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A verdadeira expressão da decadência portuguesa

por Samuel de Paiva Pires, em 11.06.13

Depois de, no Dia de Portugal, Dilma Rousseff e Passos Coelho terem reafirmado a entrada em vigor do Aborto Ortográfico, apetece-me recuperar este meu post

 

A verdadeira decadência portuguesa não se expressa realmente na crise económica e financeira. Esta tem volta a dar, e mais pelas variáveis externas que internas, obedecendo ao tom de sempre da política externa portuguesa. Se há algo que incorpora em si todas as características de decadência da nação, com tudo o que lhe subjaz de irracional, coercivo e errado, é o Acordo Ortográfico. Infelizmente, temo que este já não tenha volta a dar, o que é sintomático da apatia dos portugueses e da ignorância e arrogância dos desgovernantes. Como escreve Pacheco Pereira"A única força que sustenta o Acordo é a mesma que condenou o país a esta crise profunda: inércia." Como quase tudo em Portugal, foi feito com os pés e é empurrado com a barriga. E trata-se, na verdade, de algo que nunca deveria ter sido feito e que um governo que fosse realmente liberal já teria rasgado e deitado fora. 

publicado às 15:36

Cuidado com o coração de D. Pedro IV

por Pedro Quartin Graça, em 12.03.13

 Veja aqui o que nunca viu: o coração do ex-monarca, doado à cidade do Porto devido à gratidão pela resistência do Porto na luta das forças liberais contra as tropas absolutistas de D. Miguel, irmão de D. Pedro IV. Agora os brasileiros querem descobrir a causa da morte do, também seu, ex-rei. Os cientistas brasileiros pretendem fazer-lhe uma biópsia para detectar eventuais doenças no miocárdio, inclusivamente as provocadas por processos infecciosos noutros órgãos. Mas tudo isto é muito complexo, como pode ler aqui.

Veja-se, também, o vídeo da sua exumação aqui.

 

publicado às 08:02

Férias no Rio ridicularizadas na imprensa internacional

por Pedro Quartin Graça, em 12.01.13

Scandale bancaire portugais: les vacances à Rio de Dias Loureiro

Por: Philippe Riès | mediapart 03/01/2013

Ancien chef du Département économique de l'Agence France-Presse, puis directeur des bureaux de l'AFP à Tokyo et Bruxelles, Philippe Riès est chroniqueur économique pour Mediapart.fr

 

Le président de la République portugaise Anibal Cavaco Silva a décidé de déferrer au Tribunal constitutionnel, c'est une de ses prérogatives, certaines dispositions d'un budget 2013 d'austérité aggravée parce qu'il a des «doutes» sur le caractère équilibré des efforts imposés à la population d'un pays qui va entrer dans sa troisième année consécutive de récession, une situation inédite depuis la révolution des oeillets de 1974. Des doutes?
Au moment même où ce chef de l'Etat à la réputation personnelle plus que ternie se livrait à cette manoeuvre parfaitement démagogique, on apprenait qu'une des principales figures du «cavaquisme», Manuel Dias Loureiro, passait les fêtes de fin d'année au Copacabana Palace de Rio de Janeiro, où une simple chambre coûte quelque 600 euros la nuit. Soit d'avantage que le salaire minimum du pays. Voilà qui devrait suffire à lever les «doutes» de l'occupant du palais présidentiel de Belem.

Détenteur de portefeuilles ministériels clefs dans les gouvernements PSD dont Cavaco Silva était le chef, ancien membre du Conseil d'Etat, ce saint des saints de la caste politicienne portugaise, Dias Loureiro, «protégé» de Cavaco, est une figure centrale de ce qui devrait être un énorme scandale européen, une affaire d'Etat, la faillite de la banque BPN. Cette faillite frauduleuse pourrait coûter au contribuable portugais, celui là même qui resserre sa ceinture d'un cran année après année, jusqu'à sept milliards d'euros, soit près d'un dixième de l'aide financière internationale que le pays a du demander en 2011, avec comme contrepartie le programme de remise en ordre des finances publiques surveillé par la «troïka» UE-BCE-FMI.

L'activité principale des dirigeants de cette banque du «bloc central» (les partis de centre gauche et centre droit qui alternent au pouvoir depuis la chute de la dictature salazariste) consistait à accorder, par dizaines ou centaines de millions d'euros, des prêts à leurs amis, familiers, clients...et à eux-mêmes. Dans un reportage remarquable, le journaliste de la télévision SIC Pedro Coelho vient de révéler, par exemple, qu'une entreprise de ciment de la galaxie Dias Loureiro avait reçu du BPN un prêt de 90 millions d'euros. Une autre personnalité du «cavaquisme» comme Duarte Lima, ancien chef du groupe parlementaire PSD, emprisonné à Lisbonne et soupçonné de meurtre par la police brésilienne, a détourné 49 millions d'euros. Cavaco lui-même avait bénéficié, dans des conditions suspectes, d'une attribution à prix cassé par le patron du BPN José Oliveira Costa, un de ses anciens secrétaires d'Etat, d'actions de la SLN, holding de tête de la banque, qu'il a pu revendre avec une plus value de 140%. En bref, le scandale du BPN est très largement celui du «cavaquisme». Et ce personnage a des «doutes» sur l'équité de la politique d'austérité ?

Ces milliards d'euros sont considérés comme définitivement perdus...mais par pour tous le monde. Quand le scandale a éclaté en 2009, la presse portugaise a révélé que Dias Loureiro, administrateur de la SLN, avait soigneusement organisé son insolvabilité personnelle en transférant ses avoirs à des membres de sa famille ou des sociétés offshore. De quoi payer la chambre au Copacabana Palace, sans doute ?

Et au fait, qui donc Dias Loureiro a-t-il retrouvé pour les fêtes dans cet hôtel de rêve, jadis favoris des vedettes de Hollywood ? Nul autre que Miguel Relvas, pilier de l'actuel gouvernement PSD, ami proche et «père Joseph» du Premier ministre Pedro Passos Coelho. Relvas, dont le maintien au gouvernement est en soi un scandale, alors qu'il a été convaincu d'avoir obtenu frauduleusement une licence universitaire afin de pouvoir porter ce titre de «docteur» dont la bourgeoisie d'Etat lusitanienne est si ridiculement friande.

