Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



A propósito...

por Nuno Castelo-Branco, em 28.08.17

....como é que param as modas quanto aos retornados da Venezuela?

publicado às 16:46

Finalmente, alguma acção visível

por Nuno Castelo-Branco, em 29.07.17

multiracial-hands-Article-201412121347.jpg

 O governo, bem, há que dizê-lo, resolveu tornar mais visível o programa de acolhimento de refugiados da Venezuela. Mais vale tarde do que nunca, é o que se diz nestes casos.

Nem teria sequer outra opção, apenas cumpre aquilo a que se comprometeu constitucionalmente. Basta agora convencerem quem para Portugal queira vir, a estabelecer-se no continente onde existem mais capacidades de integração, mais oferta e espaço.

Criem-se então as condições, as linhas de crédito, os alojamentos a obrigatoriamente serem cedidos pela banca intervencionada pelo Estado - possui milhares de casas em carteira -, as escolas para os filhos e os médicos de família. A questão da saúde será talvez a mais urgente.

Talvez assim mitiguem o opróbrio que sobre o esquema vigente caiu após certas coisas das quais foi e ainda é o único responsável. Em suma, uma forma indirecta de pedir desculpas a quem, mesmo passadas algumas décadas, ainda não se esqueceu.
Organize o governo uma campanha de angariação de boas vontades a título gratuito e logo verão os voluntários que se apresentarão. Aqui estará um deles.

* Não se esqueçam de accionar as linhas de auxílio gizadas em Bruxelas para este fim que é precisamente idêntico a outros.

publicado às 08:23

De novo, a mesma história

por Nuno Castelo-Branco, em 24.07.17

sonhar-com-fogo-810x454.jpg

 

 Repete-se conto por conto, família a família, desgraça a desgraça. Sem uma única novidade, eis que desfilam caras que podem credivelmente repetir outras de há umas tantas décadas ainda filmadas a preto e branco. Os arquivos contêm quilómetros de filmes guardados e impossíveis de mostrar pela crua violência. Percebe-se a razão para tal desfaçatez. Agora ainda podem fazê-lo de forma mitigada, mas a sociedade e a tecnologia disponível são diferentes e a primeira, mais atenta, envergonhada e miraculosamente dada a causas, dispõe dos meios que para supremo azar de quem pode ordenar, desta vez não deixará passar em claro.

O governo estará a fazer o que todos deveríamos esperar? Talvez, concedamos então o privilégio da incógnita, mas conhecendo a natureza dos políticos do regime, todos eles e sem excepção numa assentada, é cada vez mais duvidoso, para não dizer impossível. Sabemos que o caso Venezuela é melindroso, requer gigantescas cautelas e exige ainda mais cuidados do que o precedente que abrangia uma série de territórios portugueses espalhados por três continentes, cujo abandono apenas pode ser imputado a Lisboa e à sua desnecessária e abusiva rendição incondicional.

A Venezuela é um Estado soberano e facilmente poderá retaliar da pior maneira, bastando para isso o descarado e cada vez mais carnavalesco aprendiz de ditador fazer um daqueles discursos atabalhoados que nem o próprio Chávez ousaria. Soltará facilmente o ódio homicida pelas calles e isso o MNE sabe tão bem quanto a generalidade dos cada vez mais aterrorizados interessados.

Anda este blog a avisar esta certeza há pelo menos dois anos. Urgia fazer os inevitáveis preparativos, mas o encolher de ombros foi a norma, preferindo-se outras prioridades relativamente ingratas, como o país comprovou e eles sabem que nós sabemos.

Avisos sem resultado aparente, embora tenhamos tomado conhecimento de alguns textos passarem pelas secretarias de Estado correspondentes a este tipo de assuntos desagradáveis.

Já não podem ocultar sem escândalo público. Pelo que ouvimos hoje no telejornal da SIC que se deu ao extenuante e inglório trabalho de conceder meia hora de atenção a uns tantos casos relativamente felizes quando comparados com outros, podemos então imaginar o que estará vergonhosamente escondido, as imagens de gente idosa e semi esfarrapada a vaguear pelas ruas madeirenses e a suplicar por uma malga de sopa, numa recriação da famosa cena do filme Oliver Twist dos anos sessenta e o bem conhecido, please Sir, I want some more! Se a SIC transmitiu esta reportagem, é porque se trata de um problema piramidal, imenso e esmagador.

Paradoxalmente ou não, o número de pobres coitados vai diminuindo na contabilidade conta-cabeças por conveniência. Há uns tempos eram um milhão, agora apenas metade ou ainda menos. Parabéns pelo esforço, é o que nos é possível resmungar em incontida revolta.

Já vimos disto antes e agora, em pleno século XXI e perfeitamente conhecidos os factos que nos chegaram em fracção mitigada, repetem ponto por ponto o que sucedeu. O mesmo deixa andar, os mesmos terrores ideológicos retirados de cartilhas que superficialmente conhecem através de umas tantas citações, os mesmos delíquios laxistas e entre outras torpezas, a mesma extrema cautela para não ofender quem deve ser chamado à atenção que nem por sombras merece.

Já vimos disto, na verdade. A história repete-se, contrariando os insuportavelmente arrogantes partisans easy jet-set burgueses do politicamente correcto, provavelmente mais preocupados com as suas férias de verão num resort qualquer. Nem lhes passa pela cabeça o facto de estarem a ser aquilo que desbocada e alegadamente mais detestam: gente má e cruel.

O próximo assunto que se segue? O dossier África do Sul.

publicado às 22:24

Sim, vê-la, mas muito discretamente

por Nuno Castelo-Branco, em 22.07.17

hw-ard-weissensee-lisa-feldmann.jpg

 

 No melhor, mais decente, interessante e menos visto canal da tv portuguesa, uma série alemã que num misto de disfarce e embaraço, nos mostra aquilo que todos sabemos e fazemos de conta ignorar para não ofender. Quando virem um episódio, entenderão porquê. 

Weissensee na RTP 2

publicado às 22:13

Ceci n'est pas un bouchon

por Nuno Castelo-Branco, em 20.07.17

CZ0a7V0W0AE88Ym.jpg

 ...mas sim hálitos vinhosos e barrigas morcelosas. 

publicado às 16:47

Rédea curta

por Nuno Castelo-Branco, em 19.07.17

 

1386601588_619960_1386601723_noticia_normal.jpg

 Não se trata de um tema de campanha e muito menos uma arma de arremesso político. A calma é o que se aconselha quanto a este melindroso dossier da evacuação de nacionais estabelecidos na Venezuela. Estrondeia nas redes sociais um coro de indignações por aquilo que sucedeu num organismo qualquer da U.E. a propósito do voto português quanto ao  notoriamente incapaz Maduro de Caracas. Por muita razão que os nossos comparsas europeus tenham, não atendem aos mesmos problemas enfrentados pelas autoridades de Lisboa, sejam elas de que partido forem. O que têm os portugueses em perspectiva? O número que uma vez mais se aproxima  do milhão. Não estamos a falar de moedas ou de apostas, mas sim de pessoas que urge proteger.


