Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]



Quantidade sobre a qualidade

por Samuel de Paiva Pires, em 13.03.18

bregman.jpg

Rutger Bregman, Utopia para Realistas:

O optimismo e o pessimismo tornaram-se sinónimos de confiança do consumidor, ou de falta dela. As ideias radicais de um mundo diferente tornaram-se quase literalmente impensáveis. As expectativas do que nós, como sociedade, podemos alcançar sofreram uma erosão drástica, deixando-nos com a verdade nua e crua: sem utopia, só resta a tecnocracia. A política diluiu-se na gestão de problemas. Os eleitores oscilam para um lado e para o outro não porque os partidos sejam muito diferentes entre si, mas porque mal se conseguem distinguir; o que separa hoje a esquerda da direita é um ou dois pontos percentuais no imposto sobre o rendimento.

Vemo-lo no jornalismo, que retrata a política como um jogo em que se apostam não ideais mas carreiras. Vemo-lo na academia, onde andam todos demasiado ocupados a escrever para ler, demasiado ocupados a publicar em vez de debater. De facto, a universidade do século XXI, assim como os hospitais, as escolas e as estações televisivas, assemelha-se antes de mais a uma fábrica. O que conta é cumprir objectivos. Seja o crescimento da economia, as audiências, as publicações: lenta mas inexoravelmente, a quantidade está a substituir a qualidade.

 

(também publicado aqui.)

publicado às 17:16

Jerónimo de Sousa tem imensa piada

por John Wolf, em 04.03.18

800.jpg

 

Jerónimo de Sousa tem imensa piada. Mas pouco mais do que isso. Tenta plagiar Catarina Martins e quase que o consegue. A bloquista rejeita dialogar com o Partido Social Democrata e o secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP) pega na melodia e vai ainda mais longe - apenas a Esquerda pode alterar leis laborais -, podemos depreender das suas palavras. Acho intensamente curioso que o PCP, que nunca criou uma estrutura produtiva para além da festa do Avante sem IVA, venha reiterar a superior magistratura ética e moral em relação às condições laborais dos trabalhadores portugueses. Se aquela ideologia, falida já nos tempos dos planos quinquenais, criasse empresas e postos de trabalho, talvez tivesse um pouco mais de legitimidade para reclamar e requisitar melhores condições para a classe trabalhadora. Lamentavelmente, como são inimigos viscerais do capital, nunca poderão entender como funciona a economia de um país. Os comunistas fazem lembrar os padres que oferecem conselhos sobre o matrimónio e a sexualidade, mas que nunca foram casados ou fizeram uso dos orgãos inferiores nessa condição. Os comunas, por analogia, também percebem tudo sobre empresas, mas nunca criaram alguma coisa que se assemelhasse a uma unidade produtiva. Admitamos, porém, a figura retórica, filosófica e abstracta - o timbre que define a intelectualidade. Mas nem de isso se trata. É muito baixo o nível da conversa e é apenas movida a medo - o receio de que se instale um bloco, um outro bloco - o famoso e histórico bloco central. Quando isso acontecer, Jerónimo de Sousa terá de se ocupar de outras centrais - do comité central do seu partido. E vai com muita sorte. O Miguel Tiago anda por aí. E o outro rapaz, o João Oliveira - também galâmbico -, qualquer dia faz-lhe a folha ou passa-lhe a perna.

 

Imagem: TVI - IOL

publicado às 13:41

593311336.jpg

 

A cavalo dado não se olha o dente? Olhe que não. Eu teria algum cuidado se fosse um dos recipientes das indemnizações decorrentes da tragédia dos incêndios. As vítimas e familiares das vítimas de Pedrógão  esfregam as mãos de contente por receberem o cheque assinado por Centeno, mas cautela. Como em qualquer apólice de seguro, é importante ler a letra miudinha. Aqui têm a cláusula que diz tudo: "António Costa explicou que o direito de regresso será exercido "se vierem a ser identificadas responsabilidades que possam levar o Estado a exigir o direito de regresso destas indemnizações que adianta." Por outras palavras, os beneficiários recebem o cheque, mas caso se alterem as condições que sustentam a substância e a forma da responsabilidade do Estado, toca a devolver o dinheiro. Podemos então concluir que se trata de um empréstimo político, adequado à época pré-legislativa de campanha. Aposto que apenas pegam no estorno e transtorno da questão se o Partido Socialista (PS) ganhar as eleições de 2019. Até lá a responsabilidade será sempre do Estado, porque convém. Ou seja, seria um tiro no pé enviar o cobrador do fraque ir recolher o dinheiro malparado antes do tempo, durante a legislatura. Se o PS não for tido em conta num novo governo, lá para 2019, então será perfeito - a batata quente passa para outros que farão o favor de ser os maus da fita. Não julguem por um instante que quem vos governa não pensa deste modo. É assim mesmo que funciona. Política é um jogo de atrasos e antecipações, empréstimos e devoluções.