Comme Armando Vara, ami intime de l'ancien Premier ministre «socialiste» José Socrates qui a placé le FMI sous la tutelle de la «troïka», Dias Loureiro et les «cavaquistes» du BPN, sont l'illustration que la politique professionnelle est bien, dans certaines «démocraties» européennes, le chemin le plus sûr vers l'enrichissement personnel rapide d'une classe d'aventuriers. En Grèce, en Irlande, en Espagne, au Portugal. Et en France ?

C'est la première leçon. La seconde, c'est que les graves dysfonctionnements de systèmes judiciaires eux-mêmes gangrénés par la corruption et les réseaux d'influence permettent à de tels individus de jouir en toute impunité de biens mal acquis. Il est à noter que les responsables directs des désastres bancaires à l'origine directe de la crise financière globale ont joui jusqu'ici aux Etats-Unis et en Europe, à de rares exceptions près, d'une impunité civile et pénale absolue.

Enfin, cerise sur le gâteau, la surveillance bancaire confiée désormais dans la zone euro à la Banque centrale européenne, y sera sous la responsabilité du vice-président Vitor Constancio, hiérarque socialiste portugais et gouverneur de la Banque du Portugal, le régulateur bancaire, quand les «cavaquistes» du BPN se livraient à leurs acrobaties nauséabondes. Fermez le ban !

publicado às 14:23

O primo brasileiro do bispo Januário

por João Quaresma, em 06.01.13

(Penhorado ao Bic Laranja)

 

Por razões que provavelmente só Pedro Nunes poderia explicar, as responsabilidades invertem-se quando se atravessa o Atlântico. Pergunto-me qual seria a reacção se a Justiça portuguesa arrestasse um avião brasileiro por motivo de um conflito laboral de funcionários portugueses da embaixada brasileira em Lisboa (semanas depois de o governo brasileiro desistir da venda, por uma ninharia, da sua companhia aérea de bandeira a um empresário luso-franco-holandês com passaporte paraguaio). Guerra?

publicado às 05:10

"Orgulhosamente sós"! e agora Portugal?

por Pedro Quartin Graça, em 28.12.12


DECRETO Nº 7.875, DE 27 DE DEZEMBRO DE 2012


Altera o Decreto nº 6.583, de 29 de setembro de 2008, que promulga o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.


A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso IV, da Constituição,


D E C R E T A :


Art. 1º
O Decreto nº 6.583, de 29 de setembro de 2008, passa a vigorar com as seguintes alterações:

 

"Art. 2º
...................................................................................
Parágrafo único. A implementação do Acordo obedecerá ao período de transição de 1o de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2015, durante o qual coexistirão a norma ortográfica atualmente em vigor e a nova norma estabelecida." (NR)

 

Art. 2º
Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

 

Brasília, 27 de dezembro de 2012; 191º da Independência e 124º da República.

 

DILMA ROUSSEFF

 

Ruy Nunes Pinto Nogueira


Já é oficial: o Brasil adiou para 1 de janeiro de 2016 a aplicação obrigatória do novo acordo ortográfico, de acordo com o decreto publicado no "Diário Oficial da União".

E a pergunta a fazer por cá é a mesma do passado. E agora Portugal? Continuamos sempre "mais papistas do que o Papa?". Como justificar a aplicação de algo que não está, definitivamente, em vigor, e que a esmagadora maioria do Portugueses não quer, sequer, que venha a vigorar? Tanto, mas tanto, disparate fizeram que ficámos mesmo "orgulhosamente sós"!!!

publicado às 15:06

Lulinhas (bem) recheadinhas

por Nuno Castelo-Branco, em 06.12.12

Ora aqui está mais uma caixinha de deliciosos produtos do mar. Pode juntar-se à outra encomenda, a dos robalos.

publicado às 14:00

Os bons selvagens

por João Quaresma, em 05.12.12

A propósito deste post do Nuno sobre o apoio de François Hollande à internacionalização (i.e., o roubo) da Amazónia brasileira, recupero uma notícia de Março sobre os negócios que os "puros e inocentes" índios brasileiros têm feito:

 

«O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcio Meira, afirmou nesta quarta-feira (14) que 36 contratos firmados entre empresas estrangeiras e aldeias indígenas como negociação de crédito de carbono na Amazônia são considerados nulos e serão analisados individualmente pela Advocacia-Geral da União (AGU).

A compra de terras indígenas por empresas estrangeiras veio à tona no domingo (11) após reportagem do jornal “O Estado de São Paulo”. O texto informava que índios da etnia munduruku venderam uma área localizada em Jacareacanga (PA), equivalente a 16 vezes o tamanho da cidade de São Paulo, para a empresa irlandesa Celestial Green Ventures (CGV) por US$ 120 milhões.

Em entrevista concedida em Brasília, Meira disse que não existe regulamentação sobre a venda de terras por indígenas e por isso o governo vai verificar que medidas serão tomadas neste caso. O contrato previa como garantia à CGV “benefícios” sobre a biodiversidade, além de acesso irrestrito ao território indígena. Em contrapartida, os indígenas teriam que se comprometer a não plantar ou extrair madeira das terras nos 30 anos de duração do acordo.(...)

De acordo com o Funai, ao menos 30 contratos como esse já foram firmados e estão sendo acompanhados pelos departamento jurídico da fundação há pelo menos um ano e meio. Juntas, essas áreas correspondem a 520 mil km² -- quase o tamanho total do estado da Bahia [e uma área maior que a de Espanha].

A instituição informa ainda que o principal risco deste tipo de acordo com indígenas é falta de proteção às populações, que podem ser enganadas ao assinar contratos de exploração em suas terras, além dar abertura para a biopirataria (exploração ilegal de recursos naturais da floresta).»