A verdade é que o regime não pode nem deve falhar onde fracassou clamorosa e voluntariamente em 1974/76. Não pode, seria mesmo uma afronta ao interesse nacional.

Queremos então acreditar de tudo estar a ser feito para precaver uma catástrofe e assim, os assuntos que são simulltaneamente políticos e humanitários, deverão ser tratados de forma discreta. Contudo existem alguns indícios preocupantes, como os milhares já arribados à Madeira e deixados à guarda do governo regional, parte integrante da estrutura do Estado de direito que é Portugal. Não se vislumbram campanhas organizadoras ou recolectoras de fundos, os dizeres na imprensa são praticamente inexistentes, não se vê um único programa nos canais televisivos nacionais. Dir-se-ia nada estar a acontecer.

A palavra é dura e neste caso politicamente feia, mas real: refugiados.

Neste momento deveria o governo de Lisboa apresentar um plano de contingência em Bruxelas que aos refugiados da Venezuela fossem pelo menos concedidas as mesmas condições de integração como as oralmente garantidas aos que à Europa chegam de outras paragens. Está isto a ser feito? Não parece, é duvidoso e este caso deve ser tomado de rédea curta. Mantenhamos então a vigilância.



publicado às 13:29

Trump em Paris

por Nuno Castelo-Branco, em 14.07.17

Louis_XVI_en_habit_de_sacre.jpg

 Não era assim "tão absoluto", votou negativamente naquele Conselho em que o governo francês resolveu ajudar os rebeldes.

publicado às 08:04

Macumbas camarárias?

por Nuno Castelo-Branco, em 01.07.17

IMG_4307.JPG

 

É uma visão repetitiva, mês após mês. Naquela zona a intervencionar entre a R. Luciano Cordeiro, Largo das Palmeiras e Rua de Andaluz, existem sete edifícios com "projecto aprovado", coisa que mais não quer dizer senão o inapelável e completo arrasar. Serão substituídos por uma magnífica novidade de lataria, betão, pladures e outras modernidades a que a vereação do urbanismo nos tem habituado. Lá se vão cantarias, madeiras, estuques e aquele dispensável aspecto urbano do final de oitocentos e virar de página para o século XX.

Sabe-se que o projecto terá sido muito naturalmente aprovado, obedecendo aos critérios demolicionistas que há muitas décadas assaltaram todas as vereações da CML. Este não foi excepção, mas... algo aconteceu. Como e o quê? Não se sabe, mas imagina-se.

A vizinhança anda entre o incomodada e o divertida com esta cena de ovos vergonhosamente desperdiçados, pois os noticiários são pródigos em feitiços, bruxarias e macumbas, umas à beira mar, outras terra adentro como é este o caso. Ficamos então sem saber se deve ser este sortilégio abençoado e seguir em frente impedindo a destruição irreparável dos sete magníficos edifícios que fazem parte da história desta cidade, ou pelo contrário, se este "desamarrar" de licenças deve continuar a encontrar todos os escolhos possíveis.

Dado o que se adivinha, até às eleições não teremos novidades.

publicado às 08:24

O esquema vigente

por Nuno Castelo-Branco, em 30.06.17

bunker1.jpg

 

Em 1975 o país fervilhava de paixões e sedição descarada. Subitamente desapareceu então uma boa quantidade de equipamento de campanha, neste caso as G-3 que tinham prestado os seus bons ofícios em todas as frentes no Ultramar. Logo houve quem pronunciasse a copcónica tolice de estarem as armas em boas mãos. Sabia-se de imediato ao que se referia, pois dado o contexto, tudo era de prever, como aquele assassinato à porta do RAL 1 foi um marco de tudo aquilo que mais tarde se passou.

Agora desapareceu nada misteriosamente uma quantidade muito mais importante de armas de guerra, entre elas os pouco ou nada temíveis lança-granadas que aqui e ali vamos vendo em filmes de acção, seja ela fictícia à Rambo 21 com sequelas previstas, ou bem real nos telejornais que nos contam muito ao de leve e com apertada censura, do que tem ocorrido em todo o Próximo Oriente. Felizmente podemos ficar todos bastante tranquilizados, pois não desapareceram facas de degola, mas à falta delas, umas tantas inofensivas granadas ofensivas e milhares de munições de praticamente inócuo calibre 9mm, incapazes de perfurar um tanque Leopard II A6, valha-nos Nosso Senhor. Do mal o menos e tal como malissimamente parece estar a ser sugerido, encolhamos então os ombros e sigamos em frente, até porque factos semelhantes têm ocorrido noutros conhecidos países da NATO.

Provavelmente a poderosa cerca de arame farpado foi estoicamente trabalhada de modo a abrir uma brecha tão grande como a frente do Mosela e o talhe de foice das Ardenas em 1940. Provavelmente o detector de presença - existia? -, foi sabiamente avariado há uns anos sem que disso alguém tivesse dado conta. Provavelmente a vídeo vigilância estava desactivada devido a uma falta de cassetes vhs. Provavelmente eram conhecidas as rotinas das patrulhas e como estas eram feitas. Tudo provável e alegadamente, tal como o esquema vigente há muito nos habituou para o que quer que seja e as Forças Armadas com os seus mais altos representantes, poderem uma vez mais fazerem a carantonha moita-carrasco.

É praticamente certo de que jamais teremos novidades acerca deste negligenciável assunto de início de verão, a tal silly season.

publicado às 18:10

Basil Bazaroff

por Nuno Castelo-Branco, em 15.06.17

e0a2509aa3cf1d6ffc2a6bdf7aa33fc4.jpg

 Era uma personagem de Tintim, surgindo na aventura O Ídolo Roubado. Baseou-se em Basil Azaroff, um escroque internacional negociante de armas que pertenceu à Vickers-Armstrong, tornando-se conhecido por ter acicatado guerras para conseguir bons contratos com ambos os contendores.

