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Prolongamento de Portugal

por John Wolf, em 17.06.14

Qual árbitro qual carapuça. O problema é muito maior e vem de longe. E a culpa não é dos outros (o instrumento dilatório de sempre). A responsabilidade pelo destino está enraizada, é endémica e faz parte do DNA nacional - tem dono, pertence aos próprios. Desde tempos imemoriais que o culto da personalidade tem abafado a virtude do organismo colectivo.  Há quase uma década que a sacralização de Cristiano Ronaldo tem sido uma constante, a transferência do ónus para a figura sebastiânica, superior, que reduz a nada os alegados parceiros da empreitada. Esta mesma patologia permeia tantas dimensões. É a mesma contradição existencial, repetida à exaustão  - a falsa consciência colectiva alvitrada pela promessa de um guru elevado aos céus e derretido pela circunstância de uma fénix. Na mesma senda da glorificação totalitária, do tudo ou nada, besta ou bestial, são inúmeros inscritos na mesma ordem de devassa do espírito das nações. Depositem a fé toda na vinda do esclarecido. De Salazar a Soares, de Cristiano a Costa, é assim que funciona na tômbola de consequências nefastas. Do murro dado por João Vieira Pinto em 2002 a lugar de destaque na equipa técnica. Da cabeçada agachada ao descartar da nacionalidade oportuna. Tudo isto faz parte da mesma mossa que sacode águas fintadas pelo capote. A culpa é dos outros. Foi um dia para esquecer, em vez de ser a razia para começar de novo. Para cometer os mesmos erros.

publicado às 16:57

Da falta de nobreza de espírito

por Samuel de Paiva Pires, em 15.05.14

Vejo uns quantos sportinguistas regozijarem-se com a derrota de ontem do Benfica. Alguns fazem questão de sublinhar que, além de sportinguistas, são anti-benfiquistas. Outros, talvez procurando justificar a sua alegria e baixeza, argumentam que os benfiquistas também ficaram contentes quando o Sporting perdeu a Taça UEFA para o CSKA. 

 

Ora, a nobreza de espírito não depende do que os outros fazem, mas tão só de nós próprios. Seria até revelador de uma certa magnanimidade não se alegrarem com a derrota do Benfica ou, pelo menos, não o expressarem. Sempre ouvi dizer que ser do Sporting implicava uma certa elevação, uma determinada forma de estar na vida. Talvez seja a este tipo de coisas que se refere a tão propalada crise de valores.

 

Nota: conforme escrevi no post anterior, sublinho que sou sportinguista.

publicado às 11:21

Bater no Blatter

por John Wolf, em 07.11.13

Pelos vistos Blatter não desarma. O artista-imitador deve ter ficado arreliado com a resposta de Ronaldo, que demonstrou a sua superioridade e arte ao marcar golos que deixaram Messi a morder os calcanhares da lista de melhores marcadores. Como se não bastasse, Joseph Blatter ainda continua com o seu tom persecutório a Portugal. Agora que esgotou a questão do militarismo de Ronaldo, este sargento aponta baterias para o campo onde Portugal enfrentará obstáculos a breve trecho - os play-offs que determinam a presença ou não no mundial de futebol em 2014. Para este primo de Platini (outro político de algibeira a levar em conta), de repente a forma de acesso in extremis é uma coisa muito emocionante, boa para as audiências televisivas, mas não o suficiente para um país que tem talento de bola para dar e vender, mas que porventura não terá um mercado com dimensão suficiente para colocar marcas das grandes corporações que deram emprego a este dirigível. Este Blatter tem qualquer coisa de Madoff, Strauss-Kahn, Vale e Azevedo, Berlusconi e Baptista da Silva combinados - não inspira confiança. Não inspira grande coisa. Não inspira nada. Contudo, Portugal saberá dar a resposta que ele merece. O carteiro sueco irá bater duas vezes e entregar-lhe-á a encomenda. Entretanto, teremos de bater no Blatter.