publicado às 17:34

Estão de consciência tranquila

por John Wolf, em 04.01.18

consciencia-cria-realidade-7.jpg

 

"Estou de consciência tranquila" - José Sócrates

"Estou de consciência tranquila" - Ricardo Salgado

"Estou de consciência tranquila" - Armando Vara

"Estou de consciência tranquila" - Isaltino Morais

"Estou de consciência tranquila" - Constança Urbano de Sousa

"Estou de consciência tranquila" - António Costa

"Estou de consciência tranquila" - Paulo Cafôfo

"Estou de consciência tranquila" - Paula Brito da Costa (Raríssimas)

"Estou de consciência tranquila" - Vieira da Silva

"Estou de consciência tranquila" - Emanuel Martins (O Século)

"Estou de consciência tranquila" - João Ferreirinho (O Século)

"Estou de consciência tranquila" - (por favor, preencher......)

 

publicado às 19:35

A grande oportunidade de Marcelo

por John Wolf, em 27.12.17

VETO-stamp.jpg

 

Marcelo Rebelo de Sousa, mais do que o Presidente da República com quem temos convivido, tem a oportunidade de ser efectivamente o Presidente de todos os portugueses. Se vetar a Lei do Financiamento de Partidos, e abrir a necessidade de um debate profundo sobre as implicações da mesma, estará a servir a República. Não estará a servir o sistema político nem a matriz partidária do país. Colocar-se-á ao lado de um princípio que deve imperar em Democracias - o princípio da igualdade de tratamento. Iria mais longe até nas consequências a extrair do grande tema do financiamento dos partidos políticos. Não pensar apenas na dimensão do haver - pensar obrigatoriamente na lógica do dever - do dever moral, ético, mas acima de tudo fiscal. Instituiria uma taxa partidária a que estariam obrigadas todas as filiações no sentido de financiar a ideia genérica de participação activa política de cidadãos independentes que em nome da cidadania e da sociedade civil procuram servir o país. Não vejo por que razão o tratamento positivo e discriminatório há-de ser a norma. Marcelo Rebelo de Sousa poderia equilibrar os pratos da balança do seu porte presidencial. O veto elevaria a consideração de tantos portugueses em relação à missão presidencial. Marcelo apenas tem dado a conhecer o mel dos abraços e da solidariedade. Agora falta-nos provar o fel do incómodo que causaria a toda uma classe política versada no parasitarismo, na promiscuidade e no esbanjamento de dinheiros públicos. Simples, Marcelo. É rasurar a proposta de Lei e devolvê-la ao remetente para nova redacção contemplando uma genuína revolução do financiamento partidário. Esta é a grande oportunidade de Marcelo.

publicado às 14:05

Portugal apurado para o grupo de Itália

por John Wolf, em 16.12.17

football-1.jpg

 

Vivemos tempos de excepção, de extrema raridade - raríssimos. Portugal acaba de ser apurado pela Fitch para o grupo de Itália. António Costa, que há não muito tempo rogava pragas às agências de notação, tece agora os maiores elogios à Fitch. Este jogo de patentes por conveniência acarreta algumas considerações penosas. Se Portugal agora se encontra ao nível da economia e finanças da Itália, devemos ficar preocupados, mas há algo ainda mais dramático - o nível de Dívida Pública. Se de facto Portugal está ao nível da Itália, então ocupa agora o 5º posto dos países mais endividados do mundo. Enquanto os sistemas financeiros dos EUA e outras nações pioneiras procuram integrar no seu mainstream as divisas digitais, Portugal não consegue passar da fase das artimanhas orçamentais para dissimular o real estado da economia. O Turismo tem sido o Bitcoin de Portugal, mas nem chega a tanto - não representa uma mudança de paradigma. Continua a ser o sector tradicional do mais do mesmo, correndo graves riscos associados a bolhas. Por outras palavras, a revolução tecnológica, que antecede o boom económico, ainda não aconteceu. Portugal continua a virar frangos e a natureza estrutural da economia não se alterou significativamente. As agências de notação não passam disso, dessa ficção contabilística. E têm uma tabela de preços a respeitar. Não são exactamente fake, mas têm de viver de alguma coisa. Servem-se de indicadores económicos todos catitas que omitem a economia paralela, as fraudes, a evasão fiscal e as demais maleitas que afligem países. A divisa Fitch é tão virtual quanto outra qualquer. Fixecoin - aposto que seria um sucesso em Portugal.

publicado às 18:03

António Costa, o tunisino acidental

por John Wolf, em 21.11.17

slider1.jpg

 

É impressão minha ou será que António Costa apenas ganha coragem para afrontar os funcionários públicos quando está fora de Portugal? Desta vez fala a verdade em directo de Tunes. I tunes, ele tunes, nós tunisinos...

publicado às 17:35

Não são os políticos que nos defendem

por John Wolf, em 17.11.17

IU6A1614.jpg

 