Assim parece estar agora a acontecer com a administração Trump, ainda há pouco conseguindo um multimilionário contrato com os repugnantes sauditas, para agora fazer exactamente o mesmo com o felizmente não menos repugnante mas segregado Qatar. Temos guerra garantida? Remotamente talvez, se os fornecimentos se limitarem a material pesado - artilharia, tanques relativamente ultrapassados como o Abrams, aviões F-15, etc - e não passível de uso, conhecendo-se a timidez que grassa naquelas fileiras sempre à cata de bandidos úteis por encomenda. Esta parafernália limitar-se-á a martelar as avenidas destinadas às paradas e logo seguirem para os habituais depósitos para o necessário processo de enferrujamento. Bom para ambos os lados, especialmente para a indústria de armamentos americana e respectivos operários a quem o presidente muito prometeu para ser eleito. Foi eleito e agora cumpre o prometido. Nada que os precedentes não tenham feito, sabemos bem, mas agora está sob o foco das redes sociais e media.

Outro caso seria virmos a saber que as encomendas também incluirão material mais ligeiro como jeeps, transmissões, granadas, explosivos, mísseis anti-carro e anti-aéreos portáteis, metralhadoras, instrumentos de visão nocturna, etc. Vão parar directamente às mãos dos amigos de McCain.

publicado às 19:29

10 de Junho

por Nuno Castelo-Branco, em 12.06.17

mapa.jpg

 A continuidade histórica foi retomada e um bom exemplo foi o simbólico desfraldar de todas as bandeiras que foram, são e para sempre serão portuguesas. Para despeito de alguns que ainda são demasiados, foi isso mesmo o que os mais altos órgãos do Estado finalmente assumiram. Portugal não surgiu em 1385, 1640, 1810, 1820, 1834, 1910, 1926 ou 1974. Assume assim integralmente todo o seu passado quase milenar.

Agora, falando ainda mais a sério, aqui fica a necessária opinião acerca da dupla que foi ao Brasil comemorar não uma mera festa nacional que nem sequer é o dia da independência do Estado, mas sim a Portugalidade em tudo o que o termo encerra no seu todo pluricontinental, como um quase esquecido comunicado um dia infelizmente rezou em vão. 

O 10 de Junho estendeu-se a países extra-europeus e isso é positivo. Os portugueses e respectiva descendência que por lá vivem e trabalham têm sido olhados como meros utensílios arrecada-divisas e este aspecto não é apenas algo imputável a este regime que deles tem abusado, pois o abusivo costume verifica-se desde há muito. Na história dos nossos trisavós, foram evidentes os sobressaltos quando a Metrópole se viu atingida por esta ou aquela quebra da moeda ou crise económica e financeira além Atlântico. Já era tempo de vermos nos nossos compatriotas não apenas o que tradicionalmente a abstenção total que grassava nos gabinetes de Lisboa impediu de considerar, ou seja, valiosos agentes fora de portas, servindo não apenas os nossos interesses da exportação de produtos portugueses, mas sim como força de influência.

 
Não estando em causa as personagens, ficaram então os princípios que há umas décadas andam demasiadamente perdidos nas brumas da memória. Estávamos habituados a cimeiras onde fazíamos a vez do parceiro novo rico mas à conta e infalivelmente obediente, é verdade,. Estas resumiam-se a paragens e lugares que se tornaram muito comuns, limitando-se ao espaço físico dos 28, perdão, 27 convivas continentais. Tudo se resumia afinal a acatar directivas engendradas não se sabe bem em que gabinete no estrangeiro. Obedecia-se e em suma, a nossa política externa deixou de ser nossa.

Nada pôde ser mais errado - e desnecessário, como se comprova -, pois significou a voluntária renúncia a uma política externa portuguesa que como agora se vê, gostem ou não gostem os restantes rotativos que inevitavelmente regressarão um dia ao poder,  reemerge. Viagens de trabalho à China, Índia, África lusófona e Brasil, eis o caminho tradicional agora retomado e essencial à preservação da nossa identidade. O outro projecto? Um complemento de conjuntura da geopolítica. Pouco importando aquele que ocupe o cadeirão governamental, esta é mesmo uma obrigação nacional, dado todos supormos a insistência deste país em querer continuar a existir.

Os bons momentos, sempre passageiros ao longo desta já longa história, podem e devem ser aproveitados. Com alguma audácia até a aliança luso-britânica será revivida, pois com a atenção que o assunto obviamente merece, facilmente verificaremos que tal é do total interesse de ambos os comprometidos na mesma. Poderemos vir a ser-lhes muito úteis, disso não existe a menor dúvida e tudo se conjuga para esta suposição. Regimes chegaram e mais tarde partiram, o princípio e o interesse comum permaneceu. O resto? Que espere ou se conforme.

Contemos então com a desejável reserva mental, desfaçatez, oportunismo, hipocrisia e visão para além da mercearia de quem está ao leme, pois é disso mesmo que se trata e Portugal precisa: olhar para o mar, mais realismo e muito menos sonoros princípios de vacuidade afrancesada. Isso que fique então reservado para os infinitos palratórios de eurogrupos e afins, porque o fazer de conta é parte integral dos bons políticos que infelizmente têm escasseado. Como luso-africano de quarta geração e que em nenhum clubezinho de interesses  está inscrito para além do ginásio, rejubilo.

Sim, do Minho a Timor. Porquê? Têm alguma dúvida? Aproveitemos então.

publicado às 13:45

Nojentos e sem disfarce

por Nuno Castelo-Branco, em 08.06.17

0_85f0e92x.jpg

 Há actos que tudo dizem sem o proferir de uma só palavra.

Hoje, na Austrália, foi pedido um minuto de silêncio em memória das vítimas da acção terrorista há pouco ocorrida em Londres. Enquanto o público e a selecção australiana de futebol cumpriam o solicitado, os sauditas olimpicamente desprezaram a sugestão e da forma  mais ostensiva passearam pelo relvado, como se não tivessem entendido. Afinal entenderam e explicaram-se com um desinteressado ..."isso não faz parte da nossa cultura". Sabemos que não e também temos a certeza de ser a nossa civilização algo muito confortavelmente incómoda e por isso mesmo não podemos nem queremos ceder. Nem nisto, nem num oceano de outras coisas.

Note-se que para nossa vergonha e humilhação, a Arábia Saudita é por interpostas alianças, nosso comparsa internacional.