publicado às 12:19

Hortas e sopa de Gasparacho

por John Wolf, em 30.06.13

O problema do terreno disponível para as hortas comunitárias é uma falsa questão. Com tantos campos de futebol à mão de semear, proponho que os relvados sirvam de campos agrícolas. Já têm sistema de rega instalado e as bancadas servem de auditório para o ensino de agronomia, para um curso rápido sobre húmus e podas. O Terreiro do Paço foi mal escolhido enquanto local para demonstração das virtudes campestres ou do afecto suíno. Faça-se o levantamento dos clubes de futebol que se encontram em situação de insolvência e transformem-se os seus terrenos de jogo em talhões geradores de produtos da horta. Depois é organizar a venda directa, mercados semanais. De norte a sul da Lezíria são tantos os campos da bola que poderiam continuar a sê-lo; basta que plantem melões e melancias. As dívidas dos clubes poderiam ser amortizadas através de um programa de incentivo táctico. Ou seja, no meio campo, no círculo propriamente dito onde arrancam os encontros, a terra, por ser das mais pisadas e consequentemente menos fértil, poderia ser ocupada por culturas de sequeiro. As balizas que são quase estufas e vêm com rede são boas para a primeira infância do tomate. Mesmo em frente, na grande área, não vejo mal na plantação de milho. Existem porém, outras atribuições de longo prazo que podem ser exploradas. Porque não eucaliptos e pinheiros? Não vejo mal nenhum na redefinição dos espaços para fins diversos. As falsas elites ficaram chocadas com a pimbalhada do piquenique do Continente, com os níveis de humidade pré-orgásmica das seguidoras do culto Carreira, mas estão a ser pretensiosas. Se fosse um lanche organizado pela Orquestra Sinfónica de Lisboa ou pelo coro Gulbenkian, na mesma praça do comércio, os comentários seriam outros. A feira do livro no plano inclinado do parque Eduardo VII? Faz sentido ler obras tortas? Faz bem promover torcicolos? O Rock in Rio no parque da Belavista? Belavista? Aquilo é mais para os ouvidos. Enfim, desde sempre que os espaços foram sujeitos ao escrutínio da desorganização da sua função original. Splash? Não sei se me faço entender, mas encontramo-nos no momento indicado para pensar de um modo profundo as atribuições que convencionamos e nunca mais ousamos questionar. A Assembleia da República, por exemplo, poderia servir de centro de detenção - bastaria fechar a matraca dos políticos. Lembro-me perfeitamente daquela jóia de transumância chamada presidência aberta. Era vê-los (os presidentes) a levar a trouxa para locais improváveis para fazer mais do mesmo, oferecendo a ilusão de abertura, flexibilidade e proximidade em relação ao cidadão-eleitor. Quando comecei este texto falava da horta improvável e fui parar a outras freguesias. Queria falar de uma coisa e acabei por deambular por outros caminhos. Já desorganizei este espaço de narrativa. Mas regressando ao piquenique; ouvi dizer que os comes e bebes estavam uma maravilha. Achei formidável que o ministério das finanças tivesse uma tendinha mesmo ao lado do palco do Tony e servisse aquela sopa refrescante e avinagrada - o gasparacho.

 

 

publicado às 08:38

O futebol como reduto do liberalismo em Portugal

por Samuel de Paiva Pires, em 10.06.13

Alberto Gonçalves, "O refúgio do liberalismo em Portugal":

«Há muito tempo que não vejo jogos de futebol. Há pouco que comecei a ver com frequência debates televisivos sobre futebol, do Trio de Ataque ao Prolongamento, de O Dia Seguinte ao Mais Futebol. São, como se diz que Coimbra foi, uma lição. Desde logo, sobre a capacidade humana de repetir oito a doze vezes por minuto a palavra "estrutura" enquanto sinónimo de direcção, organização ou hierarquia. Porém, o vago marxismo lexical termina aí: os debates principalmente revelam hordas de liberais, "neo" ou "ultra", que, para nosso azar, não existem nas demais dimensões do país.


