexão sobre questões internacionais. São desertos completos. Os programas do governo na área externa - e eu tive parte de responsabilidade em alguns desses textos - são uma forma habilmente organizada de platitudes e lugares-comuns. Faço parte de um grupo informal de reflexão que se preocupa com isso sem agenda política.

 

O que é que Portugal deveria estar a discutir?

 

Tudo o que se está a discutir a nível da União Europeia no âmbito da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento, por exemplo, é da maior importância e o papel de Portugal pode ser vital. Devíamos ter isto no centro das nossas atenções porque pode ter implicações fortíssimas na utilização do porto de Sines, na questão do equilíbrio energético, nas oportunidades para as empresas portuguesas no quadro do mercado americano. E disto não se fala. Acho uma bizarria. Parece que só meia dúzia de pessoas se interessam. E é o futuro.

publicado às 13:34

Ainda a Guiné Equatorial e a CPLP

por Samuel de Paiva Pires, em 02.08.14

Após o meu post sobre este assunto, e tendo em consideração estes dois posts do Pedro Correia, bem como um outro post de Luís Menezes Leitão, pemitam-me apenas salientar um elemento que não terá ficado claro no meu post, mas que lhe subjaz: a humilhação a que Portugal foi sujeito ao fazer-se representar pelo Primeiro-Ministro e pelo Presidente da República em Timor. É que a este respeito estou de acordo com o Pedro Correia em toda a linha. Foi absolutamente humilhante estarmos representados ao mais alto nível, especialmente quando Brasil e Angola não estiveram. Distancio-me, assim, de alguns opinadores que talvez tenham estômagos de betão, caro Pedro. Mas é precisamente por sentir a humilhação, e atendendo à transformação da natureza da CPLP, que creio que devemos adaptar-nos aos novos tempos de forma a que possamos defender melhor os nossos interesses e não andar meramente a reboque de Brasil e Angola.

publicado às 15:54

Talvez fosse bom repensarmos a nossa política externa

por Samuel de Paiva Pires, em 24.07.14

Pese embora seja perfeitamente possível e compreensível alinhar tanto pela posição pragmática que enforma este post do Nuno Castelo Branco, como pela posição idealista resumida nestes dois posts do Pedro Correia, sendo já um facto consumado a adesão da Guiné Equatorial à CPLP parece-me que talvez pudesse ser útil atentar na forma como Portugal foi encostado às cordas e acabou por não ter alternativa a pactuar com este desfecho, para o qual contribuiu decisivamente a pressão exercida por Angola e Brasil. E isto porque foi um processo demonstrativo de que a CPLP está, efectivamente, a transformar-se, a alterar a sua essência, não sendo despiciendo referir que possui o potencial para se tornar um importante bloco económico internacional, com os devidos reflexos no que à influência geopolítica concerne.

 

Talvez fosse boa ideia relegar para segundo plano o idealismo de uma comunidade ancorada na língua - o que os restantes membros da CPLP já fizeram -, e concentrar esforços em recuperar alguma influência política no seio da CPLP. E isto pode-se fazer, para contentamento de muitos, recorrendo precisamente à tão propalada - como se fosse novidade ou invenção recente - diplomacia económica. Para não voltarmos a ser apanhados na curva, o mínimo que o governo português - o actual e os próximos - pode fazer é concentrar esforços em alargar a organização a países com os quais temos boas relações económicas e políticas e que poderão ter interesse em fazer parte da CPLP, em particular pelas oportunidades de negócios que a organização representa.

 

Se o Senegal já é observador associado há uns anos, se Albânia, Ucrânia, Venezuela e Taiwan têm interesse em fazer parte da CPLP, torna-se essencial compreender precisamente a oportunidade que a CPLP pode representar para a economia portuguesa. O mesmo é dizer que deixemos de ser anjinhos e joguemos com as mesmas armas de Brasília ou Luanda. Assim de repente, relembraria apenas que há mais África para lá dos PALOP, que há América Latina e Ásia onde somos estimados e que também há países europeus que poderiam perfeitamente ser membros de pleno direito, atendendo ao precedente aberto com a adesão de um país onde não se fala português. Se não o fizermos, Angola e Brasil continuarão a alargar a organização atendendo essencialmente aos seus interesses e negociando o acordo de Portugal com migalhas. Já vai sendo tempo de termos uma política externa que não ande a reboque de idealismos ingénuos ou dos interesses de terceiros.