É mesmo a assunção do orgulho pelo crime, um escarro lançado à nossa cara. Se algum dos politicamente correctos que por aí pululam em delíquios de aprazado colaboracionismo ainda duvidam do mal, aí está ele.

publicado às 21:26

Flores de Maio ou corvina ao jantar

por Nuno Castelo-Branco, em 08.06.17

british-elections.jpg

 Uma graçola à portuguesa e sem qualquer efeito, como é costume. Outra coisa não poderemos dizer acerca do opinionismo que grassa nos media nacionais, como sempre a onanistamente torcerem muitas excitações por causas indetermináveis mas consentâneas com o quanto pior, melhor. Apostam nas pulsões que corroem este pobre país desde há décadas e quanto a isso, a melhor resposta advém precisamente das autoridades que por aqui vão exercendo o poder, não se comprometendo nem com hard-Brexit ou com a escolha antecipada do vitorioso de logo à noite.

Invoca o governo a relação muito especial de Portugal com o Reino Unido - ou seja, a Velha Aliança que pelos vistos ainda vale algo -, o que significa precisamente o contrário daquilo que Bruxelas deseja e os media internos querem.

Assim sendo e por rotineira prudência, também apostaria todas as fichas na casa da roleta que tem inscrita a palavra May. Isto apesar da bizarria de algumas propostas saídas da sua boca, entre estas a que garante terem os mortos de continuar a pagar através do que deixam em herança, os serviços que lhes foram prestados quando ainda viviam. Esta é uma excentricidade gananciosa que subitamente transforma os tories em competidores directos da extorsão comunista que vê na propriedade privada* um mal a liquidar.

*A propósito e desde já antecipando ditos habituais, para além do carro com matrícula de 2008, não possuo absolutamente nada.

publicado às 20:03

António Barreto diz o essencial acerca da Venezuela

por Nuno Castelo-Branco, em 06.06.17

antonio_barreto_encontro_migracoes.jpg

 Finalmente alguém com voz se atreve a escrever sobre este assunto que o governo teme. É justo dizer que nisto está irmanado com praticamente toda a oposição. Decidiram que não lhes convém o ruído e diplomaticamente falando, têm razão, razão essa que logo se espatifa quando depois fazem afirmações disparatadas perante os jornalistas. Como já se disse, repetem os mesmos pueris argumentos e sugestões feitas a outros portugueses, noutros tempos e noutras paragens. As mesmas rimas, as mesmas desculpas, os mesmos argumentos que a ninguém convence, dir-se-ia um copy-paste perfeito. Não resultará e deverão enfrentar o problema que lhes estourou nas mãos.

De uma coisa podemos estar certos: a enxurrada acontecerá e pior, foram avisados e nada ou pouco fizeram.

O texto de António Barreto

"O que se passa na Venezuela é, a todos os títulos, grave. Sob o domínio de uma ditadura demagógica e populista, um país rico encontra-se falido, dá sinais de caos e miséria, em permanente revolução e à beira de uma perigosa insurreição. O seu governo é imprevisível e goza de uma grande tolerância internacional, talvez por ser uma ditadura esquerdista e tropical, que destruiu, em pouco mais de quinze anos, um país moderno e em desenvolvimento, apesar de muito desigual. Os primeiros anos de ditadura serviram para uma radical distribuição de riqueza e uma diminuição da pobreza, facilitadas pelas receitas do petróleo, cujas reservas estão entre as mais vastas do mundo. A política americana em relação à Venezuela pecou várias vezes por interferência. A quebra de proventos com o petróleo e a política dos governos de Chávez e Maduro são as causas essenciais da actual desordem.

 

 Há muitas décadas, os emigrantes portugueses elegeram a Venezuela como um dos países de destino favoritos. Talvez sejam hoje quase 500 000, ninguém sabe ao certo, mas este número deve incluir muitos de segunda geração. Parece que haverá quase 200 000 pessoas inscritas nos consulados. É muita gente. Com a evolução da situação actual, muitos vão querer regressar a Portugal. Não se sabe quantos. Mas o país precisa de estar pronto para que regressem muitos. Mais vale estar preparado a mais do que a menos. A Madeira é a principal origem de emigrantes para a Venezuela. Será também o principal ponto para retorno.

 

Já regressaram à Madeira, em poucos meses, cerca de mil. Ao todo, em dois ou três anos, perto de quatro mil. Mais de 800 já se inscreveram nos centros de emprego. Muitos procuram casa. E lugar nas escolas para os filhos. O governo da República tem a estrita obrigação de fazer tudo e mais alguma coisa. Directamente e através do governo regional. As instituições europeias têm a obrigação de apoiar estes refugiados que não podem ser penalizados pelo facto de não serem africanos ou asiáticos.


Tanto quanto sei, o governo regional está a fazer o que pode. Se está, muito bem. Mas deve ser pouco. Tem de ter o apoio do governo da República, assim como das instituições europeias. Se portugueses regressarem da Venezuela, serão, a muitos títulos, refugiados. Mais ainda, serão também retornados. Sobre estes, temos obrigação de saber aquilo de que falamos. Não é possível imaginar que os portugueses da Venezuela sejam tratados como foram muitos retornados das colónias, em 1975, nem como muitos refugiados muçulmanos e africanos que hoje chegam à Europa. Convém não esquecer que não é apenas à Madeira que aqueles emigrantes estão a regressar, é a Portugal!

 

O governo não deve falar alto. Deve estar calado. E ser discreto. E não fazer demagogia. Mas deve estar pronto e mostrar aos portugueses de lá que está preparado. O governo não deve fazer barulho a mais sobre este problema. Um secretário de Estado foi a Caracas e tratou do assunto com cuidado? Muito bem. Há dispositivos de segurança que começam a estar preparados, para as viagens e os transportes? Há sistemas prontos a funcionar para a saúde, os cuidados de emergência, a habitação e as primeiras necessidades? Há cuidados para crianças e idosos? Há sistemas imaginados para rapidamente ajudar quem pode trabalhar? Há apoios para apoiar quem quiser criar empresas? Há uma boa articulação, sem política de permeio, entre o governo da República, o governo regional e as instituições europeias?

 

O facto de a ditadura venezuelana ser de esquerda não deve embaraçar o governo português. O facto de os portugueses da Venezuela não serem muçulmanos não deve inibir o governo. Esses mesmos factos não deveriam impedir a imprensa de estar mais atenta. A discrição, em todo este tema, obriga o governo e as autoridades, não os privados nem os jornalistas. O que, neste caso, se fizer a mais, com ruído excessivo e exibicionismo, será criminoso. Tanto como se não se fizer nada nem o suficiente."

publicado às 09:35

Instituto de Apoio ao Retorno de Nacionais nº 2

por Nuno Castelo-Branco, em 03.06.17

1.2.-Patrimonio-Palacio-Sotto-Mayor-Carlos-Valadas

Lembro-se como se hoje tivesse sido. 

