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( " Lágrimas ", as flores da Páscoa da ninha infância, que a Joana tão gentilmente fotografou )
se " transferir " da Sexta Feira Santa para a Segunda Feira seguinte, vem já do tempo em que, por serem muitas as casas visitadas pelo Compasso, demorando-se em cada uma delas uma boa meia hora, eram muitas as que recebiam a cruz só na Segunda Feira. Ao mesmo tempo ,a feira semanal , na vila onde todas as aldeias em redor vão desembocar, foi-se tornando a feira principal do ano, quase uma romaria.
Hoje, ainda que as coisa já não sejam bem assim, pelo menos no que à visita pascal se refere, o costume esse enraizou-se, e ainda persiste. Tanto mais que na Segunda Feira acontece uma das maiores romarias locais: a da Senhora da Saúde, uma tradição festeira que remonta a tempos imemoráveis.
que se prolongavam por quase toda a Quaresma, era o encher as jarras com grandes ramos de lágrimas, flores miudinhas brancas que encabeçavam longos e frágeis caules verdes. Só floriam por esta altura, e nunca as vi senão no jardim que o Arturinho partilhava com a irmã, a Se Maria do Se Raul.
Quando passávamos por casa dele, no regresso da escola, já muito próximas as férias da Páscoa, era com um contentamento enorme que nos dizia estarem as lágrimas a " quererem deitar a cabeça de fora ", sinal de que não nos faltariam na altura certa.
E assim era: não me lembro de um Dia de Páscoa sem as lágrimas nas jarras - que eram lágrimas felizes, acrescentava o Arturinho...
Nunca tornei a ver essas flores, e muito as tenho procurado; extinguiram-se, como as borboletas tão coloridas que havia naquela época.
estava ali ao virar da esquina. Quando o canteiro junto da casa do forno se enchia de flores brancas, as mesquitas, era chegada a altura de se começar a " Limpeza da Páscoa ": as paredes exteriores da casa que se lavavam, as interiores que se caiavam ou pintavam, os móveis que eram vistos à lupa, à procura de uma qualquer mazela a precisar de cuidados especiais...; começava uma maratona que só iria terminar nas vésperas do Domingo da Ressurreição.
Começava então o descanso das guerreiras...
de andar por casa, mas que a vitória do clube cá da terra sobre o da segunda circular, me deu um gozo do caraças, lá isso deu. Até pela alegria que trouxe ao Zé João, o sobrinho vitoriano ferrenho...
tempo primaveril, quando a Primavera o tem assim, fora dela ainda, não quis privar-me de, na hora do almoço, ontem, ir conferir a renovação da Natureza, embrenhando-me bem no meio da aldeia, onde ela não defraudou as expectativas: céu azul, campos verdes semeados de muitas outras cores das flores que brotam do chão, " aos molhos sem serem semeadas ".
Demasiadas vezes desgostada com o que os homens têm feito neste cenário elísio, deparo com algo que me reconcilia com o humano, no seu fervor de tudo descaracterizar: uma casa
típica deste Minho, que está a reencontrar os seus dias de outrora, numa reconstituição do que já foi. O granito amarelo que é recuperado, a traça que é respeitada.
Claro que " a fortuna não havia de durar muito ", e uns metros à frente, depois de passar um caminho ladeado de antigos muros, de onde saiam fetos de um verde esperançoso, esta, a esperança, não mais me acompanhou - voltava aquela visão, havia pouco interrompida, de caos no casario...
que sempre nos deixam à toa, lembro o lamento da minha mãe: que se tinha esquecido de mandar celebrar a Missa pela alma da mãe, minha avó,que teria feito anos no dia 2 de Março. Cerca de 120; não o soube dizer ao certo. Proponho-me buscar, mas sei já que tinha a idade suficiente para passar todos aqueles tumultos que marcaram os primeiros anos do século XX em Portugal. Tenho tanta pena de, na minha inconsciência da quase adolescente que era nos seus últimos anos, a sair de uma infância a que já chamei dourada, apesar dos pesares, longe ainda de me fixar naquilo que, alguns anos mais tarde, iria evidenciar-se na pessoa em que me estava a tornar - o gosto supremo de remexer no passado -, não ter conversado com ela sobre as muitas histórias que viveu. Tantas, avó, tantas, certamente. Quantas saudades.
relativa à noite dos museus, a 17 de Maio, noite em que tirei também esta fotografia - a cidade de Guimarães estava toda iluminada- lembrei-me de um episódio que me fez rir: a amiga que ia a conduzir teve algumas dificuldades em estacionar - havia muitos automóveis na zona antiga -, e um senhor, turista, quando tal viu virou-se para a minha sobrinha de oito anos, e disse-lhe para tomar conta de nós. E não é que a Margarida levou a " missão" muito a sério? :)
na caixa de comentários a Aaoiue, um dos foliões que, na década de cinquenta do século passado, no meio daquele carvalhal " pintavam a manta ", é hoje um dos meus tios, e continua o exímio tocador de cavaquinho, que já era então.