No mundo dos comentadores da bola, as ideias dominantes que determinaram a corrente e desgraçada situação pátria encontram-se viradas do avesso. Lá, ninguém hesita em defender que o treinador X ou o jogador Z acabem sumariamente demitidos por incompetência. Ninguém estranha que os salários, mesmo que desmesurados, sejam proporcionais ao mérito. Ninguém culpa os ricos. Ninguém despreza a necessidade de exigência. Ninguém deixa de louvar os clubes que se governam com orçamentos equilibrados e minúsculos. Ninguém apoia a irresponsabilidade. Ninguém se lembra de incentivar o recurso ao crédito para investimentos ruinosos. Ninguém percebe as equipas com plantéis excedentários. Ninguém propõe a imposição da igualdade em detrimento da liberdade. Ninguém atribui às vitórias da Alemanha as causas da penúria indígena. Ninguém legitima a promoção da violência dentro e fora do campo. Ninguém abomina a concorrência. Etc.


Para alguns, entre os quais me incluo, o futebol pode não passar de um aborrecimento de hora e meia (mais uns minutos no caso do Benfica). Já a conversa em redor do futebol, à primeira e segunda vistas um aborrecimento maior, é, quando esmiuçada com detalhe, não só uma lição, insisto, mas um refúgio e um consolo perante o socialismo que contamina o resto da sociedade. O futebol não é socialista. Se não me obrigar a vê-lo, que Deus o proteja.»

publicado às 22:00

Sim, Henrique, tens alguma razão, mas não toda

por João Pinto Bastos, em 27.02.13

Certa vez, numa história que alguns pretendem apócrifa, perguntaram a Roberto Baggio o que é necessário para se ser uma lenda do futebol. O transalpino respondeu que o essencial é jogar divinamente durante um bom par de anos e depois cair completamente em desgraça. Soa-vos mal, não é? Mas Baggio tinha razão. Ele melhor do que ninguém sabe que o futebol só é futebol se tiver dimensão trágica. Algo que escapa manifestamente aos Messis deste mundo. O Henrique Raposo, com a sua prosa escorreita, escreveu aqui que o futebol não é um "espectáculo de entretenimento", chamando à colação o exemplo de Mourinho. O essencial da posta corresponde à realidade dos factos, contudo, o Henrique falha rotundamente, a meu ver, naquilo que é a essência do futebol. O futebol é, sim, entretém. Sempre foi e sempre será. Duvidam disso? Não duvidem, porque aquilo que faz a essência do futebol é a alegria e o sorriso estampados no rosto de cada adepto após uma jogada genial ou um piropo técnico virtualmente impossível. O futebol é isso. Mais: nem um show de golfinhos seria suficientemente belo em comparação a um elástico de Ronaldinho ou a um chapéu de Maradona. Ontem, num zapping noctívago, vi e ouvi, por momentos, Domingos Paciência dizer algo que me ficou na memória. Dizia o ex-avançado, a propósito do panenka jacksoniano, que se algum de nós perguntasse a uma criança o que mais gosta de ver num campo de futebol, a resposta seria, obvia e evidentemente, a arte técnica exposta no remate imprevisível à la Panenka. Quem diz criança, dirá, certamente, um adepto graúdo. Reduzir o futebol à essência de uma batalha de vida ou morte é despi-lo da beleza que lhe é inerente. Porque o pontapé na bola é, também, o riso desbragado, a gargalhada contagiante que une os desavindos, e a lágrima interminável que corre pelo rosto dos adeptos mortificados pela derrota. Riso e sentido do trágico. Foi com estes dois princípios que se formaram as grandes lendas do desporto. Talvez haja aqui um certo romantismo, mas o certo é que sem rasgo não há futebol que sobreviva. 