Tenho a maior confiança nas forças de segurança em Portugal. Coloco-me, sem hesitar, ao lado dos seis agentes constituídos arguidos, por correrem riscos em nome de todos nós. No exercício da sua missão lidam continuamente com dinâmicas imprevisíveis e teatros de operação intensamente voláteis. A GNR levou a cabo um simulacro envolvendo todas as polícias, forças armadas e meios de socorro, mas já despontam aqueles que invocam a legalidade do comando da operação - dizem que a Lei de Segurança Interna não foi cumprida. No meu entender, a haver um desvio da titularidade do comando, o simulacro serve ainda melhor o seu propósito. Em ambiente de "fogo real", de conflito estabelecido, de guerra suja, os comandos são dos primeiros visados. A decapitação do topo da cadeia de comando é um modo de desferir um impacto considerável no adversário. Por essa mesma razão, a disciplina de comando das operações não deve ser detida em exclusivo por uma entidade. As situações que exigem respostas tácticas imediatas implicam que as mesmas possam ser geridas por soluções de recurso, que exista um plano B, outras estruturas com o know-how operacional. Nessa medida, o simulacro, ou para todos os efeitos, qualquer treino, deve poder ser integrado em qualquer uma das estruturas de comando e controlo, seja qual for o ramo das forças armadas ou de segurança  Eu iria mais longe na defesa deste princípio - os políticos devem ser os derradeiros envolvidos em questões de ordem táctica, operacional. Devem estar a milhas de distância de considerações parcelares. Quando digo que as forças de segurança merecem a nossa confiança, basta pensar num dos maiores desafios de segurança interna que um país pode enfrentar - a transição de regime. O General Ramalho Eanes consubstancia com louvor esse primado pelo papel que desenvolveu em Portugal. Mas pensemos também nas guerras coloniais e a grande escola de métodos tácticos e operacionais que resulta das mesmas. Para além dos governos, dos partidos e das ideologias, devemos congratular a realização de simulacros desta natureza. O resto é ruído político de gente que nunca pegou numa arma para defender desconhecidos das ameaças reais. O que sobeja são birras de quem se esconde atrás de outrém.

 

foto: John Wolf

publicado às 11:59

Assédio Digital do Panteão Nacional

por John Wolf, em 11.11.17

image.aspx.jpg

 

A devassa privada do Panteão Nacional é da exclusiva responsabilidade do governo, do actual governo. António Costa afirma (que): "Apesar de enquadrado legalmente, através de despacho proferido pelo anterior Governo, é ofensivo utilizar deste modo um monumento nacional com as características e particularidades do Panteão Nacional". Se aqueles que jazem no Panteão Nacional tivessem sido evocados no WebSummit, de um modo digno, em jeito de homenagem-app, com aparições virtuais da Amália Rodrigues ou do Eusébio, poder-se-ia, com alguma mestria, realizar um encerramento honrado do evento no mausoléu daqueles que escreveram a História de Portugal. Seria um modo de Paddy Cosgrave e companhia renderem homenagem aos anfitriões, a Portugal. O problema do WebSummit, do ponto vista conceptual, tem a ver com esta tumular contradição. O WebSummit está totalmente virado para o Futuro enquanto o Panteão Nacional é o Passado na sua máxima expressão. Com tanto génio organizativo, não foram capazes de gizar um alinhamento que levasse em conta a mitologia dos heróis portugueses e a sua conjugação com a epopeia dos descobrimentos digitais - não pensaram na originalidade de um Panteão Digital. Por isso volto a reiterar; a sofisticação, e o glamour tecnológico dos nossos tempos e seus agentes, pecam por falta de substância cultural. Por outras palavras, é possível ser hiper-tecnológico e simultaneamente azelha -   smartphone na mão, e pouco mais. A Geringonça, ao remeter o corpo ardente da responsabilidade política ao governo de Passos Coelho, passa um atestado de burrice e incompetência às suas hostes. O governo, e por extensão, o ministério da cultura, tinham a obrigação de verificar preventivamente os contornos da requisição do arrendamento temporário do Panteão Nacional. Os mortos, os simbólicos, os de Pedrógão, os da Legionella, os de Arganil ou os do velório arrestado foram todos implicados nesta orgia festiva do WebSummit - degradante. O Panteão Nacional foi vítima de assédio digital.