 

Aguarda-se ansiosamente a visita de Hollande aos seus novos amigos.

publicado às 03:13

E uma Alsácia-Lorena independente, alemã?

por Nuno Castelo-Branco, em 04.12.12

 

O gelatinoso Hollande, ganacioso vendedor de mísseis, velhos porta-aviões e caças franceses, quer encontrar problemas desnecessários, regressando ao velho projecto extorsionista da "internacionalização da Amazónia". Assim, parece voltar aos sonhos de Luís XIV que há quase quatrocentos anos vislumbrou uma Guiana mais extensa, num ápice tornada numa réplica de um império oriental. Falhou como todos sabem.

 

Os franceses já se esqueceram dos problemas que tiveram após a anexação da Lorena e já agora, da Alsácia. É melhor ficarmos por aqui, antes de darmos ideias à Alemanha, Itália, Espanha, aos corsos e aos bretões, os tais da aldeia de Astérix.

publicado às 16:54

O desvanecimento do mito dos BRICS

por Samuel de Paiva Pires, em 02.11.12

Nos últimos anos, sempre que alguém me falou nos BRICS com entusiasmo, em particular no Brasil, que é aquele sobre o qual tenho mais conhecimento de causa, respondi que não tardaria muito para assistirmos ao desvanecimento do mito. Sobre o Brasil, basta estudar a História do país e da sua Política Externa para perceber que andam desde a Independência a correr atrás do mito de serem uma super-potência, quando nem mesmo regionalmente a sua liderança política pode ser considerada um facto incontestável. A isto, junte-se-lhe ainda um certo wishful thinking em torno do mito do declínio dos EUA. De resto, a teoria dos ciclos económicos também ajuda a perceber o que se tem passado e o que se passará. Este artigo dá conta do desvanecimento do mito dos BRICS e por isso mesmo recomenda-se a sua leitura.

publicado às 18:59

Cidade maravilhosa cheia de encantos mil

por João Quaresma, em 11.07.12

2 de Julho:

 

«Portugal falha reunião e perde protagonismo na Comissão Baleeira Internacional

 

Portugal não vai estar presente, por “constrangimentos financeiros”, na reunião plenária da Comissão Baleeira Internacional (CBI), que se realiza a partir desta segunda-feira no Panamá, e que poderá decidir a criação de um santuário para os cetáceos no Atlântico Sul.

 

É a primeira vez que Portugal falha a reunião anual da CBI, desde que aderiu, em 2002, a esta organização, dedicada a regular a caça à baleia e na qual o país vinha tendo um grande protagonismo. O comissário nacional à CBI, o biólogo Jorge Palmeirim, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, está demissionário há alguns meses mas tinha-se prontificado a acompanhar mais esta reunião. Mas a sua participação, juntamente com uma técnica do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, não teve luz verde. Segundo informação do gabinete de imprensa do Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território, “a participação portuguesa ficou condicionada por constrangimentos financeiros”. “É uma situação incómoda, porque Portugal tem feito esforços genuínos para a protecção dos cetáceos”, afirma o biólogo Francisco Gonçalves, que acompanha as reuniões da CBI como consultor de algumas organizações não-governamentais ligadas aos oceanos e ao bem-estar animal. “É pena que se possa perder um trabalho de anos, por se decidir não enviar um representante”, lamenta. Portugal tem sido um dos membros mais activos na CBI, alinhando com o grupo de países que continuam a defender a moratória à caça comercial à baleia, instituída pela comissão em 1986.»

 

11 de Julho:

 

«Assunção Cristas leva 20 pessoas ao Brasil


A ministra da Agricultura e do Ambiente autorizou a ida de 20 elementos à Cimeira Rio+20, no Rio de Janeiro, que terá custado mais de 40 mil euros. O "Correio da Manhã" escreve que a ministra da Agricultura e do Ambiente, Assunção Cristas, autorizou a deslocação ao Brasil, em junho, de 20 pessoas do seu ministério para participarem na Cimeira Rio+20. Como a fatura desta ida ao Rio de Janeiro ainda não foi recebida, o ministério de Assunção Cristas diz não ser possível apurar "o valor dispendido", mas deixa claro que "o total da despesa foi repartido entre o gabinete do primeiro-ministro e o gabinete da ministra da Agricultura, do Mar, do Ambiente e Ordenamento do Território". Como a passagem aérea custava quase 1000 euros e um quarto rondava 400 euros por noite, a deslocação à "cidade maravilhosa" terá custado mais de 40 mil euros. Assunção Cristas deslocou-se à Cimeira, segundo o Ministério da Agricultura, acompanhada de Pedro Afonso de Paulo, secretário de Estado do Ambiente e do Território. Com estes governantes, seguiram dois adjuntos do gabinete da ministra e um adjunto do gabinete do secretário de Estado. Os restantes membros da equipa de 20 pessoas são técnicos dos serviços ministeriais.»

 

publicado às 00:40

A presidenta tem telhados de vidro

por João Quaresma, em 03.07.12

Manhã de Domingo em Brasília. Na Praça dos Três Poderes decorria a cerimónia mensal de troca de bandeira quando acontece isto:

 

Os dois caças supersónicos Mirage 2000 da Força Aérea Brasileira passaram sobre o Palácio do Planalto (sede da Presidência) e sobre o edifício do Supremo Tribunal Federal, que ficou com a fachada neste estado:

 

 

Escusado será dizer que ninguém faz um vôo de exibição a esta velocidade. É claro que os pilotos sabiam perfeitamente que passando a alta velocidade (próxima da barreira do som) o resultado não poderia ser outro. Não foi descuido, foi intencional, tanto que a segunda passagem foi efectuada a uma velocidade mais reduzida. Passar com caças a baixa altitude e a alta velocidade sobre formações inimigas é uma manobra clássica de intimidação pelas forças aéreas.

Dilma Rousseff e os seus andam a mexer num assunto espinhoso: as violações dos Direitos Humanos no tempo da Ditadura Militar. No Brasil e noutros países que passaram pelo mesmo processo de transição, se existe Democracia é porque os militares aceitaram deixar o poder na condição deste assunto ser enterrado e não sofrerem vinganças. Até porque os actuais governantes também beneficiaram de uma amnistia.