Desde pequena lembro-me dele a alegrar qualquer reunião com o som desse pequeno instrumento musical, mormente a grande romaria que ainda hoje faz as alegrias da população local, principalmente dos muitos emigrantes, que nessa altura - 29 de Julho- se encontram cá de férias - a da Santa Marta da Falperra.
Mestre ttambém no " cantar ao desafio ", esse tio, que agora se empenha em ensinar a arte aos netos, ainda pequenos, é um daqueles a quem os tempos modernos não mataram a imaginação exigida pelos ócios agradáveis, de que fala Nemésio.
Quando ontem de manhã, estava um lindo amanhecer, os vi, por certo que já levavam um par de horas naquele sachar da terra, a prepará-la para receber as batatas em semente, que chegada é a hora de o fazer, passadas que são, e nisso se põe grande esperança, as grandes geadas, que tudo levam.
Poucos e idosos, que estes homens e mulheres são dos que ainda resistem ao chamado das fábricas, sorvedouro das gentes novas, desgraça das terras que ficam por cultivar, em breve ocupadas por mais daquelas casas que proliferam como cogumelos.
Quando hoje a manhã surgiu cinzenta e com uma cortina de chuva, pensei não os encontrar, à espera que melhor tempo fizesse. Mas não; lá estavam, de enxadas na mão, a terminar o que tinham começado, que o apelo da terra foi mais forte do que os aguaceiros, que fintavam com as serapilheiras pela cabeça...
A esta hora, o sol há muito que acorreu , talvez condoído da sua sorte.
um sobrinho pediu-me lhe trouxesse um mapa antigo de Jerusalém. Trouxe um mapa e uma gravura da cidade antiga, mas, quando cheguei a Portugal, cansada, guardei-os na grande caixa das fotografias, e nunca mais deles me lembrei.
Quando, no início da tarde de hoje, ele me telefonou- que não me esquecesse do mapa, fui buscá-lo à tal caixa: a perdição!
Com efeito, guardo nela as centenas de fotografias tiradas na época " antes da digital ", fruto do gosto de documentar em imagens todos os passeios: os que fiz só, e os feitos em família; apreciar as alterações por que cada sobrinho ia passando, de ano para ano; lembrar as circunstâncias em que cada uma tinha sido tirada, e " rever " a terra em que tinha sido tirada.
Depois de todo esse exercício memorialista, que provocou muitos sorrisos, concluo que, depois que comecei a usar a nova máquina, tenho descurado esse trabalho minucioso, mas gratificante, de etiquetar, com todas as referências, cada postalzinho mais ou menos colorido, que fixou cada instante nosso, cada momento meu...
Disse a minha mãe depois de ter conhecido o Diogo, amigo do meu sobrinho Zé Miguel, e de quem disse gostaria de o ter por neto.
Este é um caso de amizade que tem dado frutos muito salutares- claro que de nada valeria se o Zé não fosse gente boa, de boa índole, mas nota-se que o facto de ter amigos assim, porque os soube escolher, e estes viram nele uma Pessoa ( P grande ), tem enriquecido uma vida já de si propensa ao Bem.
Com 21 anos, vai encontrar-se, durante a Semana Santa, com outros jovens, em Roma, no encontro, promovido pelo ICU, o UNIV, este ano dominado pelo tema « Universitas, um saber sem fronteiras ».
Como voluntário, este sobrinho, que estuda na Universidade do Minho, ajuda os mais desfavorecidos, dando-lhes explicações, e alegrando-lhes a existência, ao realizar com eles actividades ao ar livre, como sucedeu recentemente na Serra da Cabreira.
E não se fica por aí: levou o irmão, o João Pedro, com menos dois anos, a seguir-lhe as pisadas neste dar-se aos outros...
numa caixa de comentários abaixo- " as vossas partidas eram mesmo de meninas "- conto o que sucedeu num fim-de-semana numa antiga casa do guarda florestal, no Gerês: fomos um grupo de amigos, e às tantas acharam por bem fazer um campeonato de partidas entre rapazes e raparigas. Bem, não lhe digo nem lhe conto: saiu cada coisa mais estrambólica!