publicado às 16:48

Bolas de ouro

por João Pinto Bastos, em 07.01.13

Amanhã, muito provavelmente, Messi será reeleito o melhor futebolista da actualidade. Longe vão os tempos dos 15 ou 20 jogadores que disputavam de igual para igual o Olimpo da bola. Não desgosto de Messi, posto que o argentino é, inegavelmente, um futebolista fantástico, mas, quando penso no que era o futebol de há 15 ou 20 anos atrás, sou como que acometido por uma certa nostalgia. Penso, por exemplo, na técnica solitária de Baggio, na elegância desarmante de Zidane, no brilho extraterreno de Ronaldo - o verdadeiro, o "fenómeno -, na magia única de Romário, no apagamento genial de Rivaldo, no instinto felino de Van Basten ou na fantasia prazenteira de Ronaldinho. Sim, o futebol perdeu algum do seu encanto, e perdeu-o justamente na altura em que emergiu uma super-potência futebolística que combina no seu ADN um pouco do futebol total dos magos holandeses. Falo, pois, do Futebol Clube Barcelona, o clube que é "més que un club". A vida tem destas ironias. No auge do mediatismo e da industrialização, o futebol perdeu-se algures no meio da previsibilidade. Os ídolos vão e vêm, alguns ficam incrustados na nossa memória, criam raízes, lembramo-nos deles, mas a nostalgia fica. E, hoje, mais do que nunca fazem falta os ídolos de carne e osso, aqueles que choram, riem, atingem os píncaros e caem, no fim, que nem tordos abatidos pela inclemência do caçador. Em suma, Messi não é Maradona, Baggio ou Zidane, e, queira-se ou não, nunca será. O futebol mudou, e mudou para pior. 

publicado às 01:36

Faltou físico, treinador e sorte

por Pedro Quartin Graça, em 10.12.12

O jogo devia ter acabado aos 45 minutos. Não só porque o Sporting estava a ganhar, e bem, como também porque a 2ª parte trouxe um Sporting fisicamente desgastado, sem meio campo e um treinador que voltou a não saber substituir jogadores a tempo. Acusando claramente os dois dias a menos de descanso, o Sporting claudicou porque lhe faltaram forças mas também porque Vercauteren não soube, de novo, perceber a tempo que precisava de mexer na equipa. O resultado final espelhou, afinal, ainda que de forma injustamente exagerada, essas falhas. Que mais pode se pode pedir a uma Direcção como a de Luiz Godinho Lopes numa situação como esta? Nada mais, evidentemente, a não ser a continuação do esforço que vem desenvolvendo, uma eventual "benzedura" das balizas, a toma de suplementos vitamínicos pelos jogadores, e esperar que os ventos mudem. Porque, como diz o ditado, "há mais marés do que marinheiros" e a sorte, que teima, até agora, em nada querer com a equipa do Sporting, há-de regressar. Está a custar, mas a esperança é a última coisa a perder.

publicado às 23:00

Deambulações futeboleiras

por João Pinto Bastos, em 05.12.12

 Helenio Herrera

publicado às 16:05

Sporting: a hora é de união!

por Pedro Quartin Graça, em 23.11.12

Hoje é daqueles dias que é muito fácil dizer mal até porque ontem foi uma noite má de mais. Sem entrarmos por esse caminho, analisemos então o sucedido com um olhar crítico. O que sobrou em empenho da direcção e dos sócios e simpatizantes do clube, faltou no rendimento da equipa e do treinador. Comecemos por este. Vercauteren fez más escolhas e a sua opção revelou-se fatal. Optou por um meio campo "mole", com 2 jogadores - Elias e Gelson - incapazes de cortar bolas e de lançar o ataque. Em bom rigor, o meio campo do Sporting foi um verdadeiro queijo suiço. A estes somou-se Pranjic, que mal se viu em campo e 2 centrais - Xandão e Rojo - que, para se ser honesto, estavam lá fisicamente mas cuja cabeça ficou, respectivamente, em Araçatuba e em La Plata... Cedric viu-os passar e, até o outrora poderoso Insúa, esteve muitíssimos furos abaixo do seu normal. Sobraram Rui Patrício e Capel e, a espaços, Labyad e Carrilho. Tudo o resto é para esquecer. Mas se Vercauteren está decepcionado, essa decepção carece, em primeiro lugar, de uma introspecção. Franky "inventou". Deixou Rinaudo no banco - erro grave - e tardou nas substituições, atitudes incompreensíveis num treinador já com tarimba. Ou seja, não pôs a jogar os melhores e não mexeu quando devia mexer. O resultado foi fatal. Mas a verdade é que Vercauteren não joga. Quem joga são os jogadores. E sobre estes há que perguntar: onde é que "Vosselências" tinham a cabeça? Como se justifica tanta falta de empenho quando tanto havia ainda para ganhar? Não se compreende. Se estes jogadores, por razões que a razão desconhece em profissionais muito bem remunerados não se sentem em condições de render, pois que joguem outros então. Da "A" ou da "B", o que interessa é o empenho posto em campo e a dignificação da camisola do clube que a maioria dos que jogaram ontem não souberam, na verdade, honrar.