 

foto: DR/JORNAL DE NOTÍCIAS

publicado às 17:26

Rita passa a Ferro Rodrigues

por John Wolf, em 05.11.17

7714_a.jpg

 

Não me recordo bem para qual revista, mas há muitos muitos anos, a Rita Ferro Rodrigues afirmava categoricamente em entrevista que se havia candidatado a um emprego na RTP, "omitindo sempre o nome do seu pai para que o processo fosse imaculadamente imparcial", para que fosse avaliada pelos seus dotes, pelo seu inegável talento - treta, bullshit. Será expectável, à medida que for perdendo o seu brilho televisivo impoluto, que procure servir-se do seu património de exposição mediática e da tradição familiar para alavancar uma putativa carreira política. A plataforma Capazes é um belo trampolim. Não teria sido mais adequado que Marcelo Rebelo de Sousa tivesse convocado a Bárbara Guimarães para se inteirar da temática da violência doméstica? Enfim. Adiante. Daqui a escassas épocas, quiçá quando o presidente da assembleia da república se reformar e for para uma construtora ou empresa de telecomunicações, teremos a Rita Ferro Rodrigues, e não a anónima Rita Rodrigues, a subir a escadaria do parlamento para poisar o traseiro na bancada da casa, na tribuna socialista. São  falsas representações deste calibre e provas de incesto deste tipo que arruinam o país. A menina tem de escolher. Ou é a carreira das TVs ou quer ser a filhinha política do papá. Mas reparem bem - Marcelo é um belo exemplo. Soube comentar livros aos Domingos. E veja-se onde chegou.

publicado às 13:49

O principal móbil de António Costa

por John Wolf, em 30.10.17

maxresdefault.jpg

 

António Costa confirma mais uma vez a sua falta de decoro e respeito pelas vítimas mortais dos incêndios e seus familiares. O primeiro-ministro deve estar tão desesperado que procura comprar a qualquer custo a amizade dos bombeiros. O décor do estúdio da entrevista concedida à TVI é uma afronta, um insulto, e de uma falta de nível sem igual. A telenovela nem sequer é mexicana. É mais reles. Na tentativa de apaziguar ânimos, um santuário foi montado, mas faltam elementos à narrativa. A disposição de ferramentas de combate ao fogo foi estudada ao pormenor, mas tal como o Siresp, tem falhas. Vejo a picareta, mas onde está a foice? Por esta ordem de ideias de "presença de espírito", a entrevista poderia ter sido conduzida numa agência funerária ou numa unidade fabril de co-incineração. Não sei quem anda a mamar o fee de consultor de comunicação política, mas deve ser da oposição. Apenas um inimigo visceral poderia propor tamanha falta de gosto e dignidade. Esta encenação, contudo, tem razão de ser. O adversário de António Costa não é o Presidente da República - isso é apenas para inglês ver. Marcelo Rebelo de Sousa não é um lobby, nem sequer tem um sindicato. Serão os bombeiros que poderão tornar a vida difícil ao chefe Costa. Jaime Marta Soares é uma espécie de Arménio Carlos dos bombeiros e já avisou que fantasias e devaneios de António Costa não serão tolerados. Portanto, é essencialmente de isso que se trata. Este cenário pimba-político inscreve-se na narrativa da geringonça - ganhar os favores de funcionários públicos e tentar tornar adeptos aqueles que escapam ao controlo puro e duro. A tarde é sua. Do António Costa.

 

Nota: a ideia da imagem Playmobil devo-a à Isabel Santiago Henriques. Vi-a na sua página de Facebook. Ao contrário de outros, não ando a roubar na estrada "originalidades alheias"...

publicado às 16:35

A erdoganização de Madrid

por John Wolf, em 29.10.17

goya.JPG

 

A Europa das luzes, da superioridade civilizacional, do legado dos impérios coloniais, prepara-se para recuar na história e tornar a plantar um factor de dissensão no presente, no seio da União Europeia. O ministro dos Negócios Estrangeiros espanhol, Alfonso Dastis, não descarta a possibilidade da prisão de Puidgemont. A acontecer, seremos forçados a designar a detenção de prisão política. O governo de Madrid invoca a legalidade constitucional e a traição do lider catalão, mas arrisca-se a promover ódios e reacções mais profundas. Se Puidgemont é o inimigo a abater, então Rajoy e Saenz devem usar a máxima do padrinho, de D. Corleone - keep your friends close, but your enemies closer. Quer a ficção quer a história oferecem lições importantes. Em 1815, o Congresso de Viena foi concebido para reintegrar França no sistema europeu após a derrota napoleónica. Ou seja, a humilhação política é um mecanismo contraproducente - existem imensos exemplos na história europeia. Madrid, envolve-se deste modo, semi-voluntariamente, num processo de reasserção juridificante através do qual poderá ter de chamar a si prerrogativas de controlo político que obrigam a uma profunda revisão constitucional. A reciprocidade da violência poderá correr em linhas paralelas a mecanismos de ajustamento jurídico, através dos quais Madrid anula as benesses das periferias granjeadas com o estatuto de governação autónoma. Nesse sentido poderemos traçar comparações com as movimentações recentes do regime erdoganiano (Erdogan, Turquia). A manifestação de hoje, a favor da união espanhola, comparticipada por centenas de milhares de pessoas, pode gerar efeitos diversos ainda mais ousados. A emenda da união de Madrid pode ser pior do que o soneto da independência da Catalunha. Deve haver algum cuidado para que o tiro não saia pela culatra - que o nacionalismo espanhol não seja acordado, para pôr em marcha purgas mais alargadas em nome de uma bandeira intransigente. A prisão de Puidgemont, a acontecer, pode gerar atritos entre a Espanha e os valores democráticos que a União Europeia tanto apregoa. Afinal, pode não ser necessário viajar à Turquia para coleccionar exemplos de censura política e perseguição policial. Uma orbanização iliberal (Órban, Húngria) que seria uma outra via, seria propensa ao isolamento do estado unitário espanhol no contexto do concerto comunitário da União Europeia. As implicações, in extremis, que decorrem das perguntas colocadas pelo desafio catalão, poderão incluir a sugestão da "desfederalização" da Espanha, mesmo que a mesma esteja configurada juridicamente enquanto entidade unitária. A pergunta mais pragmática que talvez se possa formular será a seguinte: existirá uma modalidade menos lesiva para a unidade espanhola do que a remoção de poderes autonómicos à Catalunha? Veremos como irão cambiar de tércio em Espanha, e como irão domar o touro. A faena vai ser longa.

