Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A toda a equipa do blog, aos leitores, comentadores, colegas e amigos, que tenham um Feliz Natal, e que o postal elaborado pelo Nuno sirva para vos animar nesta quadra!
Não me cabe a mim nem a ninguém fazer julgamentos morais sobre as crenças e descrenças das pessoas. No entanto, não é difícil constatar o facto de que os eventos e festividades com grande impacto social e cultural, tais como Natal, Páscoa, etc. têm uma origem religiosa. Contudo, o seu significado religioso perdeu-se numa massa amorfa, agnóstica e materialista. Daí que a vivência de tais festividades tenha adquirido o carácter dominante da cultura de massas dos dias de hoje: o comércio, o culto da posse dos objectos de desejo temporário e a ostentação de uma imagem de prosperidade e de poder.
Assim, pode ser que o humilde mas politicamente incorrecto presépio dê lugar a frondosas e ecológicas árvores de Natal. Pode ser que deste modo esqueçamos de vez a incómoda origem religiosa e nesse caso, as laicos e as laicas deste mundo não tenham tantos problemas de consciência na hora de gozar o feriado e de receber o subsídio respeitante.
Para todos os que fazem parte da família Estado Sentido, um dia feliz!
P.S.: Ainda acredito no Pai Natal
tenho de fazer um desabafo, uma coisa muito minha: a tristeza que já há muito este dia me causa- não porque tivesse deixado de gostar do Natal, claro que não, mas porque tendo conhecido o " outro ", lhe sinto a falta.
Esta sensação quase de vazio verbalizei-a eu há anos pela primeira vez : na sala a abarrotar de papéis, com a fogueira já quase apagada, além de mim, a irmã mais nova, também triste- mas ela não tinha nenhuma referência desse outro Natal, porque era muito pequena ainda quando começou a desaparecer; sentiria, talvez, também que o espírito natalício se perdera algures.
Relembro-a frente a essa lareira, que agora só quase tinha borralho, de cigarro aceso a olhar para o Infinito,
Na altura pouco mais soubemos dizer, para além do facto de sentirmos aquele vazio; hoje, depois de ter pensado muito nas razões do mesmo, pergunto-me: o que fizemos do Natal que um dia tivemos?
I wish you all a Holly and Happy Christmas.
- Jogar a pinhões...; temos de jogar a pinhões na noite de Natal. Os mais pequenos não conhecem essa tradição, de que tanto gostávamos na idade deles...
- Precisamos então de comprar um Rapa, e arranjar pinhas.
Enquanto saboreávamos as batatas com bacalhau, as pinhas, bem no meio do borralho, na lareira, aqueciam até se abrirem, e delas podermos, depois da ceia,tirar os pinhões, que submergíamos na água de um alguidar: só os que iam ao fundo entravam no jogo- os outros eram lançados ao fogo.
Reuníamos os pinhões e lançávamos um dado de madeira, com as letras R, T,D e P- sorte a daquele que Rapava os pinhões todos e azar daquele a quem só saía a letra P, de " põe".
Fosse qual fosse o resultado, o saldo era sempre de divertimento certo.
Já todos em férias escolares, primeiro os mais velhos, que já frequentavam o Secundário, em Guimarães, depois nós os que ainda éramos alunos da D. Maria ou da D.Laurinha, na Escola Primária de Sande. Nesse dia, que é também o do aniversário duma irmã, a programação televisiva, até ao cair da tarde, era preenchida pelo " Natal dos Hospitais ".
Bem agasalhados, lá nos dirigíamos para o Souto, aqui perto, para apanharmos musgo, o melhor das redondezas: rasteiro e muito verde, era difícil arrancá-lo dos penedos onde crescera- lembro-me de uma vez ter dito ao irmão mais velho que " aquele " era realmente o mais bonito, mas o quão dificultoso ele era, e ele me ter respondido, com o saber de rapaz que já estudava na Cidade, " tudo o que é bom, é difícil"-
Musgo na caixa de papelão, chegara a hora de começar o Presépio: primeiro, desembrulhar as figuras, que a mãe tinha guardado no ano anterior, e eram muitas- além da Sagrada Família, havia os Reis-Magos, os pastores, as ovelhas...
A cabana, sempre muito elaborada, feita com canhotas, era o pai que a fazia.Depois podíamos dar asas à imaginação: lagos com papel de prata, caminhos demarcados com serrim...
Com o passar dos anos, o Presépio foi-se simplificando, até chegar à forma actual, em que só a Sagrada Família, o burrinho e a vaquinha aparecem, mas à volta dela os pequeninos ainda se extasiam.