Num dia daquele já bastante distante ano de 1975, o meu pai* disse-me para ir com ele ao Palácio Sottomayor, onde, pelo que se sabia, existia alguma boa vontade para com as pessoas que forçadamente tinham vindo para a até então - e ainda o era em Timor - Metrópole. No Rossio corria o boato que garantia um staff  composto por gente alheia às foices, martelos, estrelas e patinhas de galinha (MDP/CDE). Assim constava e por regra parece que assim acontecia. A minha companhia talvez servisse como um arremedo de chantagem moral.


Aquele belo edifício servia então como entreposto de roupas destinadas aos retornados. Os grandes salões dourados num brilho fanado já tinham vivido melhores dias e estavam atulhados com arranha-tectos de caixas contendo roupas. Mal se vendo em toda a sua sumptuosidade, essa grandeza de outrora, décadas mais tarde miraculosamente escaparia a uma fortuita decisão de demolição com o fim de ali se erguer um daqueles mamarrachos de betão que nas cercanias a CML permitiu brotar como cogumelos venenosos. 


Estava-se em plena pródiga época de cunhas que noutros regimes foram denominadas de empenhos. O meu pai conseguira esgueirar-se entre as apertadas malhas dos controleiros da Intersindical, ou  seja, do bastante impertinente PC e satélites de serviço e mediante um amigo de pseudónimo Valente Cunha, lá conseguira o lugar de professor de História no Liceu D. Manuel I, em Alcochete. Diariamente deslocava-se no 43 até às imediações do Terreiro do Paço, onde iniciava a sua odisseia de várias horas entre idas Tejo acima e regressos tardios ao parque de campismo de Monsanto. Obteve já nem sei através de quem, mais uma muito empenhada cunha que talvez propiciasse o contorno das regras impostas pelo governo da troika PS/PPD/PC + MFA de Vasco Gonçalves, normas essas que de uma eficaz penada eximiram o Estado da contabilização de muitos milhares de pessoas que num ápice deixaram de entrar nas contas do ábaco do desastre e mais importante ainda, nas ajudas a conceder. Já tínhamos ido ao IARN que então funcionava para as bandas do Museu de Arte Antiga e ali foi-nos friamente esclarecido que ..."pela Lei o senhor e a sua família, chegando a 31 de Agosto de 1974, não podem solicitar ajuda".


Chegados ao Palácio Sottomayor, tivemos o supremo azar de sermos recebido por uma bastante iracunda activista com a patinha de galinha à lapela, numa época em que era de bom tom separar as águas, fosse no machimbombo (autocarro verde da Carris), no eléctrico ou metropolitano. Usava-se o símbolo do partido bem visível no casaco, vestido ou camisa, como se se tratasse de um precioso broche de pedrarias cuidadosa e requintadamente lapidadas por aquele Leitão que durante tanto tempo bem servira a Coroa. Os apressadamente aggiornados ou preocupados por serem ainda mais visíveis, preferiam o grande autocolante e tal como como acontecia com os banhos e cuecas, dele faziam a muda semanalmente, dependendo da data da próxima manif ou greve aprazada. Olhava-se de soslaio para o lado e no caso do efémero vizinho de viagem cumprir grosso modo o politicamente correcto da época, até se metiam ambos em simpática cavaqueira. O pior é se aquele com quem era forçado a empernar ostentava algo que lhe fosse desagradável, um daqueles inimigos de classe, mesmo que este usasse umas calças esfarrapadas. Logo os olhos chispavam de ódio e os mais afoitos deixavam cair uma ou outra provocação que prontamente tinha resposta. 

- Então digam lá "ó quéque" vêm? (ó quéque? Huuuuuuum, soava a falso e isso confirmou-se uns tempos depois**)

- Bom, nós estamos a viver no parque de campismo de Monsanto...

Interrompendo abruptamente,

- Ouça lá, nós instalámos toda esta gente em pensões e hotéis (gesto circular, abrangendo toda a sala), não amandámos (sic) ninguém aboletar-se em campismos! (voz em crescendo de decibéis)

- Eu sei, mas tenho cá um primo que nos emprestou uma roulotte...

- Olhe, sorte a vossa e azar do seu primo que a receberá de volta toda escangalhada, se é que alguma vez a terá! (risota)

- Minha senhora, vim aqui para obter roupas de inverno para os meus filhos. 

- Então dê-m'aí a senha e diga lá em que data chegou para eu apontar aqui no livro de entregas! Despache-se!, não vê que tenho mais que fazer? (voz bem audível para todos os que ali também estavam à espera da esmola)

- Chegámos a Lisboa no dia 31 de Agosto de 1974...

Virando-se para trás e rindo desbragadamente em direcção às colaboradoras que estavam a tomar notas:

- Olha-m'estes, por 24 horas não têm direito à ponta de um corno! Da'donde (sic) é que você desencantou esta senha? (gritos)

Tendo tentado e não conseguindo o que queria, o meu pai desatou num para mim até então desconhecido embrulho oral, um hilariante mas refinado atoalhado revisteiro de escárnio e maldizer, profusamente entrapado com o mais barroco calão que existia à época na Alfama. Recuso-me terminantemente a publicá-lo.

No meio do gargalhar geral daqueles subitamente encantados vencidos da vida que, alguns deles resignadamente humilhados e de chancas rotas mas percebendo o alcance dos tortuosos ditos vagamente camilianos, também aguardavam a sua vez de ordálio, a patinha de galinha quedou-se muda de espanto.

Estrondeou uma prolongada erupção de risos krakatoanos e antes que chegasse o Copcon pertencente ao famoso tolo, dali saímos lestamente sem olhar para trás. O pior é que o visado galináceo de broche esmaltado não terá compreendido a maior porção do alcance do improvisado número digno do que  melhor se concebia na Comédie Française, ficando apenas plenamente ciente da ínfima parte reservada ao léxico da Alfama pré-airbnb. Tanto pior.


- Gostaste? Esquece o que ouviste e vamos para casa. 

Era este o Portugal de outros tempos. Não me esquecerei nem quero ou tenho sequer o direito de olvidar este e outros episódios até ao último dos meus dias, tenham lá a santa paciência. Esquecer é uma condenação certa à repetição e pelo que se ouve no telejornal, isto é precisamente o que está a suceder, martelando-se tintim por tintim, aquilo que os pais deles disseram e pior ainda, fizeram naquela época. 

Já transformado o Palácio Sottomayor na propriedade de uma entidade bancária (?) e numa parte daquele grandioso espaço funcionando uma Embaixada de um país contíguo da Venezuela, ali não pode o governo instalar qualquer renovado IARN, Algo deve ser disposto urgentemente e sobretudo recheado com pessoal mais simpático e preferencialmente sem sucedâneas  patinhas de galinha à lapela.

