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António Costa julga mesmo que manda nisto tudo. Quer mesmo ser dono disto tudo. Mas não quer transformar a presidência da república num consulado socialista, embora dê ares dessa graça. Quer imitar o modo como se apropriou do parlamento e formou governo, mas de um modo mais perverso, cínico. Ao lançar a aposta múltipla nas eleições presidenciais, apelando às f(r)acções representadas por Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa, não esclarece publicamente qual a posição que assume. Ou seja, não se coloca inequivocamente ao lado de um dos seus candidatos, mas generaliza e não fala a verdade quando descreve a área logística da sua preferência. E isso não passa de areia atirada aos olhos de Soares e dos diversos barões do Largo do Rato. Se formos minimamente astutos, percebemos a rasteira num piscar de olhos. António Costa apoia, com esta jogatana de "apoio aos dois camaradas", a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, porque este será o alibi ideologicamente perfeito para poder contradizer a acção presidencial quando esta começar a estrangular os seus intentos governativos. Não convém nada ao governo socialista ter um dos seus em Belém. Isso restringe a sua área de actuação. Se estiver lá o Marcelo é mais fácil ser extravagante e ousado. Convém a António Costa ter uma réplica, mesmo que mais colorida, de Cavaco Silva. Desse modo, o status quo das relações institucionais mantém-se sem grandes alaridos. O mauzão continuará a residir em Belém. Marcelo Rebelo de Sousa será a válvula de escape ideal, o embaixador do princípio do contraditório. Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa bem que se podem queixar, mas por outro lado, como são politicamente dispensáveis, o seu afastamento serve preciosamente outras guerras. Mais cedo ou mais tarde, com as atribulações de um governo feito a retalhos do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista Português, a sua liderança será naturalmente posta em causa, e a haver guerras fratricidas, são menos uns quantos para confrontar. Veremos, mais adiante, como António Costa afasta a Ana Gomes que está mortinha por realizar um "regresso auspicioso". Não se esqueçam que as legislativas ou as presidenciais, por mais mediáticas e nacionais que sejam, servem para arrumar as casas partidárias de Portugal. Os portugueses e o interesse nacional são meros pretextos de ocasião. Um festival a 9 ou 10 candidatos, ou um rancho folclórico presidencial, é um mimo para a realização política deste calibre. Aguentem. Ainda vão ter de levar com muitos debates nas noites quentes da sensacionalista TVI, da vendida SIC e da pobrezinha RTP - uma TAP que rasteja pela paisagem de oportunistas nacionais. Marcelo ainda vai agradecer a alguém.