Por exemplo, de uma vez em que aqueles tinham ido ao café, aproveitámos para deitar fora o conteúdo do frasco do gel da casa de banho deles, que era opaco, e, portanto, não se via a cor do líquido, e substituímo-o por azeite ; imagina como ficaram, não? :)
Mas esta foi apenas uma das muitas- ao fim quem saiu vencedor, quem foi? :)
Confesso que não tenho jeito para pregar partidas, mas essas amigas têm-no para dar e vender...
para ir até à praia - nem sempre foi assim -, atrás de Afife vem outra praia do Alto Minho: Moledo.
Por aquela mesma altura passei algumas manhãs no areal de onde se vê, altaneiro, do outro lado do rio Minho, em La Guardia ( ou A Guarda ), o Monte de Santa Tecla.
Adversa a exposições ao sol, qual lagarto, o tempo aí passado aproveitava-o eu para andar pela orla marítima, sentindo nos pés a água sempre fria mas sempre bem-vinda.
Num café mesmo em cima da praia, a meio da manhã, recompunha-se a energia gasta nesses passeios.
No Outubro passado, um sobrinho foi lá encontrar o mar com uma temperatura " em nada inferior à do Algarve ".
( é mesmo certo que as palavras, as ideias e as memórias são como as cerejas ), a simples menção da terra lembra-me aquelas idas - já lá vão uns anos! - ao restaurante onde comi o melhor robalo, porque sem nada que lhe roubasse o sabor que é o seu: o peixe tinha sido cozido no vapor de água enriquecida com algas. No Mariana.
Na altura em que passava todo o mês de Agosto em Valença do Minho...
que " reinventa quanto faz a grandeza e o encanto das formas mais primitivas da poesia " ( « Dicionário de Literatura » )
A imagem que guardo dele, da televisão, é a de um homem sentado num cadeirão da casa de Afife, dissertando sobre o povo que canta na sua poesia, e que é por este facilmente apreendida, logo sobreposta pelas ondas do mar que quase lhe batiam à porta...
mas a minha irmã mostrou-me as muitas fotografias que lhe tirou.
Ia tão linda a Maria Teresa! Uma verdadeira dançarina do rancho folclórico de Santa Marta de Portuzelo, Viana do Castelo, daquelas cantadas por Pedro Homem de Mello, a tornar mais " nosso " o desfile de Carnaval das escolas de Guimarães.
Aprendera já com a mãe, uma muito razoável bailadeira do Vira Minhoto, a dar uns passos nesta dança, e parece que, em casa, tendo como público apenas os pais e o irmão, não se fez de rogada, mas chegada junto dos outros meninos e professores a vergonha levou a melhor...
deparei com este blogue, e com este post: vivendo muito perto de S. Lourenço de Sande, quando pequena fui muitas vezes ao castro de Sabroso, também ele, como a não muito longínqua citânia de Briteiros, descoberto e dado a conhecer por Martins Sarmento.
Nessa altura viam-se ainda alguns pequenos fragmentos de cerâmica e sentia-se uma atmosfera de quase religiosidade.
Há algum tempo fiquei escandalizada ao ver que tinha sido construído no local um complexo fabril de proporções gigantescas..
Não, não posso concordar que a Regionalização seja a solução, pelo menos nos moldes pensados, e com os homens que temos nas autarquias; uma descentralização que não se limite a " para inglês ver"...
entre Braga e Guimarães, nem sei qual a sua origem, mas lembro-me de ter lido n« O Minho Pitoresco » uma referência a um pleito judicial ; no Século XIX, sobre demarcações geográficas, que resultou na atribuição de grande extensão do monte da Falperra ao concelho de D. Afonso Henriques, coisa com que ainda hoje a cidade dos arcebispos não se conforma.
Quer de um lado quer do outro, gente há que leva esta " má vizinhança " a peito, de tal modo que a sua maior alegria é a de saber da derrota do clube de futebol rival.
Pouco depois de ser eleito pelo círculo de Guimarães, em 1884, ficaram célebres os discursos proferidos por João Franco, versando este conflito, em defesa das gentes que o elegeram.
Se os Bracarenses chamam " espanhóis " aos habitantes de Guimarães, estes pagam-lhes chamando-os de " marroquinos ": há dias, em casa de amigos em Braga, dizia um que no dia seguinte iria a Guimarães, tendo-lhe dito, então, um outro para que não esquecesse o passaporte, ou ficaria retido na fronteira. Retorquiu-lhe o primeiro, que estando-se no Espaço Schengen, lhe bastaria o Bilhete de Identidade...