Uma sugestão? Falem com a Isabel Jonet, pessoa mais do que apta para este tipo de já históricas maçadas e imprevistos há muito avisados. 

 

IMG_4268.JPG

 Gostei tanto do episódio que uns anos depois, passando numa banca de propaganda do PC que durante anos existiu no Rossio, comprei à irmã gémea do Brezhnev - se não era, parecia - esta bela patinha de galinha que ainda conservo na minha tralha referente ao PREC. Tenho mais exemplares, muitos mais. 


* Ao longo da sua vida na antiga Metrópole, o meu pai jamais votou em qualquer partido da direita.  
Enquanto o Arq. Ribeiro Telles presidiu ao Directório do PPM foi um eleitor fiel, considerando-o como o único partido com um projecto interessante e com garantias de propiciar um futuro melhor e mais equilibrado, embora sem megalomanias para este país. Dizia mesmo que era a única organização revolucionária portuguesa, olhando de soslaio e com um certo desprezo para os demais que se alavancavam, segundo ele abusiva e pateticamente, a essa duvidosa condição. A partir dos anos 80 insistia uma e mais uma e outra vez no voto PS num agora é que é, naquela bem conhecida e inexplicável fórmula de "PS à PS", uma espécie de dito do recorte "Benfica à Benfica". Nunca nos conseguiu dizer o que isso significava e ficou sempre uma genérica impressão familiar de simpatia pela sigla. Para além do CNC, nunca se inscreveu em entidade alguma.

** Confirmou-se uns tempos mais tarde, em 1980, quando com um grupinho de amigos fui lanchar ao Vá-Vá. Reconhecia-a de imediato e sentando-me numa mesa bem próxima, ouvi-a discorrer sem populeirices forçadas. Era uma burgesa dos arrabaldes perpendiculares da Av. de Roma, precisamente daquela casta mazinha e disposta a todo o tipo de camaleonismos, dependendo estes de cada momento. A propósito, já não ostentava a patinha de galinha









publicado às 09:00

Pastéis e selfies de Belém

por Nuno Castelo-Branco, em 02.06.17

pt-belem-1.jpg

 



Quando é que o sempre excitado afectuoso vai distribuir afectados afectos à pobre e desvairada gente que silenciosa e discretamente todos os dias e aos magotes chega ao aeroporto do Funchal? Já que está nos Açores, aproveite para fazer uma voltinha e aterre na Madeira, pois dentro de momentos terá mesmo de fazê-lo remediadamente aqui bem perto, na Portela.

Não, não vale a pena dizer que são apenas "turistas como quaisquer outros", ansiosos visitantes do busto que nem de longe faz lembrar o Cristiano Ronaldo.

Alguns deles são refugiados, perdão, retornados e talvez pela segunda vez nas suas vidas, irra!

publicado às 11:31

Afinal, a Madeira já é outro país

por Nuno Castelo-Branco, em 31.05.17

retornados_1280x640_acf_cropped.jpg

 



É o que parece ser, a considerar os escritos ou ditos da autoria dos responsáveis políticos, uma espécie de herdeiros do governador Pôncio Pilatos. A tina de águas turvas onde insistem em lavar as mãos, é comprovada quase diariamente pelos silêncios embaraçados ou por recomendações indirectas, aquelas que após tecerem os considerandos que já ouvimos noutros tempos ..."os portugueses e luso-descendentes aqui nasceram, foram educados, têm as suas famílias, casas e empregos", logo indicam aquilo que para o esquema aqui vigente é mais aconselhável: ..."façam-se à vidinha e procurem outras paragens se não quiserem ficar na Venezuela".

Foi exactamente o que a catrefa de agentes civis ou militares disse em Luanda, Lourenço Marques, Bissau e outras localidades, quando perante eles se ergueu a evidente ameaça da deportação de centenas de milhar de nacionais. Nunca é demais voltarmos à carga, pois ponto por ponto, trata-se de uma repetição de factos. Aconteceu o que sabe por única responsabilidade e total culpa das autoridades então mandantes em Lisboa. Agora até se dão ao luxo de indicarem os receptores da desgraça de inegáveis nacionais portugueses, atrevendo-se mesmo a aconselhar como destino o Brasil - que se encontra numa excelente situação interna e externa -, a França, Espanha e até a América de perna-aberta do Sr. Trump que exautoram cada vez que tenham ou não uma oportunidade para tal.  Como se sobre estes países exercessem qualquer tipo de soberania, mesmo que moral. 

Desde que não venhas para cá, podes fazer o que te apetecer!, eis a mensagem subliminar. Se assim não é, tal é a impressão que eles, os luso-venezuelanos, têm acerca dos nossos dirigentes que ali desembarcam para conversações.  

Já vimos, ou pior ainda, já sofremos isto "naquele tempo que eles prefeririam jamais ter acontecido". Os mesmos argumentos, o mesmo laissez-faire, a mesma descarada inépcia ditada não se sabe bem porquê que suspeitamos ser a cíclica reserva mental que corrói aquelas pobres cabeças cheias de vento. Pior ainda, são exactamente os mesmos partenaires, ansiosos por não terem de se dar ao trabalho de accionarem gabinetes que já existem para outras finalidades, como o CPR e tudo o que à volta disto tem girado: gabinetes de estudos, boas vontades, entusiasmos de hora de telejornais, ditos espirituosos em S. Bento e sobretudo, os fundos comunitários que destinam a outros alvos. Sim, "aqueles" em que estão a pensar. 

Se não é assim, assim parece, apesar da nossa compreensão pela desejável moderação no deixar passar da informação. A prudência é inimiga do medo. 

Portugal não deve ver os luso-venezuelanos como um potencial perigo, mas sim como a reedição da oportunidade que outrora teve, quando à Metrópole arribaram centenas de milhar de pessoas em muitíssimo pior situação, se é que isto é possível, do que aqueles que para cá não só querem, como terão mesmo de vir. Já não se trata de um imaginado se, mas daquele indesejado  quando. Julgá-los como alvo fácil da desbragada reacção política, é um erro, mais um a juntar a todas as outras superstições. 

O governo regional da Madeira, honra e glória lhe seja votada, tem feito tudo o que é possível para arrecadar com a parte de leão desta catástrofe nacional. Catástrofe, dada a inércia evidente das autoridades centrais, apertadas entre os seus negócios e o compromisso oficial para com o governo de Caracas que, há que dizê-lo uma vez mais e sem rebuçados para a garganta, tem sido um bom amigo das autoridades de Lisboa, sejam elas as dos executivos da esquerda, como as dos executivos da direita.