publicado às 17:12

Reunião Soviética

por John Wolf, em 19.03.14

Não sei qual é o chip que está instalado nas máquinas de política externa dos EUA e de alguns países da UE (Reino-Unido, Alemanha, entre outros), mas Vladimir Putin acaba de dar banho ao cão das aspirações do Ocidente. O russo será provavelmente o político mais hábil da actualidade. Sabe-a toda. E deu uma lição aos campeões-libertadores que haviam demonstrado a sua alegada superioridade moral no Kosovo ou no Afeganistão (a título de exemplo). O discurso de anexação da Crimeia foi uma aula magna, mas também uma primeira lição sobre a nova relação de forças que está a ser desenhada por acção deste senhor e, convenhamos, por omissão de Washington e Berlim. Não é necessário ser um génio para entender quais as implicações desta primeira incursão russa. Por que razão haveria Putin de se quedar pela Crimeia? Contudo, os EUA e a UE usam um código que surtirá pouco efeito na alteração comportamental da Rússia. As sanções, têm, na maior parte dos casos, efeitos limitados - é a Rússia que tem o gás que a Europa precisa. De nada vai servir a apólice de seguro de nome Schroder que se senta aos comandos no board of directors da Gazprom. Não vejo razões para que Putin não aspire a realizar uma Reunião Soviética. A Moldávia já o pressentiu e deixou um aviso claro a Putin - Crimeias aqui não. O que está a acontecer até pode parecer um devaneio imperialista russo, mas olhe que não. Foi a NATO que começou a desenhar um círculo em torno do Kremlin, com destinos geo-estratégicos polacos à mistura, entre outras coisas. Os franceses que estão metidos ao barulho por causa de grandes contratos, podem simular a sua indisposição e cancelar as reuniões do G8 que entenderem, mas não passa de uma farsa para inglês ver. Resta-nos assistir às diversas movimentações caducas do Ocidente. Sim, os EUA e os Europeus foram grosseiros na interpretação dos sinais que se vinham tornando claros há bastante tempo. E lembrem-se: não é a Rússia que está entre a espada e a parede. São outros que estão encostados às cordas.

publicado às 14:17

Jet lag de Rui Machete

por John Wolf, em 11.11.13

O público anda baralhado (não, não me refiro ao jornal!). A população portuguesa anda confundida - o cidadão nacional já não bate bem da cabeça. Ainda não percebeu qual a utilidade de Rui Machete. Para mim é claríssimo o que se está a passar. O ministro dos negócios estrangeiros está apenas a aquecer - está nos treinos. Nas últimas semanas tem sido o sifão das asneiras, o canal por onde escorrem dissabores e vaias garantidas. As últimas declarações matemáticas sobre como evitar resgates devem servir de aperitivo para péssimas notícias que podem já estar no segredo dos deuses. Se o responsável pela pasta e o papel de política externa acertasse em todas, tivesse juízo, quando chegasse a hora da dolorosa, o momento de verdade, quem teria a experiência profissional certa para ser o porta-voz do descalabro? É o que eu digo - este é o homem certo. Para Passos Coelho e Paulo Portas, o camarada vem mesmo a calhar. O seu desempenho já está a produzir resultados. A opinião pública já foi hipnotizada pelas cartadas de Machete e presta menos atenção às movimentações da coligação-mas-por-pouco. Machete é como o infiel da balança do governo. Faz tombar o que já está por terra. Quando menos se espera há um descarrilamento de informação que até parece espontâneo. Mas eu não acredito na bruxa. O feitiço consiste em fazer passar informação como se não fosse a correcta, como se tivesse sido um lapso. Mas, uma vez engolidas as afirmações, não há volta a dar - entraram no sistema, na corrente de contraordenações políticas. Não existe um antidoto para este tipo de picada. Os jornalistas, antes de publicar os seus artigos, deveriam confirmar a veracidade dos factos junto das fontes, mas não daquela. O problema é que Machete é mais parecido com uma ruptura, do que saneamento básico em pleno funcionamento - não é uma fonte de água potável. A única coisa que poderemos fazer é cruzar os dedos, fazer cara de póquer e aguardar mais desenvolvimentos de última hora - um anúncio-surpresa sobre outros factos relevantes. Por exemplo, um despejo de informação que concede que "Portugal já assinou a sua saída do euro e está apenas à espera da ratificação do parlamento ou o carimbo de aprovação do tribunal constitucional" - qualquer coisa desse género, anunciado por Machete no contexto de uma visita à Guatemala. O que devemos esperar nos próximos tempos de "juízo à Machete", será algo deste teor, porventura honesto, mas totalmente deslocado da hora que interessa a Portugal. Na minha opinião Machete sofre de um problema de jet-lag crónico. Está cá, mas é como se não estivesse.

