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Mariana Mortágua acerta em metade da sua afirmação: "A dívida é insustentável. A única coisa a fazer é reestruturar". A doutora tem razão em relação à primeira parte. A dívida vai determinar o berro governativo. É curioso que a doutora não discrimine adequadamente os itens. A dívida de que fala é a dívida pública (mas também existe uma privada, e deveras substantiva). E aqui entramos em contradição conceptual no que diz respeito à nacionalização do Novo Banco. Não existe já um banco público de seu nome Caixa Geral de Depósitos (CGD)? Como é que um Estado, que não se aguenta nas canetas, pode pôr às costas mais um banco? E tornamos ao primeiro axioma - a dívida, com um Novo Banco de Depósitos, ainda mais insustentável se torna. Não existe à face da terra nenhum banco público que aja exclusivamente de acordo com o interesse público. Não sei em que mundo vive a doutora. A própria CGD, se fosse o apanágio do interesse nacional, não poria à venda fundos de investimento controlados por gigantes especuladores semelhantes à Lone Star. E há mais nuances absurdas que andam a dar a volta à cabeça da doutora. Não sei de que reestruturação de dívida fala, mas no mundo real de investidores, Estados e governos, são entidades financeiras privadas que arcam com o peso de alargamento de prazos, embora possa parecer uma operação clean em que "entidades públicas" pagam - não é nada disso, nada mesmo. Em última instância é o aforrista privado que paga. Os governos apenas emprestam a sua falsa aura de salvadores da pátria. A reestruturação não é um jogo de soma-zero. Existe um mercado especulativo que vive desses processos. O problema da doutora é ver o mundo de um modo fantasiado, inquinado e pleno de vícios ideológicos, quando o universo já não funciona de acordo com teses que andou a defender na escolinha.