Já não se trata de negócios de loja & conveniência, mas sim de vidas a prazo, as que por mais irritante que isso possa ser para o politicamente correcto que por cá faz cátedra, pertencem à nossa família nacional, mesmo aquelas que apenas falem a língua da pátria-mãe num arrevesado de portunhol.

Devem ser estes refugiados prontamente auxiliados e sobretudo, terem a sensação de serem bem-vindos. Ora, uma vez mais repetindo a história - para alguns deles quiçá pela segunda vez -, tal não está a acontecer. 


Repitamos então o acima dito, isto não está a acontecer. Digamos desassombradamente do que se trata, a palavra chave que é o repetitivo tabu deste regime, são refugiados e ainda por cima, nacionais. 

Refugiados! 

Se pensam que a substituição do actual regime General Tapioca poder  rapidamente dar o lugar a um novo-antigo regime General Alcazar, precisamente aquele que provocou a ascensão irreversível do chavismo, preparem-se então, pois qualquer coisa em que surja como cabeça um qualquer Sr. Capriles, demorará décadas até a Venezuela remotamente poder comparar-se ao que era em 1975, quando ainda por ali imperava o sr. Carlos Andrés Pérez. Décadas, na melhor das hipóteses. 

Têm sido as nossas autoridades uma indigesta entremeada de timidez, medo, desleixo e barco de cavername carcomido e convés sem bússola. Isto, para não dizermos algo infinitamente pior. É o que tem transparecido semana após semana. 

Convém insistirmos nesta tecla até que algo seja bastante visível e evidente. Em momento de tecnologias da informação e imagens a cores, já não há como esconder os factos. 

Como se disse um dia a respeito de outro assunto, agora trata-se de ..."para Portugal e em força!"



publicado às 13:55

Défice excessivo e estudos para o regresso de nacionais

por Nuno Castelo-Branco, em 22.05.17

Fotografia dos contentores dos 'retornados' feita

 Saiu há uns dias um estudo previsivelmente encomendado, referindo a imperiosa necessidade do país acolher mais imigrantes. Nada sabendo acerca do assunto, tendemos a concordar, mesmo deixando de lado o futuro que a robotização generalizada implicará, ou seja, a cada vez menor necessidade de mão de obra humana no sector industrial e quiçá, nos serviços. Trata-se sobretudo de garantir a sobrevivência e a tranquilidade de quem à Europa pede auxílio. Não há como negá-lo.


Portugal está então apto, saindo do procedimento por défices excessivos, de tentar convencer Bruxelas acerca daquilo que se perfila ameaçadoramente no horizonte mais próximo:
- a enxurrada de refugiados que virão da Venezuela e mais tarde mas como já foi aqui previsto, da África do Sul. Urge planear com tempo, mas o segundo caso, embora as notícias sejam cuidadosamente filtradas, é menos urgente.

Dados os números em questão, o nosso país enfrenta uma catástrofe ainda mais gravosa do que aquela ocorrida há quatro décadas, quando teve, contra a vontade dos seus dirigentes, de suportar a chegada de centenas de milhar de portugueses sem eira nem beira, no meio da geral indiferença de aliados, amigos ou comparsas internacionais. Solitário e contra a benquerença geral, Portugal enfrentou o desafio e conseguiu resolver o problema, ou pelo menos mitigá-lo à custa do silêncio tacitamente imposto àqueles que estiveram do lado errado da história e dos seus vendavais.

O que há então a fazer? Segundo o MNE, o processo já se encontra em marcha e apenas podemos imaginar o que terá sido dito pelo ministro da tutela na Comissão Parlamentar destinada a este incómodo assunto. As pessoas estão antes de contabilidades, negócios, preconceitos ou superstições políticas mais ou menos correctas.

O governo deve simplesmente recorrer de imediato aos mecanismos já estabelecidos para outros casos, apresentando os números e invocando os grandes princípios humanitários propalados no areópago de Estrasburgo e na própria Comissão Europeia.

Este é um caso que não poderão negar ou adiar indefinidamente, não significando descurarem-se todas as probabilidades e a totalmente indesejável evacuação em massa, pois esta implica, em caso de necessidade absoluta, a cooperação de todas as agências europeias que decerto terão Portugal como um país merecedor da solidariedade que é fartamente prodigalizada a Estados alheios à Europa. 

Facilmente é compreensível a premissa destes retornados poderem ser satisfatoriamente integrados, para além de Portugal, noutras sociedades europeias, não chegando com exigências de qualquer tipo que comprometam o ethos e a paz das sociedades dos países de acolhimento. Veremos então até que ponto é credível toda esta até agora espantosa inflamada oralidade de fóruns, associações e ONG de boas vontades.

Aguardemos então e como se dizia noutro post acerca deste assunto, ...o tempo urge. Não se trata de generosidade, mas sim de uma obrigação nacional. 



 

publicado às 21:57

Salvando o Salvador Sobral

por Nuno Castelo-Branco, em 16.05.17

18446876_10209506540442713_6419987237844306336_n.j

 Bem, já passada a febre dos entusiasmos nacionais, aqui fica o que me pareceu o último festival eurovisivo:


1. O habitual ruído infernal que nos últimos 15 ou 20 anos invadiu o certame. Para ver o Eurofestival, precisamos de ter uma caixinha de aspirinas à mão. 
2. Discochunga, rap-rap, hip-hop com trejeitos tiroleses, tekno-paranoia, metal suburbia, muito circo caprichosamente condimentado pelas habituais e bem estafadas Barbies masculinas e femininas. Tudo isto num espectáculo que parecia um concurso da Commonwealth, capitulando ao inglês a França, Espanha, todos os nórdicos e 90% dos membros do antigo Pacto de Varsóvia. Vendo bem os factos sob outro prisma, uma colossal derrota para o sr. Juncker.
3. Do que gostei "maijoumenos"? De pouca coisa, da canção belga, pessimamente cantada por uma rapariga que quase desmaiava de nervosismo, uma espécie de ersatz tardio de Enia. Da canção da Bulgária que tresandava a Dima Bilan, na linha do costume e da moda dos charts de sucesso durante 15 dias. Da italiana, surpreendente de alegria e de inteligente construção com um acessório macaco-humano que se tornava desnecessário. 
4. Amar pelos Dois, uma canção que no dia em que por cá venceu, me pareceu um disparate total. Fiquei naturalmente irritado, de imediato julguei-a mais um daqueles encartes de encomenda e "contrária, como foi, à vontade popular", algo bastante comum nesta Europa das oligarquias de esquerda e de direita. 

