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Em Portugal anda tudo com os nervos à flor da pele. Anda tudo muito sensível. Basta a Markel opinar sobre o grau académico de Portugal, e perde-se logo a compostura, fica-se logo incomodado. A primeira reacção cutânea é de repúdio e negação. Dá vontade de mandar a senhora àquele lugar (pela ??? vez), mas uma leitura mais atenta do seu atestado permite extrair outras certidões, apurar resultados diversos. Pois é. Durante décadas a fio (desde a democratização do ensino em Portugal), os portugueses quiseram se afastar o mais possível das nefastas taxas de analfabetismo, das origens humildes, da terra entranhada debaixo das unhas. E ter o menino a estudar na cidade para vir a ser um "verdadeiro" doutor era motivo de grande orgulho. É mais ou menos isto, em traços largos. Acontece que essa escalada académica e social, de largas camadas da população, serviu também para discriminar ofícios "menores". Desse modo, instituiu-se que ser carpinteiro ou canalizador não era a mesma coisa do que ter uma licenciatura em gestão, e, de estigma em estigma, Portugal inverteu a cadeia de valores, negligenciando a importância de tantas funções requeridas na sociedade. O complexo de colarinho sujo dominou o espectro estatutário dos profissionais. Estabeleceu-se, de um modo mais ou menos explícito, que trabalhar na bomba de gasolina não é motivo de orgulho - o brio do mecânico escorreu também nessa sangria colectiva. Quando a Sra. D. Ângela diz que há licenciados a mais, está também a dizer que o país carece de profissionais no sentido integral, independente do grau académico que atingiram. Para mim é líquido que assim seja. Nos Estados Unidos pouco interessa o grau académico, ou mesmo o apelido, para todos os efeitos da missão profissional a cumprir. O que interessa é ser-se competente e eficaz seja qual for a posição ocupada. Se Portugal deseja a refundação económica e social da sua matriz, deve devolver a auto-estima ao trolha, ao almeida e ao sapateiro do bairro. Desde que sejam bons naquilo que fazem.