No meio disto tudo, há que fazer um apelo à serenidade. Não vale a pena "pedirem a cabeça" de Godinho Lopes e desta direcção. Eles não jogam, a não ser por fora, logo são os menos culpados de tudo o que está a acontecer. Já para não falarmos da legitimidade derivada de uma escolha democrática dos sócios (e as eleições ganham-se e perdem-se, em democracia, por 1 voto), e o sportinguismo sempre revelado, a grande questão que se coloca é esta: mudar de direcção, como alguns insistentemente pedem, punha a equipa a jogar melhor de um dia para o outro? É evidente que não. Deixemo-nos, pois, de fantasias e regressemos à realidade de que há muitos pontos por conquistar e objectivos concretos a atingir. Com esta Direcção, este presidente e estes jogadores, das 2 equipas de futebol profissional que o Sporting tem em competição. Todos juntos, o grande Sporting ressurgirá.

publicado às 08:41

O futebol e a pátria

por Samuel de Paiva Pires, em 28.06.12

Por estes dias, falham alguns em entender o mito que é a pátria enquanto, nas palavras de Karl Deutsch glosado por José Adelino Maltez, "uma comunidade de significações partilhadas" e, nestes tempos de paz na Europa, como esta se reflecte numa ligação emocional entre um povo e os seus representantes em actividades onde exista representação nacional, como o caso do desporto - em concreto, nestas últimas semanas, o futebol. Lembrando que a pátria é, como escreveu Miguel Torga, "o espaço telúrico e moral, cultural e afectivo, onde cada natural se cumpre humana e civicamente. Só nele a sua respiração é plena, o seu instinto sossega, a sua inteligência fulgura, o seu passado tem sentido e o seu presente tem futuro", vale bem a pena ler o Filipe Nunes Vicente e o Carlos Guimarães Pinto:

 

Filipe Nunes Vicente, O futebol e os intelectuais:

 

«As vitórias da selecção nacional suscitam orgulho aos portugueses porque o EURO 2012 é um parque de diversões para os símbolos nacionais. Nenhum problema nisto.  Nas guerras, as acções dos soldados, dos generais  e dos políticos suscitam o mesmo espírito e ninguém pensa que essa inflamação patriótica oculta atraso económico, maus hospitais ou insucesso escolar.

A ligação de um povo com a sua selecção não passa pela leitura de Píndaro ou pela exegese de Heidegger: é simples, directa e dura pouco. Como o sexo.

Os que contam bandeirinhas, se incomodam com  a cruz ou anotam os minutos imbecis dos directos, racionalizam o que não é racionalizável. Nunca tiveram um ataque de pânico ou uma obsessão?»

 

Carlos Guimarães Pinto, Os ateus do Futebol:

 

«Os ateus do futebol já fazem parte do folclore das competições internacionais de futebol em que Portugal participa. Para quem não sabe o ateísmo futeboleiro foi inaugurado por Pacheco Pereira e, entre coisas, consiste em passar todo o período das competições de futebol a falar sobre o quão irrelevantes elas são, da irracionalidade do gosto pelo futebol e sobre a forma como estes eventos distraem as pessoas dos assuntos importantes (por assuntos importantes, entenda-se, a política, a troika, o défice, o sacana do Sócrates e o demagogo do Louçã).
Tenho que concordar com eles: a devoção irracional pelo futebol contribui de facto para que muitas pessoas se esqueçam por um período de tempo destes assuntos. Mas não é só o futebol: um bom livro, as séries de televisão americanas, as quecas, os bikinis, os jantares de amigos, um bom cabrito, o sorriso dos filhos são tudo aspectos da vida que, sem motivo racional, nos fazem esquecer desses assuntos “importantes”. Os ateus do futebol estão certos relativamente à relação causal, têm é as prioridades de vida trocadas.»