Porquê esta aversão? Porque os meus ouvidos entupidos estão habituados a compartilhar sensações com a vista e o que ali se viu não era nem sequer mediaticamente tragável. 

Não sabia porquê, mas o meu cunhado António Faria explicou e não fiquei lá muito convencido, pois pensava que se tratava de badalhoquice blasé a precisar de água e sabão. Enganei-me redondamente e fui obrigado a morder na língua, coisa dolorosamente frequente.

Umas semanas depois, no aniversário da minha mãe, sem dizer uma palavra ele ofereceu-me o CD promocional, com a canção vocalizada pelo Sobral* e a mesma composição apenas na versão instrumental, digamos, de karaoke. Adorei escutá-las, pois não vi a imagem de uns dias antes. Depois disso e até ao passado sabado, usei e abusei da prenda.

Não "aderi" à festa depois da vitória. 


A canção é simplesmente magnífica, faz-nos lembrar "qualquer coisa que já ouvimos antes"- o que a meu ver é óptimo -, não se sabe bem em que década, daí é intemporal, o aspecto que mais interessa. Aposto que o pataqueiro Andre Rieu não perderá a oportunidade de incluí-la num dos seus coloridos repertórios destinados a massas sonhadoras.

Amar pelos Dois será um sucesso e isto não ficará por 2017, arriscando-se muito a ombrear com o Waterloo, l'Amour est Bleu, Aprés Toi, Un banc, un arbre, une rue, Congratulations e sei lá eu o que mais. Tanto pior para os produtos salazaristas que por cá bem tentaram através de Simone d'Oliveira, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho, Tonicha (quase todos eles relativamente saídos da fornada Ary) e outros como o grande Cid, as estrambólicas Doce-que-estavam-muito-à-frente-do-seu-tempo, etc. 


O Salvador acertou em cheio e até na imagem melhorou muito, foi perfeito em Kiev.

Que catarse colectiva foi aquela chuva de doze, douze, twelve e por aí fora. Arrisco-me a dizer que para os que "nunca viram e não vendo, sorrateiramente veem sempre" o Festival da Eurovisão, foi uma noite semelhante àquela em que a S.N. venceu o Eurobola.


* A minha gata Kika é uma apreciadora de boa música, "flipa" quando ponho a tocar a Flauta Mágica de Mozart ou qualquer coisa do Carlos Seixas. Experimentei o disco do Sobral e… veio a correr para a beira do leitor de CD. A canção foi aprovada. Posso ouvi-la à vontade, estou por ela autorizado. 

publicado às 22:19

É a hora!

por Nuno Castelo-Branco, em 06.05.17

 

venezuela_portugal.jpg

 Muito bem e humanamente se fez tudo o que devia e tinha de ser feito: ofereceram-lhes protecção, guarida, assistência médica, escolas para as crianças, alimentos e agasalhos.

Com todo o direito, partiram livremente e sem qualquer impedimento.
 
Agora o que há a fazer com os recursos acumulados e que não podem ser desperdiçados?
 
Isto:

- chegam todos os dias de forma tão sorrateira que a imprensa prefere minimizar, centos e centos de portugueses refugiados da situação do há muito previsível descalabro generalizado na Venezuela. O aeroporto do Funchal vê agora certas cenas que Portugal preferiu ostensivamente ignorar em 1974,1975 e 1976. O mesmo processo, os mesmíssimos casos de desespero total. O país não pode agora virar as costas a esta situação caótica que um dia destes tornará a Portela, Pedras Rubras, Funchal e Faro em acampamentos. 

Desta vez as nossas autoridades foram avisadas e como sempre improvisaram às cinco para a meia noite, mas ainda estão a tempo de salvar a face. Não, não os empurrem a todos para o Brasil, daí lavando as mãos. 

Há gente que passou do meio século de vida e que não só não possui a menor possibilidade de se integrar no mercado de trabalho, como também nada, absolutamente nada possui no nosso país. Nem sequer gente de família ou uma muda de roupa. Muitos estão sem tecto, comida ou agasalhos. Doentes e alguns inválidos à espera de rápida assistência, devem ser de imediato integrados no sistema de Segurança Social e/ou no RSI. Aos outros, os mais jovens que querem reiniciar por cá as suas vidas, deverão ser abertas linhas de crédito por parte do banco do Estado, estabelecendo em todo o território português os seus afazeres e novos negócios. 
 
O que há então a fazer de imediato?

1. Entreguem-lhes as casas perfeitamente equipadas e mobiliadas e abandonadas por quem há pouco partiu. Isto implica devassar a parte imobiliária acumulada pela banca estatal e privada, persuadida a libertar casas para o acolhimento de quem delas agora imperiosamente necessita. É uma medida demasiadamente radical? Sim, sem dúvida e por isso mesmo deve ser adoptada. 

2. Entreguem os mesmos serviços de assistência médica a quem deles muito precisa, acabando de chegar de um país onde os medicamentos e cuidados de assistência há muito se volatilizaram. Os mais idosos deverão ser devidamente tratados de forma célere e sem delongas burocráticas. 

3. Quem tenha filhos, deverá poder contar imediatamente com a integração dos mesmos nos equipamentos escolares da zona destinada à fixação, mesmo que provisória.

4. Alguns dos que chegam mantêm a ilusão de retornar um dia à Venezuela. Enquanto isso precisam de ser protegidos, tratados, alimentados e agasalhados. Outros, mais realistas, dizem que jamais regressarão àquele país que os viu nascer. Conhece-se bem este tipo de história, Portugal já a viveu.
 
Boa parte da sociedade organizou-se, recolheu fundos, mantimentos, roupas e boas vontades. Não pode isto ser atirado para o fundo das conveniências poíticas de armazéns à espera não se sabe bem de quem e do quê.

Se não existe qualquer reserva mental, então aqueles que bem depressa organizaram todas as boas vontades, deverão agora volver-se em direcção aos que agora chegam. Portugal não compreenderá o desleixo, desinteresse ou pior ainda, a negação de auxílio a quem dele precisa. Isto dirige-se sobretudo ao Conselho Português para os Refugiados e generosos entusiastas como a deputada Ana Gomes, a Conferência Episcopal e o enxame de organizações religiosas desta última dependentes. 

Utilize-se imediatamente o que foi acumulado e ofereça-se total assistência a estes necessitados. É o mínimo que a mais elementar decência impõe.

O país deve nestes infelizes, reparar aquilo que uma boa parte da sua actual população jamais esqueceu. 

 

 

publicado às 19:13






Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2011
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2010
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2009
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2008
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2007
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas


    subscrever feeds