publicado às 13:55

Portugal e as prioridades angolanas

por John Wolf, em 24.10.13

Aqueles que afirmavam sem reservas que Angola precisa mais de Portugal do que Portugal de Angola, enganaram-se redondamente. Pensavam eles que seria apenas uma questão de tempo até aquele país vir comer à mão do paizinho e que a relação de irmãos de língua se iria normalizar. Pelos vistos não é o que está a acontecer; o ministro de relações exteriores declarou de um modo inequívoco que há parceiros mais vantajosos do que Portugal. Os governantes nacionais assentaram a sua política externa na premissa de que os países africanos de língua oficial portuguesa teriam uma inclinação natural para manter viva a relação histórica, mas não é o que está a acontecer. Porque razão deve Angola ser europeísta? Desde a guerra colonial que estabeleceu ligações com actores não europeus. A África do Sul e os EUA sempre tiveram presença económica e financeira em Angola. A URSS também andou lá metida. Os cubanos também. Ou seja, Angola há muito tempo que mantém relações com diferentes interlocutores. China é outro parceiro que necessita daquilo que Angola tem em abundância - petróleo. Este encadeamento de eventos, contrário ao interesse nacional luso, decerto que não irá ficar por aqui. Embora não haja um mapa cor de rosa a ligar Angola a Moçambique, é muito provável que a eclosão de um conflito civil neste último vá produzir o mesmo tipo de efeito nas intenções políticas e geo-estratégicas de Portugal. Por outras razões, fazer negócio em Moçambique poderá se tornar impraticável. Em vez da saída do Euro, Portugal é o elo mais fraco de uma outra utopia e parece estar a ser demovido, removido. Durante anos fomos levados a crer que Portugal era o "homem-forte" da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, mas aquele projecto produziu parcos resultados. O projecto de Acordo Ortográfico é sinónimo da especial virilidade de agentes "estrangeiros" que estão pouco interessados nos valores culturais e nas prerrogativas de Portugal. O Brasil que já bateu o pé aos EUA, não terá problema algum em sacudir um país com um mercado interno de pouco mais de 10 milhões de consumidores. Um país que plantou reticências de mentalidade à vinda de trabalhadores brasileiros e agora antagoniza o seu futuro deve ter algum cuidado nos passos seguintes que tomar. Se formos ver bem a coisa, cada vez que Portugal se coloca em bicos de pé a coisa corre mal. Aos poucos, Portugal parece ir perdendo o espaço vital que afinal nunca foi seu. Embora já tenha havido ilustres a declarar o fim do colonialismo, parece que apenas agora a efectiva materialização desse rompimento está a acontecer. Portugal irá decerto reagir às mais recentes declarações do ministro angolano, mas na minha opinião talvez deva ficar quietinho para não agravar ainda mais a situação. O timing político de Portugal é péssimo. Os angolanos que detêm poder de compra não estão para chegar ao continente. Já cá estão e detêm importantes quotas de representação nas decisões económicas de importantes empresas. Portugal tornou-se refém. Os seus sistemas de gestão já foram infiltrados e tomados por parceiros tidos como convenientes. No fundo, a questão tem a ver com ética. A falta dela. Desde a libertação democrática que a divisa tem tido a voz mais alta. Portugal não quis saber e agora coloca as questões que deveria ter apresentado em sede de due diligence. Uma espécie de inquérito preventivo para acautelar o interesse nacional. A cautela - nos dias que correm-, parece estar na ordem do dia, mas chega tarde. O que está a acontecer tem mais a ver com; depois de casa roubada trancas à porta.