Esta foi uma clara advertência das Forças Armadas brasileiras à antiga guerrilheira comunista: há coisas em que é melhor não mexer. 

publicado às 03:30

«Malaysia clerics say no to Portugal, Man Utd, Brazil jerseys


MELAKA, Malaysia: The small street seller had all the European club jerseys ready for sale on Saturday evening, as passersby wanted to grab their favorite international shirt ahead of this month’s Euro 2012. But for Portugal fans, the jersey was nowhere to be found.

“We are not allowed to sell the jersey because it shows a cross,” the shopkeeper told Bikyamasr.com. “I still love Portugal and will be rooting for them, but we are an Islamic country and don’t want to get people angry,” he added.


While it is not officially banned in the country, a number of Islamic clerics have voiced their concern over the jersey, which has a large cross on the front, highlighting Portugal’s Catholic faith. But in Malaysia, symbols often find themselves under attack by the country’s virulent Muslim clerics.

However, one fan, who recently returned from a short trip to Thailand sports his Ronaldo jersey with pride. “I don’t care what those people say, this is just football and not religion,” he said.


Portugal is not the only jersey to be pulled from the shelves. Brazil, which also boasts a large cross, has been barred by clerics. Manchester United, the world’s most popular club team, has also sparked the ire of clerics in the Southeast Asian country over its nickname, the Red Devils.

Despite the Old Trafford side having an estimated 81 million followers in Asia, one senior cleric said: “You are only promoting the devil.”

“This is very dangerous. As a Muslim we should not worship the symbols of other religions or the devils,” another added, in a Forbes report.

“It will erode our belief in Islam. There is no reason why we as Muslims should wear such jerseys, either for sports or fashion reasons.”

Either way, Malaysians are gearing up for Europe’s continental tournament and are picking up their team’s jerseys in large numbers. “We are getting most of these sold all the time because of the tournament, so it’s good for business,” added the shopkeeper.

But not for Portugal fans.»

 

Chateiam-nos muito e nós ainda começamos a distribuir bananas e pepinos.

publicado às 09:00

A História politicamente incorrecta do Brasil

por João Quaresma, em 21.03.12

A propósito do post da Cristina Ribeiro, coloco o vídeo de uma entrevista a Leandro Narloch, o autor do 'Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil', livro que lançou uma grande polémica sobre a forma como a História tem sido ensinada nas escolas e universidades brasileiras. O autor desmente muitos dos mitos que fazem parte da História oficial, a começar por aqueles que menorizam e atribuem sempre um carácter negativo em relação aos Portugueses e à contribuição portuguesa para aquilo que é o Brasil. O livro, que é o número um de vendas há mais de dois anos, tem sido uma verdadeira pedrada no charco e tem servido para mudar a perspectiva sobre Portugal, fazendo justiça ao muito de positivo que de nós o Brasil herdou.

 

O 'Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil' foi lançado em Portugal no ano passado mas nem assim tem merecido muita atenção por cá.

 

publicado às 00:25

Os alemães irritados? Óptimo!

por Nuno Castelo-Branco, em 09.02.12

O Sr. Schulz proferiu umas tantas sandices a respeito da política externa portuguesa. Sabendo-se algo acerca da constante correria dos agentes de Berlim em direcção a todos os cantos do planeta, o caso português é diferente. A Alemanha pode exportar os seus produtos e até apostar na suicidária venda da sua tecnologia de ponta. Está no seu direito e esta é a sua política. Há até quem lhes possa recordar o precioso treino e oferta de tecnologia ao exército soviético que nos anos vinte e trinta, forjaria as armas e as tácticas que fariam os panzer russos tomar Berlim. Sendo a Alemanha um país recente e que não possui raízes fora do hinterland centro-europeu, necessariamente terá uma política bastante diferente daquela que o antigo Portugal pluricontinental poderá prosseguir.

 

"É evidente que para os alemães e restantes tribos europeias jamais tocadas pelo génio de Roma, a dimensão do mundo é diminuta: uns bantustões na Boémia, uns kimbos na Polónia, umas senzalas na Morávia, uns Xipamanines na Hungria, mais meia dúzia de kraal na Eslovénia e uns hotentotes nas faldas dos Cárpatos."

 

Passos Coelho esteve em Angola, tal como Sócrates visitou a Venezuela, o Brasil e vários países dos PALOP. É a política externa que nos interessa, libertando este país do acanhamento imposto pelas amarras apressadamente tecidas em troca de umas tantas auto-estradas e dinheiros que se volatilizaram nos bolsos de uns tantos "convivas da Europa de cá".

 

Há cem anos, os republicanos derrubaram o regime que foi por eles acusado de submeter Portugal à Inglaterra. Naquela época, perto de 30% do nosso comércio era feito com os britânicos. Hoje a situação é bem diversa e se avaliarmos os dados disponíveis, facilmente verificaremos estarmos perante um cataclismo que faz perigar a própria existência do país, atado e bem atado a um vizinho poderoso e cuja estabilidade poderá ser posta em causa por um qualquer motivo fortuito. Os indicadores percentuais do nosso comércio com o antigo Ultramar, Brasil incluído, são ridículos, vergonhosos. Há que reforçá-los, mesmo que isso desagrade aos atrevidos auto-nomeados tutores.

 

As viagens a Angola, Brasil, países asiáticos e a todo o espaço da CPLP - sem descurarmos outras paragens -, mostram aos arrogantes donos da U.E., o nosso interesse por um mundo aberto, há séculos por nós visitado e que jamais deveríamos ter abandonado.

 

Uma vez mais, os alemães regressam ao princípio da Festung Europa. Quando a nós se refere, tome em boa nota o Sr. Schulz, de não estar a falar da Croácia, Hungria, Finlândia, Rep. Checa, Dinamarca, Áustria e outros. Bastar-lhe-á olhar para um mapa e talvez perceberá o que está em causa. A U.E. - ou melhor, os alemães - estão irritados? Bom sinal.