 

gravura: Francisco Goya

publicado às 18:57

Catalunha! Bem-vinda à Europa

por John Wolf, em 27.10.17

 

catalonia-flag.jpg

 

 

Os Estados Unidos perderam a Guerra do Vietname. O Presidente John Fitzgerald Kennedy foi assassinado. O muro de Berlim caiu. O que têm em comum estes três eventos? O desfecho de cada um foi determinado pela vontade humana. De nada valeram constituições, escaladas militares ou a construção de vedações. O mesmo sucede na Catalunha. Olhemos com rigor para o que sucede, e para além dos tratados redigidos em Madrid. Esqueçamos Bruxelas e a União Europeia. O povo, mesmo que desunido, é quem mais ordena. Assistimos chocados, do conforto da nossa poltrona de superioridade intelectual e civilizacional, à História. Ao desenrolar de eventos que polvilham o cenário dinâmico da história política da Europa, mas também do resto do mundo. Sempre assim foi, e decerto que assim continuará a ser. No seio da Europa da União, da paz imaginada por Schuman e outros estadistas no rescaldo da segunda Grande Guerra, registamos agora algo inédito com consequências potencialmente surpreendentes, violentas. Madrid, se quiser fazer valer os factores de coesão da união espanhola, terá de implementar medidas de coacção que em muito transcendem a estrutura administrativa e política forjada em documentos validados por assinaturas. Não creio, dado o extremar de posições, e a efectiva Declaração de Independência da Catalunha, que exista uma mecânica possível de reversibilidade, de regresso ao status quo anterior. Prevejo o uso de força de Madrid, numa primeira fase moderada e, numa segunda fase, na sequência da contra-resposta dos independentistas de facto, um agudizar dos métodos repressivos e uma escalada da resposta da Catalunha. Não esqueçamos que Espanha detém um legado que facilita a disposição das peças no tabuleiro. O regime de Franco aperfeiçoou os métodos, que com a revolução foram metidos na gaveta, mas que não foram inteiramente esquecidos. A Europa pode muito bem ganhar mais uma república, mesmo que a UE não venha a somar ou a subtrair um membro - o artigo 155 não parece valer grande coisa.

publicado às 15:15

O churrasco do Orçamento do Estado 2018

por John Wolf, em 23.10.17

81KOofKwiZL._SL1500_.jpg

 

O Orçamento do Estado (OE) de 2018 já está a arder. O governo encontrou um nome todo catita para ficcionar as contas e fingir que está tudo óptimo - cativações. Imaginem que têm os dentes a apodrecer, mas que ainda conseguem mastigar uma bela açorda, e em função desse repasto, decidem que afinal aquele investimento na placa dentária não vale a pena. De repente ficaram umas centenas de euros mais ricos. As contas lá de casa melhoraram. E os caninos e molares? - logo se vê. É mais ou menos assim que o Estado está a ser gerido. É quase definitivamente deste modo que governam. A derrapagem orçamental que aí vem, terá, no entanto, uma desculpa do tamanho do Pinhal de Leiria. Os incêndios florestais serão invocados sem piedade para espremer a simpatia de Bruxelas e uma interpretação excepcional do cumprimento ou não do OE. A falta de emoções de António Costa poderá agora ser transsexualizada directamente de São Bento para divisa política pura, para moelas deploráveis de troca. De um modo racional e mensurável, as tragédias florestais e a perda de vida humana, poderão ser cambiadas por argumentos no mercado político da União Europeia. Na lista de descalabros tudo poderá ser incluído. A saber, e a título de ilustração; as cabeças de gado bovino e caprino que sucumbiram na densa mata de fogo, a contaminação de cursos de água - decorrente da putrefação dos referidos animais; o impacto que se fará sentir no sector agrícola e florestal, a perda de empresas de base familiar e respectiva mão de obra, a sobrecarga do sistema de segurança social que terá de atender a pessoas em estado de carência e emergência, o peso sobre o sistema nacional de saúde que terá de cuidar dos queimados e outros feridos, mas também de um número insondável de pacientes que emergirão por degradação da qualidade do ar na proximidade das ocorrências ou em destinos mais afastados. Enfim, uma quantidade de alibis operacionais de natureza financeira e administrativa será sacada de uma espessa nuvem de consequências oportunas, mas mesmo com todas as cativações do mundo e todos os favores de Bruxelas as contas não baterão certo. Das duas uma; ou deixam a factura sair fora de controlo -"estou-me cagando para a dívida" ou assumem a iminência do descalabro à moda de 2011, e toca a aplicar ainda mais descaradamente efectivas medidas de austeridade que, em jargão geringonçal,  terão outro nome mais adequado para não ferir a massa associativa de funcionários públicos que colocou no triatlo os três partidos de governação. Uma outra hipótese, mais remota porém, será o PCP ou BE acabarem de vez com esta fantasia cozinhada à La Carte dos interesses ideológicos dos partidos em causa. Esperemos para ver. E nem tem de ser sentado. Parece-me que tudo isto será rápido, mas a doer. Pacientes, paciência. Os portugueses, como sempre, são as vítimas.

