Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A temática das praxes, e o ruído que as mesmas têm levantado mediaticamente - ruído esse que deu origem, veja-se só, a artigos de fundo de José Pacheco Pereira e Vasco Pulido Valente -, tem, em rigor, um aspecto que, devidamente sopesado, não é de todo de desprezar. Esse aspecto contende com algo que é, a meu ver, a essência de uma sociedade medularmente civilizada: a liberdade. Quando iniciei a minha licenciatura em Direito na Universidade Católica, recordo-me, perfeitamente, de, nas primeiras semanas, ter frequentado a praxe da respectiva universidade. Recordo-me, também, de não ter ficado, pelas razões que têm sido abundamente discreteadas neste blogue e nos media, grandemente impressionado com as "sevícias" moralóides perpetradas pelos Duxes de ocasião, sendo que, passado algum tempo, abandonei, sem qualquer prurido, aqueles espectáculos alarves. O problema aqui, e que já na altura discuti com alguns colegas, prende-se com o facto de as praxes servirem, as mais das vezes, senão mesmo em todas as circunstâncias, de poiso à ignorância mais alambicada que pulula nas universidades portuguesas. O argumento da integração é, na verdade, sumamente ridículo. Em primeiro lugar, qualquer aluno que entre numa universidade não necessita de nenhum ritual bovino (que, alguns, no auge da sua parvoeira, pretendem iniciático, sem sequer saberem o que isso significa) para se integrar no ambiente em questão. Aliás, parte-se do pressuposto que uma pessoa com 18 anos de idade é, para todos os efeitos, um(a) adulto(a) que sabe desenvencilhar-se, com liberdade e bom senso, dos problemas que possam inopinadamente surgir. Em segundo lugar, não se integra ninguém com insultos, calúnias, difamações, e ofensas gratuitas. A não ser que, para muito boa gente, tratar outros seres humanos, que só por acaso são colegas de curso, por "cabra", "vaca", "filho da puta", "cabrão", entre outros, seja algo normal e até aconselhável. A meu ver, civilizado como sou, não creio que estes apodos sejam, na verdade, um indício de integração saudável nas estruturas de uma determinada instituição. Em terceiro lugar, e last but not the least, não é por acaso que as praxes são dominadas por alunos insistentemente reprovadores. Como é certo e sabido, as praxes são, para estes frustrados baderneiros, o instrumento perfeito para a humilhação imberbe de todos aqueles que fazem do trabalho e do mérito o seu leit-motiv universitário. Bem se vê pelo que atrás foi dito que tudo o que gira em torno da praxe tem, no fundo, uma dimensão patológica que importa não descurar. Cá no Porto, cidade onde vivo, existe, por exemplo, o Hospital Magalhães Lemos, que está devidamente apetrechado para lidar com este tipo de casos. É por estas e por outras que, desde há muito, sou um apologista estrénuo do fim implacável destas aberrações pseudo-integradoras. Porque, como já foi referido noutros fóruns, e bem, a Universidade serve, acima de tudo, para o estudo, e não para a alarvice superiormente chancelada.