 

Sigamos em frente.

publicado às 10:42

Curto-circuito brasileiro (infelizmente)

por Nuno Castelo-Branco, em 22.12.11

Nesta luta pela sobrevivência, o governo português optou por apostar nos chineses, em detrimento do Brasil.  Para já, o único resultado positivo respeita à esfera da política, porque economicamente, muitos agentes há que vêem com alguma circunspecção, o papel que empresas do Império do Meio desempenham noutras "anexadas" em períodos de dificuldades destas últimas: conquista de poder económico e logo, a quase infalível pressão política que não deixará de se fazer sentir. Mais ainda, é observado o corriqueiro processo de obtenção de know-how e a sua transferência para Oriente, dando início ao descurar dos interesses vitais das empresas adquiridas. Veremos se com a EDP se passará o mesmo, mas neste caso, há que contar com outra realidade, a do mundo lusófono. Assim, a situação parecerá mais equilibrada, não sendo de estranhar se proximamente assistirmos à conjugação de políticas entre a China e alguns dos países da CPLP, às quais Portugal não deverá escapar. 

 

De facto, a Alemanha é a grande derrotada na contenda. Derrota económica e sobretudo politica, num momento em que a rispidez do ein befehl ist ein befehl, parece ser a norma adoptada pelo directório composto por alemães e seus assistentes franceses. A boa notícia consiste também em mais um escolho aos impulsos tendentes a forçar um federalismo que mais não é, senão uma clara "provincialização" dos "Estados secundários", sempre em detrimento dos interesses particulares que ainda justificam os resquícios da soberania. A oligarquia possidente, vem agora na pessoa do Sr. Paulo Rangel, despudoradamente reivindicar um certo decisionismo discricionário e em claro detrimento da vontade dos povos, consagrando aquele princípio do referendo "repete até ao sim" que deu início ao total descrédito daquilo que se chama União Europeia. Por outras palavras, de Berlim e via Bruxelas, estamos perante uma espécie de reformulação daquela política olivarista da "União de Armas" que no nosso país despoletaria o movimento do 1º de Dezembro de 1640.

 

Teria sido mais desejável a aquisição da EDP pelos brasileiros, não apenas por razões económicas e de proximidade - capaz de gerar outros resultados dentro da CPLP -, como também e sobretudo, políticas. Simplesmente, parece existir no Brasil e entre uma certa camada dirigente - principalmente da parte dos "recém-chegados de duas gerações" da Alemanha, Itália e de outros tantos países fornecedores de contingentes migratórios - que se estende das empresas às academias, uma clara má vontade ou declarado preconceito em relação a Portugal e aos portugueses. Se tal não é significativo entre o homem comum escolarizado, verifica-se, no entanto, uma acérrima oposição a tudo o que de Portugal chegue, estejam esses brasileiros em locais de decisão nas universidades americanas, ou nos círculos culturais ou empresariais locais, de Macau, Angola, Moçambique ou até, pasme-se, em Timor. Muito trabalho há a fazer por parte das autoridades políticas de Brasília, agora pertencentes a um sector político pouco propenso a sonhos de padronização Made in USA que eram apanágio de uma certa Direita local. A impressão que fica, é que dada a exiguidade portuguesa, os brasileiros tendem pura e simplesmente a olhar-nos por cima do ombro, ignorando-nos. Erro crasso, pois a situação geográfica portuguesa e a posse - mesmo que teórica - do amplo espaço do Atlântico Norte que vai de Lisboa até bem para lá da última nesga de terra açoriana, deveria fazê-los reconsiderar. Se a isto somarmos a ainda presença portuguesa na U.E., o interesse chinês e de outros "emergentes" - condição que o Brasil reivindica - nas grandes rotas comerciais que ainda são aquelas que o Atlântico retém e aspecto fundamental, a desejável articulação em todo este espaço através de uma coordenação de esforços entre o nosso país, o Brasil e Angola - com os arquipélagos portugueses e os outros que outrora fizeram parte do Ultramar -, temos um quadro onde é possível desenhar uma outra realidade. Não se trata apenas wishful thinking ou de salvar a soberania portuguesa, embora este seja um ponto obviamente interessante para o sucesso do processo de expansão da economia brasileira.

 

Dito isto, veremos quais serão as imediatas consequências desta vitória chinesa. Não nos admiremos muito se dentro de pouco tempo, a "eterna promessa Sines" não conhecerá novos desenvolvimentos e se a sempre anunciada ligação ferroviária à Europa não será uma prenda chinesa.

 

Adenda: pese a desconfiança - como aqui dissemos, os chineses não se livram facilmente da fama de "seca-economias" - que já várias vezes manifestámos acerca  da política de penetração chinesa, há que reconhecer que neste caso, o governo agiu bem. Enganou os "politólogos" de serviço, fez tábua rasa do propalado princípio de submissão a tudo aquilo que a Alemanha deseja e o processo EDP foi limpo, preenchendo todos os critérios exigidos pela credibilidade. O Brasil não conseguiu o que timidamente aparentou querer. Conseguir enganar uma opinião pública unanimemente formatada para "decisões inevitáveis", é obra. O que irá acontecer ao sr. Mexia?

 

Um nosso leitor deixou na caixa de comentários, um desabafo acerca do "latente antigermanismo" patente neste blog. Pelo contrário, há entre os colaboradores do E.S. admiradores confessos da Alemanha e entre eles me incluo. Isso não nos impede de verificar a falta de habilidade política de que enfermam muitas das actuais autoridades germânicas, esquecendo-se do facto de não estarem a lidar com uma novidade nacional recente de apenas uns, digamos... 500 anos. Portugal tem as suas fraquezas, mas a generalidade dos seus nacionais é extremamente orgulhosa quando quer e essa erupção pode ser súbita e violenta. Sabendo que jamais declarámos guerra à Alemanha ou participámos na exploração da sua população por duas vezes derrotada nos últimos 90 anos e tendo ainda a consciência de que Portugal excedeu em muito as obrigações que o estatuto de neutral lhe conferia, aos alemães restaria uma réstia de bom senso, evitando melindrar um povo que contra eles não nutre qualquer tipo de preconceito. De facto, a geração dos pais da sra. Merkel, bastas vezes matou a fome com produtos Made in Portugal, apesar do enorme alarido que a Grã-Bretanha e os EUA faziam junto do Palácio das Necessidades. Até podemos recordar a Chancelaria de Berlim, de um evento ocorrido em Maio de 1945, quando Portugal cumpriu escrupulosamente as necessárias obrigações protocolares, colocando a sua bandeira a meia haste. 