publicado às 10:52

Plano de incontinência para a Síria

por John Wolf, em 27.08.13

A escassos dias (ou horas) de uma intervenção militar na Síria, conduzida pelos EUA e seus aliados, e colocando de lado interpretações de ordem geopolítica, preferências ideológicas, as questões morais respeitantes à lei da guerra e o uso de armas químicas, assim como o registo do acentuar da clivagem que opõe a Rússia ao ocidente europeu e americano, venho perguntar se uma nação marginal ao conflito como Portugal tem preparado um plano de contingência, ou se aguarda com expectativa e curiosidade o desenrolar dos acontecimentos? Sei que as guerras internas são de outra natureza, mas um hipotético grupo de trabalho de emergência deve considerar os efeitos nefastos da intervenção militar que se segue, designadamente aqueles que se farão sentir na subida dos preços do crude e nas bombas de gasolina. A intervenção a que assistiremos, de 6 ou 60 dias de duração, obriga os estrategas a redefinir a sua agenda. A crise económica e social de Portugal agudizar-se-á seja qual fôr o desfecho. A retórica das últimas horas inscreve-se no domínio do fait accompli - a política externa dos EUA já lançou os dados e não irá aguardar o aval de uma organização que há já algum tempo deixou de ter relevância no quadro actual da relação de forças - a ONU já não serve de comissão de autenticação ou de plenário de rejeição de decisões tomadas de acordo com interesses que lhe são alheios. Esteja onde estiver, Rui Machete deveria começar a pensar uma pequena declaração sobre o posicionamento de Portugal. Em que condições se encontram as reservas energéticas estratégicas de Portugal? Qual a medida estimável de impacto na consolidação orçamental? Qual o cenário mais  desfavorável para Portugal? E se o governo (ou algum membro do executivo) não realiza este exercício de listagem de possíveis cenários, a oposição teria uma excelente oportunidade para realizar um simulacro. Eu sei que o Bloco de Esquerda anda preocupado com outras coisas, como sentar na sua bancada uma economista em vez de um médico, enquanto que o PS tem resposta para tudo e mais alguma coisa, mas é o governo actual, alegadamente presente para responder a todo o tipo de incêndios, que deve apresentar à nação um esquisso de uma resposta plausível. Pode ser que eu não esteja a ver nada. Afinal de contas Machete foi o homem que sempre cultivou uma relação de proximidade com os EUA (o Soares também; Carlucci e mon ami Kissinger...) e talvez já saiba o que está para acontecer, que tenha assistido a um briefing americano e tenha recebido um memo. Bem sei que o povo português pouco espera de Cavaco, e que o mesmo nunca poderia encarnar um Churchill acutilante, mas alguém deve aparecer para relatar as possíveis consequências do conflito que se avizinha. Acho curioso que a crise Síria ainda não tenha sido utilizada como alíbi, como distracção para as desgraças domésticas que continuamente fustigam a esperança nacional, mas acho que tenho uma resposta aceitável. Melhor ainda, sei porquê. O campeonato de futebol já arrancou, a primeira liga já corre. E não há liga árabe que destrone o desporto-rei.

publicado às 20:39

A Nação como unidade fundamental da Europa

por Samuel de Paiva Pires, em 12.05.13

 

(Gerard Ter Borch, A Ratificação da Paz de Münster) 

 

Jorge Borges de Macedo, História Diplomática Portuguesa:

 

«Pela primeira vez na história da Europa cristã, e depois da perda da unidade papal que resultou dos movimentos de reforma religiosa, se vislumbrou a paz para uma ampla área do mundo europeu, apelando para o princípio das Nações como forma coordenadora dos espaços políticos. E não é por acaso que a sua aplicação se verificou na Europa Central. É uma das glórias da civilização europeia do tempo o tipo de Estado constituído pela dinastia dos Habsburgos a que se chamou Áustria, face às estruturas estaduais da Rússia, já dos Romanov, e da Turquia. As pequenas civilizações da Europa Central tinham-se mantido dentro do Império com toda a pujança da sua língua e da sua arte, com toda a vitalidade das suas virtudes militares e políticas. Para isso, decerto contribuiu a ameaça de inimigo externo, o Turco. Mas não há dúvida que, nessa ampla área europeia, o princípio da responsabilidade nas Nações, como tais, nunca perdeu audiência, nem eficácia.

 

Característica que não é secundária. Numa altura em que a vida na Europa Central se encontrava depauperada e difícil, retoma força ou audiência voltando a aplicar o critério essencial seguido na Europa, desde os Carolíngios, nas relações internacionais: as grandes potências são necessárias quando há uma ameaça extra-europeia que as justifique. O vigor da Europa, porém, resulta dos Estados constituídos por Nações ou pela união voluntária de regiões comprometidas na segurança do conjunto. Na Europa, a regra para a força do todo, na unidade possível, é a Nação ou a união voluntária de Nações. Tolhe ou precariza esta regra a constituição de grandes impérios, quaisquer que sejam. Só em função dela é que se pode organizar um equilíbrio defensor da Europa, mesmo que conduza também à impossibilidade de hegemonia exclusiva de um qualquer grande Estado europeu, porque este nunca consegue retirar ao Estado rival a capacidade de negociar as resistências necessárias para se manter como alternativa possível.»

publicado às 22:09

O desvanecimento do mito dos BRICS

por Samuel de Paiva Pires, em 02.11.12

Nos últimos anos, sempre que alguém me falou nos BRICS com entusiasmo, em particular no Brasil, que é aquele sobre o qual tenho mais conhecimento de causa, respondi que não tardaria muito para assistirmos ao desvanecimento do mito. Sobre o Brasil, basta estudar a História do país e da sua Política Externa para perceber que andam desde a Independência a correr atrás do mito de serem uma super-potência, quando nem mesmo regionalmente a sua liderança política pode ser considerada um facto incontestável. A isto, junte-se-lhe ainda um certo wishful thinking em torno do mito do declínio dos EUA. De resto, a teoria dos ciclos económicos também ajuda a perceber o que se tem passado e o que se passará. Este artigo dá conta do desvanecimento do mito dos BRICS e por isso mesmo recomenda-se a sua leitura.

publicado às 18:59

Um fim-de-semana realista de Passos Coelho

por Samuel de Paiva Pires, em 18.12.11

Passos Coelho deu uma boa entrevista a Martim Cabral e Nuno Rogeiro na Sic Notícias, especialmente em matéria de política externa, com um vincado relevo do vector atlântico. Quanto à opinião de que o facto de não existir um governo europeu é uma fragilidade, compreende-se que outra coisa não poderia dizer. Estando o estado português financeiramente dependente da troika, pouca margem de manobra tem o governo para discordar de Merkozy. Temos que nos submeter para sobreviver, infelizmente.

