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No dia em que José Sócrates formulou o pedido de ajuda externa endereçado ao FMI, eu estava em Washington, tendo até tirado uma fotografia em frente à sede da instituição. Amanhã vou passar o dia em Roma, numa escala de 10 horas a caminho de Tirana, agora que a Itália ameaça fazer ruir a zona euro. Não que eu seja supersticioso. Mas se não acreditam, Daniel Hannan e Camilo Lourenço ajudam a perceber o que está em causa.
Para além de um filme de culto de Terrence Malick.
Para além de um filme de culto do grande Terrence Malick.
"Não se pode ir para a guerra. A comunidade internacional não deve e, na minha opinião, não quer levar a cabo uma acção militar na Líbia", diz o ministro da potência que representa a pouco honorável distinção da derrotada militar por excelência. Compreende-se muito bem e existem pelo menos dois motivos.
Dos italianos, dizia-se que jamais terminavam uma guerra na mesmo aliança em que a tinham iniciado, a menos que entretanto tivessem mudado de campo duas vezes. Pelos vistos, adquiriram um imitador: Portugal.
País com a sofrível dupla reputação que unanimemente lhe é atribuída, a Itália de Berlusconi está demasiadamente interessada em segurar Kadhafi, outro perito em manipulação e negócios obscuros.
Situada à entrada do Adriático, a Albânia consistiu num pomo de discórdia entre as duas potências regionais que no final do século XIX lutavam pela supremacia nos Balcãs ocidentais. A unificação italiana encontrou no Império austro-húngaro o intransponível rival que impediu a expansão do impetuoso novo reino em direcção a ambas as margens daquele mar. Embora vitoriosa na I Guerra Mundial, a Itália obteve escassas compensações territoriais e nos anos vinte, o governo de Mussolini iniciou uma política de intervenção económica na Albânia, complementada pelo apoio dado ao regime do rei Zog, estabelecimento de colonos italianos e instrução das forças armadas de Tirana.
A formação do Eixo e a recusa de Zog em se submeter totalmente à suserania fascista, implicou a revisão da política de Roma na zona, desejosa em não ser vista como um mero apêndice de Berlim, cujo Reich se engrandecera com o Anschluss e anexação das áreas alemãs da Checoslováquia. A fragilidade da própria estrutura estatal albanesa ia sofrer uma reviravolta, quando o anúncio do próximo nascimento de um herdeiro ao trono de Zog, implicava para Mussolini, um previsível afastamento albanês da esfera de influência italiana.
Em 7 de Abril de 1939 e contra a vontade de Vítor Manuel III, o exército italiano desembarcou na Albânia e a 10 cessava toda a resistência. Recusando-se a servir como simples marioneta ao serviço de Mussolini, Zog abandonou o país, exilando-se em Londres. A consequência foi a sua deposição pelo parlamento albanês que ofereceu a coroa de Skandenberg ao monarca italiano. O desmembramento da Jugoslávia em 1941, engrandeceria o território com a anexação do Kosovo e de uma parte do Montenegro, numa situação com a qual encontramos hoje algum paralelo no actual conflito que opõe Tirana a Belgrado.
O fim da II Guerra Mundial coincidiu com o estabelecimento do regime comunista de Enver Hoxha.
Como irónica curiosidade, milhares de albaneses procuram hoje estabelecer-se no território italiano e segundo me dizia esta manhã por telefone o meu amigo Guido Russo, alguns ousam reivindicar os direitos de cidadania, decorrentes daquela já longínqua união estabelecida no período imediatamente anterior à guerra.
*No video, o primeiro ministro albanês na cerimónia de entronização de Vítor Manuel III e de Helena do Montenegro como reis da Albânia (Palácio do Quirinal, Roma).