Os alemães não se recordam, paciência, mas nós ainda temos bem presentes aquelas palavras que o embaixador francês em Roma, André-François Poncet dirigiu ao embaraçado Conde Ciano, no dia 10 de Junho de 1940, dia da declaração de guerra da Itália:

 

-"Os alemães são patrões duros e isso vão os senhores aprender à vossa custa".

publicado às 18:01

Esperemos que os brasileiros não durmam em serviço

por Nuno Castelo-Branco, em 19.12.11

Este arregimentar de padrinhos estranhamente idênticos aos da Cosa Nostra, indiciam claramente a sobreposição de interesses pessoais, àqueles que são os do Estado português e consequentemente, dos contribuintes que ao longo de décadas foram sustentando o empório EDP. Segundo noticia o Jornal de Negócios, a Eletrobrás foi excluída pelo Conselho Geral e de Supervisão, em benefício da "cunha" mexida pelo cada vez mais gauleiter  Mexia e que visa uma espécie de Anschluss da EDP pela E.ON alemã.

 

Por outro lado, Dilma Rousseff está interessada em fazer valer o peso do país lusófono. Esperemos que tenha sucesso e que se acabe de vez com a ingerência estrangeira neste caso. Quando aqui se escreve a palavra estrangeira, referimo-nos a alemães e chineses. Que se dediquem a outros curto-circuitos, até porque já basta, uma vez que a "privatização estatal estrangeira" da EDP, consiste  num rotundo disparate. 

 

Aqui se explica porquê: "será difícil imaginar que a EDP, no caso de venda para a E.ON, será instrumentalizada pelos interesses alemães, ainda mais quando estes interesses já influem na política nacional de forma tão devastadora? Vejam o que se passa no caso das energias alternativas, que financiamos com impostos e com preços de energia absurdos! Se a EDP for tomada pelos alemães, a situação chegará a um ponto que em outros tempos constituiria um casus belli, que é o de pagar tributos a uma nação estrangeira para que ela destrua a nossa." Aproveitem o link e leiam o texto completo. 

publicado às 23:29

Mexia, um Blitz! na EDP

por Nuno Castelo-Branco, em 16.12.11

Os brasileiros e os chineses estão revoltados com aquilo que parece ser verdade: a EDP vai ser vendida aos alemães, apesar destes apresentarem a proposta de compra pelo menor valor. Os entusiastas de tudo o que venha além-Reno, tentam encontrar justificações, como a "gestão cuidada, a inovação tecnológica", ou ainda, a sempiterna "Europa". Qual Europa...? Como aqui se nota, a questão é poderosamente política.

 

A verdade parece ser outra e não terá outro nome senão chantagem política - com "fábricas da economia/PIB" como escondida ameaça - e da mais descarada. Em troca dos bastante discutíveis favores monetários nesta situação da crise financeira, os nossos parceiros da "U.E." pretendem adquirir empresas a preço de saldo, controlando o apetecível mercado e podendo obter mais um posto na conquista pela total hegemonia. Experiência disso têm eles, não haja qualquer dúvida e pelos vistos, o DN noticia o Sr. Mexia como uma entidade que se tem mexido para dar a vitória à E.ON. O Jornal de Negócios diz mesmo que os alemães já prometeram a manutenção do rendoso cargo na administração da EDP e assim, aventa-se ser este o verdadeiro móbil do mexido vorwärts de Mexia.

 

Ignorantes como somos nesta matéria técnica, não sabemos se as autoridades portuguesas têm qualquer tipo de visão acerca de uma estratégia energética para o país e qual a coordenação que poderia existir a longo prazo, entre Portugal e alguns países do mundo lusófono. Os partisans da Alemanha - país que sem reservas admiramos, mas que inegavelmente se encontra muito distante dos tradicionais interesses nacionais de Portugal -, decerto darão tratos de polé à imaginação, sabendo-se que existem muitas e importantes empresas brasileiras e chinesas, tão ou mais aptas que as suas homólogas germânicas.

 

Uma loucura é prosseguirmos no caminho do abandono dos nossos antigos mercados além-mar, insistindo no monopólio europeu. 

 

Politicamente, nem faz sentido qualquer tipo de aposta ou concurso. Pague o que pagar - e paga mais que os alemães -, o Brasil deve ter a prioridade. 

 

publicado às 09:37

Comida indigesta

por Nuno Castelo-Branco, em 13.11.11

A cobra atirou-se para cima do bote cheia de água na boca e logo gulosamente se enroscou no objecto de desejo. Engoliu a perigosa presa e preparou-se para uma reparadora soneca digestiva. Eis senão que surge um desmancha prazeres acompanhado por uns tantos curiosos e a pobre bicha é brutalmente assassinada. Embora o repasto fosse seguramente indigesto, o rastejante não merecia um tão triste fim.

 

E que tal se os nossos amigos brasileiros começassem a chegar à Portela com várias dúzias de clandestinos exemplares-bebé de sucuris, largando-as nos nossos rios? Isto é que era uma grande solidariedade lusíada!

publicado às 20:34

Brasil e Portugal

por Nuno Castelo-Branco, em 30.06.11

No Brasil, o ministro Fernando Pimentel é favorável à compra de títulos da dívida portuguesa*, mencionando os laços históricos entre os dois países.

 

Tal como declara, a relação entre o Brasil e Portugal é especial e em conformidade, do lado de cá do Atlântico há quem pense que esta situação de crise europeia, pode e deve ser aproveitada pelo Brasil, avançando-se para um projecto mais coerente com as potencialidades da CPLP. Estamos no momento exacto para ousar, até porque a "Europa" não beneficia de uma posição capaz de opor demasiados obstáculos.