 

E quanto às afirmações relativas à emigração de professores, ao contrário do que muita gente por aí vai dizendo, creio que Passos Coelho mostrou, novamente, uma visão alargada em termos de política externa. A comunicação social e certos enviesamentos é que trataram de descontextualizar as afirmações do PM. Por mim, não me importaria de ir dar aulas para qualquer país da CPLP, cumprindo esse sonho do Portugal armilar e universalista. Quem não o entende, provavelmente está agrilhoado a uma visão paroquial do país e do mundo. Ou de como um Professor dizia há uns anos numa aula, talvez os portugueses corajosos tenham todos ido para o Brasil em 1807 com D. João VI. Faltam portugueses à solta. E fazem pouca falta as virgens ofendidas e chocadas com verdades lapalissianas.

 

Ademais, Portugal vem desde há alguns anos a esta parte promovendo programas de "exportação de indivíduos qualificados", através da AICEP, da União Europeia, da ONU e dos acordos e parcerias com os países da CPLP que têm permitido a muitos jovens licenciados, empresários e professores conhecer outras realidades e singrar nessa pátria armilar que é a língua portuguesa. Que certas virgens ofendidas, em particular alguns apoiantes de Sócrates, descontextualizem as normalíssimas afirmações de Passos Coelho, quando o primeiro promovia activamente o que o último afirmou, parece ser apenas o normal anormal da hemiplegia moral e dogmatismo de certa pretensa intelligentsia. 

 

Por tudo isto, no dia de aniversário do Professor José Adelino Maltez, apetece-me relembrar aqui o abraço armilar que só quem estuda a fundo a sua pátria sabe colocar desta forma: «Não há dúvida que, de finisterra, nasceu Sagres, pelo Atlântico, a caminho do Sul. Que, outrora, partimos, ousando regressar ao ventre mátria, de nossa mãe distância, na senda daquele abraço armilar, daquele universalista quanto mais além, mais além ainda (Paul Claudel) que talvez constitua a principal significação partilhada das comunidades portuguesas, esse núcleo central da nossa memória e dos nossos valores, donde nos vem a identidade e a autonomia.»

publicado às 22:47

O Osso da Dilma - crónicas de um lançamento trans-atlântico

por Manuel Pinto de Rezende, em 17.11.10
Causou-me severa repugnância este comunicado que o Nuno Castelo-Branco fez o favor de nos transmitir. Para que fique estabelecido, não foi o Nuno CB que me causou repugnância - se bem que o tom do seu post assustou-me um pouco - mas sim o comunicado do PT e a resposta do Duque de Bragança.
Quando manifestei esse sentimento, o Nuno CB comentou, e muito bem:
Uma coisa é o Estado, outra será a simpatia pessoal ou a preferência partidária. OU deverá Portugal, apenas ter relações com um determinado tipo de países e de dirigentes?
Já sei que discordo do Nuno CB em matérias políticas e estruturais para a fundação de uma nova monarquia em Portugal. Não será grande desafio, portanto, discordar agora numa matéria de política internacional que me parece, antes de tudo, uma matéria de espinha dorsal.

Desejar a Monarquia apenas pelo estatuto da Monarquia é como Desejar a Igreja Católica mesmo que esta siga a doutrina da IURD, ou gritar a plenos pulmões "Tudo pelo meu Pai, mesmo que ele seja um bêbado!" ou "Tudo pela minha Mãe, mesmo que ela seja uma vadia!".
O Rei, a ser a mera personificação de um símbolo vazio, um funcionário público hereditário que desempenha funções formais, como a de ser um sub-secretário do Ministérios dos Negócios Estrangeiros com faculdades representativas, pode continuar perfeitamente engavetado nos Paços de Vila Viçosa. De representantes inúteis já eu tenho a minha conta, muito obrigado, cedida a cada quatro anos pela Augusta máquina da oclocracia instituída.