publicado às 17:23

O vazio de António Costa

por John Wolf, em 17.10.17

get.jpg

 

A política tem o condão de revelar a ausência de humanidade dos proponentes. O que mais chocou na intervenção do primeiro-ministro António Costa não foram os enunciados sobre políticas florestais nem a ausência de um pedido formal de perdão às famílias das vítimas. Para além da racionalidade intransigente existe algo que é captado instantaneamente pelos destinatários de mensagens. É uma frequência de onda que não se detecta nas frases. É uma vibração que não passa na lógica. Refiro-me ao olhar empático que transcende a política, a ideologia, o poder, os partidos e as convicções - trata-se de humanidade, mais nada. Se prestarmos atenção ao perfil de António Costa não sentimos na sua alocução o estado embargado da alma, a sinceridade no olhar que alcança onde mais nada chega. E Portugal regista em simultâneo o exercício de duas figuras de proa que se encontram nos antípodas desse espectro afectivo-racional. Numa extremidade da régua temos o presidente da república Marcelo Rebelo de Sousa que se manifesta nessa toada de emoções e sentimentos que o traiem no excesso - uma forma de estar que oblitera a capacidade crítica objectiva, obrigatória. No extremo oposto do espectro encontramos António Costa que é incapaz de manifestar o sentimento que vive fora da casa política. Assistimos ontem, incrédulos, ao debitar de axiomas de indução lógica. Faltou-lhe a intuição. Faltaram-lhe os instintos. Nem por um momento sequer sentimos a vulnerabilidade que deveria resultar dos eventos trágicos que devastaram Portugal. Foi essa frieza, comparticipada pela ministra da administração interna Constança Urbano de Sousa, que colidiu com a natureza solidária e sofrida dos portugueses. Os portugueses sentiram o terror dessa ausência. Viram o vazio do olhar. O lider que deveria guiar a nação é incapaz de se conectar para além da sua condição política. António Costa demonstrou os limites funcionais do seu perfil. Provou a sua tecnocracia quando o que o povo de Portugal necessitava era de algo à escala de alguém que também deve saber assumir a sua fragilidade, a sua insuficiência. Se essa aura existisse e fosse sentida, dispensaríamos o conceito de demissão, a perseguição seria de outra natureza. A responsabilidade política passaria a ter contornos distintos, próxima da agregação emocional, da tribe de inválidos, da comunidade de humildes que se remete ao silêncio, à prece das cinzas. António Costa deveria ter sido pequeno nessa hora fugaz que perdura e viverá na eternidade, na memória colectiva.

publicado às 11:05

A descolonização da Catalunha

por John Wolf, em 01.10.17

 

 