publicado às 11:12

Parabéns, rapazes!

por Samuel de Paiva Pires, em 28.06.12

 

Finalmente provou-se que é possível contrariar o "tiki-taka" espanhol e fazer frente de igual para igual à selecção espanhola. Faltou o bocadinho de sorte, como é habitual. Estão todos de parabéns e agora é seguir em frente rumo ao Mundial, onde de certeza esta belíssima selecção fará outro percurso excepcional! 

publicado às 00:14

Força, rapazes!

por Samuel de Paiva Pires, em 27.06.12

 

Ao contrário de muita gente, não sofro de anti-espanholismo primário, daquele que nos é praticamente incutido desde os primeiros anos de escolaridade. Simplesmente não os suporto devido à irritante mania de fazerem um banzé, berrando e incomodando toda a gente à sua volta. Há qualquer coisa de muito elegante na atitude portuguesa no espaço público. Quanto mais não seja por isto, adoraria que a selecção nacional de futebol os silenciasse mais logo.

 

De resto, é como diz o Dragão:

 

«Por regra, futebol não é questão que me ocupe. Mas como pretexto é tão bom como outro qualquer. Para bater nesses filhos da puta. E só num país onde viceja e infesta uma prole imensa da mesma mãe é que  pode ter-se implantado o conceito catita de "país irmão".  Nustros hermanos, o caralho! Vossos, não sei; meus é que não!»

publicado às 11:45

A selecção nacional de futebol e o embate contra Espanha

por Samuel de Paiva Pires, em 24.06.12

O Maradona em grande:

 

«Não há aqui as facilidades de 2004 e 2006, em que o Mourinho, através do seu Porto, deixara a selecção convenientemente preparada; o que vimos ontem procede tudo de uma cultura, a cultura do futebol levado ao seu extremo de maturidade. Na quarta-feira, contra a Espanha, vamos defrontar um adversário que para além de ser constituido por jogadores melhores que os nossos, se encontram aliados pela conclusão que a "sorte" está do lado deles; "sorte", aqui, é os jogadores partilharem toda a combinação de conclusões futebolísticas possíveis à matemática. Para os poder vencer, é necessário desviar o mais possivel o jogo do que lhes é natural: contra as suas combinações automáticas e o karma esférico, temos que elevar o individualismo a patamares paródicos. A liderança que o Ronaldo finalmente conseguiu impôr à sua seleção (contra a Holanda), terá que ser cristalizada numa ordem ainda mais superior. Aqueles jogadores, os gajos que estão no banco, Paulo Bento e nós próprios, precisamos de nos reunir à sua volta como a Argentina de 1986 fez com o Maradona, para que a equipa que não temos hipótese de ser possa diluir as suas fraquezas num fascismo iluminado capaz confundir antinomicamente uma Espanha habituada a ser colocada perante adversários que os combatem tentando igualar as suas virtudes. Contra a solidária descentralização artística que o Barcelona impôs com tanto sucesso ao mundo futebolístico neste últimos anos, Portugal só pode responder com a solidariadade ainda mais absoluta, leal e avassaladora: com Cristiano Ronaldo. Jogo de equipa o caralho.»

publicado às 14:27

Checo-mate!

por Samuel de Paiva Pires, em 21.06.12

E já estamos nas meias-finais, após um jogo sofrido mas em que, mais uma vez, a selecção nacional dominou claramente a equipa adversária, em especial na segunda parte. Espanha ou França, uma delas colocar-se-á entre esta selecção, que tem praticado provavelmente o melhor futebol do Euro 2012, e a final deste. Força, rapazes!