O Rei tem de ser rex, a regra. Ou pode voltar a embarcar para Gibraltar, e de lá para a Conchichina. Isso não quer dizer que deve, a todo o custo, qual Messias autocrata, impor a Boa Nova de mensagens tão sublimes e simples como esta: A todo o custo, afastarmo-nos da Dilma "Rousseau" Rousseff, porque ela é uma criminosa política e uma atentado às liberdades civis dos brasileiros. Mas de facto, o que se quer é um monarca cristão (como se considerou Dom Duarte) e um Casa Real importada em demonstrar que segue uma política externa conduzida não apenas pela movimentação das ondas de Wall Street, mas antes por uma política de valores construtiva.

O que é bom nisto da Monarquia é permitir-nos pensar para daqui a 200 anos, e se ocorrerem imprevistos, não ficarmos com as calças na mão. Como é que ficará vista a Casa Real Portuguesa, no seio das outras casas reais católicas, e no seio dos seus principais apoiantes (tanto os presentes como os já passados) quando o Governo de Dilma afectar a liberdade económica dos brasileiros, já tão carregados de um Estado em crescimento descontrolado desde o tempo de Lula?
E o que será feito do prestígio da Causa Monárquica quando o aborto livre for reforçado na legislação brasileira? Ou o casamento homossexual, que Dom Duarte tão fortemente criticou?

Vamos mesmo querer gritar: "Tudo pela Monarquia, mesmo que a da Dilma?" Estamos assim tão necessitados de um osso brasileiro, atirado pelo PT? Já ninguém sabe reconhecer mau marketing? Não haverá uma razão pela qual Dilma comparou os Bragança de cá aos de lá? Ou acham que isto foi apenas uma jogada de consideração solidária? Desde quando a esquerda, na sua intrínseca mediocridade política, alguma vez atirou um osso à monarquia que não tivesse a intenção de lhe atiçar todos os cães raivosos do canil?
Não será mais importante a relação entre as duas Casas de Bragança que o Osso da Dilma? Uma criminosa e terrorista apoiada por toda a escumalha LGBT e Pró-Aborto do Brasil?

Mas andam os conselheiros da Casa Real todos na porca da Maçonaria? É tudo marca-burro PSD? É a Monarquia Portuguesa uma comitiva de "passou-bens" que cumprimenta todo e qualquer regime? Ó Dilma, porqué no te callas? (Não será melhor voltar aos reis espanhóis?)

O Rei Leopoldo abdicou o trono para não promulgar a lei do Aborto. O Duque e a sua entourage andam de mãos dadas com uma Presidência brasileira que até agora só conseguiu unir os conservadores, tradicionalistas e católicos brasileiros contra os "progressistas". E isto parece ser coisa boa para alguns.

O problema dos monárquicos é pensar que o contrário de Monarquia é República. Também é possível uma Não-Monarquia. E é para ela que se caminha.

publicado às 13:29

O re-escrever tendencioso da História

por Nuno Castelo-Branco, em 18.08.08

Neste aborrecido e nublado fim de semana, passei distraidamente os olhos pelo Portugal na Segunda Guerra de António Telo. Além da atenta e exaustiva enumeração de factos ocorridos antes e durante o conflito, o livro oferece uma perspectiva de interpretação da política externa portuguesa durante os difíceis anos da Guerra Civil de Espanha e do progressivo desmoronar do edifício versalhesco de segurança das potências vitoriosas em 1918. 

 

Inevitavelmente, a obra tem como figura central o Presidente do Conselho Oliveira Salazar que foi quem verdadeiramente conduziu os negócios estrangeiros nacionais durante o conflito. Desde o início da quebra dos laços de submissão que mantinham Portugal refém da indulgente política do Foreign Office, Salazar conseguiu talvez, a reputação  de integridade e de inegável patriotismo que indelevelmente marcariam a sua acção de homem político. Não apenas na vertente interna - onde efectivamente enterrou o longo desvario fratricida da I república -, mas também na política externa, gozou do reconhecimento dentro e além fronteiras, mesmo por aqueles que se encontraram em campos opostos durante o conflito mundial.

 

A posição do Estado português é internacionalmente conhecida, sendo a aliança inglesa - hoje atlântica - , o pilar fundamental para a manutenção de uma independência que não encontra qualquer  contestação de relevo internamente. A consolidação da fronteira terrestre e a desmesurada expansão no Ultramar, granjearam o reconhecimento internacional, solidificaram a consciência nacional e garantiram a Portugal, uma permanente presença nos mapas. 

 

Após a vitória de Franco - aliás gostosa mas discretamente celebrada em todo o Ocidente -, poucos meses decorreram até à eclosão da grande conflagração ,na qual o principal e único aliado do nosso país - a Inglaterra -, se envolveu. Tendo recentemente saído de uma profunda crise económica e social que se arrastou por mais de dez anos, o Reino Unido jamais recuperara da posição privilegiada anterior a 1914 e apesar da vitória contra os Impérios Centrais, foi duramente atingido na sua solidez de hegemónica potência imperial. A sua marinha já tinha rivais, o seu comércio declinou e Londres foi substituída por Nova Iorque como principal praça financeira planetária. Esse declínio fez-se sentir igualmente em todas as forças armadas britânicas que em 1938, não podiam obstar aos avanços alemães na Áustria e indicaram ao governo, a necessidade de contemporizar em Munique. 