 

*Vítor Gaspar diz que a "nossa" (dele?) República tem compromissos para respeitar. De uma vez por todas, fale em nome do país cujo nome é Portugal. Esqueça a dita "República" e verá que desta forma, é mais fácil mobilizar vontades e concitar a compreensão geral. Aliás, num governo a abarrotar de monárquicos, gastar o verbo com a dita cuja, é pura perda de tempo

publicado às 23:05

Publicidade em causa própria

por Samuel de Paiva Pires, em 03.01.11

1 - Há uns meses, divulguei aqui um workshop dedicado ao tema "Perceptions of NATO: a balance 60 years after", para o qual fui simpaticamente convidado pelo Professor Luís Nuno Rodrigues, do ISCTE. As intervenções dos diversos oradores foram agora publicadas em livro. Neste pode encontrar-se a primeira publicação da minha autoria em papel, um breve ensaio intitulado "Perceptions and Misperceptions of Portuguese Youngsters on NATO". Quem deseje saber quais os outros oradores e títulos das respectivas intervenções, pode consultar o programa aqui. Se alguém estiver interessado em adquirir o livro, pode encomendar directamente na editora ou na Amazon.

 

 

2 - Por estes dias que o Brasil parece ser prioridade da Política Externa Portuguesa, dei por mim a reler algo que escrevi em 2009. Aqui ficam três breves trechos do meu Relatório de Estágio, trabalho final de licenciatura, que está disponível na Biblioteca do ISCSP (nota: PEUEB significa Parceria Estratégica UE-Brasil):

 

No plano bilateral, “a relação Brasil-Portugal foi deixada enfraquecer, não só pelo cada vez mais evidente descaso da política externa brasileira face ao nosso país, como pela falta de uma estratégia de relacionamento com o Brasil da parte da política externa portuguesa”1.

 

No que diz respeito à CPLP, ainda que, de acordo com Victor Marques dos Santos, “o funcionamento normal da CPLP e o desenvolvimento das actividades inerentes aos três vectores ou planos de actuação fundamentais, consagrados na sua Declaração Constitutiva, deveriam processar-se no sentido de conferir um peso específico crescente à CPLP, em termos de reconhecimento internacional e de projecção de capacidades de influência ambiental concreta nos contextos geopolíticos, geoeconómicos e institucionais multilaterais diversificados, nos quais se inserem os diversos estados membros da organização”2, o facto de o Brasil possuir um peso económico e demográfico muito superior em relação aos restantes estados-membros, levou a que nos primeiros anos a organização não tivesse grande importância, até porque não era uma prioridade para o Brasil.

 

No entanto, nos últimos anos o Brasil tem definido prioridades em relação ao Atlântico Sul e a África, dando maior relevância à CPLP, que regista um “processo evolutivo de influência crescente”3. Segundo o Embaixador Francisco Seixas da Costa, “na perspectiva de Portugal, que tem procurado, no âmbito bilateral, manter uma grande atenção às dificuldades de desenvolvimento e de estabilização política em África, bem como pugnado, no quadro multilateral, por políticas realistas de ajuda aos países em desenvolvimento, esta relação “Sul-Sul”, que o Brasil tem titulado, é da maior importância e alcance”4. Para além deste redireccionar de prioridades por parte do Brasil ter ajudado recentemente a dinamizar a CPLP, importa realçar a prioridade que a Política Cultural Externa Portuguesa assume, “assente na valorização da Língua e da cultura portuguesas através da actuação no âmbito da CPLP, dos países de expressão oficial portuguesa, da valorização das comunidades portuguesas no mundo, do reforço das relações com o Brasil e da acção levada a cabo pelo Instituto Camões e pelos centros culturais, tudo em busca do desenvolvimento e da consolidação do conceito de Lusofonia”5.

 

Na realidade, se o relacionamento com o Brasil pode ser considerado enfraquecido no plano bilateral, em evolução no plano da CPLP e da prioridade em relação ao Atlântico Sul, se tivermos em consideração que a PEP tem como grande prioridade o projecto de integração europeia, poderemos afirmar que nesse contexto o Brasil assumiu-se como uma grande prioridade para Portugal, saindo o relacionamento entre os dois reforçado. De facto, o nosso estudo de caso, a PEUEB, representa um momento singular de síntese entre os vectores europeísta e atlantista da PEP, que, no entanto, já vem sendo assumido desde que Portugal aderiu à então CEE.

 

(…)

 

Neste contexto, embora a parceria tenha essencialmente na sua origem a contribuição portuguesa, “independentemente da natureza muito especial da relação política existente entre Portugal e o Brasil ser, em si mesma, uma motivação muito forte para a nossa ideia da fixação de uma “parceria estratégica” UE-Brasil, é óbvio que só a importância objectiva do Brasil poderia servir de base sólida para que a nossa proposta frutificasse”, como faz notar o Embaixador Seixas da Costa na entrevista que nos concedeu6. No relacionamento UE-Brasil7 existia, segundo o Embaixador, uma “situação anómala”8 pelo “facto do Brasil ser hoje um país emergente com crescente relevância no quadro internacional e, por uma situação que nos parecia inexplicada e inexplicável, a UE não ter ainda optado por com ele ter uma relação mais íntima”9, e foi precisamente essa anomalia que se procurou corrigir através do estabelecimento da parceria, assim dando ao Brasil o que lhe é devido.

 

A Europa olha para o Brasil como “uma potência emergente dotada de uma enorme capacidade para se poder consagrar como uma entidade promotora dos valores da democracia e liberdade, com um salutar efeito contagioso na sua vizinhança. Vê igualmente o país como um mercado muito interessante, dotado de uma estrutura económica pujante”, embora no seio da UE existam “leituras diferenciadas quanto à respectiva vocação enquanto um poder global”10, que entre outras questões causaram alguma resistência por parte de alguns estados-membros à ideia da PEUEB, como veremos no capítulo seguinte.