Penso, imodestamente, que devemos olhar para o big picture e não tropeçarmos em simplificações ideológicas ou nacionalistas. O que decorre na Catalunha transcende a noção de legitimidade constitucional do referendo. Assistimos, um pouco por toda a Europa, a níveis de insatisfação económica e social das populações que depositaram grande fé política nas decisões de administrações centrais. Quer Madrid quer a União Europeia das Comissões e Parlamentos, dos regulamentos ou dos fundos estruturais, não foram capazes de interpretar os anseios das suas gentes. A Catalunha tem sido um contribuinte importante para o erário público de Espanha e, decorrente desse facto, esperava mais retorno do investimento político realizado. Observamos um evento que poderá ser designado por um "processo de descolonização". O império espanhol é composto por regiões que reclamam historicamente a sua independência e, à luz dessas mesmas considerações, a "luta armada" a que assistimos hoje (e os feridos resultantes da mesma), fazem parte do mesmo esquema de sucessão colonial - existem semelhanças entre os processos de separação que são flagrantes. E nem é preciso viajar a África ou à América Latina. A ex-Jugoslávia também havia empacotado no seu "Estado" um conjunto de nações e culturas dissonantes, uma lista de línguas maternas e um rol de dissidências internas de natureza política, social, económica e étnica. A repressão policial de Madrid, conduzida em nome da legalidade constitucional do referendo, servirá apenas para agudizar as posições, distanciar ainda mais aqueles que fazem fé da independência da Catalunha daqueles que desejam (a qualquer custo) a união de Espanha. Quando a violência eclode deixa de haver grande margem para um regresso saudável à mesa de negociações. Passam a valer ferramentas de toda a ordem. Não nos esqueçamos dos danos causados pela luta "por outros meios" da ETA - o terrorismo e as mortes violentas. O governo de Madrid enfrenta deste modo alguns dilemas existenciais. Remete o cidadão trans-regional para os tempos de censura e repressão de Franco e ao mesmo tempo promove a luta política (por outros meios) dos independentistas. Tinha a intenção de me afastar de considerações de ordem ideológica, mas não resisto à tentação. Estranho, de um modo visceral, que a Esquerda não esteja alinhada com a luta de um povo que reclama para si elementos absolutamente lineares; a possibilidade de escolher o seu destino enquanto aglutinador dos vectores nação, território, língua e poder político. A Espanha está em apuros, mas não será a única. Os factores de desagregação do conceito de união estão em alta. Foram muitos erros cometidos em Espanha, mas também na União Europeia. Não chamemos nacionalismo a esta manifestação de vontade. Essa é a arrumação clássica, fundamentalista, daqueles que não compreendem como nascem Estados e como findam impérios.

publicado às 16:51

A queda do Muro de Madrid

por John Wolf, em 30.09.17

Park-Guell-Barcelona-wall.jpg

 

Retrospectivamente saberemos interpretar a importância do que sucede na Catalunha.

publicado às 18:12

 

Hugh Hefner foi um político de vulto. Nunca dormiu com os adversários. Nunca se deitou na cama de interesses alheios. Soube alimentar as expectativas de tantos seguidores erectos perante o magistério das suas promessas, da ilusão. O fundador da Playboy foi um verdadeiro democrata. Procurou repartir o entusiasmo pessoal pelo comum dos mortais - mas não era socialista. O monopólio das mulheres era a sua igreja. A revolução sexual de muitos países foi atrasada devido ao poder de censura dos seus regimes. Portugal não foi excepção. Mas temos de ter algum cuidado com a nova estirpe de moralismo de género que parece ter assolado o país. Para muitos Hefner foi o promotor da ideia de mulher-objecto, o anfitrião da sexualidade comercial desconexa das emoçoes, dos afectos, do amor.  Não concordo. Nos EUA, o papel da publicação é inegável. A América sempre teve a tendência para os dilemas do pudor, o mamilo que se mostra ou não, o sexo explícito no filme prontamente rasurado pela brigada de costumes. Enfim, Hefner soube ler a textura sociológica daquele país e construiu um modelo de negócio baseado na líbido. A revista Gina, o erotismo de um Vilhena ou as loiças das Caldas da Rainha, nunca conseguiram alcançar o estatuto mainstream, e o salto indutivo, de "quando a fome é muita", levou a que o processo descambasse para os compêndios de teor pornográfico, sem arte, sem escola. No caso da Playboy, Hefner foi a doce flor num jardim de rosas entesadas. Hugh foi o menino na loja de brinquedos sem hora de fecho. Mas a Playboy é mais ampla no seu rol de consequências e efeitos secundários. As indústrias de entretenimento e lazer, o sector das farmacéuticas, a moda e o design, souberam aproveitar o fenómeno de um modo estrutural e continuado. Os media construíram novelas, filmes e enredos sublinhando o glamour das curvas sensuais. Tornaram a linguagem directa, sem rodeios. A pílula e os comprimidos azuis vendidos mundo fora também podem agradecer à Playboy - fizeram milhões e fizeram milhões de gente feliz à p()la do imaginário de Hefner. Foram tantos os que foram como os que vieram...abraçar esta religião. Os designers de moda, aproveitando a tendência para destapar, reinventaram modos de expor a nádega e sugerir o sexo protuberante. Enfim, todos nós temos uma pequena dívida para com Hugh Hefner. Mesmo os clientes de outras sortes sexuais puderam exprimir a sua contra-libido, as suas preferências. Na fase final da sua caminhada enquanto editor, Hefner soube, mais uma vez, ler o mundo em que vivia. O advento da pornografia acessível pela via digital, e sem restrições, quase que matava a ideia da sugestão de "o que está por detrás do sorriso maroto?", quase que aniquilava o flirt dos derradeiros românticos encostados ao bar de um hotel, quase que desbastava a linda flor colhida de um imaginário toldado pelo excessivo aquecimento da genitália onde impera o tendão e cada vez menos o lirismo. Hugh Hefner merece o prémio móvel da paz e amor. Mexeu com muito. Não existe político que lhe chegue às virilhas. Prometem, mas não cumprem. Hefner nada jurou, mas tantas das suas preces foram cumpridas.