 

Para Portugal, a fraqueza britânica  trazia imediatas consequências, pois, se por um lado afrouxava o nó górdio que reduzia o nosso país a um sub-Império da Commonwealth, por outro, expunha o nosso património colonial às investidas dos novos imperialismos que poderiam tentar uma nova partilha de África, adiando uma vez mais, a eclosão da guerra na Europa. Contudo e apesar dos rumores quanto a uma entrega forçada de pelo menos uma parte de Angola aos alemães, Hitler jamais mostrou um verdadeiro interesse na recuperação de um espaço colonial. Influenciado por doutrinas como as de Haushoffer, considerava o espaço euro-asiático como o natural campo de expansão de uma Alemanha que pela sua população e potencial económico, inevitavelmente dominaria o continente.

 

A guerra confirmou aquilo que todos sabiam, porque as fulminantes vitórias da Wehrmacht devastaram  os campos de batalha, aterrorizaram as cidades expostas  e à mercê da nova arma aérea e pior que tudo, provaram a inutilidade da velha ordem internacional garantida por tratados ora caducos.

 

O dilema que se apresentava ao governo de Lisboa, não  era de molde a forçar a intervenção na guerra, mas punha-se sobretudo, quanto à política mais acertada a adoptar para a preservação dos territórios além-mar. Jamais considerada a hipótese de integração no Eixo - apesar da irritante  e abusiva insistência com que certos e muito parciais estudiosos de História querem fazer crer -, Portugal permanecia dentro da esfera de interesses britânicos e a simples verificação no mapa das possessões ultramarinas demonstrava essa dependência. A extensão de fronteiras comuns em Angola e Moçambique, tornavam inevitável a estreita colaboração com as autoridades coloniais britânicas, principalmente com as da África do Sul, onde existia uma corrente pró-intervencionista em Moçambique, no caso de Portugal de alguma forma se furtar à sua tradicional política exterior.

 

Nas horas subsequentes ao início do conflito, Salazar proferiu um discurso na Assembleia Nacional, onde a aliança inglesa foi reafirmada, apesar da manifestação da neutralidade portuguesa.  É este talvez, um acto que caracterizará toda a movimentação diplomática nacional durante a guerra e mais relevante se torna, quando foi universalmente anunciado. Hitler e Mussolini tomaram conhecimento do teor daquele discurso e decerto compreenderam a inevitabilidade do mesmo. A primeira fase das hostilidades no ocidente, pareceram tranquilizar muitos daqueles que, devido às claras afinidades existentes entre o franquismo espanhol e as potências do Eixo, receavam o envolvimento do país vizinho o que infalivelmente conduziria ao ataque e ocupação de Portugal, dada a sua fundamental posição estratégica e a privilegiada situação dos portos nacionais, essenciais à guerra naval alemã.

 

Alguns factores contribuíram para o progressivo afastamento da ameaça de guerra, desde a derrota na Batalha da Inglaterra, aos pesados reveses italianos no norte de África e na Grécia. A consequente dispersão de forças alemãs em novos e imprevistos teatros de operações, tiveram um reflexo imediato na Península, onde Hitler não conseguiu convencer um nada entusiasta Caudilho, a permitir o desencadear de uma série de operações que conquistariam Gibraltar e mercê de um rápido ataque pelo Alentejo - Operação Isabella -, Portugal. 

 

Com a Europa ocupada dos Pirinéus ao Niémen e dos gelados fiordes noruegueses ao Mar Jónio, o governo português via reduzir-se substancialmente as suas alternativas no campo da política externa. A Inglaterra fora vencida em França, na Noruega e na Grécia. Um após outro, os Estados balcânicos integraram o Eixo e a Grécia, apesar dos esforços dispendidos pelos ingleses, foi rapidamente conquistada, ficando desta forma ameaçado, todo o conjunto defensivo britânico no Mediterrâneo, essencial à prossecução da luta, dadas as directas e rápidas ligações que propiciava À Índia e aos cruciais recursos energéticos do Médio Oriente. 

 

Salazar conhecia bem a realidade do poder terrestre-continental alemão, mas confirmara igualmente, a prevalência britânica no mar, do qual Portugal totalmente dependia para o controle das suas possessões ultramarinas e de onde chegavam os bens de consumo a uma população pesadamente atingida pelo racionamento. Desta forma e com perfeito conhecimento da situação por parte dos aliados ingleses, o governo português procurou desde o início do conflito, impedir a entrada da Espanha no campo do Eixo e as vantagens que Lisboa pôde apresentar em Madrid - especialmente no campo económico -, foram decisivas. 