 

publicado às 22:03

Já nem tem qualquer prurido em, escandalosamente, divulgar publicamente o que pensa, em plena competição. Anuncia os finalistas do Europeu, em clara pressão psicológica sobre os árbitros, condicionados que ficam a viabilizar o caminho às equipas da Espanha e da Alemanha. Portugal, mesmo que passe a República Checa, o que não será fácil, terminou o Europeu porque já não pode ir mais longe, não passa, ou seja, depois defronta Espanha, o finalista anunciado, de forma vergonhosa, pelo... Presidente da UEFA, Platini. Há confissão de um crime mais perfeita do que esta? Cadeia com ele!

publicado às 08:04

Força Portugal!

por Samuel de Paiva Pires, em 17.06.12

Um grande jogo da selecção nacional, a mostrar uma grande maturidade depois de estar a perder por 1-0, com particular e evidente destaque para Cristiano Ronaldo, autor dos dois golos que consagraram a vitória portuguesa. Magnífico trabalho de Paulo Bento, é o que as três excelentes exibições até ao momento deixam adivinhar. A República Checa é o adversário que se segue, nos quartos de final. Força, rapazes!

 

 

 

(imagem do Sapo

publicado às 21:44

Do patriotismo e da nação portuguesa

por Samuel de Paiva Pires, em 15.06.12

Aqui fica o meu terceiro artigo escrito para a secção de opinião do Diário Digital, também publicado no blog da Real Associação de Lisboa:

 

 

Como quase todos os conceitos políticos e filosóficos, também o patriotismo é alvo de inúmeras conceptualizações conflituantes que, segundo Alasdair MacIntyre, ocorrem num espectro que tem num extremo a ideia de que o patriotismo é uma virtude e, noutro, que é um vício. Resumidamente, pode-se definir o patriotismo como o amor pelo próprio país, identificação com este e preocupação com os nossos compatriotas. Não é despiciendo referir a comum sobreposição e confusão com o nacionalismo, pelo que importa salientar a distinção que Lord Acton opera, afirmando que o nacionalismo está ligado à raça, algo que é meramente natural e físico, enquanto o patriotismo se prende com os deveres morais que temos para com a comunidade política.

 

Por outro lado, talvez seja mais fácil pensar que o patriotismo pertence àquela categoria de conceitos que se não me perguntarem, eu sei o que é. Isto acarreta vários problemas, especialmente no que concerne à transposição e utilização do patriotismo no debate político. Também o interesse nacional e o bem comum são conceitos que podem pertencer a esta categoria, e também sobre estes há inúmeras perspectivas. José Sócrates invocou recorrentemente o interesse nacional para se recusar a pedir ajuda internacional, quando já era mais do que sabido que não só a viabilidade financeira do estado português estava em causa, como também a soberania nacional. Como poderia ser do interesse nacional – conceito que está directamente relacionado com o patriotismo – persistir naquele caminho?

 

Acontece que, em democracia, os partidos políticos são necessários mas promovem, frequentemente, a fragmentação da sociedade num clubismo irracional e num sectarismo que deixa ao critério da opinião da maioria a decisão sobre o caminho a seguir. Quando os limites à acção governamental não são bem definidos e fortes, quando a separação de poderes não actua como deveria no sentido da difusão do poder, isto pode ser perigoso para todos os indivíduos de uma comunidade nacional organizada politicamente num estado. Ademais, tendendo o estado moderno para a adoração de símbolos nacionais, contribuindo para a criação, acrescentando-se ou substituindo-se a um sentimento patriótico, deixar que no debate político uma das partes se possa livremente ancorar no patriotismo para justificar as suas acções, ou seja, apelando à emoção e não à razão, pode ser fatal não só à parte contrária como à nação.

 

Claro que a política é feita em larga medida de emoção. Mas sendo o patriotismo o amor pelo próprio país, cada indivíduo desenvolve à sua maneira esse amor. Frequentemente, como acontece em Portugal, este amor revela-se numa assertiva e mordaz capacidade de crítica, provavelmente herdeira da nossa veia queirosiana. Pode até levar a um “intenso sofrimento patriótico, o meu intenso desejo de melhorar o estado de Portugal”, como no caso de Fernando Pessoa. Aquilo que o patriotismo não deve ser, é um amor acrítico, muito menos por partidos políticos e governos, porque também de acordo com Pessoa, "O Estado está acima do cidadão, mas o homem está acima do Estado", e é preciso não esquecer que o falso patriotismo, que, por exemplo, descura o bem-estar dos nossos compatriotas, e que habitualmente se revela nos auto-proclamados patriotas, é, como Samuel Johnson afirmou, "O último refúgio de um canalha."