 

Vote no Estado Sentido, por favor! --------------->

publicado às 08:51

Estado Sentido - a autarquia dos Blogs

por John Wolf, em 28.09.17

share_politica.jpg

Já temos fregueses! Agora queremos a autarquia!  Vote no blog Estado Sentido!

                                                                                                                                                           

 

(insira o boletim ali ao canto ---->)

publicado às 20:46

Mania das alturas

por John Wolf, em 28.09.17

BP4I6426.jpg

 

Junto ao pilar 7 da Ponte 25 de Abril ou Ponte Salazar (conforme os gostos e para não ofender a Comissão para a Igualdade do Género) nasceu um elevador. Não é um elevador da bica - são 6 euros para subir ao alto dos 70 metros que encarnam uma espécie de vista pseudo-suicidária. Dizem os "promotores" que é um investimento de 5,3 milhões de euros para recuperar "nos próximos 15 anos". E que se outras metrópoles têm o mesmo aparelho de deslumbramento, então Lisboa também tem direito ao seu quinhão. Mas existe uma pequena contradição que devemos levar em conta no que diz respeito ao modelo de negócio. Um investimento a recuperar em 15 anos não pode ser considerado feliz - não é um investimento. O normal e expectável seria atingir o break-even em 5 anos. Deste modo é um passivo a que se acede de elevador. Mas há mais. Quem estiver parado no trânsito no tabuleiro da ponte tem uma vista ainda mais privilegiada - de borla. A conversa do estudo interpretativo sobre cabos de aço e a perda de vida humana na construção da ponte é muito interessante, mas a discussão é outra. O tira-teimas é ideológico, como quase tudo em Portugal. Uns são do Sporting outros do Benfica, uns do Bairro das Colónias outros de Campo de Ourique. Ou seja, a ponte, a estrutura que atravessa e galga as margens do rio Tejo, é semelhante ao paradigma nacional - a discordar é que a gente se entende. Seja nas autárquicas seja na bola que rola. A United Steel Corporation, a gigante norte-americana que construiu o monstro, agradece a homenagem, mas o homem contemporâneo e a cultura rasante dos nossos tempos coadunar-se-á mais com a ideia de nivelamento, de planos idênticos. Serão 6 euros a separar o homem do seu par nacional. O elevador que agora se cola como uma lapa ao pilar 7 serve para estratificar, para distinguir, para conferir a utopia de vistas largas a uns, mas nem tanto a outros. Vivemos a época da hiperbolização. A ideia de que as obras fechadas podem ser ampliadas para fins falsamente hedonistas. Não sei que valor acrescenta à cidade de Lisboa. 70 metros são um embuste de grandeza. E com tanto pregão sobre os transportes nestas jornadas autárquicas, podemos concluir que este meio não é de todo socialista. Não é um metro vertical onde vamos enlatados, entalados. O passe da Carris devia ser válido nesta linha 7 que agora inauguram.

 

foto John Wolf

Somos finalistas dos BLOGS DO ANO MEDIA CAPITAL TVI.  Vote aqui no blog Estado Sentido

#blogsdoano #ba2017

 

 

publicado às 07:39






Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2022
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2021
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2020
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2019
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2018
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2017
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2016
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2015
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2014
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2013
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D
  170. 2012
  171. J
  172. F
  173. M
  174. A
  175. M
  176. J
  177. J
  178. A
  179. S
  180. O
  181. N
  182. D
  183. 2011
  184. J
  185. F
  186. M
  187. A
  188. M
  189. J
  190. J
  191. A
  192. S
  193. O
  194. N
  195. D
  196. 2010
  197. J
  198. F
  199. M
  200. A
  201. M
  202. J
  203. J
  204. A
  205. S
  206. O
  207. N
  208. D
  209. 2009
  210. J
  211. F
  212. M
  213. A
  214. M
  215. J
  216. J
  217. A
  218. S
  219. O
  220. N
  221. D
  222. 2008
  223. J
  224. F
  225. M
  226. A
  227. M
  228. J
  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D
  235. 2007
  236. J
  237. F
  238. M
  239. A
  240. M
  241. J
  242. J
  243. A
  244. S
  245. O
  246. N
  247. D

Links

Estados protegidos

  •  
  • Estados amigos

  •  
  • Estados soberanos

  •  
  • Estados soberanos de outras línguas

  •  
  • Monarquia

  •  
  • Monarquia em outras línguas

  •  
  • Think tanks e organizações nacionais

  •  
  • Think tanks e organizações estrangeiros

  •  
  • Informação nacional

  •  
  • Informação internacional

  •  
  • Revistas