 

Paradoxalmente, os estudiosos desta época insistem em vislumbrar fragilidades, contradições e posições irrealistas por parte da política externa salazarista, confundindo a paixão ideológica, com a difícil realidade que era apresentada a um pequeno país sem grandes recursos bélicos ou financeiros que susceptibilizassem a tomada de decisões de forma autónoma e com inevitáveis consequências para o todo nacional. A aproximação económica com a Alemanha, foi talvez um preço pouco excessivo para compensar uma aparente neutralidade que afinal, se sustentava na esperança de uma vitória final aliada que garantiria o status quo no Ultramar. No seu livro Roosevelt, Churchill e Salazar, José freire Antunes vem igualmente tentar uma interpretação da história, desta feita à luz da visão norte-americana e em claro detrimento daquilo a que na altura unanimemente se considerava ser o interesse nacional. O constante rebaixar das atitudes do MNE do qual AOS era o titular, alia-se ao menosprezo das dificuldades inerentes a uma situação calamitosa em termos mundiais. Para alguns autores, a visão dos factos e a prática política dos Estados - neste caso Portugal - terão que coincidir perfeitamente com as intenções e caminhos políticos, económicos ou militares de potências que tutelam as suas mentes ou situação pessoal. É a auto-negação da credibilidade do pretenso investigador, parcial na análise, cumprindo um programa político ou ideológico. Enfim, é o re-escrever da História a que já nos habituámos e que tão prejudicial tem sido ao mundo académico português.

 

Apesar das privações económicas e de longos anos de receio perante o espectro da intervenção no país, os portugueses chegaram a 1945, incólumes na sua integridade física, pois apesar dos acontecimentos decorrentes da invasão japonesa em Timor, nenhum dos territórios sob soberania nacional foi atacado ou invadido, nem se perderam cidades e populações sob dilúvios de fogo vindo dos céus.  Portugal  não podia ter procedido de outra forma. Conservou intactos canais de comunicação entre potências em conflito, não cedeu naquilo que era essencial - a soberania - e condescendeu no acessório. Quando o desfecho da II Guerra Mundial ainda não era absolutamente previsível (1943), Salazar permitiu a recondução da política ao claro alinhamento com as potências atlânticas e a cedência de facilidades nos Açores, foi o factor decisivo para a conclusão da Batalha do Atlântico, vital para exércitos e países que dependiam sobretudo da logística. A neutralidade colaborante portuguesa beneficiou o país, em contraste com aquilo que se passara durante a Grande Guerra, onde o mesquinho interesse de uma minoria política ansiosa de reconhecimento internacional, precipitou Portugal no desastre económico-social e na derrota militar.

 

Aos detractores contumazes da "política de neutralidade do Estado Novo", conviria deixar algumas questões para reflexão. O que teria sucedido no teatro de guerra europeu/norte-africano, se com Portugal ocupado e os seus portos abertos às marinhas da Alemanha e da Itália, a Inglaterra tivesse perdido Gibraltar e consequentemente, o Egipto e os recursos petrolíferos do Médio Oriente? Como teria o Reino Unido sobrevivido ao corte dos abastecimentos marítimos, agora sob o controle férreo dos cardumes de submarinos que decididamente infestavam o Atlântico norte e que das costas de Marrocos às da Noruega, impunham a lei do vencedor antecipado? Como teria evoluído a guerra a leste, se empenhado a ocidente na liquidação do esforço britânico, Hitler tivesse decidido adiar sine die o início as hostilidades com a URSS?  Mais tarde, iniciando-se a "Operação Barba-Ruiva" em condições estratégicas e logísticas muito favoráveis, teriam os Estados Unidos prosseguido a política tendente ao intervencionismo, ou render-se-iam à evidência do estabelecimento de uma Nova Ordem mundial? Os militares do nosso tempo, não deixarão de ter a última palavra na análise de uma situação estratégica, tornada insustentável pela conquista pelo Eixo, das principais vias de comunicação com a Europa. O mundo seria hoje muito diferente.

 

Tentar encontrar indícios criminalizantes nas relações com o Eixo, não deixa de ser extemporâneo e completamente contrário à decência do estudo da história tal como ela foi e não podia deixar de ser. Desacredita o historiador e rebaixa-o à condição de panfletário de uma facção. Infelizmente, esse tipo de curiosos ou serviçais de alguns interesses ou complexados ansiosos de protagonismo no mundo do "politicamente correcto", ainda abundam entre nós. Até quando?

 

 

 

 

publicado às 15:26






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