 

É também de ressalvar a existência de valores e normas comuns, partilhadas e promovidas tanto pela UE como pelo Brasil. Para todos os efeitos, o Brasil tornou-se uma referência no plano internacional ao promover os valores das sociedades livres, defendendo a democracia e o livre mercado, dando prioridade à observância das regras do Estado de Direito e ao respeito pelos Direitos Humanos, sendo um líder regional na América do Sul que contribui activamente para a estabilização desta região através da integração económica e política e sendo ainda considerado um actor global que pugna pela acção multilateral no cenário internacional, valores obviamente partilhados com os europeus11.

 

(…)

 

A PEP assume no século XXI uma vocação claramente europeia, atlantista e universalista, fruto da evolução histórica e das diferentes condicionantes geopolíticas que permitem a Portugal desempenhar um papel de articulação entre diversos países, línguas, culturas, e blocos regionais. Em relação ao Brasil, embora as relações luso-brasileiras tenham sofrido um forte impacto nos anos 90, o relacionamento no plano bilateral encontra-se algo enfraquecido, tal como já vimos.

 

Como faz notar Raquel Patrício, “Na verdade, as relações Portugal-Brasil, hoje, não têm feito jus ao diálogo de mais de 500 anos e ao passado histórico subsequente. Não obstante o discurso oficial português ser recorrentemente o de conferir crescente relevância ao Atlântico, no âmbito da política externa portuguesa, como tem, por diversas vezes, afirmado o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, a verdade é que a concretização deste ideal não tem praticamente ocorrido, não só porque o Brasil não surge, para Portugal, como verdadeira prioridade da política externa lusa, como também, e fundamentalmente, porque Portugal detém pouca importância para o Brasil, ocupando um lugar reduzido à história e à ligação cultural-afectiva na política externa brasileira”12.

 

Por isto, a nossa pergunta de partida e a quarta hipótese não têm uma resposta clara, mas sim circunstancial e dependente dos contextos e dinâmicas relacionais em análise, fazendo com que o lugar do Brasil na PEP seja o de uma constante prioridade de conteúdo variável. Importa realçar novamente uma das nossas principais conclusões, a que já aludimos no segundo capítulo. De facto o relacionamento com o Brasil pode ser considerado enfraquecido no plano bilateral e em evolução no plano da CPLP e da prioridade em relação ao Atlântico Sul. Mas sabendo que a PEP tem em larga escala uma vocação europeísta, poderemos afirmar que nesse contexto o Brasil é uma grande prioridade para Portugal. Tal como já assinalámos, o processo que levou ao estabelecimento da PEUEB, representa um momento singular de síntese entre os vectores europeísta e atlantista da PEP, sendo simultaneamente consequência da efectiva prioridade que o Brasil assume para Portugal.

 

A crescente complexidade das relações internacionais, que faz surgir constantemente novos centros de decisão e pontos de contacto entre os mais diversos actores, obriga a uma multiplicação de esforços por parte da diplomacia nacional, que, não obstante o facto de em certa parte não conseguir cumprir como se desejaria os objectivos da PEP, especialmente em resultado da falta de recursos e capacidades adequadas à concretização em pleno destes, continua a fazer-se afirmar pela integração europeia, pela aliança atlântica e pela lusofonia, vectores essenciais da afirmação de Portugal no mundo no século XXI.

 

Aliás, e para concluir, de outra forma não poderia ser, já que a História Diplomática portuguesa impeliu desde sempre nesse sentido, tal como assinala Pedro Soares Martínez: “Por bem ou por mal, para nossa glória ou para nossa contrição, sempre que somos livres em Portugal as coordenadas gerais da acção diplomática não se afastam muito das que ficaram definidas em Zamora, quando já não oferecia dúvidas a individualidade portuguesa e, consequentemente, o direito de acesso de Portugal à comunidade de nações. Porque às incoerências e inconstâncias conjunturais parece sobrepor-se sempre a imutabilidade do próprio destino nacional; e às misérias que passam, a fidelidade que perdura”13.



1 - Cfr. Raquel Patrício, “Portugal - Brasil: O Lugar que Cada Um Ocupa na Política Externa do Outro”. Disponível em http://brasil-americadosul.blogspot.com/2008/11/portugal-brasil-o-lugar-que-cada-um.html. Consultado em 30/06/09.

2 - Cfr. Victor Marques dos Santos, “Lusofonia e Projecção Estratégica. Portugal e a CPLP”, in Nação e Defesa, n.º 109, Lisboa, Instituto da Defesa Nacional, Outuno-Inverno 2004, p. 136.

3 - Cfr. Idem, ibidem, p. 137.

4 - Cfr. Francisco Seixas da Costa, Tanto Mar?, Brasília, Thesaurus Editora, 2008, p. 39.

5 - Cfr. Raquel Patrício, “Portugal - Brasil: O Lugar que Cada Um Ocupa na Política Externa do Outro”, ob cit.

6 - Cfr. Francisco Seixas da Costa (Entrevista a) – Anexo 1.

7 - As relações entre a UE e o Brasil à altura encontravam-se enquadradas pelo Acordo-Quadro de  Cooperação assinado em 1992. Para além deste, são ainda de ressalvar o Acordo de Cooperação Científica e Tecnológica entre a Comunidade Europeia e a República Federativa do Brasil formalizado em 2004, e ainda o Acordo-Quadro Inter-regional de Cooperação entre a Comunidade Europeia e o Mercosul, datado de 1995.

8 - Cfr. Francisco Seixas da Costa, ob. cit., p. 248.

9 - Cfr. Francisco Seixas da Costa (Entrevista a) – Anexo 1.

10 - Cfr. Francisco Seixas da Costa, ob. cit., p. 44.

11 - Cfr. Idem, ibidem, pp. 184-185.

12 - Cfr. Raquel Patrício, “Portugal - Brasil: O Lugar que Cada Um Ocupa na Política Externa do Outro”, ob. cit.

13 - Cfr. Pedro Soares Martínez, História Diplomática de Portugal, s.l., Editorial Verbo, 1986, p. 555.

publicado às 20:09






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