 

Vem isto a propósito, também, do momento que vivemos de ocasional exaltação patriótica, em virtude da participação da selecção nacional de futebol no Euro 2012. Gosto de futebol, e gosto de vibrar com futebol, especialmente com a selecção nacional. Mas é com pesar que observo o lamentável espectáculo a que por estes dias podemos assistir nas ruas de Portugal: as bandeirinhas nacionais na janela. Parece-me ser um fenómeno de patriotismo falso, artificial, ainda para mais quando em Portugal existe uma enorme apatia pelo envolvimento na causa pública, que se reflecte na falta de fiscalização e limites à actividade governamental, não sendo, por isso, de admirar os abusos a que governos vários nos sujeitam.

 

Uma nação que se deixa esbulhar e ir à bancarrota sem espernear, que deixa que a sua pátria seja violada por algo como o Acordo Ortográfico, que ainda assiste impávida e serena ao pavonear dos actores principais deste triste fado, e que só com a selecção nacional de futebol se deixa exaltar num patriotismo pífio, não é uma nação. É uma caricatura e o espelho da pobreza de espírito que grassa em Portugal.

publicado às 09:46

Os jogadores de futebol são um exemplo para os jovens?!

por Samuel de Paiva Pires, em 10.06.12

Alberto Gonçalves, Oito factos sobre a selecção de futebol:

 

«Facto n.º 2: os jogadores da selecção são um exemplo para os jovens. Sem dúvida. Qualquer sujeito que não estudou, confiou na habilidade para os pontapés, conseguiu um emprego raro e fartamente remunerado no Real Madrid ou no Chelsea, aplica os rendimentos em automóveis de luxo, é incapaz de produzir uma frase em português corrente e enfeita o físico com jóias, tatuagens e penteados belíssimos constitui o modelo que os pais conscienciosos devem impor à descendência. De resto, a alternativa passa pelas Novas Oportunidades ou, erradicadas estas, pelo Impulso Jovem, que também promete.»

publicado às 14:19

«Malaysia clerics say no to Portugal, Man Utd, Brazil jerseys


MELAKA, Malaysia: The small street seller had all the European club jerseys ready for sale on Saturday evening, as passersby wanted to grab their favorite international shirt ahead of this month’s Euro 2012. But for Portugal fans, the jersey was nowhere to be found.

“We are not allowed to sell the jersey because it shows a cross,” the shopkeeper told Bikyamasr.com. “I still love Portugal and will be rooting for them, but we are an Islamic country and don’t want to get people angry,” he added.


While it is not officially banned in the country, a number of Islamic clerics have voiced their concern over the jersey, which has a large cross on the front, highlighting Portugal’s Catholic faith. But in Malaysia, symbols often find themselves under attack by the country’s virulent Muslim clerics.

However, one fan, who recently returned from a short trip to Thailand sports his Ronaldo jersey with pride. “I don’t care what those people say, this is just football and not religion,” he said.


Portugal is not the only jersey to be pulled from the shelves. Brazil, which also boasts a large cross, has been barred by clerics. Manchester United, the world’s most popular club team, has also sparked the ire of clerics in the Southeast Asian country over its nickname, the Red Devils.

Despite the Old Trafford side having an estimated 81 million followers in Asia, one senior cleric said: “You are only promoting the devil.”

“This is very dangerous. As a Muslim we should not worship the symbols of other religions or the devils,” another added, in a Forbes report.

“It will erode our belief in Islam. There is no reason why we as Muslims should wear such jerseys, either for sports or fashion reasons.”

Either way, Malaysians are gearing up for Europe’s continental tournament and are picking up their team’s jerseys in large numbers. “We are getting most of these sold all the time because of the tournament, so it’s good for business,” added the shopkeeper.

But not for Portugal fans.»

 

Chateiam-nos muito e nós ainda começamos a distribuir bananas e pepinos.

publicado às 09:00






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